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[12] Comportamento como ser humano

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DEB

02/04/2021

[12] Comportamento como ser humano

Capítulo 1: Trechos do Gosho

Aprendendo com os Escritos de Nichiren Daishonin — Os Ensinamentos para a Vitória - Matéria atualizada a partir da revista Terceira Civilização, ed. 520, dez. 2011, p. 50 - Explanação do presidente da SGI, Dr. Daisaku Ikeda

A chave da vitória está em acumular o tesouro do coração

[4] Os Três Tipos de Tesouro (parte final)

Trechos do escrito

Sempre recordo o momento, ainda hoje vívido, quando estava prestes a ser decapitado; o senhor veio correndo me acompanhar e, com os olhos vertendo lágrimas de dor, agarrou-se às rédeas de meu cavalo. Não poderia esquecê-lo em nenhuma das existências futuras. Se ocorresse de o senhor cair no inferno por alguma falta grave e Shakyamuni insistisse para que me tornasse buda, eu recusaria. Em vez disso, preferiria ir para o inferno com o senhor, pois, se caíssemos juntos lá, encontraríamos também o buda Shakyamuni e o Sutra do Lótus. (...) Contudo, se ignorar meu conselho, mesmo que o mínimo, depois não me culpe pelas consequências. (CEND, v. II, p. 111-112)

(...)

E não saia por aí se lamentando na frente dos outros da dificuldade que é viver neste mundo; uma atitude assim é totalmente imprópria para um homem digno. (CEND, v. II, p. 112)

(...)

É raro nascer como ser humano. O número de seres dotados de vida humana é tão pequeno quanto os grãos de terra que cabem sobre uma unha. E a vida humana é tão difícil de manter quanto o orvalho permanecer sobre a grama. Contudo, é melhor viver um único dia com honra do que viver 120 anos e morrer na desonra. Viva de maneira que todas as pessoas de Kamakura o elogiem pela diligência com que Nakatsukasa Saburo Saemon-no-jo serve ao seu senhor feudal, ao budismo e às demais pessoas. (CEND, v. II, p. 112)

Mais valioso que o tesouro do cofre é o do corpo. Porém, nenhum é mais valioso que o tesouro do coração. A partir do instante que ler esta carta, esforce-se para acumular o tesouro do coração! (CEND, v. II, p. 112)

(...)

O reverenciável Confúcio mantinha este princípio: “Nove pensamentos para uma única palavra”. Ou seja, pensava nove vezes antes de falar. Tan, duque de Chou, tinha tamanha consideração por suas visitas que, enquanto lavava os cabelos, torcia-os três vezes, ou cuspia sua comida três vezes durante uma refeição [a fim de não deixá-las esperando]. Reflita seriamente sobre isso para que não venha me censurar mais tarde. O budismo se encontra nesse tipo de comportamento. (CEND, v. II, p. 113)

O coração de todos os ensinamentos que o Buda expôs ao longo de sua existência é o Sutra do Lótus, e o coração da prática deste sutra se encontra no capítulo “Jamais Desprezar”. Qual é o significado do profundo respeito que o bodisatva Jamais Desprezar sentia por todas as pessoas? O propósito do advento do buda Shakyamuni, senhor dos ensinamentos, neste mundo reside em seu comportamento como ser humano.

Respeitosamente.

Os sábios podem ser chamados de humanos, mas os tolos não são mais que animais.

Nichiren

No décimo primeiro dia do nono mês do terceiro ano de Kenji [1277], signo cíclico hinoto-ushi.

Resposta a Shijo Saemon-no-jo (CEND, v. II, p. 113)

Explanação

“O tesouro do coração é muito mais valioso que o tesouro do corpo”, diz o buda Nichiren Daishonin. “Esforce-se para acumular o tesouro do coração!” (CEND, v. II, p. 112) Essa mensagem transmitida a seu discípulo Shijo Kingo, que passava por dificuldades, contém a chave mais importante para vencer na vida.

Nosso coração é nosso tesouro incomparável. Ele é dotado de um potencial incrível e de suprema nobreza. Sua profundidade e amplitude se expandem infinitamente e sua força se desenvolve sem limites. O escritor francês Victor Hugo (1802–1885) escreveu: “Há um espetáculo mais grandioso do que o mar: o céu; há um espetáculo mais maravilhoso do que o céu: a alma humana”.1

Como podemos expandir o reino interior de nossa vida, desenvolver a força interior e acumular o tesouro do coração para termos uma vida melhor? A resposta está na prática da Lei Mística.

Na última parte do escrito, Os Três Tipos de Tesouro, Nichiren Daishonin ensina que “nenhum é mais valioso que o tesouro do coração” (CEND, v. II, p. 112). O tesouro supremo para alcançar a vitória genuína na vida é nossa natureza de buda. Essa natureza se manifesta a partir do nosso coração, por meio da fé na Lei Mística. Este é um ensinamento fundamental que nunca devemos perder de vista.

Dois meses antes de esta carta ser escrita, Shijo Kingo enfrentou a grave crise de ter seus bens confiscados por seu senhor feudal, Ema. E escolheu defender a fé no Sutra do Lótus, mesmo que isso significasse perder sua propriedade. Daishonin o elogiou por essa postura e o advertiu: “Jamais desonre o Sutra do Lótus, ainda que se torne o pior dos mendigos” (CEND, v. II, p. 84).2

Na verdade, essas palavras ensinam a Shijo Kingo sobre os critérios essenciais que ele deve seguir como praticante — ou seja, que a fé (tesouro do coração) é muito mais importante que seu patrimônio (tesouro do cofre) ou sua posição de samurai (tesouro do corpo). E, de fato, quando Shijo Kingo praticou de acordo com essa orientação — pondo a fé em primeiro lugar —, sua difícil situação começou a se resolver. Ao ser chamado para tratar a doença de seu senhor feudal, ele recuperou o apoio e a confiança dele. Ao mesmo tempo, aqueles que tinham hostilizado e atacado Shijo Kingo começaram a sentir as consequências negativas de acordo com a rigorosa lei de causa e efeito.

Em Os Três Tipos de Tesouro, Nichiren Daishonin elogia a fé do discípulo, explicando que Shijo Kingo deu o primeiro passo para a vitória com base no princípio de “manifestação da natureza de buda interna e da consequente proteção externa” [jap., naikun gego] (CEND, v. II, p. 109). No momento em que Shijo Kingo se levantou com fé inabalável, sua natureza de buda interior se manifestou; isso ativou as divindades celestiais — as funções benevolentes do universo — e resultou na proteção externa na forma da confiança renovada do senhor feudal Ema em Shijo Kingo.

