Conheça o Budismo
BS
Profundamente feliz
A verdadeira plenitude está ligada à conquista de uma inabalável condição de vida, tão vasta quanto o oceano
11/02/2021
Vida inabalável
É muito comum as pessoas relacionarem felicidade com algo longínquo e abstrato. Esse distanciamento muitas vezes se dá devido à crença de que essa condição somente será alcançada quando concretizar um objetivo grandioso ou conquistar bens materiais. Mas será a felicidade apenas isso? No Budismo de Nichiren Daishonin, aprendemos que a felicidade correspondente a um nível de vida elevado, alcançado com fé e dedicação. Essa plenitude ainda pode ser explicada por meio do conceito de felicidade absoluta cujo contraste é a felicidade relativa.
Felicidade relativa: Representa a satisfação momentânea pela conquista, por exemplo, de algo material ou que tanto se desejou. Depende de circunstâncias externas e por isso é instável.
Felicidade absoluta: Indica uma plenitude que se origina do simples fato de estar vivo, condição de vida não vinculada a fatores externos. É chamada “absoluta” justamente por não se abalar com as ocorrências que venham de fora da pessoa.
Josei Toda, segundo presidente da Soka Gakkai, costumava explicar esse conceito da seguinte forma: “Felicidade absoluta é manifestar o estado de buda. Já a felicidade relativa é realizar desejos tais como ganhar uma grande quantia em dinheiro, casar-se com a mulher (ou homem) ideal, ter bons filhos, construir a casa própria, adquirir boas roupas etc.”.1
Belo e profundo
Nessa explicação simples e direta feita por Toda sensei, percebe-se a distinção entre os dois tipos de felicidade e, inclusive, que uma delas (a absoluta) brota do interior do ser humano; enquanto a outra (a relativa) refere-se às conquistas materiais externas. Ambas são naturais do ser humano. Porém, se o objetivo da pessoa é manifestar força e sabedoria para vencer tudo, ao passo que conquista seus objetivos, o foco deve ser manifestar a felicidade absoluta. Sobre isso, o Dr. Daisaku Ikeda, presidente da Soka Gakkai Internacional (SGI), orienta:
Qual é a definição de felicidade humana? Um provérbio da Tailândia diz: “A falsa felicidade faz a pessoa seguir um esquema e a torna presunçosa e detestável. A verdadeira felicidade torna a pessoa feliz até que ela transborde sabedoria e compaixão”. (...) A felicidade absoluta é aquela que faz jorrar do nosso interior uma extrema alegria, infinita sabedoria e compaixão — assim como diz o ditado tailandês.2
Equilíbrio entre os elementos
No Budismo de Nichiren Daishonin, aprendemos também sobre “a teoria dos dez mundos”, a partir da qual tomamos conhecimento de que por meio da prática budista é possível dominar e transformar nossa condição interna elevando a vida de condições inferiores até atingir a iluminação (mundo dos budas).3
Mas como essa teoria se relaciona com o tema desta matéria? A felicidade relativa é a condição de vida das pessoas que “vivem” no mundo dos seres celestiais, caracterizado pela alegria de conquistar desejos resultantes de esforços. Já a felicidade absoluta refere-se ao supremo mundo dos budas, no qual está o indivíduo que alcançou e percebeu ser a Lei Mística de Nam-myoho-renge-kyo a Lei fundamental que rege o universo. Nichiren Daishonin inscreveu o Gohonzon para que as pessoas pudessem manifestar essa elevada condição de vida.
Mergulhar em si mesmo
Viver a condição de felicidade absoluta não é somente uma questão de dizer que se sente pleno, mas de se sentir assim verdadeiramente. A questão é que muitos não se esforçam para transformar a vida em sua profundeza em busca da iluminação, acham difícil cultivar nobres características e sentem medo dos desafios que podem encontrar ao trilhar o caminho para uma vida plena. Então, quais características são necessárias para alcançar essa condição?
Certa ocasião, Ikeda sensei compartilhou seis aspectos para alcançar a felicidade.4 São eles:
Plena realização. Característica interna do ser humano. A felicidade não está na aparência e nem na vaidade; ao contrário, surge da profunda alegria e da sabedoria para conduzir a vida.
Profunda filosofia. Em meio às dificuldades, basear a vida numa filosofia que enalteça a existência humana e colabore para a criação de laços de incentivo entre as pessoas.
