Estudo
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[13] Felicidade das mulheres
Departamento de Estudo do Budismo
05/04/2021
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Capítulo 1: Trechos do Gosho
Aprendendo com os Escritos de Nichiren Daishonin — Os Ensinamentos para a Vitória - Matéria atualizada a partir da revista Terceira Civilização, ed. 525, maio 2012, p. 46 - Explanação do presidente da SGI, Dr. Daisaku Ikeda
O juramento de Nichiren Daishonin e a incansável luta pela iluminação das mulheres
[6] O Sutra da Verdadeira Retribuição
Trechos do escrito
Este sutra é superior a todos os demais. É como o rei leão, monarca de todas as criaturas que pisam este solo, e como a águia, a rainha de todas as criaturas que voam pelo céu. Os sutras como o Sutra da Devoção ao Buda Amida são como faisões ou coelhos, que choram quando caem nas garras da águia ou sentem as entranhas se contorcerem de pavor quando são perseguidos pelo leão. O mesmo se aplica a pessoas como os adeptos do Nembutsu, os sacerdotes da escola Preceitos, os monges do Zen e os mestres da escola Palavra Verdadeira. Quando enfrentam cara a cara o devoto do Sutra do Lótus, empalidecem e seu espírito vacila. (...)
Para todos aqueles que desejavam acreditar no Sutra do Lótus, mas não conseguiam fazê-lo de modo pleno, o quinto volume expõe o coração e a essência de todo o sutra: a doutrina de atingir o estado de buda na forma que se apresenta. É como se, por exemplo, um objeto preto se tornasse branco, como se a laca escura adquirisse a brancura da neve, como se algo impuro se tornasse puro ou límpido, ou como se pusessem uma joia da realização dos desejos na água lamacenta [para que esta se tornasse transparente]. Nesse volume é descrito como a menina-dragão tornou-se um buda mantendo a forma original de réptil. Então, diante desse fato, ninguém mais teve dúvida de que todos os homens podiam atingir o estado de buda. Por isso eu digo que a iluminação das mulheres é apresentada como exemplo. (CEND, v. II, p. 195)
(...)
Eu, Nichiren, nasci como ser humano, algo raro de se conseguir, e encontrei os ensinamentos do Buda, que é algo ainda mais raro de ocorrer. Além disso, entre todos os ensinamentos do Buda, pude encontrar o Sutra do Lótus. Quando paro e penso em minha boa sorte, vejo que é grande a dívida de gratidão que tenho para com meus pais, com o soberano e com todos os seres vivos.
A respeito da dívida de gratidão que temos para com nossos pais, nosso pai pode ser comparado ao céu, e nossa mãe, à terra; e seria muito difícil dizer a qual dos dois devemos mais. No entanto, é particularmente difícil retribuir à imensa compaixão de nossa mãe. (...)
Desde que compreendi que só o Sutra do Lótus expõe a iluminação das mulheres, que este é o único sutra da verdadeira retribuição que nos permite saldar a dívida de gratidão para com nossa mãe, jurei fazer com que todas as mulheres recitem o daimoku deste sutra a fim de retribuir o muito que devo à minha própria mãe. (CEND, v. II, p. 195-196)
(...)
O budismo no Japão atual mostra-se exatamente assim, tudo o que fazem é conspirar e tramar rebeliões, embora de maneira diferente. O Sutra do Lótus representa o supremo soberano, enquanto as escolas Palavra Verdadeira, Terra Pura, Zen e os mestres da escola Preceitos, por manterem tais sutras inferiores como o Sutra Mahavairochana e o Sutra da Meditação sobre o Buda Vida Infinita, tornaram-se inimigos mortais do Sutra do Lótus. No entanto, as mulheres de todo o Japão, sem se dar conta da ignorância de sua própria mente, acreditam que seu inimigo é Nichiren, aquele que pode salvá-las, e consideram como bons amigos e mestres os sacerdotes das escolas Nembutsu, Zen, Preceitos e Palavra Verdadeira, que, na realidade, são seus inimigos mortais. Por considerarem Nichiren, que está tentando salvá-las, como seu inimigo mortal, essas mulheres têm se unido para caluniá-lo na presença do soberano da nação. Foi por essa razão que, depois de ter sido exilado na província de Izu, ele também foi exilado na província de Sado. (CEND, v. II, p. 197)
(...)
Não obstante, quando fui exilado em Sado, o comandante militar dessa província e outros funcionários, acatando a ordem do governo da nação, trataram-me com hostilidade. (...)
Qualquer que tenha sido o desígnio das divindades celestiais com relação a essa questão, os administradores e os seguidores do Nembutsu mantiveram minha cabana sob forte vigilância, dia e noite, determinados a impedir qualquer um que desejasse se comunicar comigo. Jamais me esquecerei, por todas as minhas existências, de como a senhora, sob tais circunstâncias, com Abutsu-bo do seu lado carregando uma caixa de alimentos nas costas, vinha noites seguidas para me trazer provisões. Foi como se minha falecida mãe tivesse renascido repentinamente na província de Sado! (CEND, v. II, p. 198)
Explanação
“...jurei fazer com que todas as mulheres recitem o daimoku deste sutra a fim de retribuir o muito que devo à minha própria mãe” (CEND, v. II, p. 196).
Essa passagem é o âmago de O Sutra da Verdadeira Retribuição, o escrito do buda Nichiren Daishonin que vamos estudar agora. Essa carta demonstra a inspiração fundamental para o juramento de Daishonin para abrir o caminho à iluminação de todas as pessoas.
O poder de recitar o Nam-myoho-renge-kyo manifesta-se por meio da sincera fé.
“...a fim de retribuir o muito que devo à minha própria mãe” — que bela e delicada expressão do Budismo Nichiren! Saldar a dívida de gratidão com nossa mãe, que nos deu à luz, nos criou e nos protegeu, é um importante princípio do budismo. E este, em certo sentido, nos ensina a cultivar o espírito de compaixão maternal em nossas interações com os outros.
Numa escritura budista, o buda Shakyamuni ensina: “Assim como uma mãe protegeria seu único filho ao custo da própria vida, deixe-o cultivar um ilimitado coração com todos os seres. (...) Deixe seus pensamentos e ilimitado amor permearem todo o universo”.1
Não é exagero dizer que “a compaixão maternal” é idêntica ao “coração do Buda”, que todos os seres vivos possuem inerente. A compaixão de uma mãe ou o amor por seu único filho estão diretamente ligados à preocupação ou à benevolência do Buda com todos os seres vivos. Experimentar o amor de uma mãe e sua compaixão é experimentar o coração do Buda. Todos nós somos beneficiários das grandes dádivas do amor maternal e da compaixão.
É uma triste realidade do nosso mundo, no entanto, muitas mães sofrerem ou estarem tristes. Isso ocorre porque o coração das pessoas é regido pelo autointeresse, pelo calculismo e pela rivalidade — que são o lado oposto da compaixão. Por conseguinte, como um jovem muito sensível a saldar a dívida de gratidão com sua mãe, Daishonin empenhou-se em estudar os ensinamentos do budismo a fim de libertá-la do sofrimento. Referindo-se à aspiração básica que deve ser valorizada por aqueles que renunciam à vida secular, ele escreve: “Disse isso porque um homem, ao deixar o lar e se distanciar dos pais para se tornar monge, sempre deve ter como objetivo salvar seu pai e sua mãe” (CEND, v. I, p. 238).
Além disso, seguindo seu exaustivo estudo dos sutras budistas, Daishonin concluiu claramente que o daimokudo Sutra do Lótus [Nam-myoho-renge-kyo] é a Lei profunda que constitui a “semente” para evidenciar o estado de buda. Ele, portanto, jurou “fazer com que todas as mulheres recitem o daimoku deste sutra” (CEND, v. II, p. 196).
