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Quando você muda, tudo se transforma
O princípio budista de “unicidade da vida e seu ambiente” (esho-funi) revela que a transformação do mundo começa a partir da nossa mudança interior
08/04/2021
REDAÇÃO
Unidos por um fio
Tudo no universo está interligado pelo fio invisível da Lei Mística de causalidade budista (de Myoho-renge-kyo). É a isso que se refere o princípio de “unicidade da vida e seu ambiente” (esho-funi), exposto no budismo. “Vida” somos nós, os seres vivos, e “ambiente” representa a total dimensão do espaço, ou seja, as oito direções da bússola1 mais os sentidos para cima e para baixo. Refere-se, ainda, à forma como enxergamos e lidamos com os fenômenos que se manifestam em nossa vida diária: nós os vemos como algo externo, que não possui nenhuma relação direta conosco ou os encaramos como uma manifestação do nosso carma?
Em geral, estudamos sobre “unicidade da vida e seu ambiente” a começar pela nossa relação com a natureza, com o meio ambiente, mas também precisamos refletir a partir de outro prisma: o reflexo das nossas ações no mundo. Minhas ações de hoje geram impacto — no futuro imediato ou numa dimensão pouco mais distante, mas, sem dúvida, vão se refletir. Na sociedade se fala muito em “toda ação gera uma reação”; no Budismo de Nichiren Daishonin, aprendemos que “toda causa gera um efeito”. Sejamos, portanto, um pouco mais críticos com nossas ações: “Que tipo de efeito estou causando pela forma como trato as pessoas que têm opiniões diferentes das minhas, ou como lido com dinheiro e também como cuido dos espaços públicos pelos quais transito?”; “Será que posso me orgulhar de quem sou hoje ao analisar criteriosamente minha conduta?”. Enquanto discípulo Ikeda, estou cumprindo minha missão e sendo motivo de orgulho para meu mestre? São somente alguns questionamentos que precisamos nos fazer, pois a resposta para cada um deles constrói a nossa relação com o mundo e o tipo de causa que estamos plantando em nossa vida — o eixo central da “unicidade da vida e seu ambiente”.
Percepções do Buda
No escrito Os Presságios,2 o buda Nichiren Daishonin analisa os indícios da época em que o buda Shakyamuni pregava o Sutra do Lótus, com base na “unicidade da vida e seu ambiente”. Em sua reflexão, Daishonin relaciona as direções de uma bússola, mais as direções para cima e para baixo, aos órgãos dos sentidos humanos (leste aos olhos; oeste ao nariz; orelhas ao norte; língua ao sul; centro à mente; o corpo a todas as direções). Sua percepção, expressa na frase “estranhas ocorrências nos céus assustam todas as pessoas e calamidades na terra as atordoam”3 é a de que isso ocorre como resultado da “degeneração dos cinco órgãos dos sentidos (corpo) e da mente das pessoas”,4 ou seja, do desequilíbrio gerado por meio das ações e dos pensamentos dos seres humanos.
Relação simbiótica
Essas relações feitas por Nichiren Daishonin reafirmam a teoria budista de que todos os fenômenos da vida estão interligados. Daí surge a questão: “Como manter a harmonia em nossa vida e na sociedade?”. Partindo da afirmativa de Daishonin, para gerar equilíbrio externo, é necessário agir de forma positiva, isto é, mudando de postura. O Dr. Daisaku Ikeda, presidente da Soka Gakkai Internacional (SGI), afirma:
Quero que estejam certos de que a mudança para a qual nos incumbimos dia após dia — a nossa revolução humana — é a estrada real que dará origem a uma reforma em nossas famílias, no local em que vivemos e na nossa sociedade. Uma revolução interior é a mais fundamental e, ao mesmo tempo, a revolução suprema para causar a mudança em tudo.5
Condição de buda
No budismo, também aprendemos sobre a teoria dos “dez mundos” (Jikkai),6 condições que distinguem e regem as ações dos seres humanos. Algumas pessoas vivem sob a tranquilidade, característica do mundo dos seres humanos, outras, ainda, sob a irracionalidade do mundo dos animais. Porém, se desejamos viver de forma digna no futuro, precisamos pautar todas as nossas ações na elevada condição característica do mundo dos budas e, para isso, são fundamentais a recitação do daimoku e o estudo do budismo.
A recitação do Nam-myoho-renge-kyo (daimoku) é o ponto central para fazer surgir a sabedoria suficiente para enxergar os acontecimentos diários com os “olhos do buda” e agir de maneira positiva perante a eles. É crucial elevar a nossa condição de vida, por meio da prática e do estudo do budismo, e não permitir que a ilusão e as emoções momentâneas dominem nossa mente. Quando agimos assim, conseguimos revelar nosso máximo potencial como budas, de onde surge a diplomacia necessária para evitar conflitos, que geram mais causas negativas.