Convicção. Manifestar a sabedoria budista para diferenciar o certo do errado e refleti-la em toda a sociedade, agindo pela felicidade de si e dos demais.
Viver alegre e vibrantemente. Conduzir a vida com leveza e lançar um olhar positivo e de aprendizado sobre os fatos. Além disso, manifestar disposição, alegria e bom-humor contagiando todos à sua volta.
Coragem. Não permitir ser paralisado pelo medo e pelas ilusões que conduzem à tristeza. Pessoas corajosas superam tudo!
Tolerância. Pessoas de mente aberta conseguem criar um ambiente propício para o desenvolvimento das demais e nessas condições o encorajamento e o incentivo tornam-se possíveis.
Uma vez registradas na vida de cada pessoa, essas características de quem busca a felicidade absoluta também ficarão gravadas por toda a eternidade. Diferentemente, as conquistas efêmeras se apagam no momento da morte.
Oração e ação
Para manifestar essas ricas características, faz-se necessária a dedicação em dois pontos:
1. Orar para manifestar a compaixão e a sabedoria do buda, sempre pelo desenvolvimento comum.
2. Agir, pondo em prática o estudo do budismo e as orientações do Mestre, e criando as oportunidades necessárias para manifestar sabedoria, compaixão e boa sorte.
O presidente Ikeda orienta:
Se oramos do fundo do coração, desejando a felicidade de si e dos outros, certamente a oração retornará como boa causa na sua vida, conforme Nichiren Daishonin diz: “(...)Todos esses atos virtuosos trarão benefícios e fincarão raízes do bem em sua vida”.5 Tudo depende do coração.6
Portanto, orar gongyo e recitar Nam-myoho-renge-kyo representam um reencontro com a felicidade. As orações são fontes da plenitude que brotam das profundezas da vida humana, fazendo perceber que não há situação que não possa ser vencida.
Continue a nadar
As orações no budismo também desempenham a função de abrir os olhos para a realidade. Isso é fundamental porque somente cientes dos fatos da vida é que se torna possível agir para transformar uma existência efêmera e de sofrimentos, em nobreza, significado e felicidade. Princípios budistas dão conta de que desejar e lutar por conquistas materiais não é proibido; é algo importante, pois colaboram para sanar questões básicas do dia a dia, tais como moradia, alimentação, acesso à cultura etc. O “x” da questão é “Quanto me dedico a isso e ignoro o que realmente me faz feliz?”.
O tema felicidade absoluta nos ajuda a entender que precisamos focar no essencial para ter condições de conquistar o básico. Não é “ter” para “ser”, mas o contrário: tornar-se uma pessoa cuja condição inabalável de vida supera qualquer desafio e atrai as melhores oportunidades, sempre observando as demais pessoas ao redor. Ou seja, a suprema condição de buda é a mesma da felicidade absoluta, outro nome para plenitude e iluminação, que se manifesta na vida de pessoas de espírito grandioso, aquelas que possuem “um coração tão amplo como o oceano”. Assim como nosso mestre registra em uma de suas obras:
Apesar de não visível aos olhos, há uma órbita ou trajetória na vida. Existe, sem dúvida, uma trajetória que leva à felicidade absoluta — essa é a estrada da Lei Mística.
Se continuarmos seguindo por esse caminho sem abandonar a prática budista, viremos sem falta a experimentar o sabor da completa realização material e espiritual.7
Notas:
1. IKEDA, Daisaku. Felicidade. São Paulo: Editora Brasil Seikyo, 2015. p. 19.
2. Ibidem, p. 15-16.
3. Cf. Os Fundamentos do Budismo Nichiren para a Nova Era do Kosen-rufu Mundial, v. I. São Paulo: Editora Brasil Seikyo, 2016. p. 35-39.
4. IKEDA, Daisaku. Felicidade. São Paulo: Editora Brasil Seikyo, 2015. p. 26-29.
5. CEND, v. I, p. 4.
6. Brasil Seikyo, ed. 2.282, 4 jul. 2015.
7. IKEDA, Daisaku. Felicidade. São Paulo: Editora Brasil Seikyo, 2015. p. 134.
Fontes:
∙ IKEDA, Daisaku. Felicidade. São Paulo: Editora Brasil Seikyo, 2015.
∙Os Fundamentos do Budismo Nichiren para a Nova Era do Kosen-rufu Mundial, v. I. São Paulo: Editora Brasil Seikyo, 2016.
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