Ensaio
BS
Betty Williams — fundadora e presidente dos WCCCI
Diálogos com cidadãos do mundo (8)
25/07/2009
A Sra. Williams e a Sra. Corrigan receberam a Medalha da Paz do Povo Norueguês e o Prêmio Nobel da Paz no ano de 1976.
Tudo se decide com firme determinação. Um único momento de decisão muda a vida da pessoa para sempre. Uma pessoa faz a diferença. Um único indivíduo muda a história.
Betty Williams, fundadora e presidente dos Centros Mundiais da Associação Internacional de Compaixão pelas Crianças (WCCCI, na sigla em inglês), comprovou essa verdade para o mundo. Eu e minha esposa tivemos o prazer de receber a Sra. Williams no Auditório Memorial Makiguti em Hatioji, Tóquio, na bela estação do outono, dois anos atrás (em novembro de 2006).
A Sra. Williams faz altos elogios à rede de mulheres Soka que estão promovendo ativamente a cultura de paz. Ao conversar com várias integrantes das Divisões Feminina e Feminina de Jovens durante sua visita a Tóquio, ela expressou sua crença sincera em que as mulheres mudariam o mundo e observou que isso de fato já começou.
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No dia 10 de agosto de 1976, a Sra. Williams testemunhou um terrível acidente. Quando dirigia pela cidade de Belfast, na Irlanda do Norte, com a filha no banco traseiro, de repente ouviram-se tiros e começou um tiroteio na rua. Um jovem republicano que dirigia na pista oposta foi atingido pela bala atirada por um policial britânico que estava na perseguição. O rapaz perdeu o controle do carro, atingindo e matando três crianças que caminhavam pela rua na companhia da mãe.
As batalhas pela soberania e religião na Irlanda do Norte remontam ao século 11. No século 20, esse conflito profundamente arraigado se intensificou, tornando-se um ciclo de violência aparentemente interminável. Num período de sete anos, na década de 1970, mais de 1.700 pessoas foram mortas nessa luta. Muitas mães irlandesas esperavam por uma resolução pacífica. Elas oravam para que o conflito terminasse, mas enfrentavam uma história tão consolidada e testemunhavam uma agressão tão mortal, que ficaram congeladas no silêncio.
Foi em meio a essa situação que a Sra. Williams bradou. Já haviam ocorrido tantas tragédias assim e ela não podia mais permanecer em silêncio. Tendo presenciado a morte daquelas três crianças, ela se levantou com uma justa indignação. Ela acreditava que a pior forma de violência é aquela que tira a vida das crianças. Estava com 33 anos na época e tinha dois filhos.
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A Sra. Williams começou a percorrer seu bairro problemático para pedir aos moradores que fizessem um abaixo-assinado para acabar com a violência.
A ação é o que importa; a ação rápida é a chave para a vitória. A timidez não produz nada. Nossos membros também entram em ação de forma dinâmica ao mesmo tempo em que discutem sobre as questões à medida que elas vão surgindo. Foi com esse ritmo vibrante que conseguimos ser tão bem-sucedidos em nossas realizações.
A Sra. Williams foi aos lares das famílias dos dois lados do conflito e com toda coragem bateu à porta delas. Nunca sabemos quem pode vir a ser nosso aliado. Com frequência, nossas noções preconcebidas são o maior obstáculo. Ela defendia a importância de proteger as crianças da violência e argumentava que, embora ninguém pudesse mudar o passado, eles poderiam se unir para mudar o futuro. O abaixo-assinado pela paz que ela ajudou a promover foi rapidamente difundido pela comunidade. A chama da coragem que ela acendeu no coração das pessoas propagou-se rapidamente. O medo contagia, mas a coragem também — essa era a convicção dela.
Tudo começa com um único indivíduo. A vitória principia com a formação de um aliado por vez. Não se constrói uma pirâmide de cima para baixo. Somente se chega ao topo colocando fortes pedras no alicerce, uma por uma. O mesmo vale para alcançar uma vitória retumbante. A questão essencial é colocar a primeira pedra, dar o primeiro passo. Assim como diz um provérbio japonês, “Uma pessoa é mãe de dez mil”.
A Sra. Williams fez esta observação: “Um é um número grande. Se você ajudar um indivíduo, uma criança, então você estará ajudando dez. Pois no círculo do qual essa única pessoa faz parte, haverá dez outras que ela educará”.1 Após apenas dois dias de divulgação, a Sra. Williams e outros indivíduos com o mesmo pensamento que ela reuniram mais de seis mil assinaturas para o abaixo-assinado. Os resultados foram apresentados no noticiário, inspirando mais mulheres a se unirem a essa mesma causa.
Junto com sua colega ativista Mairead Corrigan, a Sra. Williams também organizou uma marcha pela paz ao túmulo das três crianças que foram atropeladas pelo carro. As imagens das pessoas dos dois lados do conflito de mãos dadas e cantando juntas aos prantos foram mostradas na imprensa, o que levou posteriormente a uma marcha pela paz que reuniu 35 mil participantes. Choveram mensagens provenientes de 59 países com fortes demonstrações de apoio. A opinião pública aumentou, transformando-se numa força incontrolável em prol da paz, e a história começou a mudar.
