Na prática
TC
Eleve a visão sobre a realidade da vida
Redação
10/01/2023
Iniciamos com máximo esplendor o “Ano dos Jovens e do Triunfo”, etapa repleta de significativas comemorações. Entre as mais memoráveis estão os trinta anos da quarta visita do presidente Ikeda ao Brasil, ocasião na qual o líder da Soka Gakkai Internacional (SGI) delineou importantes diretrizes para o futuro do kosen-rufu em terras brasileiras. Em uma de suas reflexões, ele disse: “[Na] visita ao Brasil em 1993, atuei com o firme propósito de abrir o caminho para os jovens”.1
Por falar em jovem, é justamente esse público que pesquisas recentes indicam como o principal consumidor das redes sociais. Em uma das plataformas digitais mais acessadas, o Instagram, 31,1% dos usuários possuem entre 18 e 24 anos, sendo a faixa etária mais representativa, seguida de perto pelo público de 25 a 34 anos, com 30%.2
Assim sendo, Na Prática da edição explicará o mecanismo por trás das redes sociais, como seu funcionamento pode ter muita conformidade com aspectos do budismo, e também quão importante é o exercício diário da fé para que não sejamos entorpecidos pelas adversidades do cotidiano.
Fazer bom uso das redes sociais
Como sabemos, as redes sociais são estruturas virtuais desenvolvidas para facilitar a conexão entre pessoas e grupos que compartilham interesses e visões de mundo similares. As primeiras plataformas começaram a surgir na década de 1990, e, atualmente, existem diferentes categorias de serviços, cada qual com seu propósito. Podemos destacar as redes: de relacionamento, focadas em criar espaço para que pessoas se conectem e compartilhem experiências cotidianas; de entretenimento, que oferecem conteúdos de mídia, como vídeos, fotos, transmissões em streaming, entre outras possibilidades; de relacionamento profissional, voltadas para estabelecer ambiente de apresentação, facilitando o networking e a busca por amplas oportunidades de trabalho; e as de nicho que são, em geral, de menor estrutura, com foco em um setor, profissional ou social.
Com o tempo, as plataformas foram aprimoradas, e os “algoritmos” — conjuntos de regras utilizadas pelas redes sociais para indicar quais conteúdos são relevantes — também passaram por aperfeiçoamento para oferecer melhor experiência aos usuários. Nesse contexto, vale ressaltar que toda essa informação é estruturada com base em histórico de informações de consumo de cada pessoa; uma espécie de curadoria.
Podemos assentir que as redes sociais conquistaram papel importante na sociedade. Elas aproximam indivíduos, criam laços humanos, informam, entretêm, ajudam a promover causas sociais e ambientais, entre tantas outras utilidades. Contudo, para Luiz Mormille, cientista de dados da Editora Brasil Seikyo e doutorando em inteligência artificial pela Faculdade de Ciência e Engenharia da Universidade Soka, do Japão, é necessário estar atento ao uso das redes sociais. Ele diz:
O ambiente das redes sociais é exemplo proeminente de como algoritmos podem afetar nossa vida cotidiana. Hoje em dia, quase todo o conteúdo que as pessoas veem nas suas redes sociais não é escolhido por editores humanos, mas sim por algoritmos que usam grandes quantidades de dados sobre cada usuário para fornecer o conteúdo que ele ou ela possa achar relevante ou envolvente.
Assim, plataformas como essas acabam por recomendar simplesmente o conteúdo que mais chama a atenção, o que em alguns casos podem ser prejudicial aos usuários — quando promovem a desinformação, o sensacionalismo e semeiam sentimentos negativos no coração das pessoas.
Segundo observou Luiz, dependendo de como as redes sociais são utilizadas, elas podem se tornar danosas às pessoas, capazes de impactar na maneira como percebem algumas realidades, seja de pessoas, de grupos, seja de culturas locais. Por isso, é preciso utilizá-las de forma sensata e prudente, buscando invariavelmente por conteúdos agregadores.
A seguir, vamos apresentar como o mecanismo por trás das redes sociais se associa às concepções dos ensinamentos budistas.
