Ensaios do presidente da SGI, Dr. Daisaku Ikeda
Formatura da oitava turma da Universidade Soka da América (SUA) em 2012. Crédito: Seikyo Press
Adaptado do prefácio de Haha to Ko no Seiki 3
Nos olhos reluzentes das crianças vemos fronteiras nacionais? No riso delas, detectamos diferenças étnicas? Quando estão tristes, elas derramam lágrimas de acordo com a religião que praticam?
Trazer paz às crianças do mundo — esse certamente é o desejo acalentado pela humanidade. As crianças do mundo inteiro têm o direito de viver em paz. Em todos os países, mães e filhos querem viver em paz e segurança com a família. Porém, até mesmo esse modesto desejo é difícil de ser realizado para incontáveis núcleos familiares.
O líder dos direitos civis americanos, Dr. Martin Luther King Jr., observou: “Injustiça num lugar qualquer é uma ameaça para a justiça em toda parte”.¹ Essa mensagem poderia ser reformulada da seguinte forma: “Guerra num lugar qualquer é uma ameaça para a paz em toda parte”. Não podemos estar realmente em paz ou desfrutar felicidade enquanto há pessoas ameaçadas pela guerra ou com a fome em algum lugar do planeta.
Como podemos edificar a paz? Acredito que o caminho mais correto e fundamental se encontra na educação verdadeiramente humanística. Ao fazermos um retrospecto da história da humanidade, nós nos confrontamos com o paradoxo de que as guerras, na maioria das vezes, são iniciadas por pessoas com níveis mais altos de instrução, integrantes da elite social. Essa é uma das grandes tragédias da humanidade. Indivíduos que receberam excelente educação, buscaram aprendizado e adquiriram conhecimento foram incapazes de utilizar o que aprenderam para ajudar as pessoas e assegurar a paz; em vez disso, empregaram o conhecimento para afirmar sua superioridade e obter vantagem pessoal.
Com frequência, os interesses do Estado tiveram precedência sobre as necessidades do povo, situação que persiste até hoje. Não há outro nome para isso a não ser afronta à educação.
Quando eu era criança, o sistema educacional japonês designava-se a apoiar a guerra e glorificar a nação. Naquele exato momento, Tsunesaburo Makiguchi, autor da pedagogia Soka de criação de valor, declarava que o propósito da educação é a felicidade da criança. Ele não se deixou ser intimidado pela opressão das autoridades do governo e encerrou sua nobre vida na prisão.
Acredito que hoje, mais do que nunca, precisamos implementar amplamente este tipo de educação voltada para a paz e a felicidade que Makiguchi defendia. Devemos ensinar a cada criança como a vida é preciosa e sobre o respeito ao próximo. Além disso, devemos cultivar nela a coragem e a consciência de cidadão do mundo e ajudá-la a desenvolver sabedoria para aplicar seu conhecimento em prol da felicidade de todas as pessoas.
De fato, esse é o caminho para a construção de uma base indestrutível para a paz no século 21.
Nota: 1. KING, JR., Martin Luther. Letter from Birmingham Jail [Carta da Prisão de Birmingham]. The Autobiography of Martin Luther King, Jr. CARSON, Clayborne. (Ed.). Nova York: IPM and Warner Books, 1998. p. 189.
Fonte: Adaptado do prefácio de Haha to Ko no Seiki 3 [O Século das Mães e das Crianças, v. 3] publicado em japonês na revista Daibyakurenge, edição de outubro de 2017, e no jornal Brasil Seikyo , ed. 2.442, 3 nov. 2018, p. B3.
Educação Soka: Por uma Revolução na Educação Embasada na Dignidade da Vida.
Das experiências que eu próprio vivi durante a Segunda Guerra Mundial, nasceram meu interesse e comprometimento com a educação. Meus quatro irmãos mais velhos foram recrutados e enviados para as frentes de batalha. O mais velho foi morto em combate na Birmânia [atual Mianmar]. Nos dois anos que se seguiram após o término da guerra, meus três irmãos sobreviventes voltaram, um após o outro. Vê-los em uniformes esfarrapados foi algo muito doloroso.
Meus pais já eram idosos e me cortou o coração ver a dor e a tristeza estampadas no rosto deles. (...) Criei uma profunda aversão pela guerra por sua crueldade, estupidez e desperdício. Em 1947, conheci Josei Toda, um educador extraordinário. Ele e seu mestre, Makiguchi, foram aprisionados por se oporem às guerras e às invasões japonesas. Makiguchi morreu na prisão e Toda sobreviveu aos dois anos de encarceramento.
Quando ouvi isso, aos 19 anos, compreendi em meu coração que ali estava alguém que, por suas ações, merecia minha confiança. Decidi seguir Toda como meu mestre da vida.
Josei Toda sempre defendeu com inabalável convicção a ideia de que a humanidade só poderia se libertar dos horrores da guerra criando novas gerações de cidadãos imbuídos de profundo respeito pela dignidade da vida. Por essa razão, ele sempre deu prioridade máxima à educação.
A educação é um privilégio que só os seres humanos possuem. É a fonte de inspiração que nos capacita a desenvolver nossa humanidade de forma plena e verdadeira e cumprir nossa missão de vida com serenidade e confiança. O conhecimento acumulado à parte das questões humanas resulta num arsenal de destruição em massa. Por outro lado, o conhecimento em geral proporcionou conforto e conveniência à sociedade oferecendo trabalho e riqueza. A principal tarefa da educação deve ser a de assegurar que o conhecimento sirva para fortalecer as ações em prol da felicidade e da paz.
Fonte: IKEDA, Daisaku. Educação Soka: Por uma Revolução na Educação Embasada na Dignidade da Vida. Ricardo Miyamoto (org.). Tradução: Leila Yoko Shimabukuro Otani. São Paulo: Editora Brasil Seikyo, 2017. p. 119-120.