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Ensaio

Recordações da magnífica Cerimônia do Dia 16 de Março

Trechos do ensaio de autoria do presidente da Soka Gakkai Internacional (SGI), Dr. Daisaku Ikeda, publicada na série Reflexões sobre a Nova Revolução Humana.

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Dr. Daisaku Ikeda

09/03/2023

Recordações da magnífica Cerimônia do Dia 16 de Março

Eu cumpri o juramento que

fiz ao meu mestre.

Eu cumpri o juramento que

fiz aos meus companheiros.

Eu cumpri todos os objetivos que lancei.


Naquele dia [16 de março de 1958], quando nos reunimos no sopé do Monte Fuji, começamos um novo estágio no avanço do kosen-rufu.

Era um dia frio. O grandioso pico do Monte Fuji nos observava como serena testemunha daquele evento.

A cerimônia do 16 de março foi inspiradora. Toda sensei anunciou que estava passando para a Divisão dos Jovens (DJ) o bastão do kosen-rufu. O coração de seus jovens discípulos flamejava de entusiasmo. Seu orgulhoso senso de missão ardia como o bailar das chamas.

* * *

Certa ocasião, ele me chamou às 3 horas da madrugada. Corri para perto dele e, quando cheguei, disse-me: “Daisaku, você é rápido como um falcão”. Às vezes, após ter sido chamado de madrugada, passava o dia todo realizando suas tarefas urgentes sem um momento sequer para dormir. Estava determinado a fazer tudo o que estivesse ao meu alcance para proteger meu mestre. Quando Toda sensei adoeceu em novembro do ano anterior, ele também me chamava continuamente: “Onde está Daisaku? Onde está Daisaku?”.

Meu mestre superou essa fase crítica três meses depois. No dia 11 de fevereiro de 1958, seu quinquagésimo oitavo aniversário, ele deu uma festa para comemorar a recuperação de sua saúde. Foi um restabelecimento inacreditável; os médicos ficaram espantados. Essa foi uma prova do poder da Lei Mística. Mas a vida dele estava chegando ao fim. As únicas pessoas que sabiam disso eram ele próprio e eu, seu discípulo mais próximo.


* * *

O 16 de Março foi uma atividade especial para homenagear e prestar um tributo eterno ao espírito altruísta de Josei Toda, que viveu exatamente como dizem as palavras de Daishonin “A vida é limitada; não devemos poupá-la. O que, afinal, devemos aspirar é a terra do buda”,1 e também para transmitir esse legado à próxima geração. Ao mesmo tempo, foi uma solenidade particular somente para nós dois — uma cerimônia da unici­dade de mestre e discípulo — em que Toda sensei me entregou o bastão da sucessão — a missão de concretizar o kosen-rufu.

* * *

Mesmo antes de a data dessa reunião comemorativa ter sido marcada, Toda sensei já analisava várias formas de incentivar os jovens. Ele solicitou que fosse preparada uma sopa de leitão aos jovens que chegariam ao templo principal com fome e frio logo pela manhã. Três porcos foram abatidos para o preparo da sopa, e Toda sensei pediu que o couro fosse reservado. Depois do falecimento dele, solicitei que o couro fosse curtido para confeccionar estojos de canetas, que entreguei aos 177 representantes da Divisão dos Jovens. Queria ter a certeza de que eles não se esqueceriam do espírito do mestre, e que estudassem lutando pelo kosen-rufu a vida inteira.

“Eu conduzirei a reunião”, declarou Toda sensei. Mas ele já estava demasiadamente fraco e caminhar era muito difícil. Instruí vários jovens de confiança a construir uma liteira para levá-lo. Porém, quando ele a viu, gritou: “É muito grande! Não é apropriada para uma verdadeira batalha!”. Ele deu até a última gota do seu ser para me instruir. Eu agradecia com lágrimas em meu coração.

Por fim, tocado pela sinceridade de seus discípulos, ele concordou em ir na liteira e dali conduziu a reunião com dignidade. Os rapazes que o carregavam irradiavam felicidade, e em sua fronte brilhavam douradas gotas de suor.


* * *

Naquela solene cerimônia, Toda sensei declarou: “A Soka Gakkai é a organização soberana do mundo religioso”. Esse brado apaixonado, esse rugido do leão ficará para sempre gravado dentro do meu ser. Naquele momento, jurei fazer com que a Soka Gakkai realmente se tornasse soberana. “Soberana do mundo religioso” significa “soberana dos mundos da filosofia e do pensamento”.