Mas Shijo Kingo ainda se encontrava num ambiente bastante hostil. Nesse escrito, Nichiren Daishonin deu várias instruções detalhadas e conselhos para ajudar Shijo Kingo a solidificar as vitórias que ele havia alcançado até então. Ele encoraja seu discípulo a permanecer vigilante contra os ataques, a interagir com os outros de maneira cortês e sincera e a promover boas relações com seus irmãos e companheiros praticantes, tornando-os seus aliados. Daishonin também adverte Shijo Kingo a controlar seu temperamento, chamando sua atenção para o fato de que, se ele sucumbisse a uma crise, causaria uma séria ruptura em suas relações com aqueles ao redor e destruiria o progresso que havia conquistado.

Para alcançar uma vitória inabalável, precisamos desafiar a nós mesmos com seriedade para transformar nosso carma. Esta é também a prática da revolução humana, em que nós nos esforçamos para romper a escuridão interior ou ignorância. O descuido é o maior de todos os inimigos. Se nos permitimos ficar complacentes e perder o espírito de luta, as falhas ou tendências negativas que decorrem de nossa escuridão fundamental aparecerão novamente. Por essa razão, Daishonin enfatiza a questão de que a fé é o supremo tesouro da vida.

Nesta parte, vamos estudar mais uma vez o ensinamento de Nichiren Daishonin segundo o qual o tesouro do coração é o mais valioso de todos.

Trecho da carta

Sempre recordo o momento, ainda hoje vívido, quando estava prestes a ser decapitado; o senhor veio correndo me acompanhar e, com os olhos vertendo lágrimas de dor, agarrou-se às rédeas de meu cavalo. Não poderia esquecê-lo em nenhuma das existências futuras. Se ocorresse de o senhor cair no inferno por alguma falta grave e Shakyamuni insistisse para que me tornasse buda, eu recusaria. Em vez disso, preferiria ir para o inferno com o senhor, pois, se caíssemos juntos lá, encontraríamos também o buda Shakyamuni e o Sutra do Lótus. (...) Contudo, se ignorar meu conselho, mesmo que o mínimo, depois não me culpe pelas consequências. (CEND, v. II, p. 111-112)

Nunca percam de vista o ponto principal da unicidade de mestre e discípulo

“Se chegarem a ficar sem saída, retornem ao ponto primordial” — essa foi a orientação do primeiro presidente da Soka Gakkai, Tsunesaburo Makiguchi.

O Sutra do Lótus baseia-se no espírito da unicidade de mestre e discípulo. O Budismo Nichiren também é um ensinamento de mestre e discípulo. Nosso ponto principal como praticantes, portanto, é nosso juramento de lutar junto com o mestre. Se constantemente retornamos a esse ponto primordial de mestre e discípulo, nunca ficaremos sem saída.

Nessa passagem, Nichiren Daishonin reafirma o incidente que se tornou o ponto principal na relação deles como mestre e discípulo. Aconteceu durante a Perseguição de Tatsunokuchi.3 Como Daishonin estava sendo levado para o local de execução, Shijo Kingo agarrou as rédeas do cavalo de seu mestre e declarou estar preparado para morrer ao lado dele.

Louvando a fé que Shijo Kingo mostrou naquele momento, Nichiren Daishonin chega a ponto de dizer: “Se ocorresse de o senhor cair no inferno por alguma falta grave e Shakyamuni insistisse para que me tornasse buda, eu recusaria. Em vez disso, preferiria ir para o inferno com o senhor” (CEND, v. II, p. 111). Encontramos a essência fundamental do ensinamento humanístico de Daishonin em seu espírito de responder sinceramente à genuína devoção de seus discípulos.

Se Nichiren Daishonin e Shijo Kingo — mestre e discípulo defendendo firme fé na Lei Mística — caíssem no inferno, então o buda Shakyamuni e o Sutra do Lótus com certeza também seriam encontrados lá. Nesse caso, explica Daishonin, deixaria de ser inferno e passaria a ser o reino do estado de buda. Esse é o princípio de que “o inferno pode imediatamente ser transformado na Terra da Luz Eternamente Tranquila”.4

Manifestamos o brilho do mundo do estado de buda em qualquer lugar. É isso o que ensina o Budismo Nichiren. Nossos dois primeiros presidentes, Tsunesaburo Makiguchi e Josei Toda, unidos pelos laços de mestre e discípulo, comprovaram isso com a própria vida. Numa cela de prisão “fria ao extremo”, conforme a descrição de Makiguchi sensei, ele escreveu: “Dependendo do estado de espírito, mesmo o inferno pode ser agradável”.5 Toda sensei o acompanhou na prisão e observou: “Mesmo se eu caísse no inferno, não teria a mínima importância para mim. Gostaria apenas de compartilhar o mesmo ensinamento correto com os habitantes de lá e transformá-lo na Terra da Luz Eternamente Tranquila”. Esse espírito é a própria quintessência da fé no Budismo Nichiren.

Enquanto Shijo Kingo não perdesse de vista esse espírito de lutar em conjunto com Daishonin, ele conseguiria triunfar em qualquer lugar e qualquer situação com base no princípio de que “o inferno pode imediatamente ser transformado na Terra da Luz Eternamente Tranquila”. Mas se ele fosse derrotado pela própria fraqueza, perdendo a paciência e deixando de mostrar consideração pelas pessoas, acabaria se desviando do caminho da unicidade com seu mestre. É por isso que Nichiren Daishonin o adverte repetidamente para ter cuidado. Ele escreveu estas palavras: “Contudo, se ignorar meu conselho, mesmo que o mínimo, depois não me culpe pelas consequências” (CEND, v. II, p. 111-112).

A chave da vitória está em alinhar nosso coração ao coração do nosso mestre, que também incorpora fielmente a Lei e a propaga. Se ignorarmos a orientação de nosso mestre e simplesmente nos basearmos em nossa própria mente vacilante, não concluiremos o caminho da prática budista. Um sutra afirma “que devemos ser mestres de nossa mente em vez de permitir que ela nos domine”6 (CEND, v. I, p. 525). Somente quando praticamos a fé com o mesmo espírito que nosso mestre nos tornamos mestres de nossa mente e atingimos o estado de buda nesta existência.

Trecho da carta

E não saia por aí se lamentando na frente dos outros da dificuldade que é viver neste mundo; uma atitude assim é totalmente imprópria para um homem digno. (CEND, v. II, p. 112)

Lamentar os problemas retarda nosso desenvolvimento espiritual

Nesse trecho, Nichiren Daishonin repreende a lamentação e a autocomiseração. Essa passagem toca o coração das pessoas que estão sempre prontas a lamentar pelas questões que estão além do seu controle. Todas são suscetíveis de agir assim. Mesmo Shijo Kingo, que estava preparado para dar a vida com Daishonin num momento crucial, tendia a ter problemas de relacionamento por sua rigidez e sua franqueza, e pode ter começado a reclamar. Ao aconselhar Shijo Kingo a não sair por aí lamentando para outras pessoas, Daishonin ressalta que ficar reclamando dos próprios problemas ou infortúnios não é o modo de vida do sábio, mas, sim, do tolo.