O daimoku do Sutra do Lótus é o ensinamento supremo do budismo para todos os seres vivos, não apenas para as mulheres. O primeiro exemplo do princípio do Sutra do Lótus de que todos os seres vivos podem manifestar o estado de buda na forma que se apresenta é o da filha do rei dragão2 — em outras palavras, um praticante do sexo feminino pode se tornar Buda. Isso ilustra que a sinceridade na fé — a qual as mulheres são particularmente notáveis — é a chave para manifestar o poder da Lei Mística na própria vida.
Realmente, sinto que as mulheres possuem uma inclinação natural para acalentar e nutrir a vida, simbolizada pelo amor e pela compaixão de uma mãe. Assim, quando as mulheres despertam para a Lei Mística, elas exploram fácil e diretamente a condição de vida do Buda em que a compaixão se manifesta como sabedoria, e a sabedoria, como compaixão. Por possuírem um espírito de coração puro, elas são capazes de abraçar a sincera e inabalável fé no daimoku do Sutra do Lótus, que é a semente para evidenciar o estado de buda.
A monja leiga Sennichi, destinatária de O Sutra da Verdadeira Retribuição, foi uma mulher que exemplificou essa fé. Daishonin escreveu esta carta no vigésimo oitavo dia do sétimo mês de 1278 e Sennichi a recebeu de seu marido, Abutsu-bo, que viajou da Ilha de Sado até o Monte Minobu para visitar o Buda. O texto é uma resposta à carta de Sennichi que Abutsu-bo havia levado com ele. Logo no início de sua resposta, Daishonin reafirma brevemente o que ela tinha escrito a ele: “Na carta, a monja leiga diz que apesar de sempre se preocupar com a questão das faltas e dos impedimentos que privam as mulheres de atingir o estado de buda, ela confia totalmente no Sutra do Lótus, pois de acordo com meu ensinamento, este sutra põe em primeiro plano a iluminação das mulheres” (CEND, v. II, p. 193).
A partir dos sentimentos expressos por Sennichi, supomos que a garantia de Daishonin sobre a iluminação das mulheres com base no Sutra do Lótus deva ter sido fonte de imensa esperança e inspiração para as mulheres de sua época.
Nesse escrito, desejando fortalecer a convicção de Sennichi em sua capacidade para atingir a iluminação, Daishonin explica que a manifestação do estado de buda da menina-dragão na forma que se apresenta é “o coração e a essência” do Sutra do Lótus (cf. CEND, v. II, p. 195). O Buda explica que a iluminação das mulheres, em particular, é a base de seu juramento para propagar a Lei. Ele ainda descreve a luta que vem travando para esse fim.
Posso imaginar Sennichi, com essa carta em mãos, partilhando com alegria sua inspiradora mensagem com os demais discípulos de Daishonin na Ilha de Sado.
Vamos estudar O Sutra da Verdadeira Retribuição, e fazer uma pausa para refletir sobre a importância dos esforços de Daishonin para cumprir seu juramento de habilitar todas as mulheres a se tornar budas.
Trecho da carta
Este sutra é superior a todos os demais. É como o rei leão, monarca de todas as criaturas que pisam este solo, e como a águia, a rainha de todas as criaturas que voam pelo céu. Os sutras como o Sutra da Devoção ao Buda Amida3 são como faisões ou coelhos, que choram quando caem nas garras da águia ou sentem as entranhas se contorcerem de pavor quando são perseguidos pelo leão. O mesmo se aplica a pessoas como os adeptos do Nembutsu, os sacerdotes da escola Preceitos, os monges do Zen e os mestres da escola Palavra Verdadeira. Quando enfrentam cara a cara o devoto do Sutra do Lótus, empalidecem e seu espírito vacila. (...)
Para todos aqueles que desejavam acreditar no Sutra do Lótus, mas não conseguiam fazê-lo de modo pleno, o quinto volume4 expõe o coração e a essência de todo o sutra: a doutrina de atingir o estado de buda na forma que se apresenta. É como se, por exemplo, um objeto preto se tornasse branco, como se a laca escura adquirisse a brancura da neve, como se algo impuro se tornasse puro ou límpido, ou como se pusessem uma joia da realização dos desejos na água lamacenta [para que esta se tornasse transparente]. Nesse volume é descrito como a menina-dragão tornou-se um buda mantendo a forma original de réptil. Então, diante desse fato, ninguém mais teve dúvida de que todos os homens podiam atingir o estado de buda. Por isso eu digo que a iluminação das mulheres é apresentada como exemplo. (CEND, v. II, p. 195)
Sutra do Lótus, o principal ensinamento do Buda
Nichiren Daishonin salienta que o Sutra do Lótus, dentre todas as escrituras budistas, contém o verdadeiro ensinamento do Buda. “É como o rei leão, monarca de todas as criaturas que pisam este solo, e como a águia, a rainha de todas as criaturas que voam pelo céu” (CEND, v. II, p. 195) — diz ele. A principal razão para o Sutra do Lótus ser designado como “o rei de todos os sutras” é sua iluminação universal baseada nas doutrinas dos “três mil mundos num único momento da vida”5 e na “possessão mútua dos dez mundos”.6
Os ensinamentos anteriores ao Sutra do Lótus declaram que o estado de buda só é possível se erradicarmos os desejos mundanos dos nove mundos — que vai do inferno ao mundo dos bodisatvas. O Sutra do Lótus, no entanto, ensina a “possessão mútua dos dez mundos”, e explica que todos os seres vivos nos nove mundos, sejam eles bodisatvas, pessoas dos dois veículos (ouvintes da voz e aqueles que despertaram para a causa) ou as pessoas comuns, têm a capacidade de revelar o estado de buda inerente como são, sem ter de passar por incontáveis kalpade práticas austeras.
Como prova desse princípio fundamental, o capítulo 12, “Devadatta”, do Sutra do Lótus, descreve a menina-dragão atingindo o estado de buda instantaneamente na forma que se apresenta. Os comentários de Daishonin afirmam que o estado de buda é inerente a todas as pessoas e elucidam o princípio dos “três mil mundos num único momento da vida”. Porém, não são suficientes para serem aceitos prontamente pelas pessoas. Além disso, é especialmente difícil para as pessoas que vivem na era maligna após a morte do Buda entender e acreditar nos ensinamentos do Sutra do Lótus. A menina-dragão atingiu a iluminação [na assembleia] da forma como ela era. Daishonin diz que, diante dessa prova, está totalmente convencido de que todos os homens podiam atingir o estado de buda imediatamente e da forma como são (cf. CEND, v. II, p. 195).
Em outras palavras, a iluminação das mulheres revela o poder do Sutra do Lótus para permitir que todas as pessoas manifestem igualmente o estado de buda. Daishonin escreve na carta endereçada a Sennichi: “Por isso eu digo que a iluminação das mulheres é apresentada como exemplo” (CEND, v. II, p. 195).
Enquanto um número de sutras expostos antes do Sutra do Lótus sustentou a possibilidade de as mulheres atingirem o estado de buda, condicionada ao renascimento, primeiro, como homem numa existência futura. Uma condição similar foi colocada sobre as mulheres que procuravam renascer na Terra Pura, como ensinado na escola Nembutsu; elas não podiam esperar para chegar a esse reino diretamente da forma como eram. Nesses casos, para evidenciar o estado de buda, seria necessária a transformação física.
Em contraste, Daishonin ressalta que a menina-dragão atingiu o estado de buda no Sutra do Lótus instantaneamente — alcançada por um simples ser dos nove mundos. Ele comprova isso citando uma passagem do grande mestre Dengyo7 sobre esse fato: “Por meio do poder do Sutra do Lótus da Lei Maravilhosa, eles poderão atingir o estado de buda na forma que se apresentam” (Ibidem, p. 195).8
Em outra carta, Daishonin também afirma: “A essência do Sutra do Lótus encontra-se na revelação de que uma pessoa pode atingir a iluminação suprema na forma que se apresenta, sem ter de mudar a condição de um ser humano comum. Isso significa que não é necessário livrar-se dos impedimentos cármicos para atingir o caminho do buda” (CEND, v. I, p. 429). Podemos, instantaneamente, alcançar a iluminação perfeita,9 o mais elevado estágio da prática, como uma pessoa comum na fase inicial de abraçar e praticar o Sutra do Lótus. Manifestar o estado de buda na forma que se apresenta é a verdadeira essência da iluminação exposta no Sutra do Lótus.
