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Asas para o futuro

A beleza tradicional de Seul

Sugestão de matéria a ser utilizada nas reuniões pela DE-Esperança e DE-Herdeiro

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06/07/2019

A beleza tradicional de Seul
Quando converso com os jovens, por vezes peço que me falem quem os apoiou durante a vida. Os que conseguem listar nomes imediatamente começam a irradiar uma luz brilhante e pura.

Aqueles que têm gratidão pelos outros possuem o brilho da inteligência. E os que saldam suas dívidas de gratidão e de bondade têm profundo caráter.

O ideograma chinês para “dívida de gratidão” contém elementos que significam “causa” e “mente”. Ter a “mente” para lembrar quem nos ajudou a nos tornar a pessoa que somos hoje e retribuir a benevolência e o apoio obtidos servem como “causas” para conquistarmos grandiosas vitórias na vida.

Uma história bastante conhecida na Coreia do Sul é a do mestre de caligrafia Han Ho [também conhecido como Han Seok-bong] (1543–1605), que foi incentivado desde a infância por sua mãe a estudar caligrafia. Eles eram pobres e sua mãe, viúva, vendia bolinhos de arroz para conseguir sustentá-lo e criá-lo sozinha.

Para economizar papel durante os estudos, Han Ho sempre usava cada folha até que estivesse completamente coberta por tinta. Quando o papel acabava, ele escrevia em folhas de árvores ou até mesmo no chão.

Ao ver isso, sua mãe o enviou para receber educação formal em caligrafia. Ele voltou para casa mais de um ano depois confiante nos resultados que obtivera com os estudos.

Sua mãe lhe disse: “Vamos fazer uma experiência. Vamos apagar a lamparina e cortarei os bolinhos de arroz enquanto você escreve. Então, compararemos suas habilidades em caligrafia com a minha em cortar os bolinhos”.

Assim, eles testaram suas habilidades no escuro. Quando acenderam a luz novamente, Han Ho franziu as sobrancelhas. Os ideogramas que ele havia escrito estavam tremidos e desproporcionais. Os bolinhos de arroz de sua mãe, no entanto, foram cortados perfeitamente, todos do mesmo tamanho e forma.

Carregando no coração a lição severa e carinhosa da mãe, Han Ho retornou ao treinamento com renovado vigor. Como resultado de sua dedicação sincera ao longo dos anos, ele desenvolveu um estilo totalmente diferente de caligrafia. Sua fama se espalhou por toda a Coreia e também pela China.

Os esforços dele em corresponder à mãe o ajudou a elaborar firmes pinceladas, que foram descritas como “poderosas como as garras de um leão na rocha” e “vigorosas como um cavalo galopante”. O forte laço que compartilhava com a mãe possibilitou‑lhe atingir esse patamar, e dessa forma ele foi capaz de saldar as dívidas de gratidão que tinha com ela.


A Coreia do Sul, que o poeta indiano Rabindranath Tagore (1861–1941) proclamava como “O Farol do Oriente”, é uma grande benfeitora cultural do Japão. Os ideogramas chineses, o cultivo do arroz e a pasta de missô, os quais têm papel central na dieta japonesa, e as habilidades na engenharia e arquitetura foram todos transmitidos pela península coreana.

As várias missões diplomáticas da Coreia ao Japão começaram no início do século 15 e continuaram quase ininterruptamente por mais de quatrocentos anos.

Mesmo durante os séculos em que o Japão se isolou da maior parte do mundo, a Coreia estabeleceu relações oficiais com o país e, como resultado, sua rica herança intelectual, cultural e tecnológica foi transmitida ao Japão. O budismo também seguiu o mesmo caminho.

Nichiren Daishonin escreveu: “O budismo foi introduzido, pela primeira vez, no Japão, a partir do reino coreano de Paekche” (CEND, v. II, p. 225). Diversas vezes ele expressou sua gratidão ao povo coreano por isso, denominando o Japão de discípulo da Coreia, assim como da vizinha China (cf. CEND, v. II, p. 766).

