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Na prática

A primavera da vida chegará sem falta

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Redação

01/07/2024

A primavera da vida chegará sem falta

No século 13, o buda Nichiren Daishonin empregou a frase “O inverno nunca falha em se tornar primavera”1 para encorajar uma de suas discípulas que enfrentava severas adversidades. Essa citação rompeu as barreiras do tempo e se perpetua até hoje como um grande alento para as pessoas que enfrentam desafios, não importando o rigor das circunstâncias. Nesta edição, Na Prática apresenta detalhes de como essa expressão pode imprimir novo vigor para aqueles que se deparam com um rigoroso inverno de intempéries.

Faça derreter a espessa camada de gelo do coração

O Brasil é um país com grande diversidade climática. No Sul, por exemplo, em certas épocas do ano, o frio é bem intenso, mas, no geral, o clima é quente em quase todo o território nacional. No Japão, nos tempos do buda Nichiren Daishonin, o inverno era um período de temperatura glacial, e a superfície ficava encoberta por espessas camadas de gelo, de modo que tudo parecia estar em uma clausura de manta branca. Entretanto, o frio, aparentemente interminável, logo cessava assim que o inverno extenuante cedia lugar ao clima reconfortante da primavera, reavendo o aspecto vibrante da natureza, entre a vivacidade do brilho do sol e as cores exuberantes das flores e plantas.

Sobre a expressão empregada por Nichiren Daishoin, o presidente Ikeda comenta: “O que torna genuína a alegria da primavera é o rigor do inverno que a precede. Somente quando superamos as provações do inverno por meio do poder da fé conseguimos desfrutar a primavera de triunfo”.2

Na sequência, falaremos sobre o exemplo das flores de cerejeira, que precisam do inverno para concentrar energia e florir majestosamente.

O despertar das flores de cerejeira

Entre o inverno e a primavera, as flores de cerejeira iniciam o decurso do desabrochar. Para que esse resultado ocorra, essa trajetória tem início no verão, quando os botões se formam, mas ficam em estado latente durante o inverno. Isso acontece para que os botões enfrentem o ar gélido, pois somente assim o processo de crescimento é ativado, o que resulta na etapa de floração, estágio conhecido como quebra da latência. Ou seja, o frio intenso é determinante para o desenvolvimento dos brotos.

Ikeda sensei afirma: “Mesmo no caso das cerejeiras, se o clima frio, necessário para romper o ciclo de latência, for mais curto, a floração dos botões atrasará ou ocorrerá de modo irregular”.3 Após passarem o inverno em dormência, as árvores de cerejeira começam a despertar quando as temperaturas aumentam. É nesse momento que as primeiras flores de cerejeira começam a desabrochar transformando paisagens antes cinzentas em uma erupção de cores.

Ausência de dificuldades não significa felicidade

Certamente, todos nós enfrentaremos desafios ao longo de nossa jornada. Ikeda sensei destaca como cada adversidade se torna crucial para percebermos a vida de modo elevado. Ele incentiva:

A ausência de dificuldades não significa felicidade. A felicidade genuína e a alegria na vida residem em não ser derrotados pelas adversidades, em nos levantar novamente quando caímos, em resistir e triunfar sobre adversidades.

Vida é batalha.
Vida é desafio.
Vida é treinamento.

Dificuldades são inevitáveis na vida. Nossa prática do Budismo Nichiren nos empodera para edificar um forte eu capaz de encarar com bravura todas as provações, possibilitando-nos desafiar a situação com espírito positivo e vê-la como oportunidade de crescimento. Aqueles que possuem esse espírito de luta vencem no final.4

Nichiren Daishonin, por sua vez, ao escrever a frase de encorajamento “O inverno nunca falha em se tornar primavera”, incentivou sua discípula, a monja leiga Myoichi, a não abrigar nenhuma dúvida. Isso porque a prática budista exerce a função dos raios de sol que derretem a densa camada de gelo da incerteza e da profunda angústia que pode dominar o coração e a mente das pessoas no momento do sofrimento.

A dor que enfrentamos, quando os reveses da vida nos assolam — no exato instante que a adversidade emerge —, pode parecer uma angústia sem fim. Porém, mesmo que o inverno aparente estar longe de findar, a primavera com certeza chegará. Da mesma maneira, independentemente de quanto tempo demore para ultrapassar as dificuldades, se mantiver a fé e perseverar na prática budista com a recitação do daimoku, os diálogos encorajadores com os amigos da organização e as leituras das orientações de Ikeda sensei, com certeza a percepção daquele desafio será esperançosa e levará a um desfecho vitorioso.