Nichiren Daishonin escreveu: “Se um homem se comporta dessa maneira, no dia em que morrer, sua esposa, perturbada pela dor da perda do marido, acabará contando aos demais os atos vergonhosos que ele cometeu em vida, ainda que ela não tenha tido a intenção de agir assim. E de forma alguma será culpa dela, uma vez que a causa de tudo foi o comportamento censurável do marido” (CEND, v. II, p. 112).

Reclamar alimenta a fraqueza e a negatividade da pessoa e torna-se uma causa para a estagnação. Daishonin ensina a Shijo Kingo que parar de se lamentar e desafiar a conquista da revolução humana é o caminho certo para a vitória na vida.

Trecho da carta

É raro nascer como ser humano. O número de seres dotados de vida humana é tão pequeno quanto os grãos de terra que cabem sobre uma unha. E a vida humana é tão difícil de manter quanto o orvalho permanecer sobre a grama. Contudo, é melhor viver um único dia com honra do que viver 120 anos e morrer na desonra. Viva de maneira que todas as pessoas de Kamakura o elogiem pela diligência com que Nakatsukasa Saburo Saemon-no-jo serve ao seu senhor feudal, ao budismo e às demais pessoas. (CEND, v. II, p. 112)

Tornem-se verdadeiros vencedores na vida

“É raro nascer como ser humano. O número de seres dotados de vida humana é tão pequeno quanto os grãos de terra que cabem sobre uma unha. E a vida humana é tão difícil de manter quanto o orvalho permanecer sobre a grama.” Assim, Nichiren Daishonin indica que nossa vida como seres humanos é insubstituível e cada dia e cada momento são preciosos.

“É melhor viver um único dia com honra do que viver 120 anos e morrer na desonra” (CEND, v. II, p. 112), declara Daishonin, destacando o critério para o verdadeiro mérito na vida. O verdadeiro mérito como ser humano surge a partir do que decidimos tornar o propósito da nossa vida e como vamos alcançá-lo.

Nichiren Daishonin oferece essa orientação específica para seu discípulo com o desejo de que ele seja bem-sucedido num nível mais fundamental: “Viva de maneira que todas as pessoas de Kamakura o elogiem pela diligência com que Nakatsukasa Saburo Saemon-no-jo serve ao seu senhor feudal, ao budismo e às demais pessoas” (CEND, v. II, p. 112). Isso implica três áreas específicas em que Shijo Kingo precisa vencer: 1) reconstruir uma relação de confiança mútua com seu senhor feudal; 2) continuar a empreender esforços constantes como praticante da Lei Mística; e 3) conquistar a confiança daqueles que o cercam.

O tesouro do coração brilhará nesses três empreendimentos. Em outras palavras, somos verdadeiramente vitoriosos quando manifestamos o brilho de nossa natureza de buda em todos os aspectos da vida.

Nichiren Daishonin nos ensina a mostrar a prova real da vitória lutando para viver de forma a conquistar o elogio e a admiração dos que nos rodeiam. Isso oferece uma importante orientação sobre o que constitui a prova real da vitória no budismo. Em suma, a vitória fundamental deriva do brilho interior da nossa humanidade que, naturalmente, atrai a admiração dos outros. Um ponto importante da nossa luta em prol do kosen-rufu é cada um de nós conquistar a confiança e o respeito na sociedade.

O poder da nossa humanidade como budistas inspira o elogio e o reconhecimento das pessoas. Em outras palavras, quando cultivamos o tesouro do coração, ganhamos a confiança dos outros e a elevada consideração como indivíduos de caráter exemplar. Nossa natureza de buda se manifesta como o brilho da nossa humanidade e toca o coração até mesmo de quem não pratica o Budismo Nichiren.

“Há algo diferente nessas pessoas. Elas têm um brilho especial!” Assim, os demais vão pensar sobre os membros da SGI. Conquistar tamanha confiança das pessoas é a prova real e definitiva do poder da prática budista.

As relações de Shijo Kingo com aqueles ao seu redor — o senhor feudal Ema, os membros da família dele, seus colegas de trabalho, irmãos e companheiros de prática — estavam longe de ser pacíficas. Houve casos em que, provavelmente, sua obstinação criou problemas. Porém, sem resolver esses problemas, ele não venceria na fé.

Por isso, Daishonin o estimula a melhorar seu caráter e mostrar a prova real por meio de uma grandiosa revolução humana. Era seu desejo que Shijo Kingo, como figura central entre seus discípulos em Kamakura, se tornasse um líder admirável na sociedade e levasse uma vida de profundo significado. Sem dúvida, essa conduta era baseada na orientação de Nichiren Daishonin que o encorajava a conquistar o reconhecimento do povo em Kamakura.

Trecho da carta

Mais valioso que o tesouro do cofre é o do corpo. Porém, nenhum é mais valioso que o tesouro do coração. A partir do instante que ler esta carta, esforce-se para acumular o tesouro do coração! (CEND, v. II, p. 112)

Um caráter plenamente polido é inestimável

A passagem acima é a mais conhecida deste escrito. O “tesouro do cofre” indica os bens materiais; o “tesouro do corpo” significa aspectos como a saúde ou as habilidades adquiridas; e o “tesouro do coração”, em determinado nível, remete à abundância de riquezas espirituais e materiais e, num nível mais fundamental, refere-se à fé e ao brilho da natureza de buda polida por essa fé.

Nessa passagem, Nichiren Daishonin indica a ordem de prioridade dos três tipos de tesouro e apresenta um claro padrão de valor.

Shijo Kingo estava diante da possibilidade de perder suas terras. A posse dessa propriedade representava uma fonte de renda importante para ele e sua família. Entretanto, Daishonin insiste que muito mais valioso que o tesouro guardado num cofre e o tesouro do corpo é o tesouro do coração. O acúmulo desse tesouro interior, diz ele, é a base para toda a vitória.

O fato de Shijo Kingo enfrentar sua situação baseado na fé na Lei Mística corresponde a depositar o valor mais alto no tesouro do coração. O resultado é sempre a vitória absoluta! É por essa razão que Nichiren Daishonin esclarece este ponto como uma diretriz universal e imutável para a vitória em todas as áreas da vida.

Quando nos baseamos no tesouro do coração, o verdadeiro valor do tesouro do cofre e o do corpo também se torna abundante em nossa vida. Em suma, precisamos fazer do acúmulo do tesouro do coração nosso principal objetivo na vida. Se perdermos de vista esse objetivo e procurarmos acumular o tesouro do cofre e o tesouro do corpo, isso só dará origem ao apego. Quando tal fato ocorre, o medo de perder esses tesouros materiais ou físicos se torna uma causa para o sofrimento. Por isso, é importante acumular o tesouro do coração, pois reflete um senso correto de propósito na vida.