Mais uma vez, no capítulo 12, “Devadatta”, do Sutra do Lótus, como prova de ter evidenciado o estado de buda da forma como é, a menina-dragão jura expor as “doutrinas do grande veículo [o Sutra do Lótus] para resgatar os seres vivos do sofrimento” (LSOC, v. 12, p. 227).
A descrição das mulheres no Sutra do Lótus, exemplificada pela menina-dragão, está em contraste com os sutras provisórios expostos pelo Buda. Como reflexo das atitudes predominantes na sociedade indiana antiga, essas escrituras saíram de seu caminho para enfatizar as faltas e os impedimentos cármicos das mulheres, roubando a esperança e a dignidade delas.
Na época de Nichiren Daishonin, tais ensinamentos eram amplamente difundidos no Japão, enquanto o Sutra do Lótus foi quase ignorado. Não seria errado dizer, portanto, que o budismo se transformou numa fonte de opressão e sofrimento para as mulheres. Daishonin quis pôr fim a essa situação e tentou chamar a atenção para a iluminação da menina-dragão na forma que se apresenta. Ele foi impulsionado pelo desejo ardente de estabelecer um ensinamento para a felicidade das mulheres e das mães, e para a transformação de todas as pessoas.
O Budismo Nichiren é um ensinamento transformador que nos permite desenvolver e expandir nossa condição de vida por meio do poder da fé e da prática com base na Lei Mística. O poder da fé surge da crença de que nós mesmos somos inerentemente entidades da Lei Mística, ou seja, que somos budas. O poder da prática, por sua vez, surge da recitação do Nam-myoho-renge-kyo, a Lei fundamental para alcançar o estado de buda, e evidenciar nossa natureza de buda.
O juramento de Nichiren Daishonin para “fazer com que todas as mulheres recitem o daimoku deste sutra (isto é, o Nam-myoho-renge-kyo)” (CEND, v. II, p. 196) é o de realizar uma reforma no budismo que promoverá a independência e a revolução humana das mulheres.
Em outro escrito, Daishonin afirma: “...as mulheres que o recebem e o abraçam com o corpo, a boca e a mente, mesmo sem ler ou copiar o texto e, em especial, as que recitam Nam-myoho-renge-kyo com sua boca, podem atingir o estado de buda com facilidade, exatamente como ocorreu com a filha do rei dragão, Gautami10 e Yashodhara,11que viveram na mesma época que o Buda” (Ibidem, p. 147). Observe o uso da palavra “exatamente”. As mulheres que sustentam a grande Lei da iluminação nada têm a temer. Numa carta dirigida a monja leiga Sennichi alguns meses mais tarde, Daishonin escreve: “A mulher que abraça o rei leão do Sutra do Lótus jamais teme a nenhuma das bestas do inferno nem dos mundos dos espíritos famintos ou dos animais” (Ibidem, p. 214).
As mulheres que despertam e adotam a filosofia suprema do Sutra do Lótus, permitindo-lhes levar adiante sua dignidade inata, lideram a mais nobre e honrosa vida.
Nichiren Daishonin esforçou-se para dar esperança às suas discípulas, escrevendo essas palavras de encorajamento: “Quando acreditamos que, sem falta, nos tornaremos budas, não há nada do que se lamentar” (CEND, v. I, p. 687); “...a mulher que abraça este sutra supera não apenas todas as demais mulheres, mas prevalece também sobre todos os homens” (Ibidem, p. 485) e “A senhora [Nichigen-nyo, como uma mulher que tem fé no Sutra do Lótus] é a primeira, entre todas as 2.994.830 mulheres do Japão” (WND, v. II, p. 813).
Além disso, no escrito O Sutra da Verdadeira Retribuição, Daishonin responde confiantemente a carta recebida de Sennichi, assegurando-lhe: “Dessa forma, que motivo haveria para as mulheres do Japão ficarem desanimadas se o Sutra do Lótus lhes garante a iluminação que todos os demais sutras negaram a elas?” (CEND, v. II, p. 195).
A iluminação das mulheres abre o caminho para todas as pessoas evidenciarem o estado de buda. A prova irrefutável no Sutra do Lótus de que uma mulher manifesta o estado de buda garante a esperança de que todas as pessoas podem fazer o mesmo. Por conseguinte, o Sutra do Lótus é o fundamento de um budismo direcionado verdadeiramente às pessoas.
Trecho da carta
Eu, Nichiren, nasci como ser humano, algo raro de se conseguir, e encontrei os ensinamentos do Buda, que é algo ainda mais raro de ocorrer. Além disso, entre todos os ensinamentos do Buda, pude encontrar o Sutra do Lótus. Quando paro e penso em minha boa sorte, vejo que é grande a dívida de gratidão que tenho para com meus pais, com o soberano e com todos os seres vivos.
A respeito da dívida de gratidão que temos para com nossos pais, nosso pai pode ser comparado ao céu, e nossa mãe, à terra; e seria muito difícil dizer a qual dos dois devemos mais. No entanto, é particularmente difícil retribuir à imensa compaixão de nossa mãe. (...)
Desde que compreendi que só o Sutra do Lótus expõe a iluminação das mulheres, que este é o único sutra da verdadeira retribuição que nos permite saldar a dívida de gratidão para com nossa mãe, jurei fazer com que todas as mulheres recitem o daimoku deste sutra a fim de retribuir o muito que devo à minha própria mãe. (CEND, v. II, p. 195-196)
O Sutra do Lótus é o “Sutra da Verdadeira Retribuição”
Nichiren Daishonin sentia uma profunda gratidão aos seus amados pais — comparando seu pai ao céu e sua mãe à terra. E ele diz: “No entanto, é particularmente difícil retribuir à imensa compaixão de nossa mãe” (CEND, v. II, p. 196). A dívida de gratidão que temos com nossa mãe é imensa e não podemos esperar retribuí-la totalmente. Em outra carta, Daishonin escreve: “A esta altura, não há necessidade de enfatizar como é grande a gratidão que se deve a um pai e a uma mãe. Mas eu gostaria de salientar que a dívida de gratidão a uma mãe é particularmente importante e digna de ser levada a sério” (WND, v. II, p. 895).
Além disso, Daishonin diz que seus estudos sobre as escrituras budistas o levaram a concluir que somente o Sutra do Lótus permite verdadeiramente saldar a dívida de gratidão com sua mãe. Por essa razão, ele diz que prometeu ensinar a todas as mães — todas as mulheres — o daimokudo Sutra do Lótus, ou o Nam-myoho-renge-kyo.
Um juramento nos dá a força para perseverar e continuar avançando em nossa vida e o poder de afastar as adversidades. Em seu tratado Abertura dos Olhos, Daishonin jura nunca vacilar em seus esforços para conduzir as pessoas à iluminação, independentemente dos grandes obstáculos e das perseguições que encontrasse em seu caminho. Ele escreve que os julgamentos que enfrentou durante o exílio na Ilha de Sado (1271-1274)12 — longe de extinguir a chama de seu juramento — só o fortaleceu, tornando-o ainda mais determinado a se tornar o pilar do Japão e a jamais abandonar esse juramento.13
Na carta O Sutra da Verdadeira Retribuição, percebemos que a essência do juramento de Daishonin — de salvar todas as pessoas — é a gratidão à sua mãe e o desafio de habilitar todas as mulheres a se tornar budas.
O Budismo Nichiren é aliado dos mais miseráveis e oprimidos, daqueles que experimentam os maiores sofrimentos. Isso porque abre as portas para a iluminação das mulheres, que eram rejeitadas e repudiadas pelo budismo tradicional. O Budismo Nichiren é um ensinamento que liberta todas as pessoas do sofrimento dos Últimos Dias da Lei.
