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O despertar do discípulo

Ikeda sensei, 72 anos de luta abnegada e determinação de honrar o juramento ao mestre

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17/08/2019

O despertar do discípulo

REDAÇÃO

Os dias 14 e 24 de agosto possuem profundo significado na história da Soka Gakkai e representam o ponto primordial da relação de mestre e discípulo. Foi em 14 de agosto de 1947 que o jovem Daisaku Ikeda conheceu o Budismo de Nichiren Daishonin numa reunião de palestra. Ele recebera o convite de dois amigos para participar de uma explanação sobre “filosofia de vida” conduzida pelo professor Josei Toda, que mais tarde se tornou segundo presidente da Soka Gakkai. Dez dias depois daquele encontro, Ikeda sensei recebeu o Gohonzon, iniciando uma grandiosa jornada que consolidou as bases do movimento pelo kosen-rufu. Celebramos neste mês 72 anos de sua conversão com elevado espírito de gratidão.

 

Mestre e discípulo

Era uma noite tranquila, porém quente e úmida, de verão. A vizinhança estava quieta e as famílias provavelmente tinham acabado de jantar. Notava-se, porém, a movimentação de várias pessoas pelas ruas escuras, que se dirigiam à residência da família Miyake, no bairro de Ota, em Tóquio, para participar de uma reunião de palestra da Soka Gakkai.

Dois anos haviam se passado após o fim da guerra, mas ainda era possível encontrar vestígios dos bombardeios aéreos pelas ruas. No coração e na vida das pessoas estavam evidentes sinais claros de sofrimento e incertezas pela situação do país.

Mesmo sofrendo com tuberculose e febre persistente, o jovem Daisaku Ikeda, na época com 19 anos, decidiu aceitar o convite dos amigos para ir à reunião, movido pela esperança de encontrar um direcionamento para sua vida em meio às circunstâncias.

Ele chegou ao local por volta das 20 horas. Enquanto tirava os sapatos na entrada, ouviu uma voz rouca, mas vigorosa, vinda do interior da casa. Era a primeira vez que ouvia Josei Toda. Ele explanava o escrito Estabelecer o Ensinamento Correto para a Pacificação da Terra, em que Nichiren Daishonin proclama sua grandiosa filosofia para a concretização de uma sociedade pacífica. Ikeda sensei relembra esse momento:

 

O Sr. Toda, meu mestre, aguardava-me como um pai afetuoso. Foi um momento solene, eterno, que abarcou as três existências. Foi o dia do juramento de um discípulo – o meu – de me tornar discípulo do Sr. Toda e de devotar minha vida ao kosen-rufu. (...)

Na explanação que ele fez nessa primeira vez que participei numa reunião, o Sr. Toda imprimiu forte paixão e determinação num alerta às pessoas. Foi um rugido do leão proclamando a essência do Budismo de Nichiren Daishonin.

A explicação do Sr. Toda não era de um budismo antiquado e ultrapassado. Revelava um ca­mi­nho grandioso com a promessa de um futuro brilhante, que transbordava convicção
e di­namismo. (...)

Após concluir sua explanação, o Sr. Toda iniciou um diálogo informal. Ele mastigava pastilhas de menta e portava-se com naturalidade e descontração. Não demonstrou a mínima atitude de superioridade pretensiosa e arrogante que muitos falsos líderes políticos e religiosos exibem. Estava sendo ele mesmo. Embora aquele fosse o nosso primeiro encontro, senti-me à vontade para fazer qualquer pergunta que guardava em meu jovem coração. Lembro-me de ter arriscado, com certa intensidade, esta questão: “Senhor, qual é o modo correto de vida?”.