Quando mudamos, o mundo se transforma
Como vimos, os algoritmos aprendem conforme os usuários utilizam as plataformas sociais on-line. Cada curtida, vídeo assistido, post lido indicam para as redes o perfil de consumo das pessoas, e, a partir de então, sugerem publicações que mais se aproximam dessas informações. Ou seja, o que é exposto “para mim” é resultado “daquilo com o que interajo”, e essa inter-relação se reforça como ciclo contínuo.
Similarmente, aprendemos no budismo que a maneira com a qual os indivíduos percebem sua realidade exterior está profundamente ligada à condição de vida de cada um deles, conceito fundamental dos ensinamentos budistas.
O presidente Ikeda enfatiza sobre o tema:
A maneira como recebemos impressões do mundo ao nosso redor, tanto espacial como temporalmente, mudará de forma radical [conforme o estado de vida da pessoa naquele instante]. Poderíamos denominar isso de a função mística do “estado de vida”. O “estado de vida” é o ponto principal do budismo. O budismo não considera as pessoas em termos étnicos ou radicais nem em termos de grau acadêmico ou de posição social. Seu foco se concentra diretamente na condição do coração humano, no estado da própria vida das pessoas.3
Ele ainda afirma:
Nossa atitude muda tudo. Esse é um dos grandes prodígios da vida e, ao mesmo tempo, uma realidade incontestável. (...) Nossa percepção se altera dependendo de nossa perspectiva, tornando-se clara, bela e ampla.
Nichiren Daishonin refere-se às “ações maravilhosas da mente única”.4 A mente concentrada da fé no Gohonzon possui poder e funções que são realmente imensos e extraordinários. Quando o motor fundamental de nossa “mente única” — nossa postura interior, ou determinação — passa a funcionar, e as engrenagens de todos os fenômenos dos três mil mundos são colocadas em movimento, tudo começa a mudar. Movemos tudo para uma direção radiante e positiva.5
Por isso, o conjunto de atividades diárias exercidas pelas pessoas — aquele que elas absorvem do aspecto espiritual, intelectual, social, filosófico — pode indicar a maneira com a qual elas enfrentam determinados eventos da vida. Isso é comparável à operação dos algoritmos nas redes. Porém, ao contrário do que acontece por trás das plataformas digitais, os praticantes budistas se esforçam diariamente para sair de sua condição básica e expandir a vida por meio de esforços dedicados.
Edificar diariamente vasta condição de vida
A fim de conquistar ampla condição de vida, os membros da SGI são estimulados, especialmente pelas orientações de Ikeda sensei, a exercitar a prática da fé no cotidiano.
Elencamos algumas dessas diretrizes do Mestre:
Recitação de gongyo e daimoku
“Quando estiver sofrendo, recite daimoku. Quando achar que está preso num beco sem saída, recite daimoku. Se assim o fizer, a energia vital e coragem surgirão e serão capazes de transformar sua situação. Nossa prática budista é o motor para a vitória em todas as esferas da vida.”6
Participação vigorosa nas atividades da SGI
“Por meio das atividades da SGI, que disseminam a amizade em nossas comunidades e na sociedade, estamos acumulando tesouros na vida dia após dia. Somos praticantes do Budismo de Nichiren Daishonin. Empenhemo-nos para viver de um modo que inspire os outros a admirar e a desejar seguir nosso exemplo, e escrevamos o épico da revolução humana de nossa vida de um modo original, só nosso. O essencial é transformar a nós mesmos.”7
Cultivo de relacionamentos positivos
“Como podemos expandir nossa condição de vida? Expandindo nosso relacionamento humano. Relacionamentos e interações são essenciais. Precisamos nos conectar e associar com os outros, dentro e fora da organização. Isso expande e enriquece a nossa vida. O grande pensador indiano Rabindranath Tagore (1861–1941) declarou: ‘Ele [o ser humano] se perde quando se isola; e descobre seu eu maior ou verdadeiro em sua vasta rede de relacionamentos humanos’. Ao nos isolarmos, nós nos perdemos; é dentro da ampla gama de relacionamentos que descobrimos nosso eu maior — a compreensão de Tagore está em sintonia com a visão budista e com os ideais da Soka Gakkai.”8