O kosen-rufué uma luta para construir uma era em que as mulheres saboreiem a alegria de viver; é a realização do juramento do Buda para se esforçar a fim de que as mães do mundo inteiro experimentem a felicidade suprema.
Daishonin acreditava que somente tornando possível que sua mãe atingisse a iluminação, ele seria capaz de conduzir todas as mulheres à iluminação. Visto a partir do princípio budista da origem dependente,14 cada pessoa com a qual nos relacionamos está conectada ao restante da humanidade.
As escrituras budistas oferecem a bela metáfora da rede de Indra para explicar essa interligação da vida. Consta que o palácio da divindade Shakra Devanam Indra, que representa o poder da natureza, é coberto por enorme rede ornamentada com incontáveis gemas que cintilam em muitas cores diferentes. Não há nenhuma pedra no centro da rede; cada uma delas fica igualmente no centro do todo. E cada gema reflete as outras gemas, fazendo-as brilhar com esplendor e criando um mundo magnífico e perfeitamente harmonioso.
Da mesma forma, cada um de nós é como um nó numa teia infinita de relações mútuas. Quando um de nós se move, tudo começa a se mover num efeito de grande ondulação. Tudo começa com um indivíduo. Esse é o conceito de transformação do princípio dos “três mil mundos num único momento da vida”.
Ainda sobre o juramento de Daishonin, outro ponto importante é que ele surgiu do sentimento natural do ser humano em querer saldar a dívida de gratidão com sua mãe. Meu mestre, segundo presidente da Soka Gakkai, Josei Toda, muitas vezes disse que demonstrar amor e cuidar dos nossos pais é vital para adquirir o estado de espírito humanístico do Buda. Ele sempre incentivava os jovens a valorizar os pais: “Você está alheio às lágrimas de sua mãe?”.
Recordo-me de certa vez quando Toda sensei perguntou sobre a minha mãe. Quando eu lhe disse que estava indo bem, ele respondeu com expressão terna: “O rosto sorridente de nossa mãe permanece conosco enquanto vivermos. É desse jeito para mim. E tenho certeza de que será o mesmo para você”. Meu mestre lembrou com carinho e amor da preocupação que sua mãe tinha por ele. Até o dia de sua morte, o presidente Josei Toda guardou o casaco acolchoado costurado à mão por ela para ele levar a Tóquio. Quando entregou o casaco para Toda sensei, que se preparava para deixar sua cidade natal e tentar a sorte na cidade grande, a mãe lhe disse: “Isso vai mantê-lo aquecido. Se usá-lo durante o trabalho, não importa quão difíceis as coisas possam ser, você pode realizar qualquer coisa”. Anos mais tarde, ao voltar para casa depois de sua prisão durante a Segunda Guerra Mundial e encontrar a salvo seu casaco acolchoado, o presidente Josei Toda falou: “Se esse casaco sobreviveu, sei que vou ficar bem”. Ele sempre acalentou orações de sua mãe em seu coração.
Num conhecido trecho de uma orientação direcionado aos jovens, Toda senseiescreveu: “Há tantos jovens que são incapazes de ter compaixão por seus próprios pais. Como podem esperar se preocupar com estranhos?”. O esforço para superar a frieza e a indiferença em nossa vida e alcançar o mesmo estado de compaixão que o Buda é a essência da revolução humana.15
Tenho orientado constantemente os jovens a ter compaixão por seus pais e a ser bons filhos e filhas. É minha determinação que os jovens tenham esse espírito e que se transformem em pessoas que contribuam para o bem-estar da sociedade e dos demais seres humanos. Ter compaixão por nossos pais é uma importante diretriz para a revolução humana.
Trecho da carta
O budismo no Japão atual mostra-se exatamente assim, tudo o que fazem é conspirar e tramar rebeliões,16 embora de maneira diferente. O Sutra do Lótus representa o supremo soberano, enquanto as escolas Palavra Verdadeira, Terra Pura, Zen e os mestres da escola Preceitos, por manterem tais sutras inferiores como o Sutra Mahavairochana e o Sutra da Meditação sobre o Buda Vida Infinita, tornaram-se inimigos mortais do Sutra do Lótus. No entanto, as mulheres de todo o Japão, sem se dar conta da ignorância de sua própria mente, acreditam que seu inimigo é Nichiren, aquele que pode salvá-las, e consideram como bons amigos e mestres os sacerdotes das escolas Nembutsu, Zen, Preceitos e Palavra Verdadeira, que, na realidade, são seus inimigos mortais. Por considerarem Nichiren, que está tentando salvá-las, como seu inimigo mortal, essas mulheres têm se unido para caluniá-lo na presença do soberano da nação. Foi por essa razão que, depois de ter sido exilado na província de Izu,16 ele também foi exilado na província de Sado. (CEND, v. II, p. 197)
Permanecendo firme em nosso compromisso contra todos os obstáculos
Quando Daishonin embarcou em sua luta para propagar a Lei Mística, ele foi impiedosamente atacado pelos sacerdotes respeitados como sábios,18 o terceiro e mais terrível dos “três poderosos inimigos”, como previsto no Sutra do Lótus. Por meio de suas conspirações, Daishonin foi perseguido e exilado pelas autoridades dominantes da época. De forma perturbadora, as mulheres desempenharam papel fundamental em sua perseguição. Enganadas por esses corruptos e egoístas sacerdotes, elas buscaram ativamente prejudicar a imagem de Daishonin perante os governantes daquele período. Embora Daishonin fosse grande defensor da iluminação das mulheres, ele foi visto com hostilidade por elas em todo o país. Esse foi um ato perverso e ridículo, ilustrando a natureza assustadora da difamação da Lei Mística.
Na época, a fé nos ensinamentos da escola Nembutsu foi generalizada e seus adeptos rejeitaram o Sutra do Lótus. Portanto, motivado pelo seu ardente desejo de salvar as mulheres do Japão, Daishonin refutou a prática da Nembutsu de recitar o nome do buda Amida, dizendo: “Uma vez que na recitação não existe a semente do estado de buda, essas mulheres jamais se tornarão budas” (CEND, v. II, p. 197). Seus argumentos foram baseados em sólidos documentários e provas teóricas. No entanto, as mulheres que haviam sido enganadas viram as críticas de Daishonin como um ataque pessoal. Elas acabaram por considerá-lo “inimigo mortal” do Buda (cf. CEND, v. II, p. 197).
Nesse escrito, Daishonin indica que entre as forças motrizes por trás de seus exílios em Izu e Sado estavam as calúnias das mulheres da alta sociedade japonesa que haviam trazido à atenção das autoridades dominantes.
Na época do exílio de Daishonin em Sado, o influente sacerdote Ryokan da escola Preceitos-Palavra Verdadeira do templo Gokuraku-ji e seus seguidores conspiraram para incitar a mãe do regente Hojo Tokimune19 e outras mulheres a agir contra ele. Essas mulheres pressionaram funcionários poderosos do governo, que secretamente começaram a reprimir as atividades do Buda.20
Esse foi o caso de sacerdotes caluniadores se aproveitando da sincera fé das mulheres para instigar a repressão sobre Daishonin, um defensor do ensinamento do budismo. Tais sacerdotes só podem ser inimigos do Sutra do Lótus, ou expresso de outra forma: os inimigos do budismo centrado nas pessoas e inimigos de todas as mulheres.
Daishonin também lamentou o comportamento dessas mulheres, que eram manipuladas a agir contra ele, quando se empenhava em ajudar as mulheres a evidenciar a iluminação. Ele as descreve como “sem se dar conta da ignorância de sua própria mente” (CEND, v. II, p. 197). A ignorância que nos deixa cegos pela calúnia contra a Lei e nos impede de acreditar no ensinamento do budismo é assustadora.
Nichiren Daishonin levantou-se com espírito de infinita compaixão. Ele divulgou o verdadeiro ensinamento do Buda, procurando dissipar a ignorância e a escuridão que envolvem a vida das pessoas e conduzi-las à iluminação, incluindo até mesmo quem o atacou e o perseguiu. Portanto, Daishonin trabalhou incansavelmente para ajudar as mulheres a manifestar o estado de buda, independentemente da tempestade de obstáculos que encontrou.
