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TC
Como conquistar a prosperidade
Fim de ano significa festejar, reunir a família, pagar contas. IPTU, IPVA, presentes... Vários boletos chegam nessa época. Para alguns, a melhor solução seria ganhar na loteria e parar de se preocupar com essas despesas. Por outro lado, sabemos que nada é tão simples. Vamos ver na Matéria de Capa desta edição como transformar o aspecto financeiro e conquistar a verdadeira prosperidade.
12/12/2019
Certa vez, uma senhora ofereceu uma moeda de ouro para adornar uma estátua de madeira do Buda.1 Consta que “[como benefício], por noventa e um longos kalpa, ela renasceu adornada com o brilho de um corpo de ouro”.2 Sobre isso, o presidente da SGI, Dr. Daisaku Ikeda, explica de forma bem-humorada:3
O “brilho de um corpo de ouro” significa uma vida que reluz com a suprema boa sorte e benefício. Pode-se dizer que é o tipo de circunstância em que há tanto dinheiro entrando que você chega a exclamar “Já tenho o suficiente! Não preciso de mais!”.
Seria excelente se chegássemos a essa condição, não é? Mas, atualmente, para a maioria de nós, parece que o dinheiro só sai. A situação já não está fácil e tende a piorar agora, no fim do ano, com tantos boletos “especiais de ano novo”.
A boa notícia é que, apesar de a história acima ser uma parábola, ela ilustra um ensinamento precioso e que pode ser aplicado às situações cotidianas. Para isso, temos de ir um pouco além da doação de uma moeda de ouro a uma estátua do Buda e ver como podemos conquistar o benefício “do brilho de um corpo de ouro” ou “a suprema boa sorte e benefício” nesta existência.
Vá além
Um dos pontos que precisamos compreender para atingir o objetivo citado anteriormente é como lidar melhor com os recursos, incluindo o financeiro. Para isso, contamos com o exemplo do professor Gustavo Cerbasi, a maior referência em inteligência financeira do Brasil.4
Nascido em Caxias do Sul, interior do Rio Grande do Sul, e filho de um imigrante italiano com uma paulistana, Gustavo teve uma infância simples, mas sem grandes privações. A maior ausência era a do pai, que, devido ao trabalho, só voltava para casa nos fins de semana.
Apesar dessa ausência, os esforços dos pais permitiram que ele praticasse natação, cursasse inglês e se dedicasse aos estudos, tarefas que lhe abriram caminhos para a graduação em administração pública pela Fundação Getulio Vargas (FGV) e, mais tarde, para o mestrado em finanças pela Universidade de São Paulo (USP).
A carreira acadêmica de Gustavo é notável, mas foi por outro motivo que ele ficou famoso: aos 31 anos fez seu primeiro milhão e há mais de quinze anos se dedica à escrita, lançando obras como Casais Inteligentes Enriquecem Mais, um de seus best-seller. Atualmente, ministra cursos, palestras, continua publicando livros e é conhecido dentro e fora do país.
Nosso grande questionamento era como ele havia conseguido atingir esse padrão de vida. E foi justamente nesse caminho que conduzimos a breve e rica entrevista com Gustavo Cerbasi:
Terceira Civilização: O senhor é uma autoridade no campo das finanças e ministra cursos e palestras por todo o Brasil. De onde surgiu o interesse em se especializar em economia doméstica, dentre tantas outras especialidades?
Gustavo Cerbasi: Sendo sincero, em momento algum, antes do sucesso dos meus livros, parei e pensei: “Vou estudar e viver de educação financeira”. As encruzilhadas da vida me fizeram tomar decisões e fui seguindo o caminho que fazia mais sentido para mim.
Comecei a atuar na área a convite de um ex-colega de faculdade, não por meus conhecimentos em finanças, mas por minha habilidade em redação (o mérito, aqui, é da minha mãe, que sempre me incentivou muito na leitura). Meu objetivo era traduzir as análises dos técnicos em laudos de avaliação de empresas.
