Na prática
TC
Coragem para liderar
Redação
01/08/2023
O ofício de ser líder está presente na vida de todos, pois consiste em influenciar o comportamento e o pensamento de determinada pessoa ou grupo — embora nos registros históricos e também atualmente encontramos aqueles que conduzem indivíduos a praticar ações que ferem a dignidade da vida humana.
Liderar uma equipe de trabalho, um núcleo organizacional da BSGI ou outros campos da sociedade requer dedicação e habilidades necessárias para triunfar nessa missão. Isto é, propiciar ambiente apropriado para as pessoas, com alegria e satisfação, alcançarem realizações pessoais e profissionais.
Citando o ambiente corporativo como exemplo, um estudo feito pela The Workforce Institute UK com 3,4 mil pessoas em dez países revelou que as atitudes dos líderes das empresas impactam 69% a saúde mental da equipe e, consequentemente, o nível de produtividade deles.1
Todavia, imperativo dizer que, para ativar o modus liderança, é fundamental desenvolver inicialmente a capacidade de autoliderança, ou seja, conhecer-se, saber e entender quais são suas competências, forças e fragilidades. Para tanto, a seção Na Prática desta edição apresenta perspectivas para o desenvolvimento das aptidões de um líder humanista e vencedor.
Responsabilidade, protagonismo, autonomia e coragem
Uma das ferramentas para desenvolver a liderança é o accountability — conceito aplicado principalmente no meio empresarial. Sem tradução para o português, a expressão corresponde a responsabilidade, protagonismo, autonomia e, acima de tudo, coragem. Assegura, basicamente, que cada pessoa precisa se responsabilizar pelas próprias tarefas, ser dona do próprio desenvolvimento e compreender que sua atuação tem grande importância para a conquista — ou para o fracasso — de um empreendimento.
Com o objetivo de explicar o termo em inglês e suas aplicações no cotidiano, três autores publicaram o livro O Princípio de Oz: Como Usar o Accountability para Atingir Resultados Excepcionais. Na obra, os especialistas norte-americanos em gestão empresarial Roger Connors, Tom Smith e Craig Hickman descrevem quatro pilares principais para ser adotados em ambientes corporativos ou para uso pessoal.
See it: O primeiro pilar representa o termo “veja” na tradução literal para o português. A função dessa etapa é fundamental, visto que, diante de uma situação adversa ou objetivos a ser alcançados, o primeiro passo é enxergar e reconhecer o cenário.
Own it: O segundo pilar pode ser traduzido como “assuma”. Ou seja, assumir as responsabilidades diante dos impasses e pontos de melhoria encontrados. Essa etapa requer senso de coragem para tomar para si a execução dos próximos estágios.
Solve it: Na tradução para o português, o terceiro pilar do conceito é “resolva”. Esse é o momento de encontrar uma solução viável para ser posto em prática na etapa seguinte.
Do it: O quarto e último pilar do conceito é o “faça”. Como protagonista da mudança, agora é a ocasião de pôr o planejamento em ação.
Compreender e efetivar os quatro pilares do accountability são um importante passo para desenvolver a liderança. O presidente da Soka Gakkai Internacional (SGI), Dr. Daisaku Ikeda, pondera acerca de o líder encorajar as pessoas a partir do próprio comportamento: “Antes de tudo, um líder deve buscar a realização de sua própria revolução humana. Não esperem que os outros mudem; mudem a si mesmos. Não esperem que os outros façam; façam vocês mesmos”.2
Vamos conhecer, a seguir, a trajetória de liderança do presidente Ikeda em uma de suas ocupações mais importantes como líder humanista que inspira milhares de pessoas ao redor do mundo — a de escritor.
Legado à humanidade
Em agosto de 1993, Ikeda sensei deu início à sua obra Nova Revolução Humana, com objetivo de deixar registradas para o futuro da humanidade, especialmente para os membros da SGI, as ações necessárias para alcançar a felicidade individual e cooperar de forma concreta para a transformação da sociedade — uma iniciativa em contribuir para a prosperidade das pessoas é a atribuição do líder, em especial, do líder humanista.