O Sutra do Lótus ensina que os homens e as mulheres são igualmente nobres e dignos de respeito. No capítulo 10, “O Mestre da Lei”, do Sutra do Lótus, o Buda instrui bons homens e boas mulheres para propagar a Lei em seu lugar após a sua morte.21 E o capítulo 20, “Bodisatva Jamais Desprezar”,22do Sutra do Lótus, mostra como esse bodisatva reverencia igualmente todos as quatro categorias de seguidores, monges, monjas, leigos e leigas, e eloquentemente atesta o fato de que as mulheres de todas as esferas possuem a natureza de buda e são dignas de louvor e de veneração.
Por um longo tempo na história do budismo, no entanto, essa preciosa verdade foi esquecida. Como resultado, as mulheres viveram imersas num grande sofrimento. É muito significativo, portanto, que Daishonin tenha se esforçado para orientar as mulheres a atingir a iluminação.
“Não deve haver discriminação entre os que propagam os cinco ideogramas do Myoho-renge-kyo23 nos Últimos Dias da Lei, sejam homens, sejam mulheres” (CEND, v. I, p. 404). Como essas palavras de Daishonin indicam, a missão e a prática dos bodisatvas da terra — que se esforçam para conduzir a humanidade à genuína felicidade com base na Lei Mística — estão baseadas numa visão da humanidade e do mundo em que homens e mulheres são iguais, isto é, uma filosofia de igualdade de gênero.
Nossos esforços em prol do kosen-rufu estão de acordo com a luta espiritual de Daishonin baseada em seu juramento de conduzir todas as pessoas à iluminação. Não há dúvida de que o desenvolvimento das bases do movimento de pessoas, que herdam o espírito budista original do respeito por todos os seres humanos, vá brilhar intensamente nos anais da história.
Trecho da carta
Não obstante, quando fui exilado em Sado, o comandante militar dessa província e outros funcionários, acatando a ordem do governo da nação, trataram-me com hostilidade. (...)
Qualquer que tenha sido o desígnio das divindades celestiais com relação a essa questão, os administradores e os seguidores do Nembutsu mantiveram minha cabana sob forte vigilância, dia e noite, determinados a impedir qualquer um que desejasse se comunicar comigo. Jamais me esquecerei, por todas as minhas existências, de como a senhora, sob tais circunstâncias, com Abutsu-bo do seu lado carregando uma caixa de alimentos nas costas, vinha noites seguidas para me trazer provisões. Foi como se minha falecida mãe tivesse renascido repentinamente na província de Sado! (CEND, v. II, p. 198)
Valorizar os nobres esforços das mulheres
Aqui, Daishonin reitera sua gratidão à monja leiga Sennichi por seu espírito altruísta na fé. Isso porque, enquanto ele estava no exílio na Ilha de Sado, ela lhe ofereceu auxílio e assistência, apesar de correr um grande risco pessoal. Os esforços da monja leiga Sennichi foram extraordinários: “Foi como se minha falecida mãe tivesse renascido repentinamente na província de Sado!” (CEND, v. II, p. 198).
Ele a elogia dizendo: “Portanto, a senhora deve ter feito oferecimentos a cem bilhões de budas” (CEND, v. II, p. 198). Daishonin ainda elogia sua dedicação e apoio constantes, que se mantiveram inalterados mesmo depois que ele se mudou para longe da Ilha de Sado, escrevendo: “Sua sinceridade é imensa!” (Ibidem).
A fé e a prática dedicadas das discípulas de Daishonin foram fonte de apoio e proteção para ele que conduziu suas atividades como devoto do Sutra do Lótus. Daishonin valorizava e apreciava a sensibilidade das mulheres, a nobre sabedoria e a compaixão das mães manifestadas na fé daquelas que se esforçavam para proteger a Lei Mística.
Assim, na época, embora houvesse mulheres que interpretavam mal e distorciam o ensinamento do Buda e atacavam Daishonin por ignorância, existia também um crescente número de mulheres que sinceramente praticava o Budismo Nichiren e agia para compartilhar amplamente o budismo com os outros [shakubuku]. Essas mulheres eram, certamente, a maior prova de que o constante progresso estava nos esforços para propagar a Lei Mística, nesta era maligna, conduzindo as pessoas dominadas pelos “três venenos” — avareza, ira e estupidez —24 ao caminho do buda e esforçando-se para elevar a condição de vida de toda a nação.
A ampla propagação da Lei Mística nos Últimos Dias da Lei é uma luta para despertar uma pessoa após outra para a missão dos bodisatvas da terra — uma missão compartilhada por todas as pessoas.
As discípulas que lutavam ao lado de Daishonin foram verdadeiras pioneiras da conquista das mulheres para manifestar o estado de buda nos Últimos Dias da Lei. Elas são pioneiras da iluminação das mulheres.
Entre elas estavam: jovens viúvas, mães enlutadas, mulheres sem filhos, esposas que cuidavam do marido enfermo ou que estavam adoentadas, mães do kosen-rufu que tratavam de idosos, sogras, mulheres preocupadas com a prática inconsistente de seu marido, e muitas outras. Todas desafiaram corajosamente seus problemas e continuaram se esforçando para compartilhar a Lei Mística com aqueles que as rodeavam.
Elas travaram uma grande batalha para mostrar a prova real da iluminação das mulheres assim como é ensinado no Budismo Nichiren. Assim, passaram de mulheres que só choravam pelos sofrimentos do destino para mulheres que brilhavam com um senso de propósito e missão, mulheres que, orgulhosamente, venceram com base na Lei Mística e demonstraram grande sabedoria e compaixão por meio de sua coragem. Como discípulas, elas acreditavam sinceramente na honestidade e integridade de Daishonin e em seu ardente desejo pela felicidade de todas as mulheres. Orgulhosamente, elas trilharam o caminho da missão e da verdadeira realização que ele ensinou. Enquanto tal nobre reino de mestre e discípulo existir, a genuína e duradoura felicidade com certeza se espalhará entre as mulheres em todo o mundo.
Segurança e bem-estar dos discípulos
No final do escrito O Sutra da Verdadeira Retribuição, Daishonin descreve como se preocupava com o bem-estar de seus discípulos. Suas preocupações não eram apenas as violentas epidemias que assolavam o país, mas também o medo e a incerteza que reinavam devido à perspectiva de uma segunda invasão do exército mongol.
Daishonin não deixaria de se preocupar com a segurança e o bem-estar de seus discípulos em Sado, que arriscaram a vida para apoiá-lo durante seu exílio na ilha. Talvez com a disseminação das epidemias, o número de mensageiros que traziam notícias de e para Sado tenha diminuído, e sua correspondência com as pessoas na ilha quase cessou por completo. Há, de fato, cartas existentes de Nichiren Daishonin enviadas a seus discípulos em Sado durante o ano anterior (1277).
Enquanto orava para o bem-estar de seus discípulos, Daishonin deve ter sentido uma crescente sensação de preocupação. Nesse momento, Abutsu-bo visitou-o de forma inesperada no Monte Minobu. A primeira coisa que Daishonin fez foi perguntar sobre todos os seus discípulos na Ilha de Sado. Abutsu-bo respondeu que, felizmente, ninguém havia ficado doente com a epidemia e que todos estavam bem. Parte de suas preocupações em relação ao bem-estar dos praticantes de Sado está registrada nesta carta (cf. CEND, v. II, p. 198-199).
Nichiren Daishonin ficou entusiasmado ao saber que todos estavam sãos e salvos, que escreveu: “Quando ouvi tudo isso, senti-me como um cego que recupera a visão, ou como se meus falecidos pais tivessem aparecido em um sonho vindos do palácio do rei Yama, e nesse sonho sentisse uma incontida felicidade” (CEND, v. II, p. 199).
Um verdadeiro mestre preocupa-se constantemente com a saúde e a segurança de cada discípulo e ora sempre de coração para o desenvolvimento e o crescimento de cada pessoa.
