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Na prática

Viver pela missão

Ainda muito jovem, um garoto foge de casa, abandona seu pai que é rico e passa a viver na pobreza. Depois de cinquenta anos, por casualidade da vida, o filho bate à porta do pai, que o reconhece imediatamente, mas ele não sabe que está diante da sua família e os abandona novamente. O pai compassivo envia um de seus funcionários para oferecer trabalho ao filho na tentativa de se aproximar dele, já que o homem não o reconhecia e se negava a usufruir tamanha fortuna. O filho aceita o trabalho humilde e árduo e o realiza por muitos anos. Aos poucos, por executar bem suas tarefas, grandes responsabilidades lhe são dadas. Ele passa a exercer a função de administrador dos bens. Próximo da morte, o pai revela à sociedade sua verdadeira identidade de pai daquele homem, e então o filho herda toda a sua riqueza. Essa é uma conhecida parábola contada por bodisatvas que acompanhavam o buda Shakyamuni e que consta no Sutra do Lótus. Se você fosse esse filho, duvidaria de sua origem e escolheria viver se dedicando a um trabalho extenuante por anos ou assumiria sua verdadeira identidade de filho do pai rico e desfrutaria a fortuna? Ao encontrar o budismo, indiretamente é dada a você uma perspectiva muito parecida. Então, ao longo da matéria descubra qual a sua real escolha diante da possibilidade de ter uma existência difícil e exaustiva ou uma condição de vida nobre e plena.

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07/07/2018

Viver pela missão
Direito de todos

Na explanação do escrito A Perseguição em Tatsunokuchi, o presidente Ikeda explica o processo de “abandonar o transitório e revelar o verdadeiro” vivido por Nichiren Daishonin durante a perseguição que dá nome ao título da carta: “Ele abandonou sua condição transitória de pessoa comum presa ao fardo do carma e sofrimentos e, apesar de continuar sendo um simples mortal, revelou seu verdadeiro eu de buda do tempo sem início” (p. 58).

Esse processo vivido por Daishonin é um conceito muito conhecido no budismo, que não representa apenas realização pessoal, mas indica que todos os praticantes deste ensinamento também podem abandonar sua condição transitória e revelar a verdadeira identidade como buda.

O que é condição transitória?

Sabe quando você está dormindo, seu despertador toca, você “meio que” acorda, no entressono, e não tem certeza se o ouviu tocar mesmo ou se aquilo é fruto da sua imaginação sonolenta? Isso é circunstância transitória. Você está passando do estado de completo relaxamento para o estado totalmente desperto.

Nesse estágio, você parece já estar acordado ao mesmo tempo que uma parte da sua mente ainda está dormindo. Isso faz com que certas coisas aconteçam de fato à sua volta, mas não consegue discernir o real do irreal. Não assumiu ainda plenamente seu verdadeiro aspecto de pessoa acordada.

A transitoriedade do budista

Os praticantes do budismo são bodisatvas da terra que juraram nascer na forma como são para cumprir a missão que Shakyamuni os confiou: a propagação do budismo, ou seja, dedicar-se à felicidade da humanidade. Todas as pessoas possuem igualmente a natureza de buda, um enorme potencial de ser feliz dentro de si. Nossa missão é evidenciar esse poder da nossa própria vida e ajudar os outros a fazer o mesmo.

Estar numa condição transitória como budista é não acreditar nisso ou não pôr em prática. É como se praticasse naquela condição “entressono”, duvida acreditando ou acredita duvidando.

Ikeda sensei afirma: “Pelo fato de as pessoas permanecerem na incerteza sobre sua origem — de onde vieram — por continuarem a ignorar que sua vida é infinitamente preciosa e una ao eterno universo, elas vivem indiferentes à dignidade da vida de outras pessoas e continuam conflitando ou magoando-as” (Brasil Seikyo, ed. 1.492, 23 jan. 1999, p. 3).

Permanecer “na incerteza sobre sua origem” é exatamente a mesma condição vivida pelo filho do homem rico, que duvidava ser herdeiro de uma grande fortuna. Essa descrença o fez viver por anos de forma miserável. Nós também somos afortunados, detentores de um poder insondável. Duvidar ou vacilar faz com que vivamos reféns de uma vida miserável como a do menino, que descrevemos no começo da matéria.

“O transitório que se deve descartar é a fraqueza”

O presidente Ikeda declara: “Jamais devemos colocar limites aos nossos potenciais. Em muitos casos, nossas assim chamadas limitações não são nada mais que nossa decisão de nos limitarmos” (A Sabedoria do Sutra do Lótus: Uma Discussão sobre a Religião no Século 21, p. 212).

