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Diálogo

“É errado matar, mesmo na guerra!”

POR DAISAKU IKEDA

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11/04/2015

“É errado matar, mesmo na guerra!”
Lembro-me de um comovente episódio a respeito de uma carta que o escritor russo Liev Tolstói escreveu dois meses antes de sua morte. A carta era endereçada a Mahatma Gandhi.

O episódio foi mais ou menos este: num certo colégio para moças em Moscou, realizava-se uma prova sobre religião. Um bispo que havia chegado à escola para aplicá-la perguntava a cada uma delas sobre os Dez Mandamentos. Quando chegou ao mandamento “Não matarás”, o bispo perguntou: “Deus nos proíbe matar em quaisquer circunstâncias?” As jovens respondiam exatamente conforme as professoras lhes haviam ensinado. “Não. Não sob todas as circunstâncias. Podemos matar apenas em tempos de guerra ou como punição legal.”

“Sim, está correto!”, dizia o bispo. Então, uma das moças, com expressão de indignação, respondeu: “Matar é errado sob todas as circunstâncias!” Surpreso, o bispo apelou para toda a sua capacidade retórica para convencê-la de que havia exceções ao mandamento de não matar, mas não conseguiu.

“Não”, disse ela convicta. “Matar é um pecado, sejam quais forem as circunstâncias. Assim diz o Antigo Testamento. Além disso, Jesus não só nos proibiu de matar, mas nos ensinou que não devemos fazer mal a nossos vizinhos.”

Ante à verdade defendida pela moça, a autoridade do bispo e sua habilidade verbal foram inúteis. No final, restava-lhe apenas ficar em silêncio. Tolstói escreveu com orgulho que a jovem havia vencido.

Em meio à luta pela independência da Índia do domínio britânico, Gandhi também declarou que os genuínos praticantes do espírito cristão jamais colonizariam a terra de outros povos nem travariam guerras com os demais.

Vamos amplificar as palavras daquela corajosa jovem — “é errado matar, mesmo na guerra!”— e difundi-las em todo o mundo: “É errado matar!”

O século 20 foi um século de guerras. Centenas de milhões de pessoas morreram em batalhas. O que a humanidade aprendeu com essas tragédias? Neste novo século 21, devemos fazer do princípio de que a matança não é opção aceitável nem justificável, sejam quais forem as circunstâncias, o ethos fundamental da humanidade.

Se não propagarmos amplamente e implantarmos profundamente em todas as pessoas o princípio de que a violência não é um meio aceitável para impor as próprias convicções, a humanidade não terá aprendido nada das lições do século 20. A verdadeira guerra do século 21 não será entre civilizações nem entre religiões. Será a luta entre a violência e a não violência, entre a barbárie e a civilização, no real sentido da palavra

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