Deu muito certo, e aos poucos fui me especializando a escrever e a lecionar finanças para públicos que não tinham afinidade com o assunto. Como eu sabia que o tema não era palatável para advogados, secretárias, profissionais de TI e publicitários, a técnica que adotei foi ensinar contabilidade com base nas declarações de imposto de renda dos alunos — normalmente para essas aulas usamos informativos contábeis de grandes empresas.
Os alunos aprovaram a técnica, e quando redigi uma boa apostila de aula, fui convidado por um dos meus alunos a transformar aquela apostila em livro. Foi assim que nasceu Dinheiro, Os Segredos de Quem Tem, meu primeiro best-seller. Eu não sabia, mas, ao escrevê-lo, já estava em um caminho sem volta.
O conteúdo despertou a atenção da mídia, que sempre procurei atender prontamente, e essa disponibilidade me permitiu conquistar espaço e fomentou a venda do meu livro. Cada vez mais em contato com o público, via que as dúvidas eram muitas, e foi para responder às dúvidas ainda não abordadas em meu primeiro livro que escrevi outros quinze livros, incluindo Casais Inteligentes Enriquecem Juntos, Investimentos Inteligentes, Como Organizar sua Vida Financeira e meu mais recente A Riqueza da Vida Simples.
TC: No livro A Riqueza da Vida Simples, o senhor propõe um novo modelo de construção de riqueza, baseado em escolhas sustentáveis. O que isso significa, na prática?
GC: A ideia não é exatamente nova. Desde o meu primeiro livro, explico que o caminho para equilibrar as finanças não é cortar pequenos gastos com lazer e cafezinhos, mas sim rever o estilo de vida. De forma bem simplista, uma das orientações que eu dava aos meus leitores era trocar um carro de R$ 50 mil por um de R$ 40 mil, ou uma casa (própria ou alugada) de R$ 400 mil por uma de R$ 350 mil. A ideia era preservar gastos com lazer e qualidade de vida, pois a motivação é um item importante na disciplina do planejamento. Mas isso nem sempre era compreendido pelo público, principalmente por aquela parcela que não lia minhas obras por completo.
A Riqueza da Vida Simples foi escrito depois de algumas experiências pessoais, buscando justamente equacionar melhor essa recomendação. Para comprovar que um estilo de vida mais equilibrado permitia acelerar a construção de riquezas, comprei uma casa de campo, abandonei hábitos de consumo que minha família tinha nos fins de semana e reformei totalmente essa casa, adotando um sistema de captação própria de água e energia e de consumo do esgoto para geração de gás.
O livro comprova que é possível viver muito melhor e com gastos mais sofisticados quando fazemos pequenos ajustes nas grandes escolhas financeiras, tipicamente casa, carro e educação. O caminho para essa mudança começa em adotar práticas mais minimalistas de consumo, ou seja, eliminar tudo o que não é necessário.
Isso não faz sentido para muita gente, especialmente àquele que foi educado para cultivar ambições. Mas o modelo faz total sentido quando se entende que esse é o caminho para uma forma de consumo mais essencialista, baseado em ter abundância naquilo que é verdadeiramente importante para si. Por exemplo, se pratico esportes, quero ter os melhores equipamentos desse esporte. Se gosto de cozinhar, quero ter a cozinha mais equipada. Se gosto de viajar, serei feliz se souber que meus planos permitem conhecer o mundo todo. Essas escolhas são o resultado de outras mais equilibradas e inteligentes quanto às finanças — e meu trabalho é ensinar a construir esse planejamento na vida de qualquer pessoa.
TC: O segundo presidente da Soka Gakkai, Josei Toda, dizia que seu maior objetivo era “eliminar a miséria do coração das pessoas”. A partir de seus vinte anos de experiência na área, o que isso significa para o senhor?
GC: Quando eu disse que as encruzilhadas da vida me fizeram tomar decisões, era exatamente a essa visão que me referia. Vivi algumas situações de decisões profissionais bem difíceis. Por exemplo, continuar em um estágio num banco ganhando R$ 800,00 mensais, ou aceitar um emprego formal com salário de R$ 4 mil que prejudicaria a conclusão da minha faculdade? Continuar dando aulas de pós-graduação ou viver o sonho de empreender em outro país? Escrever um livro em linguagem acadêmica ou expandir o número de leitores adotando uma linguagem popular? Em situações como essas, minha decisão era sempre no sentido de tocar mais pessoas, transformar mais vidas.
