Na prática
TC
Respeito às diferenças
manifeste seu máximo potencial
01/09/2022
Em setembro, os ventos gelados do inverno cedem espaço à refrescante brisa primaveril — início da estação das floradas com suas cores vibrantes e período em que cada planta evidencia sua singularidade e beleza. Ao caminharmos pelos bosques e parques da cidade, nós nos deleitamos com jardins e canteiros cobertos de inumeráveis espécies de flores exalando diferentes aromas.
O buda Nichiren Daishonin ensina que todos os indivíduos também são únicos e possuem grandiosidade incomparável. Em um de seus escritos, ele apresenta o princípio da “cerejeira, ameixeira, pessegueiro e damasqueiro”. Sobre esse conceito, o presidente Ikeda comenta:
As flores de cerejeira têm uma beleza distinta. Já as flores da ameixeira possuem uma delicada fragrância. Um belo colorido possuem as do pessegueiro, ao passo que as flores do damasqueiro apresentam um sabor especial. Cada pessoa tem missão única, individualidade e modo de vida. É importante reconhecer essa verdade e respeitá-la. Essa é a ordem natural das coisas. É assim que funciona o mundo das flores: miríades de flores desabrocham harmoniosamente juntas numa bela profusão.1
O princípio exposto por Daishonin trata da valorização de cada um, e, acima de tudo, o respeito à diversidade humana. Ele continua:
Esse mundo budista de “cerejeiras, ameixeiras, pessegueiros e damasqueiros” — um mundo que sustenta o vicejar da diversidade — é aberto às pessoas. Todos, sem exceção, podem igualmente tomar parte nessa caminhada e trilhar a grandiosa estrada da revolução humana e, tirando o máximo proveito de suas características individuais, fazer aflorar seu pleno potencial.2
No entanto, embora exista essa perspectiva budista de reconhecer e valorizar cada indivíduo, vimos disparar pelo mundo o aumento da intolerância de diversos matizes: racial, religiosa, política, social, de gênero. Nosso mestre, Daisaku Ikeda, reflete sobre esse adoecimento social: “Alguns acham impossível respeitar as pessoas que são diferentes, por isso as discriminam e as atormentam, violando seus direitos individuais. Essa é a fonte de tanta infelicidade no mundo”.3
Dessa forma, a seção Na Prática explorará quão significativo é respeitar as diferenças e individualidades para a construção de uma sociedade mais equânime e justa, além da importância de valorizar as próprias características para a edificação da genuína felicidade.
Reconhecer e respeitar a singularidade das pessoas
A analogia da “cerejeira, ameixeira, pessegueiro e damasqueiro” foi apresentada por Nichiren Daishonin no Registro dos Ensinamentos Transmitidos Oralmente, e expressa uma importante missão da prática budista — possibilitar que cada um, sem exceção, floresça à plenitude de seu potencial. Pois, quando reconhecemos e, sobretudo, respeitamos a singularidade das pessoas, nosso brilho interior se intensifica ao ativarmos a compaixão budista, a empatia, a coragem e a humildade em enxergamos o potencial no outro.
Para reforçar tudo isso, apresentamos a parábola “os cegos e o elefante”:
O conto narra a história de seis homens cegos — cada qual acometido pela cegueira de maneira distinta e dramática — que viviam numa pequena aldeia na Índia. O povoado tinha como símbolo de força e longevidade os elefantes; e muitas histórias de valentia e heroísmo desses animais percorriam o imaginário dos aldeões.
Com os seis homens cegos não era diferente, eles debatiam dia e noite como acreditavam ser os elefantes. Dessa forma, familiares e amigos organizaram uma visita ao palácio do rajá para que todos conhecessem o apreciado animal.
Quando finalmente encontraram o elefante, disseram com entusiasmo:
— Um elefante é sólido, como uma parede! — Manifestou um deles ao lhe acariciar o dorso.
— Não, ele é como uma cobra gigante. —
Outro logo respondeu segurando a tromba do animal.
— O elefante é duro e pontiagudo como uma lança. — Disse outro batendo na presa do bicho.
— Claro que não, ele é como o tronco de uma árvore! — Vociferou um deles ao abraçar uma das pernas do elefante.
— Para mim, é como um tapete mágico. —
Não demorou a dizer um dos cegos, ao alisar a enorme orelha do animal.
— O elefante é como uma corda grossa e resistente. — Disse o último, contestando os demais.
Os homens iniciaram uma acirrada discussão, cada um convencido de que sua perspectiva poderia considerar todo o animal.