A maioria das pessoas está em busca da felicidade. Para nós, praticantes do Budismo de Nichiren Daishonin, essa procura vai além do individual: tentamos levar a felicidade também às outras pessoas. Essa postura reflete o desejo de que todos os indivíduos do mundo conquistem o estado de buda — uma condição inabalável de vida que não pode ser destruída por nada. No entanto, para que isso seja possível, é necessário esforço e determinação, conforme orienta Ikeda sensei:
Quando a pessoa determina abrir o palácio da própria vida, desencadeará a abertura de palácios da felicidade de outras pessoas e de palácio da prosperidade de uma sociedade. Isso caracteriza a conectividade que existe entre vidas e fará com que outras pessoas também abram os palácios de sua vida. Este é um princípio maravilhoso do budismo.7
Essa afirmação está em total acordo com o princípio de “unicidade da vida e seu ambiente”.
Conclusão
Por meio do princípio básico de “unicidade da vida e seu ambiente”, percebemos que toda a vida e todos os fenômenos estão interligados entre si, a ponto de uma atitude individual refletir na vida de outras pessoas, na sociedade e no planeta. Essas conexões se dão por meio da Lei Mística da causalidade budista, fator que rege todos os fenômenos do universo. Ao perceber a profundidade dessa Lei e evocá-la de dentro de nós, por meio da recitação do daimoku, manifestamos as condições de nos harmonizar internamente e, assim, transformar o ambiente externo. É como diz o Mestre na frase: “Quando mudamos a nossa atitude, mudamos as nossas circunstâncias”.8
A “unicidade da vida e seu ambiente” explica que individualidade e ambiente estão diretamente interligados e interferem um no outro. Conforme Ikeda sensei destaca: “A vida da pessoa e a do ambiente não são duas coisas separadas, mas uma só, ou duas partes integrantes de uma mesma realidade”.9
Sair de uma postura passiva ou negativa e adotar atitudes positivas e transformadoras, com base na prática budista, são os primeiros passos para a transformação. Exatamente conforme declara Ikeda sensei: “Uma vida de criação de valor insuperável é aquela dedicada ao kosen-rufu, ao empenho em prol do budismo e à felicidade das pessoas”.10
Notas:
1. Refere-se aos quatro pontos cardeais Norte, Sul, Leste, Oeste, mais os quatro pontos colaterais Nordeste, Sudeste, Sudoeste, Noroeste.
2. Coletânea dos Escritos de Nichiren Daishonin. São Paulo: Editora Brasil Seikyo, v. I, p. 673, 2014.
3. Ibidem.
4. Cf. Coletânea dos Escritos de Nichiren Daishonin. São Paulo: Editora Brasil Seikyo, v. I, p. 673-674, 2014.
5. Brasil Seikyo, ed. 1.230, 19 jun. 1993.
6. Teoria dos “dez mundos”: Profundo estudo que identifica características básicas de vida sob as quais vivem os seres humanos. Os “dez mundos” são: (1) mundo do inferno; (2) mundo dos espíritos famintos; (3) mundo dos animais; (4) mundo dos asura; (5) mundo dos seres humanos; (6) mundo dos seres celestiais; (7) mundo dos ouvintes da voz; (8) mundo dos que despertam para a causa; (9) mundo dos bodisatvas; (10) mundo dos budas.
7. Brasil Seikyo, ed. 2.227, 17 maio 2014.
8. Brasil Seikyo, ed. 1.409, 12 abr. 1997.
9. Brasil Seikyo, ed. 1.787, 12 mar. 2005.
10. Ibidem.
Fontes:
IKEDA, Daisaku. Construindo Pontes. Nova Revolução Humana, v. 20. São Paulo: Editora Brasil Seikyo, 2019.
Os Fundamentos do Budismo Nichiren para a Nova Era do Kosen-rufu Mundial, v. I. São Paulo: Editora Brasil Seikyo, 2015.
Brasil Seikyo, ed. 1.230, 19 jun. 1993.
Brasil Seikyo, ed. 1.787, 12 mar. 2005.
Brasil Seikyo, ed. 1.409, 12 abr. 1997.
Brasil Seikyo, ed. 2.324, 21 maio 2016.
Brasil Seikyo, ed. 2.460, 23 mar. 2019.
Brasil Seikyo, ed. 2.227, 17 maio 2014.
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Revista Terceira Civilização, ed. 395, jul. 2001.
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