Sabedoria para viver

REDAÇÃO

Em geral, a prática religiosa é encarada como algo separado do dia a dia, realizado em algum local especial ou, no mínimo, conduzido num horário totalmente distinto das demais tarefas pessoais.

No Budismo de Nichiren Daishonin, a prática religiosa e a vida diária não são vistas de forma separada e independentes. Quando as diversas atividades do cotidiano são consideradas uma prática budista, os benefícios são comprovados concretamente.

Aqui e agora

Nichiren Daishonin escreveu a um discípulo: “Considere o serviço prestado a seu senhor feudal como a prática do Sutra do Lótus”.¹ Nessa frase, ele ensina que o lugar onde são realizadas as ações diárias, como o trabalho e o lar, é o próprio local para o desenvolvimento do exercício budista. Em outras palavras, o ambiente real é onde se deve comprovar o correto modo de vida embasado na prática do budismo. Evidentemente, o objetivo da prática budista está na revolução humana de si mesmo, pois somente a mudança interior possibilita a real transformação das próprias circunstâncias.

Saborear a felicidade em meio ao drama diário, este é o caminho proposto pelo Budismo de Nichiren Daishonin. Felicidade ou iluminação é quando enxergamos com clareza os fenômenos que nos cercam e temos total liberdade de agir, mesmo em meio às mais desafiadoras adversidades. Ao contrário de viver imerso na escuridão, pois o medo e a angústia de enfrentar e superar os desafios deixam o indivíduo inerte diante da situação.

Eu inabalável

Sustentar a felicidade diariamente é um grande desafio. Contudo, quando estamos iluminados pela sabedoria budista, cultivamos uma condição interior inabalável e uma atitude mental positiva diante dessa realidade e, como consequência, extraímos valor a partir dos fatos. Isso é o resultado da iluminação.

O segundo presidente da Soka Gakkai, Josei Toda, ressalta:

A religião não é um conjunto de conceitos abstratos; a verdadeira religião é algo que pode ser vivido e deve ser demonstrado na vida. Compartilhar os ensinamentos de Nichiren Daishonin com outras pessoas e recitar gongyo todos os dias são meios para aprimorar nossa vida.²

Praticar o Budismo de Nichiren Daishonin é compreender que tudo pode ser transformado em benefício. O exercício budista é constante e diário, e com ele é possível alcançar essa compreensão e força interior inflexível.

Pôr em prática

O que faz o budismo se tornar a própria vida diária é o comportamento daqueles que o praticam. Suas ações são resultado de sua consciência interna. “A vida é definitivamente a manifestação de nossa realidade interior”,³ assim afirma Ikeda sensei.

Ele também ressalta:

Por mais que as pessoas possam insistir que atingiram a iluminação, se não agem com benevolência, elas estão mentindo. A sabedoria é invisível. Por essa razão, o comportamento de uma pessoa é o indicador, que mede a sua sabedoria. Afinal, o propósito do aparecimento do Buda neste mundo é alcançado por meio de seu comportamento como ser humano.⁴

Exercício budista

O maior benefício da prática budista é a iluminação. O cotidiano é formado por um conjunto de nossas próprias ações. A realidade diária se torna a causa para a manifestação do estado de buda e, ao mesmo tempo, o local para a transformação da vida, quando as ações do dia a dia se baseiam na fé budista. O empenho diário, alicerçado a uma abundante energia vital conquistada com o exercício da fé, gera mudanças em nossa própria vida.

Por exemplo, diante de um desafio do cotidiano, empregamos o princípio básico do budismo de “fé, prática e estudo”. Então, manifestamos sabedoria e energia vital para resolvê-lo. Quanto mais assim fizermos, mais o estado de buda cria raízes em nossa vida.

Cultivar uma vida forte

Se compararmos a fé às raízes de uma árvore, a vida diária corresponde ao tronco e aos galhos que produzem os frutos. Uma vida que não se baseia na fé é como uma planta sem raiz, a qual é facilmente derrubada pelos ventos da realidade. A fé separada da vida diária é como as raízes de uma árvore, sem tronco, galhos e, consequentemente, sem frutos.

O Budismo Nichiren elucida que, quanto mais profundas as raízes da fé, mais concretamente se edificará a vida diária. De acordo com ele, fé e vida diária formam um único corpo. Por essa razão, na SGI se orienta enfaticamente que “a prática da fé é a própria vida diária” e que “a vida diária de uma pessoa é a própria manifestação de sua prática da fé”. Dessa forma, buscamos sempre a vitória na vida diária, tornando-nos pessoas confiadas na sociedade.

Vitória humana

Viver sabiamente significa vencer como ser humano. A “vitória humana” consiste em conquistar a confiança das outras pessoas por meio da sabedoria e da energia vital transformadas em ações concretas.

A recitação do Nam-myoho-renge-kyo com fé, o comportamento alicerçado na filosofia de Nichiren Daishonin e os direcionamentos do presidente Ikeda são a base para que possamos expandir a energia vital e, como resultado, conduzimos uma vida de grandes realizações, conforme o líder da SGI afirma:

Por meio da prática, devemos manifestar uma vigorosa energia vital e grande sabedoria para superar gloriosamente todas as adversidades. Aí se encontra a verdadeira atitude da pessoa que põe em prática os ensinamentos budistas. Pode-se dizer que essa pessoa compreende “o significado das leis da sociedade”. O pensamento leviano de que “como estou praticando, este problema se resolverá de alguma forma” é um erro. Justamente por estarmos praticando é que precisamos orar firmemente para solucionar os problemas imediatos e a partir daí manifestarmos a vigorosa energia vital, empenhando-nos ao máximo em busca de soluções sábias, alcançando assim os resultados positivos. Isto é, em suma, o princípio de que “a prática da fé é a própria vida diária”. ⁵

Fontes:

Terceira Civilização, ed. 534, fev. 2013, p. 16.

Brasil Seikyo, ed. 1.911, 13 out. 2007, p. A8.

Notas:

1. Coletânea dos Escritos de Nichiren Daishonin. São Paulo: Editora Brasil Seikyo, v. II, p. 169, 2019.

2. Brasil Seikyo, ed. 1.726, 6 dez. 2003, p. A3.

3. IKEDA, Daisaku. Diário da Juventude. São Paulo: Editora Brasil Seikyo, 2015. p. 359.

4. IKEDA, Daisaku et al. A Sabedoria do Sutra do Lótus. São Paulo: Editora Brasil Seikyo, v. 2, p. 92.

5. Terceira Civilização, ed. 534, fev. 2013, p. 16.