O rajá, ao ver o bate-boca, disse:
— O elefante é um bicho muito grande. Vocês tocaram apenas numa parte dele. Talvez, se juntarem tudo, consigam chegar à verdade! — Concluiu o monarca.
— Ele tem razão! — Disse um dos cegos.
— Para alcançar a verdade, temos de unir tudo o que analisamos pela ótica
de cada um. Vamos discutir o tema durante a nossa viagem de regresso à aldeia. — Comentou outro.
O conto revela quanto as pessoas tendem a observar os fatos a partir das próprias experiências e se limitam a elas; ao mesmo tempo, inclinam-se a desconsiderar as vivências e expectativas dos demais. Como mostra a história, só chegamos perto da verdade — da visão completa do elefante — quando valorizamos e acolhemos perspectivas díspares em nossa análise.
O ensinamento do Budismo Nichiren, aliado ao movimento da Soka Gakkai de reconhecer a dignidade de todo ser humano, ressalta justamente a ideia central do conto: valorizar e acolher todas as pessoas. A seguir, vamos entender um pouco mais sobre essa premissa.
Expandir a solidariedade da felicidade e da paz
A Soka Gakkai, desde a sua fundação, em novembro de 1930, pelo presidente Tsunesaburo Makiguchi e seu discípulo sucessor Josei Toda, ensina às pessoas que, com a prática budista, é possível evidenciar ilimitada condição de vida para vencer os desafios do cotidiano, ao mesmo tempo em que também podem contribuir efetivamente para a construção uma sociedade mais igualitária. O presidente Ikeda declara:
A Soka Gakkai é a organização do kosen-rufu embasada no princípio budista da “dignidade da vida”. O objetivo do kosen-rufu é ensinar sobre a natureza do bem do ser humano, elevar a condição de vida de todas as pessoas e expandir a solidariedade da felicidade e da paz.4
Nos países e territórios em que a Soka Gakkai está presente, seus membros, alicerçados nos ensinamentos reluzentes de Nichiren Daishonin e nos direcionamentos repletos de sabedoria do presidente Ikeda, buscam manifestar em suas ações o respeito à diversidade e à dignidade humana e acolher as vivências e experiências de todos — assim como apresentada a importância desse conceito no conto. Os integrantes da organização estão sempre conscientes de que essa é a chave para a criação de um mundo de solidariedade e de empatia; além de desenvolverem a crença no próprio potencial, independentemente dos dramas pessoais vivenciados.
Vamos conhecer e nos inspirar com a história de uma componente da Divisão Feminina (DF) do nordeste do Brasil. Com muita bravura, ela suplantou um desafiador episódio de vida, mantendo à sua maneira a determinação de não se curvar diante dos desafios.
***
Geângela Borges Caiafo, integrante da Divisão Feminina (DF) da RM Paraíba, mora em Rio Tinto, município litorâneo com aproximadamente 25 mil habitantes. Ela relata que, após um grave acidente de moto, teve a vida transformada: “Era um período muito bom. Estava com 29 anos, universitária, professora no período da manhã e coordenadora à tarde. Foi depois do acidente que conheci o budismo. Com a gravidade da ocorrência, tive traumatismo craniano e grande perda de massa encefálica, e fiquei em coma por quatro meses. Caso sobrevivesse, disseram os médicos, teria sequelas profundas na fala, visão e mobilidade”.
Ela foi apresentada ao Budismo Nichiren por um veterano da localidade, que morava próximo da residência dela. “Ele passava em frente de casa para ir ao trabalho. Certo dia, ao me ver sentada na porta, aproximou-se e perguntou: ‘O que te falta para voltar a sorrir?’.”
Esse veterano ensinou o Nam-myoho-renge-kyo para ela, que logo iniciou o desafio de aprender o sutra. “Estava tão desesperada que buscava uma tábua de salvação. Passava três horas fazendo daimoku, mesmo naquela situação extremamente adversa.” Por não ter familiar próximo, ela contou com o apoio de vizinhos e cuidadoras por quem têm profunda gratidão.
Após receber o Gohonzon, os benefícios não pararam de se manifestar. “Fui assistida por uma excelente fisioterapeuta que morava próximo de Rio Tinto. Em cidade pequena, todos se conhecem, ainda mais por eu ter sido professora de todos os níveis, das crianças aos adultos. E as pessoas ficaram surpresas com minha recuperação, pois muitas sabiam que eu havia sido desenganada pelos médicos depois do acidente”.