O ideograma chinês que designa a palavra “rei” é composto por três traços, um sobre o outro, cortados por um traço vertical. Aqui estão “três” do terceiro mês, março, e “um” do número 16. Onde está o 6? Esse número é representado pelos 6 mil jovens que participaram da atividade pelos companheiros — os bodisatvas da terra —, tão numerosos “como os grãos de areia de sessenta mil rios Ganges2 que iriam segui-los. Para nós, o grandioso 16 de Março comprovou que “a assembleia do Pico da Águia ainda não havia se dispersado”.3


* * *

Após a cerimônia, observei os jovens se retirarem. Pedi à nossa banda musical que tocasse para os membros enquanto eles aguardavam o ônibus de volta para casa. Depois, também chegou a hora de os integrantes da banda irem embora. Eles vieram se despedir de mim, e então fiz um pedido ao responsável pela banda: “Sinto muito incomodá-los, mas será que vocês poderiam tocar mais uma música? Toda sensei está no segundo andar. Gostaria que tocassem uma canção de despedida”.

Os componentes da banda tiraram alegremente os instrumentos de seus estojos e tocaram com o coração. A música foi Uma Estrela Cai ao Sabor do Vento de Outono da Planície Wu-chang,4 uma canção que nos traz muitas lembranças. (...)

Repetindo a letra mentalmen­te, bradei em meu coração: “Sensei, por favor, ouça. Os integrantes da Divisão dos Jovens, seus discípu­los, são fortes e corajosos. Não se preocupe!”.


* * *

Apenas alguns dias depois da cerimônia, Toda sensei, que tinha um forte pressentimento sobre a corrupção do clero, disse-me com seriedade: “Você jamais deve afrouxar na luta contra a maldade”. Ele sabia nitidamente que o clero se degeneraria. As palavras dele foram para mim uma advertência e também uma ordem.

* * *

No dia 2 de abril de 1958, dezessete dias após essa reunião solene, a nobre vida de Josei Toda chegou ao fim. O 16 de Março se tornou uma cerimônia de despedida, a passagem do bastão.

Algumas pessoas disseram que, após o seu falecimento, a Soka Gakkai “se desintegraria”. Contudo, eu estava determinado a fazer com que suas palavras, sonhos e esperança se tornassem realidade.

* * *

Um discípulo é aquele que põe em prática os ensinamentos do seu mestre. Um discípulo é aquele que cumpre sua promessa. Eu fiz tudo isso, e esse é meu maior orgulho. (...)

Uma forte determinação e nossas ações no presente definem o futuro. O Dia 16 de Março é o eterno ponto de partida da verdadeira causa, quando todos os discípulos se levantam. Para mim, cada dia é o de renovado juramento, cada dia é 16 de Março.

* * *

Seguindo o modelo do Dia 16 de Março, passei totalmente o bastão do espírito da Soka Gakkai aos jovens. Logo, sim, logo, chegará o seu momento de glória.

Março é a época em que as árvores e os arbustos começam a ostentar seu novo verdor e seus novos botões de flores. Jovens, que eu sempre amarei! Jovens, em quem sempre confiarei! O século 21 é de vocês. Sua época chegou. Sua época chegou inexoravelmente.


25

Na histórica Cerimônia do Dia 16 de Março, o jovem Daisaku Ikeda assumia, junto com 6 mil jovens, a missão de concretizar o kosen-rufu, tal como desejava seu querido mestre, Josei Toda. No desenho, jovem Ikeda apresenta a reunião

No topo: ilustração retrata o segundo presidente da Soka Gakkai, Josei Toda, sendo carregado em uma liteira construída pelos jovens para que ele participasse da reunião do dia 16 de março de 1958, a fim de preservar sua saúde bastante debilitada

 

Fonte:

Terceira Civilização, ed. 586, jun. 2017, p. 36.

Leia mais

Na edição 2.629, de 25 de fevereiro de 2023, foi publicada uma matéria especial sobre o Dia 16 de Março. Nela, você pode ler parte do discurso de Josei Toda, assim como sua decisão para os preparativos da atividade.

Notas:

1. Coletânea dos Escritos de Nichiren Dai­shonin. São Paulo: Editora Brasil Seikyo, v. I, p. 223, 2020.

2. Ibidem, p. 164.

3. Gosho Zenshu [Coletânea dos Escritos de Nichiren Daishonin]. Tóquio: Soka Gakkai, p. 757.

4. Letra do poeta japonês Bansui Doi (1871–1952). Uma canção que narra a morte do ministro chinês Chuko K’ungming, herói da saga épica Romance dos Três Reinos.

Ilustrações: Kenichiro Uchida

 

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