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Ilumine a si e aos outros
O propósito principal da prática budista é dissipar a “escuridão fundamental” inerente à vida por meio da manifestação do estado de buda
Redação
09/03/2023
O termo “fundamental” (gampon) refere-se à “real essência” ou à “verdadeira natureza da vida”. A incapacidade de enxergar ou de reconhecer essa verdadeira natureza é conhecida, no budismo, como “escuridão fundamental” (gampon no mumyo) ou “ignorância fundamental” ou, ainda, “ignorância primordial”. Essa “escuridão fundamental” é a ilusão mais profundamente arraigada na vida que dá origem a todas as outras ilusões. Nichiren Daishonin interpreta a escuridão fundamental como a ignorância da Lei suprema ou a ignorância do fato de que nossa vida, em essência, é a manifestação da Lei, isto é, o Nam-myoho-renge-kyo. Portanto, essa “escuridão” indica a cegueira em relação à verdadeira natureza da própria vida.
Em contraste com a “escuridão fundamental”, existe o termo “natureza fundamental da iluminação” (gampon no hossho), que indica a percepção da verdadeira natureza da vida, isto é, da natureza de buda inata na vida. Na prática, essa percepção corresponde à revolução humana individual com base na fé ao Gohonzon.
Polir seu espelho
No escrito Atingir o Estado de Buda nesta Existência, Nichiren Daishonin nos ensina:
Quando uma pessoa é dominada pela ilusão, é chamada de mortal comum; mas, quando iluminada, é chamada de buda. Tal situação se assemelha a um espelho embaçado que brilhará como uma joia quando for polido. A mente que se encontra encoberta pela ilusão da escuridão inata da vida é como um espelho embaçado; mas, ao ser polida, tornar-se-á como um espelho límpido, que refletirá a natureza essencial dos fenômenos e da realidade. Manifeste profunda fé polindo seu espelho dia e noite. Como deve poli-lo? Não há outra forma senão recitar o Nam-myoho-renge-kyo.1
Essa frase revela que todas as pessoas, assim como tudo no universo, possuem inerente tanto a escuridão como a iluminação. Em outras palavras, a “verdadeira natureza da vida” (gampon) pode manifestar tanto a “iluminação” (hossho), pela percepção da sua natureza de buda, como a “escuridão” (mumyo), quando dominada pela ilusão. De acordo com o Sutra Shrimala, a escuridão fundamental é a ilusão mais difícil de ser vencida e só pode ser erradicada por meio da sabedoria do buda. Esse é o significado da frase final desse escrito de Nichiren Daishonin: “Manifeste profunda fé polindo seu espelho dia e noite. Como deve poli-lo? Não há outra forma senão recitar o Nam-myoho-renge-kyo”.2
Essência da vida
A escuridão fundamental da vida pode ser comparada ao breu da noite ou a uma espessa névoa que impede as pessoas de discernirem as formas e as cores. Quando se manifesta, ela age sorrateira e sutilmente e torna a pessoa incapaz de enxergar e reconhecer a verdade ou a essência de tudo que a cerca. Essa escuridão inata impede que a verdadeira natureza da vida seja reconhecida. É literalmente a ilusão sobre a natureza da própria vida, bem como a fonte fundamental das demais ilusões. Suas diversas manifestações, como a violência, a corrupção, o autoritarismo, a traição, a discriminação, entre outros, são igualmente obscuras e tenebrosas. Uma pessoa tomada por essa escuridão, que não consegue enxergar a natureza da própria vida, passa a ignorar também a vida de outras pessoas.
O propósito principal da prática budista é “iluminar” a “escuridão” da vida, isto é, compreender as causas que geram o sofrimento e, assim, agir para mudar a própria condição ou situação. É fazer com que as pessoas elevem a condição de vida, munindo-as de coragem e sabedoria para mudar. Uma pessoa iluminada, ou no estado de buda, é aquela que manifesta força, coragem, esperança, sabedoria e se eleva acima das próprias dificuldades. Uma vez iluminada, ela ultrapassa e vence essas dificuldades, enxergando melhor a essência da vida.
Respeito a todos
Em um de seus discursos, o presidente Ikeda comenta:
O mundo atual carece intensamente de esperança, de uma perspectiva positiva e de uma sólida filosofia. Não há nenhuma luz brilhante a iluminar o horizonte. Tudo está num impasse — a economia, a política e as questões ambientais e humanitárias. E os próprios seres humanos — a força motriz de todas essas esferas, também estão perdidos e não sabem como avançar.
É por isso que nós, bodisatvas da terra, aparecemos. É por essa razão que o Budismo do Sol, de Nichiren Daishonin, é tão essencial. Nós nos levantamos, segurando bem alto a tocha da coragem em uma mão e a filosofia da verdade e da justiça na outra. Começamos a agir para romper corajosamente a escuridão dos “quatro sofrimentos” — nascimento, envelhecimento, doença e morte — , e também a escuridão da sociedade e do mundo.3
A ação do shakubuku, que tem como finalidade conduzir as pessoas à iluminação com base na filosofia e no espírito benevolente do Sutra do Lótus, é a prática budista do mais elevado respeito à vida. É a prática correta para dissipar tanto a escuridão fundamental que se aloja na vida das pessoas como a que penetra em nossa própria vida. O Budismo de Nichiren Daishonin nos ensina também a respeitar as pessoas, não só quando propagamos esse ensinamento, mas em todos os sentidos, pois esse é o modo correto de os seres humanos se comportarem.
Fonte:
Terceira Civilização, ed. 538, jun. 2013, p. 58.
Notas:
1. Coletânea dos Escritos de Nichiren Daishonin. São Paulo: Editora Brasil Seikyo, v. I, p. 4, 2019.
2. Ibidem.
3. Brasil Seikyo, ed. 1.387, 19 out. 1996, p. 4.
Foto: GETTY IMAGES
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