Sempre fui generoso nas entregas dos meus trabalhos, fornecendo mais do que me demandavam nas aulas, nas palestras, nos livros. Os editores constantemente me diziam que meus livros Investimentos Inteligentes e Como Organizar sua Vida Financeira tinham muito conteúdo para uma obra só, que poderiam ser divididos em seis títulos cada um (e eu poderia lucrar mais com isso). Mas um livro limitado levaria o público a procurar minha consultoria, e eu não queria dedicar tempo ao atendimento de uma só pessoa. Queria usar o mesmo tempo para escrever mais livros, que são a forma mais barata de educar. Meu primeiro livro, Dinheiro, Os Segredos de Quem Tem, é vendido pelo mesmo preço desde 2002. É uma ginástica e tanto cortar custos e reduzir o lucro para continuar alcançado mais pessoas.
Esse é o exemplo que procuro transmitir. Valorizar meu tempo para que mais gente tenha contato com minhas ideias e mais vidas sejam transformadas. Foi isso que me fez levar meu maior best-seller para o cinema (Casais Inteligentes Enriquecem Juntos foi a inspiração para o filme Até Que a Sorte nos Separe, maior bilheteria brasileira de 2012) e foi essa ideia que me levou a desenvolver o jogo de tabuleiro Renda Passiva. Hoje, uma escola investe em um jogo de tabuleiro e transforma a vida de milhares de crianças com muita diversão. Se eu focasse mais no lucro, talvez tivesse um exército de consultores trabalhando para mim e cobrando caro por hora de trabalho. Porém, com foco em transformar a vida das pessoas, meu trabalho ganhou maior repercussão, se tornou mais valorizado e respeitado. Se pudesse voltar no tempo, não mudaria nem uma decisão sequer das que tomei na vida.
A jornada de Cerbasi é muito inspiradora, não é? Nosso desafio agora é trazer essas experiências para nossa realidade. Para isso, vamos destacar algumas lições:
1. Utilizar o melhor de suas habilidades ao aproveitar as oportunidades que aparecem, ou seja, entregar mais do que é pedido.
2. Ajudar as pessoas com base na própria experiência, com foco no impacto positivo que podemos produzir na vida delas (e não no ganho material).
3. Fazer escolhas equilibradas e inteligentes nas finanças.
4. Descobrir o que o faz feliz e desenvolver isso ao longo da vida.
Agora, vamos ver como esses quatro pontos se relacionam com a prática budista.
Promova a transformação interna
Diante da história de Gustavo Cerbasi, podemos pensar: “Eu não tenho as mesmas oportunidades que ele teve. Seria possível eu conquistar uma condição de tamanha prosperidade?”. O budismo responde a essa questão.
Tais “oportunidades” são fatores externos. Condições com as quais a pessoa nasce ou não, e tem a chance (ou não) de encontrar ao longo da vida. No entanto, elas não são a verdadeira prosperidade. Por exemplo, pense em uma pessoa humilde que ganha a loteria. No Brasil temos vários casos em que isso ocorreu5 e os ganhadores voltaram à condição humilde em pouco tempo. Fazendo um paralelo com a história de Cerbasi, mesmo que ele tivesse várias oportunidades e condições, sem o esforço ao longo dos anos ele não chegaria aonde chegou.
No volume 6 da Nova Revolução Humana consta:6 “[A prática budista] É uma prática para a própria revolução humana. A única forma é levantar-se e vencer com as próprias forças. (...) Mesmo que alguém o ajude com muito dinheiro, seu destino não mudará. E se não mudar o destino, não será feliz”.
A “mudança do destino” começa com a consciência de que todos nós, independentemente do contexto que vivemos ou das condições que nascemos, temos o direito e a oportunidade de sermos felizes e prósperos nesta existência. No entanto, para algumas pessoas, acreditar em seu próprio potencial e promover essa mudança profunda na vida é um grande desafio, chegando a parecer impossível em alguns casos.