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Um grupo formado por alunos internacionais da Universidade Soka recebeu, junto comigo e com minha esposa, a Sra. Williams quando ela nos visitou.
Os olhos dessa destemida defensora da justiça brilhavam quando ela falou sobre como transformou sua ira justa contra a violência em motivação para trabalhar pela paz. Com clareza e convicção, a Sra. Williams afirmou: “A força de nosso movimento está no fato de que éramos mulheres, éramos mães. Foi isso o que o tornou forte”. Todos nós que estávamos presentes recebemos essas palavras com sinceros aplausos.
Sabendo como a vida é preciosa, as mulheres conseguem transcender as diferenças de nacionalidade e ideologia e pensar no futuro em termos de toda a raça humana e de todo o planeta. A solidariedade dessas mulheres é uma fonte de grande esperança para a humanidade.
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A Sra. Williams foi ameaçada de morte por causa de seus esforços para abrir o caminho para a paz. Certa vez, colocaram até mesmo uma bomba em seu carro. E, quando ela recebeu o Prêmio Nobel da Paz em 1976 (junto com a Sra. Corrigan), pessoas invejosas espalharam boatos maldosos sobre ela, acusando-a de ter sacrificado a família em detrimento de suas atividades pela paz e de ser uma mãe incompetente. Mas ela se manteve intrépida. Certa vez, ela disse que embora tenha desejado retornar para seus dias de despreocupação antes de se envolver no movimento em prol da paz, acreditava que quando a pessoa se compromete, não há mais como voltar atrás. Ela declarou que devotou a vida à paz e à justiça.
Certamente que houve ocasiões em que os filhos sentiram falta dela porque o trabalho fazia com que ela tivesse de se afastar, mas hoje em dia eles consideram as realizações dela como grande orgulho e honra de toda a família.
No início, a imprensa se referia à Sra. Williams e às suas companheiras como a “Brigada de Saias”, querendo dizer que elas não tinham instrução e que talvez não fossem mulheres muito inteligentes. Mas elas responderam a esses ataques insolentes com seu intelecto, impressionando os críticos e conquistando ainda mais seguidores para sua causa. Elas não se preocupavam com o que os outros diziam nem com o que pensavam delas; a única coisa que importava era alcançar seus objetivos.
A paz é algo que pelo qual se deve lutar e vencer. É uma batalha em que devemos persistir sem cessar, superando a dor e o sofrimento e triunfando sobre todos os ataques lançados contra nós.
Quando perguntaram para a Sra. Williams o que a fazia dar continuidade às suas incansáveis atividades em prol da paz, ela respondeu: “Neste trabalho, assim como no seu, independentemente do que as pessoas disserem, deve-se ter coragem em suas convicções. É preciso se manter sempre firme. Nunca desistir. (...) Eu sou uma irlandesa teimosa. Não me digam que não posso fazer algo! Essa é a melhor forma de me motivar”.
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A propósito, foram também os esforços de uma mulher que fizeram com que a Sra. Williams entrasse em contato com a SGI. Um dia, a Sra. Williams visitou uma vizinha, que lhe contou ser membro da SGI, falando-lhe a respeito das atividades e dos objetivos de nossa organização. A Sra. Williams ficou comovida com a sinceridade daquela mulher. Após ter visitado as exposições patrocinadas pela SGI e ter lido nossas publicações, ela rapidamente teve uma profunda compreensão de nosso movimento.
A Sra. Williams disse saber como foi difícil o caminho percorrido pela SGI. Aqueles que lutam pela justiça em meio a perseguições compartilham de um supremo senso de comprometimento. Ela também observou que o ativista americano pelos direitos civis, Dr. Martin Luther King Jr. (1929–1968) e os três primeiros presidentes da Soka Gakkai compartilham uma grandiosa força espiritual.
Em nosso diálogo, a Sra. Williams expressou seu desprezo pelos mentirosos, afirmando que a verdade sempre vence no final. Ela disse também que a paz começa com cada um de nós e que portanto devemos falar a verdade de forma clara e decidida.
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A Sra. Williams tem um amor duradouro pelos jovens, o que também foi demonstrado quando ela deu uma aula especial na Universidade Soka da América (em setembro de 2007).
Com relação à educação, ela fez também o seguinte comentário em nosso diálogo: “Como mulheres, é nossa responsabilidade garantir que os líderes que recorrem à força bruta e à opressão não sejam eleitos. E isso somente pode acontecer por meio de educação, educação e mais educação”. A educação tem o poder de assegurar que os esforços em prol da paz e da justiça — que são tão vitais para as mães e seus filhos viverem de forma segura e feliz — continuem no futuro.
Elogiada pela Sra. Williams e por outras mulheres que são líderes em todo o mundo, nossa rede de mulheres Soka está avançando com energia e otimismo. Ela tem a força e o brilho do sol. É um sol que irradiará eternamente a luz da vitória — transbordante da brilhante determinação de mudar a história, ao mesmo tempo iluminando e estimulando incontáveis outras pessoas a se levantarem e fazerem a diferença.
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