Ao longo da vida, praticando ou não o budismo, é natural surgirem dificuldades. Nossa reação diante dos problemas é o que demonstra se estamos numa condição transitória ou se estamos evidenciando nossa verdadeira identidade de buda.

Na dificuldade, você recua, vacila, duvida, lamenta; não entende por que é com você? Ao passar por um problema com alguém, você o culpa? E quando vê a dificuldade do outro, ignora-o, lastima-se junto? Independentemente do tempo de prática, se respondeu sim a essas perguntas, você está no estado transitório.

A raiz de viver na transitoriedade da vida sem conseguir se sentir feliz encontra-se na fraqueza e na covardia.

É uma tendência dos seres humanos evitar as dificuldades em vez de enfrentá-las. Se alguém nos prende contra a parede, nosso instinto é ficar o tempo todo pensando em como escapar. Geralmente, as pessoas só decidem lidar com os problemas depois de várias tentativas de contornar a situação.

Diante disso, Ikeda sensei nos ensina que, já que no final, quando estivermos num beco sem saída, acabaremos sentados diante do Gohonzon recitando daimoku, que tal adiantarmos o processo começando a orar Nam-myoho-renge-kyo agora? Desafiar nossas circunstâncias por meio da oração corajosa é a forma de manifestar nossa verdadeira identidade de buda.

Revele o verdadeiro

O fato de Nichiren Daishonin ter abandonado o transitório e revelado o verdadeiro não significa que se tornou um ser transcendental ou superior; ele continuou um mortal comum. O presidente Ikeda explica: “Ele acionou, com total plenitude e liberdade, seu poder e capacidade, e enfrentou intrepidamente todos os desafios, instigando ao mesmo tempo quem ainda não havia despertado para a natureza inerente de viver de modo fiel a si próprio. Quando as pessoas conscientes tomam uma posição, o significado de ‘abandonar o transitório e revelar o verdadeiro’ de Daishonin se concretiza” (p. 63).

Isso esclarece que não é o fato de enfrentar circunstâncias difíceis que dita se manifestou ou não sua verdadeira identidade de buda. Mas se você, apesar dos desafios, sente felicidade e tem liberdade. Consegue se sentir assim porque compreende que é dotado de enorme tesouro, que possui todas as ferramentas necessárias para ultrapassar aquela determinada circunstância.

Da mesma forma deve ter se sentido o filho do homem rico ilustrado na parábola no início da matéria, quando ele reconheceu que era herdeiro de tanta riqueza.

Você manifesta essa consciência sobre si e, consequentemente, sobre o nobre poder também contido na vida do outro. Então exerce sua missão de ensinar o Nam-myoho-renge-kyo para as pessoas. Com esse ato, consegue extrair mais coragem e sabedoria e assim enfrenta seus problemas com tranquilidade. Quando se “revela o verdadeiro”, passa a viver numa maravilhosa espiral de eterna prosperidade.

A escolha é sua

Ao encontrar o budismo você pode se manter na condição passiva, transitória, de orar para resolver apenas seus problemas, um a um, acreditando que não há muito o que possa fazer para salvar o mundo das suas questões atuais. Isso é escolher uma existência difícil, infeliz, arrastando-se dia após dia; ou assumir a missão como buda, ou seja, sua verdadeira identidade; recitar daimoku pela felicidade de si e, sinceramente, pela felicidade do outro. É entrar em ação assumindo a responsabilidade por tudo o que acontece e, principalmente, buscar extrair esse potencial das pessoas com quem se encontra. Essa escolha significa desfrutar plena e nobre condição.

O presidente Ikeda diz:

A filosofia budista afirma que a humanidade pode avançar, um passo de cada vez, pelo constante empenho de nos inspirarmos uns aos outros e compreendermos que, assim como o despertar de Shakyamuni provocou o despertar de seus discípulos, aquilo que é possível a uma só pessoa é possível a todas. (...) O importante é que a esperança não seja relegada ao status de nota promissória a ser paga no futuro. Mas sim o do encontro com o sentido de plenitude e suficiência na vida exatamente agora. O que vale não é o que a nossa vida foi até aqui. No instante em que despertamos para o nosso valor original e decidimos mudar a realidade, começamos a brilhar com a luz da esperança. (TC, ed. 537, 11 maio 2013, p. 20)

Não se limite! Assuma sua condição verdadeira de ser feliz e conduzir as pessoas à felicidade. Pare com uma “vida que chora pelo destino” e inicie uma existência de quem “vive pela missão”.

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