Foram 25 anos dedicados à concretização desse romance [1993–2018], que retrata a vida e as realizações de Shin’ichi Yamamoto [pseudônimo do presidente Ikeda no livro], e inúmeras histórias de membros da SGI e de líderes globais como construtores de um mundo de paz.
No prefácio, Ikeda sensei descreve seu propósito ao escrever a obra:
Meu objetivo é concluir a Nova Revolução Humana em trinta volumes. Se considerarmos o limite de tempo que tenho nesta existência, este trabalho será certamente o maior desafio. No entanto, viver no sentido verdadeiro somente tem significado quando cumprimos a nossa missão. Goethe, Hugo e Tolstói continuaram trabalhando para registrar suas convicções, com todo o vigor, mesmo após os 80 anos. Eu ainda tenho 65 anos, sou jovem.
Assumi a responsabilidade pela Nova Revolução Humana como a obra da minha existência. Determinei escrever ininterruptamente, aplicando o máximo de habilidade para eternizar o caminho genuíno e adamantino de mestre e discípulo. Comprometo-me também a relatar as glórias conquistadas pelos preciosos filhos do Buda, que avançam orgulhosamente pelo ideal da paz mundial exatamente como Nichiren Daishonin ensinou.3
O empenho do presidente Ikeda em não se poupar para deixar a Nova Revolução Humana como manual de conduta para os membros da SGI corresponde à ideia central do conceito accountability descrita no início da matéria — o líder precisa ter responsabilidade, protagonismo, autonomia e, acima de tudo, coragem.
Líder do povo
Uma das personalidades citadas pelo presidente Ikeda em diversas ocasiões no romance é Nelson Mandela, um ser humano de elevado caráter que inspirou e inspira milhares de pessoas. A grande contribuição de Mandela para a humanidade foi a luta pacífica contra o apartheid (regime de separatismo racial). Ele foi responsável por levar um país dividido pelo racismo a um período de paz e de prosperidade econômica. Vejamos trechos das reflexões do presidente Ikeda sobre o seu encontro com o presidente Mandela, em julho de 1995, no Japão.4
Há algo de muito especial no sorriso de Nelson Mandela. É um sorriso honesto e puro, cheio de bondade e serenidade, incorpora as convicções e a força do caráter de um homem que conduziu seu povo à liberdade. (...)
Ele irradiava confiança quando o saudei em Tóquio, numa tarde de julho de 1995. Era o nosso segundo encontro, pouco após haver sido eleito presidente da África do Sul.
Mandela comentou: “As prisões da África do Sul pretendiam nos enfraquecer de forma que jamais tivéssemos novamente força e coragem para perseguirmos nossos ideais”. (...)
Mesmo sob essas condições terríveis, Mandela conseguiu estudar e incentivar os outros prisioneiros a partilharem seu conhecimento uns com os outros e debaterem suas ideias. Palestras eram realizadas em segredo e a prisão veio a ser conhecida como “Universidade Mandela”. Ele jamais diminuiu seus esforços para transformar as visões errôneas e criar aliados entre os que o rodeavam. Posteriormente, seu espírito indomável conquistou o respeito até mesmo dos guardas da prisão.
(...)
De dentro de sua cela, Mandela continuou a inspirar o povo da África do Sul. Embora ele não conseguisse se comunicar com as pessoas, sua própria existência já era uma fonte de esperança.
Finalmente, o dia de sua libertação chegou. Naquele dia, 11 de fevereiro de 1990, Mandela discursou na Cidade do Cabo: “Estou aqui diante de vocês não como um profeta, mas como um humilde servidor de vocês, o povo. O incansável e heroico sacrifício de vocês tornou possível eu estar aqui hoje. Portanto, deposito os anos restantes de minha vida em suas mãos”.