Trecho da carta

O reverenciável Confúcio mantinha este princípio: “Nove pensamentos para uma única palavra”.7 Ou seja, pensava nove vezes antes de falar. Tan, duque de Chou,8 tinha tamanha consideração por suas visitas que, enquanto lavava os cabelos, torcia-os três vezes, ou cuspia sua comida três vezes durante uma refeição [a fim de não deixá-las esperando].9 Reflita seriamente sobre isso para que não venha me censurar mais tarde. O budismo se encontra nesse tipo de comportamento. (CEND, v. II, p. 113)

Ser sincero é a base do budismo

O Budismo Nichiren não existe separado da realidade da vida.

Nichiren Daishonin preocupava-se muito com o temperamento explosivo de Shijo Kingo. Ao dizer que ele gostaria de relatar “um incidente que, em geral, se mantém em segredo”10 (CEND, v. II, p. 112), Daishonin compartilha com seu discípulo a história do irascível imperador Sushun (r. 588-592) [morto num complô arquitetado por um de seus criados]. Essa é uma lição sobre o que pode acontecer quando a pessoa mostra abertamente sentimentos de antipatia pelos outros (cf. CEND, v. II, p. 112).

Em seguida, Daishonin menciona o exemplo do grande filósofo chinês Confúcio. Este escolhia as palavras com tanto cuidado que pensava nove vezes antes de falar. Daishonin cita também a atitude do duque de Chou, na China antiga. Ele era tão preocupado em não fazer seus convidados esperarem que interrompia as refeições ou o tempo do banho para recebê-los. Por meio desses exemplos, Daishonin ressalta a necessidade de pensar de forma prudente e ter uma conduta sincera em nossas interações com os outros.

“Reflita seriamente sobre isso”, diz Daishonin, procurando deixar essa mensagem gravada no coração de Shijo Kingo. Ele sentia que seu discípulo não seria capaz de alcançar a verdadeira vitória na vida se não superasse o temperamento esquentado — uma falha que causaria sua queda — e se não acumulasse sinceramente o tesouro do coração. É por essa razão que Daishonin chega a ponto de dizer: “O budismo se encontra nesse tipo de comportamento”.

A expressão máxima do budismo é nosso comportamento como seres humanos. Confúcio e o duque de Chou manifestaram sua filosofia pessoal e sua crença em suas ações. Da mesma forma, a menos que expressemos em nossa conduta o tesouro supremo do coração exposto no budismo — ou seja, a natureza de buda se manifestando a partir de dentro —, não conseguiremos mostrar a prova real do poder da fé nem realizar o shakubuku. Por isso, no final desta carta, Daishonin discute a importância do nosso comportamento como seres humanos.

Trecho da carta

O coração de todos os ensinamentos que o Buda expôs ao longo de sua existência é o Sutra do Lótus, e o coração da prática deste sutra se encontra no capítulo “Jamais Desprezar”. Qual é o significado do profundo respeito que o bodisatva Jamais Desprezar11 sentia por todas as pessoas? O propósito do advento do buda Shakyamuni, senhor dos ensinamentos, neste mundo reside em seu comportamento como ser humano.

Respeitosamente.

Os sábios podem ser chamados de humanos, mas os tolos não são mais que animais.

Nichiren

No décimo primeiro dia do nono mês do terceiro ano de Kenji [1277], signo cíclico hinoto-ushi.

Resposta a Shijo Saemon-no-jo (CEND, v. II, p. 113)

O propósito fundamental do budismo está no comportamento como ser humano

Na conclusão de Os Três Tipos de Tesouro, Daishonin afirma que o Sutra do Lótus é a essência dos ensinamentos da vida de Shakyamuni. Diz ainda que a chave da prática ensinada no Sutra do Lótus está no comportamento do bodisatva Jamais Desprezar [Fukyo]. Esse comportamento consta no capítulo “Jamais Desprezar” e ensina como viver de acordo com a fé no ensinamento da iluminação universal.

Compreendendo a verdade de que todos são budas [iluminação universal] quando observados da perspectiva fundamental da vida, o bodisatva Jamais Desprezar reverenciava todos com quem se encontrava, não importando quão fosse perseguido e atacado. Esse é o comportamento de quem realmente incorpora o espírito do Sutra do Lótus.

Diz-se que o Sutra do Lótus representa a finalidade do surgimento de Shakyamuni neste mundo. A razão de o Sutra do Lótus descrever a prática do bodisatva Jamais Desprezar, que incorpora o espírito do sutra, é indicar que o propósito do surgimento de Shakyamuni neste mundo está em seu comportamento como ser humano.

Nichiren Daishonin observa que “A Lei não se propaga por si mesma. Por ser propagada pelas pessoas, tanto a Lei como as pessoas tornam-se dignas de respeito” (Gosho Zenshu, p. 856).12 Conforme essa frase, a grandiosidade da Lei ou do ensinamento só é transmitida e difundida quando expressa nas ações humanísticas e no comportamento daqueles que a abraçam.

O tesouro do coração é invisível aos olhos. Quando esse tesouro é expresso de forma concreta, com ações respeitosas com os outros, demonstra às pessoas o poder da Lei Mística e da natureza de buda.

Considerar o tesouro do coração como o mais valioso de todos (Cf. CEND, v. II, p. 112) reflete um senso de valores relacionado com o que é mais importante e precioso na vida. Demonstrar respeito pelos outros em nossas ações constitui o padrão do nosso comportamento como budistas, tendo como base esse senso de valores, ou seja, o tesouro do coração.

O comportamento respeitoso do bodisatva Jamais Desprezar incorpora o ensinamento do Sutra do Lótus, que expõe a verdadeira intenção do Buda de conduzir todas as pessoas à iluminação. Portanto, o respeitoso comportamento do bodisatva Jamais Desprezar é a verdadeira intenção do Buda.

Manifestar o estado de buda é um benefício da fé na Lei Mística. O comportamento de quem incorpora esse benefício é a prova real da grandiosidade da Lei Mística. O comportamento dessas pessoas caracteriza-se pelo respeito aos outros.

Com base no sutra, vamos reconfirmar como o bodisatva Jamais Desprezar — que foi Shakyamuni numa existência anterior — viveu de maneira sempre respeitosa em relação às pessoas.

No início do capítulo 20, “Bodisatva Jamais Desprezar”, Shakyamuni explica que quem calunia o Sutra do Lótus terá uma severa retribuição por suas ofensas. Ele diz ainda que a pessoa caluniada por defender o Sutra do Lótus receberá o benefício da purificação dos seis órgãos dos sentidos13 (cf. LSOC, v. 20, p. 307).