Geângela está aposentada desde 2004, é ativa e independente nas tarefas de casa, e, mesmo usando muletas, adora sair para passear. Em 2019, assumiu a função de vice-responsável pela DF de comunidade. Ela se dedica com entusiasmo à concretização do shakubuku, à promoção das atividades e ao incentivo aos membros. “Gosto muito do livro Ensaio sobre as Mulheres, o qual tem me direcionado a não lamentar e avançar. Sou movida a gratidão”, finaliza a alegre paraíbana.
Com o grave acidente e suas sequelas, Geângela poderia se retrair e desacreditar de seu potencial de romper a corrente do mau destino. Todavia, com o apoio irrestrito das pessoas próximas, associado à prática ininterrupta do budismo, ela pôde se imbuir de sabedoria e força para superar os momentos desafiadores e inspirar outras pessoas ao seu redor. Assim como o presidente Ikeda diz: “Essas árvores (cerejeira, ameixeira, pessegueiro e damasqueiro) suportam o rigoroso frio do inverno e, quando a primavera se aproxima, cada qual a seu próprio tempo se enche de flores de beleza singular”.5
Acredite em seu potencial
Como reiterado, o Budismo de Nichiren Daishonin é o mais elevado ensinamento que possibilita aos seus praticantes materializarem a paz e a felicidade da humanidade. Isto é, promoverem atividades de respeito à diversidade, à dignidade da vida humana e à singularidade de todas as pessoas, sem algum tipo de discriminação e divisão.
Agora, com base nas orientações do Mestre a seguir, vamos reexaminar dois pontos essenciais da matéria:
Quando essa filosofia que respeita a dignidade de todas as formas de vida se propagar pelo mundo e transformar a vida das pessoas no âmbito mais fundamental, vai se abrir o caminho para eliminar a tragédia do ódio e do conflito. E também poderá transformar a doença crônica da humanidade — de se envolver repetidamente em guerras alimentadas por um ciclo de ódio. Aí repousa o profundo significado dos nossos esforços, somados aos dos nossos amigos da SGI do mundo todo, de compartilhar e propagar os ideais e os princípios humanísticos do Budismo Nichiren neste exato momento.6
1. No conto, para chegar à verdade, era necessário somar e não excluir as experiências e vivências de cada um dos homens cegos. Cada indivíduo é único com sua visão peculiar de mundo. Para que a constante onda de preconceito e de discriminação seja interrompida, é preciso acolher e respeitar as visões diferentes da nossa. Exercite esse olhar.
Os ensinamentos budistas empregam a analogia das flores das árvores frutíferas — cerejeira, ameixeira, pessegueiro e damasqueiro — cada qual desabrochando e frutificando à sua maneira, para expressar o valor da diversidade. Em outras palavras, cada ser vivo tem um diferente caráter, individualidade e propósito neste mundo. Por conseguinte, as pessoas deveriam desenvolver suas capacidades únicas enquanto trabalham para construir um mundo de cooperação, em que todas as pessoas reconheçam tanto suas diferenças como sua igualdade fundamental, um mundo em que se estimule rica diversidade de pessoas e culturas, cada qual desfrutando respeito e harmonia.7
2. Acredite em seu potencial. A transformação de âmbito fundamental se inicia na postura de nos reconhecer como seres humanos de profundo valor, permeados de caraterísticas — entre qualidades e pontos que precisam ser lapidados — com as quais conseguimos sim influenciar positivamente outras vidas. Assim como a Geângela acreditou que viveria de maneira independente, confie em você; viva sempre de modo intenso e pleno.
Dessa maneira, podemos compreender que somos seres humanos únicos e nossa missão como praticantes budistas é acolher, e não dividir; é crer em nossa beleza interior, e que ela pode reluzir o caminho de muitas outras pessoas. Assim como Toda sensei sempre dizia: “Viva de forma autêntica consigo mesmo!”.8
No topo: Ikeda sensei e sua esposa, Kaneko, observam o dinâmico avanço dos membros (Tóquio, Japão, mar. 2000). Foto: Seikyo Press
Notas:
1. Brasil Seikyo, ed. 1.457, 18 abr. 1998, p. 3.
2. Idem, ed. 2.400, 31 dez. 2017, p. B2.
3. Idem, ed. 1.457, 18 abr. 1998, p. 3.
4. Brasil Seikyo, ed. 2.467, 11 maio 2019, p. B1.
5. Terceira Civilização, ed. 619, mar. 2020, p. 52.
6. Terceira Civilização, p. 53.
7. Brasil Seikyo, ed. 2.293, 26 set. 2015, p. B4.
8. Terceira Civilização, ed. 619, mar. 2020, p. 64.
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