Estou convencido de que os praticantes na Ilha de Sado se desenvolveram porque tinham o coração alinhado com o de Daishonin e eles fizeram seu espírito [ichinen] cuidar deles.
Quão comovida a monja leiga Sennichi deve ter ficado ao receber essa carta de Daishonin cheia de calor e de profunda preocupação! Visualizo Nichiren Daishonin escrevendo sobre o seu diálogo com Abutsu-bo e, ao fazê-lo, carinhosamente chamar a atenção para o rosto sorridente da monja leiga Sennichi, sua “mãe” na Ilha de Sado, que aguardava ansiosamente para ler suas palavras.
Hoje, numa época que viu o vibrante renascimento do Budismo Nichiren por meio dos esforços dos membros da SGI, existem inúmeras mulheres que são como a monja leiga Sennichi — mães do kosen-rufu — no Japão e ao redor do mundo. Elas estão apoiando seus amigos com cuidado, compaixão e sabedoria para promover o desenvolvimento dos jovens. Essas mulheres são nobres e dignas do mais alto respeito.
Ofereço meus mais profundos agradecimentos a elas com as palmas das mãos juntas em reverência.
As mulheres Soka, as mães do kosen-rufu, são “mães da comunidade local”, que ajudaram a pavimentar o caminho para a felicidade de muitas mulheres, e “mães do humanismo”, que abriram o caminho para a iluminação das mulheres no futuro eterno.
Quando a compaixão das mães em toda parte iluminar a humanidade, e quando a humanidade respeitar o desejo de paz ansiado por mães do mundo inteiro, a essência da civilização moderna mudará.
Hoje, as companheiras da nossa Divisão Feminina estão conquistando muitos elogios ao redor do mundo, e as integrantes da Divisão Feminina de Jovens do Ikeda Kayo Kai seguem brilhantemente seus passos. Orgulhosamente, digo ao meu mestre, presidente Josei Toda, que uma sólida base está fundada por um século de respeito à vida, o século das mulheres, o século da paz.
“Em agradecimento à minha mãe” — esse é o âmago do juramento de Nichiren Daishonin para que todas as mulheres manifestem a iluminação. Fazendo do seu espírito o nosso, os três primeiros presidentes da Soka Gakkai levantaram-se com o juramento de construir uma sociedade em que todas as mães e as crianças vivam com felicidade e em paz. Agora, gostaria de passar o bastão da nossa luta para cumprir esse grande juramento a todos vocês.
(Daibyakurenge, edição de dezembro de 2010)
Capítulo 2: Trechos da Nova Revolução Humana
NRH, cap. “Alegria”, v. 5, p. 71-72
Ela se apresentou e disse:
— Eu me chamo Sachi Takayama e pratico o budismo há um ano e meio. Trabalho como empregada doméstica e vim para Genebra porque meu patrão foi transferido para cá por motivo de trabalho.
Motosugi logo completou dizendo:
— Ela está dizendo que é empregada doméstica, mas não é bem assim. Ela é chef de cozinha, governanta e responsável por várias outras empregadas. Ela nunca estudou uma língua estrangeira, mas tem facilidade de conversar com qualquer pessoa e já criou muitas amizades. Antes de vir para cá, Sachi e eu morávamos na mesma cidade, em Hayama, província de Kanagawa. Por isso, eu a conheço muito bem.
Ouvindo isso, Takayama riu alto e disse:
— Não sou nada mais que uma empregada doméstica. O que quero perguntar é sobre o meu filho que ficou no Japão. Por não ter marido, deixei meu filho na casa de um parente enquanto trabalhava. No final, acabei vindo até a Suíça. Meu filho está agora com 17 anos.
Shin’ichi ouviu o breve relato de Takayama e disse:
— Suponho que a senhora tenha passado por muitos dissabores em sua vida. Deve ter trabalhado arduamente para o bem do seu filho. Agora que está orando pela felicidade dele, tenho certeza de que esse sentimento está tocando o coração do jovem. Qual é a sua preocupação?
Reunindo coragem, ela explicou:
— Eu encontrei uma pessoa com quem me simpatizei muito. Ele é suíço, e estamos pensando em casamento. O que me preocupa é a reação do meu filho.
O rosto de Takayama enrubesceu:
— O que a inquieta é a questão do casamento, não é?
— Sim, é exatamente isso.
— O casamento é um assunto que deve ser decidido sem precipitação. Deve-se pensar com sensatez, considerando se a senhora não terá remorso nenhum em compartilhar com ele o resto de sua vida, se pode confiar nele e amá-lo em qualquer situação. Por exemplo, já pensou como é realmente o caráter dele? Será que os dois poderão construir uma vida em comum vencendo as diferenças de idioma e de costumes? Será que poderão manter a compreensão mútua como casal apesar das barreiras de princípios e do modo de pensar? Se tem certeza de que se esforçará ao lado dele tendo ou não problemas na vida, seja de ordem financeira ou com seu filho, é preciso então tomar uma decisão e seguir adiante, e transmitir seus sentimentos ao seu filho. Se não puder encontrá-lo pessoalmente, escreva-lhe uma carta; com 17 anos já pode ser considerado adulto, e talvez já tenha maturidade para compreender seu sentimento. Mas saiba que é errado pensar que o casamento lhe garantirá a felicidade. Por um tempo, o casamento poderá oferecer a sensação de felicidade, mas, na longa jornada da vida, muitas coisas podem acontecer. Existem casos em que o casamento se transforma numa frente de infelicidades e amarguras. A felicidade no casamento depende do esforço de ambos. A mudança na circunstância de destino individual ou do carma. Não importa com quem viva ou onde viva, se tiver o carma de ficar doente, certamente sofrerá com a doença. Se seu destino for de ter dificuldades econômicas, com certeza não se livrará delas. O importante é transformar o carma negativo da vida. É necessário que desenvolva força vital suficiente para enfrentar com serenidade qualquer obstáculo e jamais permitir ser derrotada. A fonte dessa fortaleza é a fé. A chave para a felicidade é a fé.
Shin’ichi continuou falando com seriedade:
— A felicidade não é algo que está fora de nós, ela reside dentro da nossa vida. Todos nós possuímos um grandioso palácio da boa sorte. Por isso, não importando o que ocorra, deve pedir e desenvolver seu próprio interior com base na prática budista, e propague-a para seus amigos e conhecidos para que possam também ser felizes. Essa é a sua missão.
Sachi Takayama o ouvia com muita atenção, e perguntou-lhe preocupada:
— Mas, alguém como eu será capaz de fazer os outros felizes...?
Shin’ichi respondeu sem hesitação:
— Sim, pode, com toda a certeza. A senhora vem lutando e sofrendo muito mais que os outros e merece ser a mais feliz do mundo; é também a mais qualificada para conduzir outros à felicidade. Digo isso porque é um princípio do budismo.
Um sorriso iluminou o rosto dela. Por compreender o sentimento de Takayama — uma mulher que trabalhou incansavelmente durante anos com o único propósito de sustentar o filho e que agora estava encontrando um homem que a amava e desejava se casar —, Shin’ichi queria que ela fosse realmente feliz. No curso de sua vida, deve ter passado por inúmeras amarguras e sofrimentos que não poderia contar por meio de palavras. Mas, do ponto de vista budista, isso fazia parte também da sua missão. Todas as dificuldades vividas tomam um novo valor e significado quando se baseia no budismo.
NRH, cap. “Vitória”, v. 5, p. 155
Após o desfile, que durou vinte minutos, todo o campo e as arquibancadas ficaram completamente tomados por 85 mil moças. A previsão inicial era realizar a convenção com 70 mil participantes, reunindo principalmente as associadas das províncias próximas a Yokohama (região de Kanto). Das demais localidades do interior do Japão, participariam apenas pequenos grupos de representantes. Entretanto, os membros da divisão da região de Kanto se empenharam na visita a cada uma das companheiras, criando ao mesmo tempo uma grande onda de propagação do budismo. Com isso, o entusiasmo por participar da convenção cresceu a cada dia, e somente dessa região a previsão de participantes já ultrapassava 70 mil membros. Dessa forma, a direção da divisão resolveu ampliar o número de participantes para 85 mil. Mesmo assim, o número das jovens que desejavam participar excedia essa estimativa. As líderes tiveram de reduzir a participação, convencendo as integrantes de cada localidade. Esse fato exemplifica quanto as jovens são capazes de demonstrar sua força quando se levantam conscientes de uma nobre missão.