Para exemplificar, Shakyamuni introduziu a prática do bodisatva Jamais Desprezar. Esse bodisatva apareceu nos Médios Dias da Lei14 após a morte do buda Rei do Som Imponente. Era uma época em que os monges arrogantes detinham muito poder, mas o ensinamento da Lei estava em declínio. Naquela ocasião, o bodisatva Jamais Desprezar curvou-se em reverência aos quatro tipos de crentes despoticamente arrogantes — monges, monjas, leigos e leigas —, dizendo-lhes: “Eu os reverencio profundamente, jamais ousaria tratá-los com desdém ou arrogância. Por quê? Porque todos estão praticando o caminho do bodisatva e infalivelmente atingirão o estado de buda” (LSOC, v. 20, p. 308). Essa declaração expressa o ensinamento central do Sutra do Lótus de que todas as pessoas podem alcançar a iluminação e é chamado “Sutra do Lótus de vinte e quatro ideogramas” [em referência ao número de ideogramas chineses que compõem a passagem]. A prática do bodisatva Jamais Desprezar consistia em fazer reverência diante das pessoas e cumprimentá-las com essas palavras.

No entanto, os quatro tipos de crentes ficaram cheios de arrogância e desprezo. Eles respondiam à sincera demonstração de respeito com ofensas e insultos; alguns até mesmo batiam no bodisatva Jamais Desprezar com bastões ou atiravam-lhe pedras. Por ter suportado essas perseguições, “suas ofensas foram expiadas”15(cf. LSOC, v. 20, p. 312) e transformar seu carma.

Uma vez que o bodisatva Jamais Desprezar estava se aproximando da morte, o sutra conta como ele ouviu no ar os inúmeros versos do Sutra do Lótus, anteriormente pregados pelo Buda. Ao abraçar a todos, o bodisatva Jamais Desprezar obteve o benefício da purificação dos seis órgãos dos sentidos, estendeu sua vida por “duzentas dezenas de milhares de milhões de nayutade anos”, continuou a pregar o Sutra do Lótus, atingiu o estado de buda e renasceu como Shakyamuni (cf. LSOC, v. 20, p. 309-310).

Em contraste, os quatro tipos de crentes que perseguiram esse bodisatva passaram por grandes sofrimentos durante um longo período de milhares de kalpacomo resultado de terem cometido essas ofensas. Quando todas elas expiaram, reencontraram o bodisatva Jamais Desprezar e receberam suas instruções (cf. LSOC, v. 20, p. 310-311).

Assim, mostrar respeito pelos outros por meio do comportamento tem o poder de mudar nossa vida, transformando o carma e purificando nossos seis órgãos dos sentidos. Ao compartilharmos respeitosamente os ensinamentos do Sutra do Lótus com outras pessoas por meio do nosso exemplo de conduta como ser humano, atingimos o estado de buda. Quando nosso comportamento realiza o shakubuku, incorporamos o princípio da iluminação universal em nossa vida.

Realizar o shakubuku por meio do nosso exemplo de conduta como ser humano sem recuar diante das dificuldades é a prática capaz de conduzir todas as pessoas à iluminação. Essa prática ilumina brilhantemente até mesmo a vida de quem calunia e persegue os praticantes que incorporaram o princípio da iluminação universal.

Em suma, a atitude do bodisatva Jamais Desprezar é o caminho direto para nos tornarmos budas. O grande desejo de conduzir todas as pessoas à iluminação só é possível porque o Buda ensinou a importância de nosso comportamento como seres humanos. Por essa razão, Daishonin afirma que este é “O propósito do advento do buda Shakyamuni, senhor dos ensinamentos, neste mundo” (CEND, v. II, p. 113).

Nichiren Daishonin sempre demonstrou respeito pelos outros por meio de suas ações. A natureza de buda com toda a certeza se manifestará na vida daqueles que despertam e mantêm a fé na Lei Mística, não importando quão a época seja ruim. O comportamento como seres humanos certamente pulsa com a sabedoria fundamental da filosofia da prática do respeito pelos outros.

A prática do shakubukurealizada por Daishonin, de refutar rigorosamente o erro, se fundamenta em três pontos: no espírito de compaixão com o indivíduo que está enganado; no sentimento de preocupação pela felicidade das pessoas; e no desejo fervoroso de concretizar a paz e a segurança da nação. É uma luta para refutar o falso e revelar o verdadeiro com o sentimento de respeito pela natureza de buda de todas as pessoas.

O shakubuku no Budismo Nichiren baseia-se numa filosofia de respeito aos outros. Isso significa refutar o erro daqueles que desrespeitam a vida das pessoas. Baseando-se nesse entendimento, Daishonin indica que, mesmo na era maligna dos Últimos Dias da Lei, precisamos agir de maneira prudente e respeitosa em vez de simplesmente nos apressar para refutar o erro.

Afirmar a verdade de forma plena e explícita também é shakubuku. Os Últimos Dias da Lei são uma época repleta de desconfiança e medo decorrentes de uma sociedade onde as pessoas não são respeitadas e não há consideração pela vida. Numa época assim, o shakubuku significa levantar-se só e segurar bem alto a bandeira do respeito pelos seres humanos e pela dignidade da vida. Essa é também a corajosa prática do shakubuku.

Como sempre afirmo, a solução dos diversos problemas do nosso planeta no século 21 depende do foco no ser humano. Essa é uma consciência compartilhada por muitos pensadores, ativistas da paz e conscientes líderes políticos.

Como transformamos a escuridão fundamental inerente à vida das pessoas? Como expandimos a solidariedade de quem se dedica à causa do bem? E como construir uma sociedade na qual o humanismo e a coexistência harmoniosa prevaleçam?

A SGI está tomando medidas para desbravar um caminho magnífico de diálogo intercultural e inter-religioso no sentido de encontrar respostas para essas perguntas. Ao transcender as diferenças e superar barreiras de etnia e nacionalidade, estamos construindo um mundo de intercâmbio amplo e aberto entre os seres humanos. A filosofia da SGI baseia-se no ensinamento do Sutra do Lótus de respeito aos outros por meio de nossas ações, bem como nos princípios de que toda mudança começa dentro de nós mesmos e do acúmulo do tesouro do coração.

As pessoas ao redor do mundo têm grande expectativa com relação à filosofia humanística da SGI. Nossos esforços em realizar a revolução humana proporcionam esperança para a humanidade.

Entramos numa época na qual os esforços sinceros dos nossos membros, que estão pondo em prática o comportamento humanístico ensinado por Nichiren Daishonin, conquistam confiança e compreensão numa escala global.

Conclui-se aqui a explanação em três partes de Os Três Tipos de Tesouro.

Orando pela grande vitória no trabalho e na vida dos integrantes da Divisão Sênior e de todos os nossos membros no Japão e no mundo inteiro.

(Daibyakurenge, edição de dezembro de 2009)

Capítulo 2: Trechos da Nova Revolução Humana

NRH, cap. “Diplomacia do Povo”, v. 21, p. 101-102

Shin’ichi ficou profundamente comovido com a afirmação do ministro das Finanças sobre valores que não podem ser adquiridos a preço algum. Sentiu o humanismo de Fukuda nessa atitude. Nem é preciso dizer que dinheiro não pode comprar aquilo que realmente importa na vida; não pode comprar confiança entre pessoas, nem amor verdadeiro. Shin’ichi solidarizou-se com as opiniões de Fukuda.