Dedicação constante ao estudo do budismo e a outras áreas
“O estudo do Budismo Nichiren que realizamos na época [nos primórdios da Soka Gakkai] serviu como uma fonte de força para perseverarmos na vida, em nossas batalhas diárias, em nossos esforços pelo kosen-rufu. Foi um processo de aquisição de compreensão sobre ensinamentos e princípios do Budismo Nichiren, uma grandiosa filosofia realmente apta a ser incorporada em nossa vida para podermos lidar com os desafios existenciais e para vencer na sociedade.”9
Obter um estilo de vida equilibrado
“É importante seguir os princípios básicos. Se insistirmos em cometer exageros na comida e bebida, em não dormir o suficiente, ou em trabalhar à exaustão, pagaremos um preço por isso, adoecendo ou sofrendo algum acidente. Precisamos agir de maneira sábia e viver de forma produtiva. Budismo é razão, e nossa fé deve se expressar em nosso cotidiano. Tente ir para cama cedo, dormir profundamente e descansar bem. Tenha uma vida bem organizada e faça o gongyo de forma revigorante. Com a transbordante vitalidade obtida por meio disso, poderá contribuir positivamente para o seu ambiente de trabalho e para a comunidade.”10
Estabelecer no cotidiano essas e outras atividades recomendadas pelo Mestre nos proverá de sabedoria e energia vital para que a vida seja conduzida de maneira construtiva, indo além dos desafios enfrentados e de uma habitual reprodução de tarefas e de costumes.
Extrair grande força interior
Como aprendemos, embora exista a engenhosidade e a alta tecnologia das redes sociais, são os indivíduos os responsáveis pelo que usufruem dessas plataformas, uma vez que os algoritmos dessas redes analisam a atividade de cada usuário e entregam publicações semelhantes ao conteúdo interagido.
Já a prática budista é um excelente instrumento para influenciar positivamente como enxergamos a realidade da vida, o que pode impactar não só na forma com a qual usamos as tecnologias, mas em toda a nossa percepção de felicidade e de bem-estar.
No Estudo da edição, o presidente Ikeda relembra um incentivo do seu mestre, Josei Toda: “Se possuírem forte energia vital, poderão transformar uma condição de lamentar-se dos seus problemas, sofrimentos, pobreza e outros infortúnios num estado de vida repleto de luz e alegria”.11
Assim como vimos, independentemente da maneira como as informações se apresentam para nós ou como estão os nossos desafios, podemos empreender atividades diárias de alto valor — recitação de gongyo e daimoku; participação vigorosa nas atividades da BSGI; cultivo de relacionamentos positivos; dedicação constante ao estudo do budismo e a áreas distintas; obter um estilo de vida equilibrado; entre outras ações edificantes — e dessa forma, estabelecer ainda a mais vasta condição interior para que a vida seja sempre conduzida a uma direção positiva.
Desejamos que ponham em prática diariamente essas recomendações para desfrutar um 2023 repleto de grandes realizações!
No topo: Membros da Divisão dos Jovens participantes da Academia Índigo Juventude Soka do Brasil (Itapevi, SP, set. 2022). Foto: Brasil Seikyo
Notas:
1. Terceira Civilização, ed. 404, abr. 2002, p. 12.
2. Disponível em: https://resultadosdigitais.com.br/marketing/estatisticas-redes sociais/#:~:text=No%20Brasil%2C%20s%C3%A3o%20171%2C5,usu%C3%A1rios%20de%202021%20para%202022. Acesso em: 5 dez. 2022.
3. Brasil Seikyo, ed. 1.494, 6 fev. 1999, p. 3.
4. The Record of the Orally Transmitted Teachings [Registro dos Ensinamentos Transmitidos Oralmente]. Tradução: Burton Watson. Tóquio: Soka Gakkai, p. 30.
5. IKEDA, Daisaku. Coragem. São Paulo: Editora Brasil Seikyo, 2019. p. 64.
6. Ibidem, p. 142.
7. Ibidem, p. 37-38.
8. Brasil Seikyo, ed. 2.367, 15 abr. 2017, p. B1.
9. IKEDA, Daisaku. Sabedoria. São Paulo: Editora Brasil Seikyo, 2020. p. 131.
10. Terceira Civilização, ed. 606, fev. 2019, p. 50.
11. Terceira Civilização, ed. 653, jan. 2023, p. 64.
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