Em seu derradeiro ensinamento, Shakyamuni afirma que todas as pessoas possuem o mesmo estado de buda que ele.7 Ou seja, todos nós, independentemente da origem, oportunidades e demais fatores externos, já possuímos tal sabedoria e consciência próspera. Despertar esse lado “iluminado” (o significado de “buda”) é o propósito maior da filosofia e da prática budista.8
Para despertar alguém devemos chamá-lo, certo? Da mesma forma, para evidenciar nossa natureza de buda, precisamos recitar Nam-myoho-renge-kyo. Quando o fazemos com a determinação de que “Eu já sou uma pessoa próspera”, ativamos essa condição de dentro para fora, e passamos a agir de forma mais consciente, criando uma nova realidade a partir de agora.9
Sabemos que ao longo do ano podemos enfrentar os mais variados imprevistos e acontecimentos que tiram esse foco. A Soka Gakkai Internacional, no Brasil representada pela BSGI, existe justamente para mantermos contato com pessoas que possuem o mesmo objetivo de se desenvolver e se tornar indivíduos melhores, mais prósperos e mais felizes; para incentivarmos e sermos incentivados quando “o calo aperta” e “bate” o desânimo; para relembrarmos e sermos relembrados de que todos possuímos essa natureza próspera e sábia; para desenvolvermos diversos aspectos e habilidades — alguns deles que, uma vez descobertos, abrem caminhos novos e mais prósperos em diversas áreas da vida. E também para comemorarmos juntos a vitória de cada um.
Ao trilharmos de forma diligente esse caminho, conseguimos ver nossos objetivos gradualmente se aproximando. A alegria é tanta que passamos a compartilhar essa felicidade com mais pessoas; se elas não são budistas, explicamos sobre a prática e a filosofia ensinadas por Nichiren Daishonin. Se elas já são integrantes da nossa localidade, podemos abrir uma parte da casa para receber membros e fazer atividades, e se desejamos contribuir para a manutenção das sedes centrais e regionais, participamos do Kofu.10
Certamente ensinar alguém sobre a filosofia budista é a causa principal para a transformação positiva na vida de quem ensina e de quem aprende. De forma paralela, oferecer a casa ou contribuir para a manutenção das sedes é uma maneira indireta e também efetiva de exercer a prosperidade, já que está contribuindo para manter lugares nos quais mais pessoas descobrem e desenvolvem seu máximo potencial.
Neste ano novo, permita-se o desafio e o aprendizado para a transformação positiva de vários aspectos da sua vida. Gustavo Cerbasi explica as estratégias para atingirmos a prosperidade financeira; já a prosperidade espiritual conquistamos por meio da prática budista e da participação nas atividades da BSGI. Assim, certamente cultivaremos uma condição de transbordante boa sorte e benefício para o ano que vem e além.
A partir de tudo o que vimos, podemos estabelecer quatro passos básicos para conquistarmos a prosperidade:
1. Promover a “mudança do destino” a partir da recitação do Nam-myoho-renge-kyo ao Gohonzon, buscando compreender os aspectos da própria vida que precisam ser transformados para obter a prosperidade.
2. Fazer escolhas equilibradas e inteligentes nas finanças — e isso começa com o simples ato de sentar e de fazer as contas. O início do novo ano é um excelente período para isso, pois você já planeja o ano inteiro.
3. Lançar objetivos que estejam de acordo com o que lhe faz feliz e motivado. Pense no que deseja fazer e quando pretende realizar, e coloque tudo “na ponta do lápis”.11
4. Ativar sua prosperidade por meio do desenvolvimento constante, aproveitando ao máximo as oportunidades que a BSGI oferece a seus integrantes e se tornando uma pessoa melhor em todos os aspectos.
Ao nos empenharmos com afinco nesses passos ao longo do ano que se iniciará em breve, certamente nossa vida será “adornada com brilho de um corpo de ouro”. Ou seja, atingiremos uma condição de vida de “suprema boa sorte e benefício”, construindo a partir do nosso interior a prosperidade e a verdadeira felicidade.
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