A convenção seguiu a programação e entoaram a canção da Divisão Feminina de Jovens, a Canção da Esperança.
Agora, o novo tempo cabe a nós,
Jovens de ardente paixão pelo povo...
As vozes ressoaram por todo o estádio, num coro resplandecente de alegria e esperança.
Em seguida, a chefe de planejamento da divisão, Michiyo Watari, apresentou uma retrospectiva das atividades.
— Estamos reunidas neste local com 85 mil representantes de todo o Japão. Embora seja fácil falar nesse número, será que houve algum momento da história em que tantas mulheres e uma geração de jovens se reuniram num mesmo local radiando em seu coração um mesmo objetivo?
NRH, cap. “Vitória”, v. 5, p. 156-157
Seguiram-se então as palavras da coordenadora da divisão, Tokie Tani, que externou inicialmente a alegria de realizar a convenção de forma muito solene e radiante e falou sobre a felicidade das mulheres:
— Completamos este ano dez anos de existência da Divisão Feminina de Jovens. Durante esse período, todas as orientações e incentivos de Toda senseie também do presidente Yamamoto se resumem num único propósito: as integrantes da Divisão Feminina de Jovens devem conquistar a felicidade. O que é então essa felicidade para nós? Eu mesma tenho pensado nessa questão, e também conversei sobre o assunto com diversas pessoas em muitas oportunidades. Uma conclusão a que cheguei é que a felicidade não existe no passado nem no futuro, mas no momento presente em que avançamos com toda a firmeza pelo grande caminho da revolução humana.
Até chegar a essa conclusão, as líderes da divisão pensaram muito a respeito da felicidade. A maioria das jovens que recebeu a orientação do presidente Josei Toda de que elas deveriam ser felizes pensou inicialmente numa boa situação financeira e no casamento. Isso era razoável porque eram pobres e o costume da sociedade era considerar o casamento como a realização da felicidade da mulher. Porém, quando começaram a observar com mais atenção a vida das pessoas casadas, inclusive de suas amigas, chegaram à conclusão de que o casamento não era garantia infalível de felicidade. Havia casais que sofriam de desarmonia apesar de terem se casado imbuídos de forte paixão, ou senhoras que sofriam com a doença ou a marginalização de seus filhos, embora tivessem se casado com um homem de boa posição social e financeira. Perceberam também que nada poderia garantir a continuidade de uma vida economicamente afortunada. Elas começaram a pensar que o casamento não era algo que decidia a felicidade ou a infelicidade na vida, e que o fator principal para a felicidade estava em capacitar a si mesmas com a força para vencer quaisquer provações e sofrimentos da vida.
As jovens voltaram a analisar a questão da “felicidade relativa” e da “felicidade absoluta” ensinada por Josei Toda.
NRH, cap. “Vitória”, v. 5, p. 158-159
Continuando seu discurso, ela disse com voz radiante:
— A felicidade não deve ser buscada fora de nós. O presidente Yamamoto tem nos dito que “revolução”, do termo “revolução humana”, significa “reformar a própria vida”. O ponto básico de tudo está em como reformar a nós mesmas, que muito facilmente somos arrastadas pelo destino ou derrotadas pela própria fraqueza. Devemos nos conscientizar de que a fonte da felicidade se encontra em nós mesmas, no âmago da nossa determinação.
Notas:
1. Suttanipata (jap. kyoshu) [O Grupo de Discursos]. Tradução: K. R. Norman. Oxford: The Pali Text Society, v. 2, n. 149-150, p. 17, 1995.
2. Filha do rei dragão (jap. ryunyo): Também chamada “menina-dragão”. Filha de Sagara, um dos oito grandes reis dragões que, segundo a crença, habitavam um palácio no fundo do mar. De acordo com o capítulo” Devadatta”, do Sutra do Lótus, a menina-dragão manifestou o desejo de atingir a iluminação após ouvir o bodisatva Manjushri pregar esse sutra no palácio do rei dragão. Mais tarde, quando ela se apresentou diante da assembleia do Sutra do Lótus, o bodisatva Sabedoria Acumulada e Shariputra afirmaram que as mulheres eram incapazes de atingir a iluminação. Nesse mesmo instante, a menina manifestou o estado de buda sem abandonar sua forma de réptil.
3. Sutra da Devoção ao Buda Amida: Esta é uma referência ao Sutra Amida. Talvez Daishonin o mencione com esse nome para indicar a associação com o Nembutsu, que consiste da recitação do nome do buda Amida na frase Namu Amida Butsu (Devoção ao Buda Amida), uma prática muito difundida na época de Daishonin.
4. Quinto volume do Sutra do Lótus. Contém desde o capítulo 12, “Devadatta” até o capítulo 15, “Emergindo da Terra”.
5. “Três mil mundos num único momento da vida” (jap. ichinen sanzen): Doutrina desenvolvida pelo grande mestre Tiantai da China baseada no Sutra do Lótus. O princípio de que todos os fenômenos estão contidos em um único momento da vida, e que um único momento da vida permeia os três mil mundos da existência, ou o mundo inteiro de fenômenos.
6. “Possessão mútua dos dez mundos” (jap. jikkai-gogu): Princípio de que cada um dos dez mundos possui o potencial para todos os dez. “Possessão mutua” significa que a vida não permanece num ou em outro mundo, mas que se pode manifestar em qualquer um dos “dez mundos” — do estado de inferno ao estado de buda — em determinado momento. O ponto importante desse princípio é que todos os seres vivos em qualquer um dos nove mundos possuem a natureza de buda. Isso quer dizer que cada pessoa possui o potencial para manifestar o estado de buda, enquanto um buda possui também os nove mundos e, desse modo, eles não são separados ou diferentes das pessoas comuns.
7. Dengyo (767–822): Também conhecido como Saicho. O fundador da escola Tendai (Tiantai) no Japão. Geralmente referido como o grande mestre Dengyo. Ele refutou os erros das seis escolas Nara — as escolas estabelecidas da época — e se dedicou a elevar o Sutra do Lótus e a estabelecer uma plataforma de ordenação Mahayana no Monte Hiei.
8. Em Princípios Extraordinários do Sutra do Lótus, o grande mestre Dengyo lista dez características do Sutra do Lótus, à luz da qual ele discute sua supremacia sobre todos os sutras. Uma das características é que o Sutra do Lótus permite que as pessoas atinjam o estado de buda na forma que se apresentam. Ele afirma: “A filha do rei dragão, que instruía os outros, não precisou passar pelas incontáveis kalpa de prática austera, nem os seres vivos, que recebiam instruções, precisaram seguir a prática. Por meio do poder do Sutra do Lótus da Lei Maravilhosa, eles conseguem atingir o estado de buda na forma que se apresenta (WND, v. II, p. 891). Uma parte dessa frase é também citada em O Sutra da Verdadeira Retribuição (cf. CEND, v. II, p. 195).
9. Iluminação perfeita: A iluminação do Buda. “Iluminação perfeita” refere-se ao último e maior dos cinquenta e dois estágios da prática de bodisatva, ou do estado de buda.
10. Gautami: Também conhecida como Mahaprajapati. Irmã mais nova de Maya, a mãe de Shakyamuni. Quando Maya morreu sete dias após o nascimento de Shakyamuni, Mahaprajapati tornou-se esposa do rei Shuddhodana, pai de Shakyamuni, e o criou. Após a morte de Shuddhodana, Mahaprajapati renunciou à vida secular, foi a primeira monja a ser admitida na Ordem budista. O capítulo 13, “Encorajamento à Devoção”, do Sutra do Lótus, prevê que ela se tornará Buda.