— Concordo com o senhor. Como afirma Nichiren, cujos ensinamentos praticamos: “Mais valioso que o tesouro do cofre é o do corpo. Porém, nenhum é mais valioso que o tesouro do coração” (CEND, v. II, p. 112). “Tesouro do cofre” refere-se a dinheiro e a outras formas de riqueza material. “Tesouro do corpo” indica talentos e habilidades físicas, bem como saúde. “Tesouro do coração” é a riqueza que se constrói dentro da vida, a força interior que não pode ser vencida por nenhuma adversidade. Diz respeito à força para viver de maneira criativa, com alegria, satisfação e vitalidade constantes. E é a fonte da felicidade indestrutível, que, definitivamente, não pode ser comprada com dinheiro — observou Shin’ichi.

Batendo os dedos levemente no braço da cadeira, Fukuda ouvia atentamente os comentários de Shin’ichi que prosseguiu, dizendo:

— A desolação espiritual da época atual deve-se ao fato de a sociedade atribuir prioridade máxima ao “tesouro do cofre”, desprezando assim, o valor do “tesouro do coração”, muito mais essencial. Também é essa a razão do preponderante desrespeito à vida e à dignidade humana. Nós da Soka Gakkai estamos promovendo um movimento que busca restaurar o “tesouro do coração” e gerar um renascimento espiritual.

NRH, cap. “Tesouro da Vida”, v. 22, p. 265-266

Não podemos ver o coração, que detêm a chave para a saúde e a felicidade e possui um poder ilimitado. Podemos perder o “tesouro do cofre” e o “tesouro do corpo”, mas contanto que tenhamos o “tesouro do coração”, poderemos ter uma existência plena de alegria e estabelecer uma condição de vida de sólida felicidade.

O “tesouro do coração” não se restringe a esta vida. Continua adornando o nosso coração para sempre, pelas três existências, e também é a fonte essencial que nos habilita a conquistar o “tesouro do cofre” e o “tesouro do corpo”. A felicidade genuína não é determinada pelo “tesouro do cofre” ou “tesouro do corpo”, mas pela força interior e riqueza do nosso coração. Se, a todo momento uma ardente esperança, coragem e espírito de desafio pulsarem em nosso coração, sempre estaremos transbordantes de alegria e vigor, não importando quais sejam nossas circunstâncias. Essa é a verdadeira felicidade.

Mesmo em Sado, Nichiren Daishonin demonstrou sua extraordinária condição de vida, escrevendo: “Sinto imensa alegria mesmo estando exilado” (CEND, v. I, p. 405). E na prisão, onde foi confinado por defender suas convicções durante a Segunda Guerra Mundial, o presidente fundador da Soka Gakkai, Tsunesaburo Makiguchi, declarou: “Não estou nem um pouco ansioso” e “Dependendo do ponto de vista, até mesmo o inferno pode ser agradável”. Devemos acatar com total seriedade esses exemplos. Coragem, esperança, dinamismo, satisfação, gratidão, emoção e alegria que emanam do nosso próprio coração — esses são o “tesouro do coração”, e o objetivo da nossa prática é conquistar essa riqueza. Isso representa uma revolução na nossa maneira de ver a felicidade, uma “revolução da felicidade”.

Shin’ichi disse enfaticamente aos membros do Departamento dos Médicos:

— O “tesouro do coração” representa a saúde espiritual. É fonte de esperança, coragem, entusiasmo e vontade de viver.

O tesouro do coração é obtido por meio da dedicação à felicidade dos outros; em outras palavras, kosen-rufu. O filósofo suíço Carl Hilty (1833–1909) escreveu: “A saúde (...) renova-se por meio do trabalho abnegado”.

Shin’ichi continuou:

— Conforme vão acumulando o “tesouro do coração”, as pessoas aprendem como a vida é preciosa, transcendem as limitações do ego e se tornam capazes de dedicar a vida ativamente ao nobre propósito de levar felicidade aos outros. Além disso, ao adquirirem essa saúde espiritual, conseguem obter algo que contribui de forma indescritível para os poderes curativos do próprio corpo e aumentar a saúde. Na realidade, não somos plenamente saudáveis a menos que também tenhamos saúde espiritual. Acredito que seja importante difundir amplamente essa verdade na sociedade.

NRH, cap. “Espírito de Procura ”, v. 27, p. 307

A maior comprovação da fé que esses preciosos amigos haviam estabelecido não era uma satisfação material de “tesouro do cofre”. Eles haviam comprovado a verdadeira força do budismo por meio do acúmulo do “tesouro do coração”, um resplandecente brilho da vida que o ser humano possui, tais como: “Não sabia que eu podia me tornar tão forte!”; “Não imaginei que eu pudesse me importar tanto com as outras pessoas!”.

Nichiren Daishonin afirma: “O propósito do advento do buda Shakyamuni, senhor dos ensinamentos, neste mundo reside em seu comportamento como ser humano” (CEND, v. II, p. 113).

A grande Lei do budismo existe no modo de vida e, na conduta do ser humano. Com base nesses pensamentos a respeito dos companheiros de Tohoku, Shin’ichi teve a forte convicção de que o ritmo do movimento pelo kosen-rufudaquela localidade aceleraria com o tempo e se constituiria numa trajetória modelo do kosen-rufu.

Ele afirmou na reunião de diálogo:

— Visando os próximos dez anos, vamos escalar juntos até o topo da montanha do kosen-rufu. A partir de uma nova caminhada nasce uma nova esperança. Naturalmente, dias de fortes nevascas nos esperam, mas Daishonin disse: “Quanto piores forem as adversidades que recaírem sobre o devoto, maior será a alegria que ele sentirá devido à forte fé” (CEND, v. I, p. 33). Deparar com grandes dificuldades significa que sua fé está sendo testada. O Buda ressalta: “Sem as adversidades, não existiria devoto do Sutra do Lótus” (Ibidem). Lutar contra as provações é missão daqueles que trilham o caminho da justiça. Não devem temê-las jamais.

NRH, cap. “Grande Caminho”, v. 28, p. 111-112

Quando visitara Shikoku seis meses antes, o que havia ensinado pelo próprio exemplo aos líderes em todos os cantos que visitava, mesmo em meio aos ventos gelados do inverno, foi: “Devotem-se aos membros demonstrando o mesmo respeito que teria com o Buda”.

Ele bradou incansavelmente que a verdadeira postura como líder da Soka Gakkai era servir aos membros desencadeando uma mudança fundamental na postura, uma “revolução” dos líderes das terras de Shikoku.