A exposição O Sutra do Lótus — Mensagem de Paz e Coexistência Harmoniosa, organizada pela Soka Gakkai, afiliada ao Instituto de Filosofia Oriental, está atualmente exposta em Seul, Coreia do Sul.¹ Estou convicto de que Nichiren Daishonin está muito feliz com isso.

Fiz três visitas à Coreia do Sul — as duas primeiras para a capital, Seul, e a terceira para a ilha de Jeju.

Na primeira viagem, em 1990, a exposição Obras-primas das Pinturas a Óleo do Ocidente estava aberta à visitação em Seul. Essa exibição foi uma forma de quitar as dívidas de gratidão, incorporando o gesto de respeito e admiração pelo povo coreano e o desejo de promover intercâmbio cultural entre a Coreia do Sul e o Japão.

No passado, o Japão invadiu a Coreia, pisoteando a dívida de gratidão com relação ao patrimônio cultural. No século 16, o senhor da guerra japonês Toyotomi Hideyoshi (1537–1598) liderou uma invasão que matou milhões de pessoas e destruiu preciosos tesouros culturais. Depois que o período feudal japonês acabou e o país estabeleceu um modelo de nação moderno no fim do século 19,

o Japão anexou a Coreia como colônia em 1910, usando-a como um trampolim para sua subsequente agressão à Asia.

Meu pai residiu em Seul por um tempo, durante o período em que a Coreia esteve sob o domínio japonês.

Certa vez ele me disse com um sentimento de ultraje: “Como podem os japoneses serem tão opressores e arrogantes? Perseguimos impiedosamente o bom povo coreano!”.

Esse sincero brado ficou profundamente marcado em meu jovem coração, e nunca me esquecerei dele.

Quando eu estava cursando o ensino fundamental 2, um menino que nascera na península coreana morava perto de mim. Ele era muito bom e inteligente, mas durante a guerra a família inteira dele desapareceu. Ainda sinto que poderíamos ter sido bons amigos se não fosse pela guerra.

A guerra é um mal absoluto. É causada pela tendência destrutiva inerente à vida que busca dominar e derrotar os outros. Confrontar o histórico de guerras é o ponto primordial para a luta contra esse profundo infortúnio.


A Universidade Kyung Hee, em Seul, tem grande destaque no país e é a “irmã mais velha” da Universidade Soka do Japão. Seus estudantes, assim como os das escolas Kyung Hee de ensinos fundamental e médio, estão construindo pontes douradas da amizade com os estudantes da Universidade Soka e das escolas Soka de ensino fundamental e médio através do esporte e da música.

O fundador da instituição, Choue Young Seek (1921–2012), era um verdadeiro amigo com

quem compartilhei meu compromisso pela paz e pela educação. Foi um dos educadores preeminentes da Ásia, e atuou como presidente emérito da Associação Internacional de Presidentes Universitários [IAUP, sigla em inglês].

O Dr. Choue lutou para superar a história de guerra brutal e para mudar a sociedade pela educação a fim de criar um mundo pacífico e humanístico. Ele fundou sua universidade com as próprias mãos, plantando árvores e flores e depositando pedras. Com seus esforços, transformou uma montanha vazia num respeitado centro de aprendizado e ganhou a admiração pública por sua conquista pioneira. Por fim, estabeleceu o esplêndido sistema educacional Kyung Hee, da educação básica até a pós-graduação.

A Soka Gakkai, fundada durante a Segunda Guerra Mundial, também se opôs ao militarismo e se devotou a cultivar o “solo” do povo com o “arado” da educação.

Meu mestre, Josei Toda — discípulo direto do presidente fundador da Soka Gakkai, Tsunesaburo Makiguchi, que faleceu na prisão lutando contra a opressão do sistema militarista japonês —, sobreviveu ao período no cárcere e reconstruiu a organização. Josei Toda assumiu como segundo presidente justamente durante a Guerra da Coreia.

As palavras de Toda sensei sobre a guerra ainda ecoam em meu coração: “Posso ouvir seus clamores de dor e tristeza. Quem irá salvar esse povo ao qual devemos tanto de nossa cultura?” (Terceira Civilização, ed. 593, jan. 2018, p. 42).