O Sr. Toda me deu uma resposta clara, com plena convicção, isenta de qualquer jogo intelectual ou desonestidade que obscurecesse o verdadeiro ponto de minha pergunta. Eu estava cansado de adultos que tratavam os jovens com uma superioridade paternalista, por isso, a sinceridade do Sr. Toda me tocou profundamente. Além disso, não suportava políticos e intelectuais que haviam cantado hinos em louvor à guerra, mas de repente se transformaram em pacifistas depois que os combates acabaram. O fato de o Sr. Toda ter sido perseguido pelas autoridades militares e passado dois anos encarcerado por sustentar suas crenças foi o fator decisivo para eu me tornar seu discípulo.1

 

Em determinado momento, o jovem Ikeda contemplava algo, com olhares atentos, deixando a sua face inteiramente corada. Parecia estar impaciente, desejando pronunciar algo novamente. Subitamente, levantou-se decidido e externou:

— Muito obrigado, professor. Há o seguinte ditado célebre no Tratado Preceitual Chinês Li Ching: “Faz bem pensar mais uma vez, embora concorde; é bom pensar mais uma vez, embora discorde”. Creio na sua afirmação que aconselha o estudo e a prática, especialmente aos jovens e, sendo assim, peço-lhe que me permita segui-lo, para poder aprender. Como prova do meu agradecimento, peço licença para declamar uma poesia, apesar da pouca habilidade...

Toda concordou silenciosamente. O rapaz fechou levemente os olhos e começou a declamar com sua voz sonora:

 

Ó, viajante!

De onde vens?

E para onde irás?

 

A Lua desce

No caos da madrugada;

Mas, vou andando,

Antes de o sol nascer.

À procura de luz.

 

No desejo de varrer

As trevas de minh’alma,

A grande árvore eu procuro,

E que nunca se abalou,

Na fúria da tempestade.

Neste encontro ideal,

Sou eu quem surge da terra!

Todos ficaram surpresos. Para Josei Toda, especialmente, a última frase soou de forma muito significativa. “Sou eu quem surge da terra!” – era a missão dos bodisatvas da terra que surgiram nos Últimos Dias da Lei para propagar o ensinamento do budismo. Toda sensei pressentia que tudo aquilo havia sido místico: o encontro com aquele rapaz de 19 anos lembrava-o do que tivera com seu mestre, Tsunesaburo Makiguchi. “Se o budismo é certo, deverá surgir infalivelmente uma relação de mestre e discípulo entre as duas pessoas que infalivelmente deverão realizar uma revolução religiosa sem precedentes na história da humanidade”, era o que pensava Josei Toda.

 

Abraçar a missão

Ikeda sensei recebeu o Gohonzon e se converteu ao Budismo Nichiren em 24 de agosto de 1947. Embora sua família, a princípio, não fosse a favor de sua prática, o jovem não hesitou, inspirado pela confiança que Josei Toda depositava nele, como afirma:

 

Ele confiava em mim, e me dizia: “Vamos, não hesite! Desafie seu espírito de procura comigo! Estude e pratique com coragem, assim como cabe a um jovem!”. Minha intuição de jovem dizia-me que podia seguir com segurança aquele homem que havia sido preso durante a guerra em defesa da paz e do budismo. Nesse sentido, 24 de agosto marcou meu ingresso na “Universidade Toda”. Uma vida dedicada à verdade tem início com a relação entre mestre e discípulo.2

 

Em pouco mais de dez anos de convívio, mestre e discípulo tiveram uma existência em perfeita harmonia e união, conquistando grandes feitos como a concretização de 750 mil famílias ao budismo, a Declaração pela Abolição das Armas Nucleares, em 1957, e a Cerimônia do Kosen-rufu, realizada em 16 de março de 1958.

Após o falecimento de Josei Toda, Ikeda sensei assumiu a terceira presidência da Soka Gakkai em 3 de maio de 1960. Em outubro daquele ano, partiu para a primeira viagem ao exterior a fim de propagar o budismo em diversos países, entre eles o Brasil. A partir de então, vem se empenhando incansavelmente para cumprir os ideais do seu mestre e impulsionar o movimento pelo kosen-rufu. Suas inúmeras realizações vão desde a criação do sistema educacional Soka e escrever livros até a fundação de instituições como o Museu de Arte Fuji de Tóquio e a Associação de Concertos Min-On; dos diálogos com diversas personalidades mundiais às homenagens recebidas de cidades, universidades e outras instituições reconhecendo seus esforços pela paz, cultura e educação.

O vínculo inquebrantável de mestre e discípulo, eternizado em sua máxima obra literária, o romance Nova Revolução Humana, é a base de todo esse desenvolvimento da Soka Gakkai e também da transformação de vida de milhões de pessoas em vários países por meio da prática do Budismo de Nichiren Daishonin.

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