O budismo é o ensinamento da benevolência. Quando incorporado no comportamento dos seres humanos, ela produz realmente valor. Nichiren Daishonin afirma: “O propósito do advento do buda Shakyamuni, senhor dos ensinamentos, neste mundo reside em seu comportamento como ser humano” (CEND, v. II, p. 113).

Respeitar as pessoas, conduzi-las ao grande caminho da felicidade e incentivá-las — neste comportamento se encontra o modo de viver de um budista e a prática do exercício budista.

Ao se promover a revolução da consciência e do caráter dos líderes e ao se estabelecer um modo de vida regido pela benevolência, isso se estenderá a todos os membros, e o círculo de pessoas de incentivo se expandirá amplamente para a localidade e também para a sociedade. Desse modo, os elos de pessoa a pessoa que tendiam a ser quebrados na atualidade com certeza passariam a ser restabelecidos.

A partir de outra ótica, kosen-rufu significa cada pessoa incorporar os princípios do budismo como seu modo de vida e sua filosofia e formar contínuos laços de confiança com todos.

Expandir cada vez mais esses círculos e edificar uma época, uma sociedade onde prevaleça o respeito ao ser humano, a proteção mútua, a dignidade da vida se torna uma importante missão dos integrantes da Soka Gakkai.

Capítulo 3: Trechos do Diálogo sobre Religião Humanística

DRH, cap. “A Prática de Profundo Respeito aos Outros, v. 3, p. 41

Pres. Ikeda: A chave para o florescimento do humanismo do qual fala o budismo é acreditar plenamente na bondade das pessoas e na dedicação de cultivar essa bondade em si e nos outros. A esse modo de vida Daishonin chama de “comportamento como ser humano”.

DRH, cap. A prática de profundo respeito aos outros, v. 3, p. 42

Pres. Ikeda: De forma simples, o Sutra do Lótus incorpora a filosofia de que “toda pessoa é um buda”, e clama a seus praticantes que possibilitem a cada um revelar sua natureza de buda inerente. Ensina ainda o modo de vida conduzido por um profundo respeito pelos outros.

Morinaka: Em contraste, os ensinamentos provisórios ou anteriores ao Sutra do Lótus não elucidavam totalmente um modo de vida que demonstrasse respeito pelos outros. Isso se deve principalmente porque eles conservavam um certo grau de discriminação, afirmando que as pessoas dos dois veículos (os ouvintes da voz e aqueles que despertaram para a causa), os indivíduos maus e as mulheres não podiam atingir o estado de buda.

Pres. Ikeda: Em seguida, Daishonin refere-se à essência da prática do Sutra do Lótus, a escritura da iluminação universal. Ele diz: “O coração da prática do Sutra do Lótus se encontra no capítulo ‘Jamais Desprezar’”.

Daishonin declara que, enquanto o coração do ensinamento do Sutra do Lótus é encontrado no capítulo 2, “Meios Apropriados”, e no capítulo 16, “A Extensão da Vida”, o coração da prática dos 28 capítulos desse sutra é encontrado no capítulo “Bodisatva Jamais Desprezar”. Acredito que isso tem um significado muito profundo.

Morinaka: A importância de “manter o Sutra do Lótus” é enfatizada em todo esse sutra, e vários métodos de prática também são estabelecidos, incluindo as cinco práticas e as quatro práticas pacíficas.

Pres. Ikeda: De todas essas práticas, Daishonin diz claramente que a essência da prática do Sutra do Lótus existe nas ações do bodisatva Jamais Desprezar.

DRH, cap. “A Prática de Profundo Respeito aos Outros, v. 3, p. 43-44

Morinaka: O Sutra do Lótus de Vinte e Quatro Ideogramas que o bodisatva Jamais Desprezar recitava é a seguinte: “Eu os reverencio profundamente, jamais ousaria tratá-los com desdém ou arrogância. Por quê? Porque todos estão praticando o caminho do bodisatva e infalivelmente atingirão o estado de buda” (LSOC, cap. 20, p. 308).

Pres. Ikeda: Em outras palavras, respeitar os outros é a ideia principal do Sutra do Lótus, e deve ser a essência de nossa prática budista. As palavras de louvor do bodisatva Jamais Desprezar clamam a nos empenhar na prática do shakubuku e a compartilhar a Lei Mística com os outros.

A reverência universal do bodisatva Jamais Desprezar pelos outros indica que todas as pessoas, sem exceção, podem atingir o estado de buda. As funções da escuridão ou ignorância agem para nos impedir de compreender isso. Nessa condição ilusória, mesmo que nos digam que todas as pessoas são dotadas da natureza de buda, o potencial para o estado de buda, é difícil acreditarmos nisso.

Morinaka: Embora professem respeito aos demais em um sentido abstrato, as pessoas frequentemente acabam subestimando e desrespeitando os outros de alguma forma.

Pres. Ikeda: Esse é o perigo da escuridão e ilusão profundamente ocultas na vida das pessoas. E é por essa razão que a firme convicção e a coragem são essenciais. A coragem é vital em nossa luta para libertar do mal inúmeras pessoas de valor e conduzi-las ao bem. Os membros da SGI reúnem essa coragem diariamente e realizam essa luta em todos os tipos de situações, incluindo suas atividades para realizar o shakubuku. É por isso que eles são fortes.

Conforme já observamos, tanto a “súplica de Brahma” quando Shakyamuni atingiu a iluminação quanto o juramento que Nichiren Daishonin fez quando estabeleceu seu ensinamento foram declarações de uma decisão de jamais desistir, por pior que seja o mal ou o obstáculo que viessem a enfrentar. Acredito que podemos interpretar isso da seguinte forma: a determinação de jamais abandonar a prática da fé é a própria essência da iluminação.

Conduzir as pessoas ao bem em um mundo encoberto pela escuridão da ignorância, enfrentar ativamente o mal e refutá-lo sem ser contaminado por ele, constitui um enorme desafio. É como caminhar por uma trilha perigosa no topo de uma alta montanha enquanto lutamos para vencer várias tentações mundanas que querem nos lançar ao vale de profundo desrespeito por outros seres humanos. É indispensável que tenhamos a firme convicção de que somos “como a flor de lótus na água” (LSOC, cap. 15, p. 263), florescendo serenamente sem ser contaminada pelo pântano em que cresce.

A firme convicção para nos libertar de todas as tentações que nos leva a desrespeitar os outros é o que valida a iluminação universal do Sutra do Lótus.

Tenho enfatizado isso repetidamente, mas não há nada mais arraigado do que as tentações à escuridão ou ignorância. Para citar um exemplo do Sutra do Lótus, essas tentações eram tão fortes que até mesmo Shariputra, conhecido como o mais sábio dos seguidores do Buda, não estava imune. Nos ensinamentos anteriores ao Sutra do Lótus, Shariputra — como uma pessoa dos dois veículos — não foi capaz de atingir o estado de buda [como também foi o caso das mulheres e das pessoas más]. Entretanto, no Sutra do Lótus — mesmo depois de ele próprio ter recebido a predição de atingir o estado de buda no futuro — Shariputra teve dificuldades para aceitar a consecução do estado de buda pela filha do rei dragão, na forma que se apresentava, por ser uma mulher.