Os dois primeiros presidentes da Soka Gakkai lutaram corajosamente contra o sistema militarista japonês, e o presidente Makiguchi faleceu na prisão por seus ideais. O Dr. Choue declarou que essa é a prova de que a Soka Gakkai é uma organização que se levantou em prol da paz.²


O Dr. Choue também é conhecido por sua contribuição na designação do Dia Internacional da Paz, celebrado anualmente no dia 21 de setembro. Abraçando a visão do mundo como uma grande aldeia global, ele tinha a esperança de que o Japão e a Coreia do Sul uniriam esforços para promover a paz na Ásia.

Em uma palestra que fiz sobre cidadania global na Teachers College, na Universidade Colúmbia, em Nova York (junho de 1996), afirmei que um dos elementos essenciais para a cidadania global é a sabedoria para perceber a interconectividade de toda a vida e entre todas as formas de seres vivos.

O budismo expõe o princípio da “origem dependente”, que significa que todos as coisas existem e ocorrem por sua relação com outros seres e fenômenos. Tudo se origina em resposta a causas e condições.

Nenhum de nós pode existir isoladamente. Todos nós recebemos apoio, influência e cooperação dos outros. Ser capaz de reconhecer e apreciar esses laços invisíveis de apoio mútuo é um requisito importante para a cidadania global.

Vocês, meus queridos amigos da Divisão dos Estudantes, são quem são atualmente porque seus pais e familiares cuidaram de vocês e os criaram. E seus pais existem porque seus avós fizeram o mesmo por eles.

Alguém, em algum lugar do mundo, fez as roupas que você está usando agora, e cultivou a comida que você comeu hoje. Nossas relações com os outros se expandem de forma ilimitada, transcendendo tempo e espaço, e nos conecta com o mundo inteiro. A vida de todas as pessoas está conectada. É por isso que precisamos criar a paz.

O suor e as lágrimas de inúmeras pessoas tornaram possível nossa vida atual. Quando nos conscientizamos disso, o sentimento de gratidão surge dentro de nós. Ao mesmo tempo, por estarmos todos interconectados, quando recitamos Nam-myoho-renge-kyo e agimos com renovada disposição baseados na gratidão, conseguimos mudar o ambiente e aqueles ao nosso redor de forma positiva.

A “origem dependente” é um princípio de paz que leva à revolução humana — à paz mundial.


Durante a minha segunda visita à Coreia do Sul (em 1998), fui convidado a receber o título de doutor honoris causa no campus da Universidade de Kyung Hee. O dia escolhido foi 15 de maio, no qual se comemora o Dia dos Professores no país.

Os motivos dos meus esforços para promover a amizade entre Japão e Coreia do Sul são o meu desejo de demonstrar gratidão pelo legado cultural que minha terra natal recebeu desse vizinho e minha determinação de quitar as dívidas de gratidão com Toda sensei e Makiguchi sensei ao realizar o tão acalentado sonho deles pela paz mundial.

Nichiren Daishonin escreve: “Sempre acreditei que o mais importante era reconhecer as obrigações para com os demais, e assim estipulei que meu primeiro dever seria saldar as dívidas de gratidão” (CEND, v. I, p. 126).

A determinação dos discípulos em quitar as dívidas de gratidão com seus mestres é o coração do espírito da Soka Gakkai.

Makiguchi sensei dedicou a vida a proteger o verdadeiro espírito do Budismo Nichiren. Toda sensei levantou-se só no devastado Japão do pós-guerra e reconstruiu a Soka Gakkai. É por esses mestres que somos capazes de conduzir hoje uma vida de suprema felicidade.

Enquanto aprendem sobre a história da Soka Gakkai, espero que todos vocês se dediquem aos estudos na escola, treinem e conquistem um crescimento maravilhoso, tornando‑se indivíduos competentes e capazes de demonstrar sua gratidão pela família Soka e por seus pais!

O nobre caminho Soka é o caminho da gratidão e da vitória!

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