11. Yashodhara: Esposa de Shakyamuni antes de renunciar à vida secular. Posteriormente, ela se converteu ao budismo por Shakyamuni e se tornou uma monja na Ordem budista. O capítulo 13, “Encorajamento à Devoção”, do Sutra do Lótus, afirma que ela se tornará Buda.
12. Exílio em Sado: Exílio de Daishonin na Ilha de Sado no Mar do Japão entre o décimo mês de 1271 e o terceiro mês de 1274. Quando o sacerdote Ryokan do templo Gokuraku-ji, em Kamakura, foi derrotado por Daishonin em um desafio para orar pela chuva, ele espalhou falsos rumores sobre Daishonin, utilizando-se de sua influência com os viúvos e as viúvas dos oficiais do alto governo. Isso levou ao confronto de Daishonin com Hei no Saemon-no-jo, subchefe do Posto de Comando Militar, que o prendeu e o manipulou para ser executado em Tatsunokuchi no nono mês de 1271. Quando a tentativa de execução falhou, as autoridades sentenciaram Daishonin no mês seguinte ao exílio em Sado, que foi equivalente à sentença de morte. Entretanto, quando as previsões de Daishonin de lutas internas e invasões estrangeiras se realizaram, o governo questionou e o perdoou em março de 1274, e ele retornou a Kamakura.
13. No escrito Abertura dos Olhos, que escreveu no segundo mês de 1272, em Sado, Daishonin diz: “Assim, jurei manter uma poderosa e inabalável determinação de salvar todos os seres vivos, sem jamais esmorecer em meus esforços” (CEND, v. I, p. 250) e “Eu serei o pilar do Japão. Eu serei os olhos do Japão. Eu serei a grande nau do Japão. Este é o meu juramento, e jamais renunciarei a ele!” (Ibidem, p. 293).
14. Origem dependente: Também chamada causa dependente ou origem condicionada. Uma doutrina budista que expressa a interdependência de todas as coisas. Ensina que nenhum ser vivo ou fenômeno existe sozinho; eles existem ou ocorrem devido ao relacionamento com outros seres vivos e fenômenos. Tudo no mundo vem com a existência em resposta às causas e às condições. Isto é, nada pode existir independente de outras coisas ou surgir isoladamente. A doutrina da cadeia de doze elos da causalidade é uma ilustração bem conhecida dessa ideia.
15. Traduzido do japonês: TODA, Josei. Toda Josei Zenshu [Obras Completas de Josei Toda]. Tóquio: Seikyo Shimbunsha, v. 1, p. 60, 1981.
16. Taira no Masakado (m. 940) foi um guerreiro que tinha poder no leste do Japão. Em 939, ele se rebelou contra a corte imperial, proclamando-se o novo imperador. No entanto, foi morto e sua rebelião, esmagada. Abe no Sadato (1019–1062) era o chefe de uma poderosa família no Japão Oriental. Ele procurou a independência do domínio imperial, mas foi derrotado e morto na batalha. Daishonin escreve: “Esses homens criaram uma ruptura entre a população dessas regiões e o soberano, por isso foram declarados inimigos da corte imperial e, por fim, acabaram destruídos. Suas intrigas e rebeliões foram piores que os cinco crimes capitais” (CEND, v. II, p. 197).
17. Exílio em Izu: Perseguição na qual Daishonin foi exilado na província de Ito, entre o quinto mês de 1261 e o segundo mês de 1263. No oitavo mês de 1260, um grupo de crentes da Nembutsu, enfurecidos com a crítica de Daishonin a respeito da Terra Pura da escola (Nembutsu) em seu tratado Estabelecer o Ensinamento para a Pacificação da Terra, atacou sua residência em Matsubagayatsu, em Kamakura, numa tentativa de o assassinarem. Daishonin escapou por pouco e fugiu para a casa de Toki Jonin na província de Shimosa. Quando ele reapareceu em Kamakura, na primavera de 1261, e retomou suas atividades de propagação, o governo o prendeu e, sem a devida investigação, mandou-o para ser exilado em Ito. Cerca de dois anos depois de chegar a Izu, Nichiren Daishonin foi perdoado e voltou a Kamakura.
18. Sacerdotes respeitados como sábios: Um dos “três poderosos inimigos” que perseguirá aqueles que propagam o Sutra do Lótus na era maléfica após a morte de Shakyamuni, conforme descrito nas Anotações sobre “As Palavras e Frases do Sutra do Lótus” do grande mestre Miaole, “Sacerdotes respeitados como sábios” são descritos como sacerdotes que fingem ser sábios e que são reverenciados como tal, mas quando se deparam com os praticantes do Sutra do Lótus ficam com medo de perder a fama ou o lucro e induzem as autoridades seculares a persegui-los.
19. Essa mulher também era a viúva do regente Hojo Tokiyori (reinado de 1246-1256) e a filha do falecido Hojo Shigetoki (m. 1261). Como tal, ela exercia imenso poder nos bastidores.
20. Em Saldar as Dívidas de Gratidão, Daishonin escreve: “Como resultado, várias centenas de sacerdotes da Zen, vários milhares de seguidores da Nembutsu e um número ainda maior de mestres da Palavra Verdadeira procuraram o magistrado, os homens de famílias poderosas, as esposas ou as viúvas deles — as monjas leigas — e encheram os ouvidos dessas pessoas com infindáveis calúnias contra mim. Por fim, todos estavam convencidos de que eu era o pior criminoso de toda a nação, pois, na minha condição de sacerdote, estava pronunciando rezas e conjuros pela ruína do Japão, e havia informado que os falecidos sacerdotes leigos do Saimyo-ji e do Gokuraku-ji tinham caído no inferno de incessantes sofrimentos. As viúvas que haviam se tornado monjas leigas insistiram que a investigação era desnecessária; em vez disso, sugeriram decapitar-me sem demora, e também condenar meus discípulos à mesma sorte, exilá-los em ilhas distantes ou então prendê-los. O ódio delas era tão intenso que conseguiram apressar suas exigências de punição para que fossem cumpridas de imediato” (CEND, v. I, p. 761).
21. A passagem afirma: “Esses bons homens e boas mulheres devem entrar na sala d’Aquele que Assim Chega, vestir o manto d’Aquele que Assim Chega, sentar-se no assento d’Aquele que Assim Chega e, então, em benefício das quatro categorias de seguidores, expor amplamente este sutra” (LSOC, v. 10, p. 205). Há também inúmeras passagens em outras partes do capítulo que se referem a homens e a mulheres igualmente assumindo a responsabilidade de propagar a Lei.
22. Bodisatva Jamais Desprezar é descrito no capítulo 20, “Bodisatva Jamais Desprezar”, do Sutra do Lótus. Esse bodisatva, Shakyamuni em uma vida anterior, foi profundamente respeitado, e sua prática consistiu em fazer reverência a todos aqueles que conheceu, abordando as quatro categorias de seguidores da seguinte maneira: “Eu os reverencio profundamente, jamais ousaria tratá-los com desdém ou arrogância. Por quê? Porque todos estão praticando o caminho do bodisatva e infalivelmente atingirão o estado de buda” (LSOC, v. 20, p. 308).
23. Myoho-renge-kyo é escrito com cinco ideogramas chineses, enquanto Nam-myoho-renge-kyo é escrito com sete (nam ou namu, sendo composto por dois ideogramas). Daishonin usa frequentemente Myoho-renge-kyo como sinônimo de Nam-myoho-renge-kyo em seus escritos.
24. “Três venenos” — avareza, ira e estupidez: Os males fundamentais inerentes à vida, que fazem o sofrimento humano. No Tratado sobre a Grande Perfeição da Sabedoria, de Nagarjuna, da renomada escola Mahayana, os “três venenos” são considerados como a fonte de todas as ilusões e todos os desejos mundanos. Os “três venenos” são assim chamados porque contaminam a vida das pessoas e impedem-nas de voltar sua mente e seu coração para a benevolência.
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