Morinaka: Esse exemplo sugere que é muito difícil viver com genuíno respeito pelos outros.

DRH, cap. “A Prática de Profundo Respeito aos Outros, v. 3, p. 45-46

Pres. Ikeda: (...) Nichiren Daishonin inscreveu o Gohonzon para que nós, que vivemos na era maléfica dos Últimos Dias da Lei, possamos ativar nossa natureza de buda e fazer com que a esplêndida flor de nossa humanidade, ou nossa natureza iluminada inerente, revele-se. Ele nos legou o Gohonzon e nos ensinou que todas as pessoas são igualmente dignas do mais alto respeito. Nós, da SGI, temos colocado esse ensinamento em prática em nosso cotidiano, e ao agirmos assim, mostramos ao mundo o modo de vida de profundo respeito por todos os seres humanos.

Como é infinitamente precioso e imenso o poder benéfico do Gohonzon! Como é grandiosa a prática da Soka Gakkai! Jamais podemos nos esquecer disso.

Nossa vida adquire um profundo significado quando avançamos pelo caminho de respeitar todas as pessoas. Cultivar o respeito pelos outros é o propósito de nossa prática budista. Ao perseverarmos na prática de respeitar os outros, a exemplo do bodisatva Jamais Desprezar, podemos experimentar um verdadeiro senso de alegria e propósito.

Saito: Isso se refere à nossa prática de shakubuku, às várias atividades da SGI como também aos esforços para estreitar os laços de amizade na sociedade. Todas essas ações são expressões de nosso respeito pelos outros.

Pres. Ikeda: Correto. Essa é a prática fundamental do budismo.

Em termos dos três fundamentos do Budismo Nichiren — fé, prática e estudo — acreditar firmemente na natureza de buda de todas as pessoas é praticar a “fé” no Sutra do Lótus e no Gohonzon.

O mesmo se aplica à “prática”. Primeiro, conduzimos a prática de recitação do gongyo e do daimoku para manifestarmos nossa natureza de buda; e o mais importante, realizamos a prática de propagação do ensinamento para que outras pessoas possam manifestar sua natureza de buda também.

E “estudo” significa estudar a filosofia de respeitar sinceramente a vida de todos os seres humanos.

Notas:

1. HUGO, Victor. Les Misérables [Os Miseráveis]. Tradução: Julie Rose. Nova York: Random House, Inc., 2008, p. 221.

2. Em Admoestação pelo Apego ao Feudo, Daishonin recomenda a Shijo Kingo: “Esta existência é como um sonho; ninguém pode saber se amanhã continuará vivo. Jamais desonre o Sutra do Lótus, ainda que se torne o pior dos mendigos” (CEND, v. II, p. 84).

3. Perseguição de Tatsunokuchi: No décimo segundo dia do nono mês de 1271, poderosas personalidades do governo mandaram prender Daishonin e o levaram no meio da noite para um lugar chamado Tatsunokuchi que ficava nos arredores de Kamakura, a sede do governo, onde tentaram executá-lo ocultos pela escuridão. A tentativa de execução não deu certo e cerca de um mês mais tarde Daishonin foi exilado na Ilha de Sado.

4. O mundo do inferno, que é um reino de sofrimento extremo, pode ser instantaneamente transformado em Terra da Luz Eternamente Tranquila, onde habita o Buda, ou o mundo do estado de buda.

5. MAKIGUCHI, Tsunesaburo. Makiguchi Tsunesaburo Zenshu [Obras Completas de Tsunesaburo Makiguchi]. Tóquio: Daisanbunmei-sha, v. 10, p. 285, 1987.

6. Citação extraída do Sutra dos Seis Paramitas.

7. Os Analectos, de Confúcio.

8. Tan (Dan), duque de Chou (Zhou): Irmão mais novo do imperador Wu, fundador da dinastia Chou (Zhou) (c. 1100–256 a.E.C.). Depois de ajudar seu irmão na tarefa de derrubar a dinastia Yin (Shang) e fundar um novo governo, ele continuou intimamente envolvido aos assuntos do governo. Quando o imperador Wu morreu e seu filho Cheng que ainda era criança subiu ao trono, o duque de Chou (Zhou) atuou como regente do jovem príncipe. Ele tem sido reverenciado ao longo dos séculos por confucionistas como um modelo de governo correto e íntegro.

9. Esse episódio é mencionado em Registros do Historiador. Dan, o duque de Zhou, ficava tão ansioso para encontrar pessoas capazes; e, para não se esquecer de ninguém, ele recebia visitantes até mesmo enquanto estava lavando o cabelo ou no decurso de uma refeição. Daishonin cita esse exemplo para explicar a importância de ser cauteloso e atencioso.

10. Esse incidente está registrado em Crônicas do Japão. Provavelmente, não há uma referência aberta a isso porque envolvia o assassinato de um imperador por um de seus criados.

11. Bodisatva Jamais Desprezar: Bodisatva descrito no capítulo 20, “Jamais Desprezar”, do Sutra do Lótus. Esse bodisatva — que foi Shakyamuni em uma existência anterior — fazia reverência perante a todos que encontrava. No entanto, ele era atacado por pessoas arrogantes, que batiam nele com varas e bastões e lhe atiravam pedras. O sutra explica que sua prática de respeitar a natureza de buda dos outros tornou-se a causa para ele atingir o estado de buda.

12. Hyaku Rokka Sho [As Cento e Seis Comparações].

13. Purificação dos seis órgãos dos sentidos: Também chamada de purificação dos seis sentidos. Refere-se aos seis órgãos dos sentidos — olhos, orelhas, nariz, língua, pele (corpo) e mente —, tornando-se puros, possibilitando assim apreender todas as coisas corretamente. O capítulo 19, “Os Benefícios do Mestre da Lei”, do Sutra do Lótus, explica que aqueles que defendem e praticam o sutra adquirem oitocentos benefícios dos olhos, do nariz e do corpo, e mil e duzentos benefícios das orelhas, da língua e da mente, e que por meio desses benefícios os seis órgãos dos sentidos se tornam refinados e puros.

14. Nesse caso, não se refere aos Médios Dias da Lei depois da morte do buda Shakyamuni, mas sim depois da morte do buda Rei do Som Imponente. Os períodos sucessivos dos Primeiros, Médios e Últimos Dias da Lei também se aplicam a outros budas que aparecem nos sutras budistas. Assim, o ensinamento de cada buda tem seus Médios Dias da Lei.

15. O trecho que diz “Quando suas ofensas foram expiadas” (LSOC, v. 20, p. 312) descreve como o bodisatva Jamais Desprezar erradicou as ofensas de caluniar a Lei cometidas no passado sofrendo perseguições.

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