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A voz da esperança na Amazônia
Em visita ao Instituto Soka Amazônia, Tainara Kambeba fala sobre tradição, resistência e esperança para o futuro indígena
Redação
24/04/2025

Tainara da Costa Cruz, conhecida como Tainara Kambeba, em visita ao Instituto Soka Amazônia — Foto: Instituto Soka Amazônia
No Brasil, há aproximadamente 1,6 milhão de indígenas, segundo o censo de 2022. E, todos os anos, no dia 19 de abril, celebramos o Dia dos Povos Indígenas. Entre as muitas histórias de resistência e preservação cultural, destacamos a de Tainara da Costa Cruz, conhecida como Tainara Kambeba, 20 anos. Indígena do povo Omágua Kambeba, ela nasceu na Aldeia Jaquiri, no município de Alvarães (AM), e, desde os 8 anos, vive na Comunidade Três Unidos. Criada pelos bisavós, aprendeu cedo a respeitar e preservar a floresta e os saberes tradicionais.
Apresentação em vídeo da Tainara
Jovem, comunicadora e influenciadora digital, vem participando de debates internacionais sobre o clima. Desde a infância, esteve presente em projetos da Fundação Amazônia Sustentável (FAS), como o Repórteres da Floresta. Em 2021, começou a produzir conteúdos digitais sobre a realidade indígena e, em 2022, foi convidada pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) para representar a juventude indígena na COP27, no Egito. Em 2023, foi nomeada Jovem Ativista do UNICEF.
Em visita à sede do Instituto Soka Amazônia, em Manaus (AM), Tainara compartilhou não apenas suas experiências pessoais, mas também a força da ancestralidade que carrega. Falou sobre o papel da mulher indígena, a importância da educação ambiental e os desafios enfrentados pelos povos originários diante das mudanças climáticas.
Instituto Soka Amazônia: Tainara, bem-vinda. O que significa ser uma mulher Kambeba hoje?
Tainara Kambeba: Olá. Obrigada pela recepção. Para mim, ser uma mulher Kambeba significa abrir caminhos para novas oportunidades, para que outras mulheres e jovens também possam ocupar seus espaços. Quero levar uma mensagem de conscientização de que as mulheres podem exercer papéis de liderança na sociedade brasileira. Meu objetivo é inspirar e representar muitas vozes que foram silenciadas por séculos. A caminhada é coletiva, nunca solitária.
Instituto Soka: Como surgiu o desejo de preservar e compartilhar os saberes do seu povo?
Tainara: Acredito que nascemos com esse espírito coletivo. Aprendi muito com meus familiares e levo essa força comigo. A floresta é nossa casa e nossa mãe. Quando a natureza adoece, nós também adoecemos.
Instituto Soka: Suas palavras ecoam com o que escreveu nosso fundador, Dr. Daisaku Ikeda: “A Amazônia é o maior tesouro do mundo, é onde resplandece a luz da vida, onde ecoa a contínua canção da vida. Quando a Amazônia adoece, o planeta agoniza; quando a Amazônia chora, a Terra se desespera; e quando a Amazônia bater suas asas, a humanidade poderá voar altivamente”.
Tainara: Essa conexão com o território e com a água é a base da cultura Kambeba. Nosso verdadeiro nome é Omágua, que significa “povo da água”. Nascemos de uma gota d’água.
As crianças são o agora
Durante o diálogo, Tainara emocionou ao dizer: “As crianças não são o futuro; elas são o agora. Tudo o que aprendi, ensino a elas. No nosso território, mantemos as tradições vivas com música, linguagem e rodas de conversa com os anciãos. Ensinamos também a defender o que é nosso, sem medo ou vergonha”.
Conexão entre mundos
A relação entre os povos indígenas e instituições como o Instituto Soka também foi destacada. “Senti confiança e alegria quando o instituto visitou a Comunidade Três Unidos. Essas parcerias contribuem para a preservação da natureza. Quero que essa conexão se fortaleça e chegue a outros lugares. Precisamos unir indígenas e não indígenas para construir um futuro melhor”.
As marcas da mudança climática
Instituto Soka: Como a seca afetou sua comunidade, desde o turismo até o acesso à saúde, energia e educação?
Tainara: Foi um momento muito difícil, mas conseguimos superar e mostrar o que vivemos por meio das redes sociais. Ecoar nossas vozes também é uma forma de resistência.
Instituto Soka: Como as redes sociais se tornaram uma ferramenta de resistência?
Tainara: A tecnologia ainda é nova para mim, mas já trouxe grande retorno. Muita gente passou a querer conhecer a comunidade e apoiar nossa cultura. É fruto de um trabalho coletivo.
Instituto Soka: E o futuro, como você o enxerga para seu povo?
Tainara: O que faço não é só meu, é do meu povo. Quero ver minha comunidade mais evoluída, com mais vozes se levantando para continuar o que estamos construindo. Quero ser uma porta-voz e levar conhecimento para dentro e para fora da comunidade.
Um convite especial
Com o mesmo sorriso que manteve durante toda a conversa, Tainara nos deixou um convite: “Se você quer conhecer mais sobre os povos originários e minha cultura, venha viver uma experiência na Comunidade Indígena Três Unidos. Vocês serão muito bem-vindos!”

Tainara, de vestido preto, com a equipe do Instituto Soka Amazônia em frente ao Encontro das Águas dos rios Negro e Solimões
Sobre o povo Kambeba
Originários da fronteira entre o Brasil e os países andinos, os Kambeba vivem em diversas regiões do Amazonas, especialmente às margens do Rio Cuieiras. A Comunidade Três Unidos, localizada dentro da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Puranga Conquista e da APA Aturiá-Apuazinho, é um dos principais núcleos desse povo.
A comunidade mantém suas tradições vivas e tem no etnoturismo uma importante fonte de renda. Eles oferecem hospedagem, culinária regional e artesanato. De Manaus, a viagem de lancha até lá leva, em média, uma hora e meia.
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