Crônica
TC
Imperfeições que reluzem como pontos positivos
Redação
10/01/2023
Quando criança, tive tuberculose, e o remédio para o tratamento me causou uma perda auditiva definitiva. Não sei se foi por isso, mas cresci com dificuldade de me relacionar.
Como ironia da vida, quando ingressei na carreira profissional, foi-me dada a tarefa de coordenar uma área de relações públicas, o que significava justamente... lidar com pessoas. O mais difícil era falar ao telefone, porque não conseguia fazer leitura labial ou ver as expressões. Por essa razão, quando ele tocava, fingia estar fazendo alguma coisa para não ter de atendê-lo. Algumas vezes não tinha como escapar, e ficava ali perguntando com muita vergonha “Como disse?”, “Pode repetir?”. Meus colegas de trabalho, vendo meu apuro, quase sempre pegavam a ligação e a atendiam em meu lugar.
O tempo foi passando e cada vez que eu errava alguma coisa, menos vontade tinha de voltar ao escritório. Muitas vezes, de manhã, não queria nem me levantar de tanto medo do fracasso.
No entanto, conforme fui participando das atividades da organização e conversando com as pessoas que venceram seus desafios com base na prática da fé, acabei por refletir que todas possuem algum tipo de problema ou dificuldade a superar, pois ninguém tem uma vida perfeita. Em meio aos desafios, elas conseguem lutar com ânimo e se empenhar sinceramente para vencer seus problemas. É isso que importa na vida. Sem esforço não há crescimento. Uma das razões pelas quais estou praticando este budismo não é o fato de poder [me desafiar]?1
Pensando dessa forma, mudei meu comportamento. Passei a tomar a iniciativa de me encontrar com cada pessoa. Quando o telefone tocava, corria para atender e procurava ouvir com toda a atenção o que dizia do outro lado da linha.
Depois de um tempo, além de não ficar mais impaciente ao atender o telefone, tinha uma sensação muito boa de ouvir, com sinceridade, o outro.
Essa história não é minha. Ela foi contada por Ikeda sensei, e está em primeira pessoa não porque tive os mesmos problemas que Takazu Suzumoto,2 mas porque me reconheço tanto no seu medo de fracassar quanto no seu desejo de transformar as limitações com a mudança de postura a partir da prática budista e incentivada pelas experiências dos colegas da organização.
Acima de tudo, a conclusão do Mestre sobre o comportamento desse jovem inspira a minha vida em busca da revolução humana: “Quando reconhecemos nossas limitações e imperfeições e começamos a realizar esforços compenetrados para suplantá-las, elas passam a brilhar como pontos positivos”.3
Juliana Ballestero Sales Vieira Kamiya
Redação
Foto: Getty Images
Notas:
1. IKEDA, Daisaku. Nova Revolução Humana, v. 18. São Paulo: Editora Brasil Seikyo, 2021. p. 14.
2. Ibidem.
3. Ibidem.
Compartilhar nas