A seguir, conheça a história de uma integrante da Divisão Feminina (DF) da Bharat Soka Gakkai (SGI-Índia) e entenda como a prática budista provocou a mudança de uma realidade de incertezas para o cultivo da alegria e da felicidade.

Reconheci o potencial dentro de mim

Sou Arunima Sharma. Casei-me jovem. Logo fui afortunada com um filho e uma filha. Contudo, meu casamento não foi tão feliz. Morávamos com meus sogros e eu vivia chorando pelos cantos. Era introvertida, tinha dificuldades de me relacionar com as pessoas e lutava contra a depressão. Anos mais tarde, saí da casa de meus sogros, concluí os estudos e consegui um emprego como professora. Em seguida, meu marido deixou a mim e aos nossos filhos. Foi um período de muita dor. Além disso, a escola onde eu lecionava ficava a 100 quilômetros de distância da minha residência, e as crianças permaneciam sozinhas em casa enquanto eu estava no trabalho.

Em 2006, comecei a praticar o budismo quando tive contato com uma revista da SGI-Índia durante uma visita a um amigo. Meu coração ficou repleto de emoção. Naquela época, havia apenas dois membros da Soka Gakkai na região. E, em curto período, após iniciar a prática budista, as pessoas diziam: “Você é sempre tão alegre!”. Então, eu compartilhava o budismo com todos dizendo que revelaria o segredo da felicidade.

Em 2012, meu divórcio foi concretizado. Assim, pude comprar minha própria casa, algo que tanto desejava. Além do mais, fui transferida para uma escola pública de ensino fundamental bem próxima da minha residência.

Minha nova escola estava em péssimas condições. Não tinha muro, água potável nem banheiros adequados. Certo dia, enquanto eu lecionava, uma garotinha espiou pela janela da sala de aula. Quando investiguei melhor a região, fiquei chocada, pois mais de cem crianças viviam em situações deploráveis. Algumas estavam empenhadas em mendicância, outras em recolher o lixo; várias eram viciadas em drogas. Elas não tinham sapatos nem roupas. Também careciam terrivelmente de higiene pessoal. Fui ao encontro dos pais dessas crianças e os convenci a mandá-las para a escola. No entanto, o diretor da instituição se recusou a admiti-las. De forma inesperada, alguns funcionários do governo fizeram uma visita à escola. Depois disso, todas as 103 crianças foram admitidas e começaram a frequentar as aulas regularmente. Em paralelo, as organizações avançavam no desenvolvimento da infraestrutura escolar, providenciando água potável, casas de banho, pavimentos, secretárias e cadeiras, construindo um muro e um portão, além de criar uma biblioteca. Eu me orgulho de todos esses avanços.

Tenho imensa satisfação em dizer que meus filhos também são praticantes do Budismo Nichiren. Atualmente, eles trabalham em grandes empresas. Antes, eu não tinha amigos e me considerava uma pessoa infeliz. No entanto, com a prática budista, eu me transformei. Na Soka Gakkai, encontrei uma família amorosa e, em troca, eu me tornei uma pessoa amorosa. Reconheci dentro de mim um potencial que antes não conseguia enxergar. Transformei o veneno da minha vida em remédio.

Publicado no Seikyo Shimbun.

O inverno logo passará

Como vimos ao longo do texto, as cerejeiras resistem ao rigoroso inverno para revelar a beleza das flores em tons suaves de branco e rosa. E mesmo após o término da florada, quando caem, elas formam um tapete de pétalas que brilham aos olhos. Isto é, quem resiste com coragem e firme fé faz surgir a felicidade extraída do inverno implacável das adversidades, assim como fez Arunima Sharma. “Aqueles que abraçam o correto ensinamento do budismo entram em harmonia com o ritmo da vida e do universo e estão garantidos a vivenciar uma primavera de vitória que brilhará por toda a eternidade”,5 ensina o presidente Ikeda.

Dessa forma, mesmo em meio às profundas tormentas da vida, manifeste tenacidade, sabedoria e confiança provenientes da prática budista. A fragrância da primavera de vitórias chegará sem falta.

Notas:

1. Coletânea dos Escritos de Nichiren Daishonin. São Paulo: Editora Brasil Seikyo, v. I, p. 559, 2020.

2.Terceira Civilização, ed. 487, mar. 2009, p. 58.

3. Ibidem.

4. IKEDA, Daisaku. Sabedoria para Criar a Felicidade e a Paz — Revolução Humana. São Paulo: Editora Brasil Seikyo, 2023, p. 132-133.

5. Brasil Seikyo, ed. 2.247, 11 nov. 2014, p. B3.

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