As realizações de Nelson Mandela podem parecer muito distantes da vida cotidiana das pessoas: ele enfrentou autoridades por uma causa elevada, foi preso por esse ideal, não se distanciou do propósito [luta contra o apartheid] e alcançou o objetivo primordial: a abolição do regime de segregação racial, assim como vimos nas reflexões do presidente Ikeda.
Com o intuito de clarificar o papel do líder, compreendendo as funções de liderança na SGI, transmitimos seis recomendações de Ikeda sensei para essa finalidade.
Seis condições para a liderança
Em comemoração da fundação da Divisão Sênior [março de 1966], o presidente Ikeda destacou em um artigo, publicado na revista Daibyakurenge seis condições essenciais para um excelente líder. A passagem é narrada no capítulo “Coroa de Louros”, da Nova Revolução Humana:
No editorial, Shin’ichi citou seis itens como condições para ser um excelente líder: 1) ter convicção absoluta no Gohonzon; 2) ser capaz de enfrentar e desafiar as dificuldades; 3) conhecer as questões da sociedade; 4) ter paixão em desenvolver os sucessores; 5) ser uma pessoa humanista e magnânima; e 6) ter senso de responsabilidade e de planejamento.5
1. Ter convicção absoluta no Gohonzon irrompe sabedoria e força para encorajar as pessoas
“A verdadeira felicidade só pode ser edificada quando se possui uma inabalável convicção dentro do coração. O presidente [Josei] Toda disse: ‘Possuo uma força extraordinária porque acredito firmemente no Gohonzon. Possuo uma fé que me permite superar absolutamente quaisquer adversidades, circunstâncias ou épocas que me confrontem. O importante é ter essa convicção, esse é o tesouro da vida’.”6
2. Ser capaz de enfrentar e desafiar as dificuldades estando na linha de frente de todo o empreendimento
“O presidente [Josei] Toda disse: ‘O Budismo Nichiren é a religião que torna felizes sem falta as pessoas que se encontram em situações desfavoráveis. Enfrentar dificuldades tendo como base a prática da fé faz emanar a força do grandioso Buda. Essa pessoa conseguirá salvar verdadeiramente a todos, tornando-se aliada das pessoas que sofrem’.”7
3. Conhecer as questões da sociedade e sempre se aprimorar
“Numa obra escrita em seus últimos anos de vida, Tolstói declarou: (...) ‘Se reconhecer que a sociedade está organizada de forma ruim, e você gostaria de corrigi-la, deve compreender que existe apenas uma forma de a sociedade melhorar. Todos devem se aprimorar. Para aprimorar cada pessoa, tem-se apenas um método sob seu controle — você próprio é que deve se tornar uma pessoa melhor’.”8
4. Ter paixão em desenvolver os sucessores — missão fundamental do líder
“Não existem atalhos para desenvolver pessoas capazes. Embora possa levar algum tempo, se continuarmos acreditando no potencial dos outros e compartilhando nossa grande convicção na fé, eles com certeza responderão a isso e exibirão um esplêndido crescimento.”9
5. Ser uma pessoa humanista e magnânima que acolhe, apoia e direciona os demais
“Mesmo a escuridão e o caos da era atual serão rompidos se houver uma luz de esperança. Podemos acolher até mesmo um coração inseguro e apático se tivermos uma luz aquecedora emanando do nosso coração.”10
6. Ter senso de responsabilidade e de planejamento para triunfar em qualquer projeto
“Empreender uma batalha que leva a um resultado sem nenhum arrependimento depende de uma estratégia formulada antecipadamente. Ele [Josei Toda] salientava firmemente a importância do planejamento estratégico. E solicitava aos discípulos que pensassem, que usassem a cabeça e ficassem totalmente preparados, pois sabia que a maior parte da vitória seria decidida no estágio de planejamento estratégico. Pular a parte dos preparativos porque são um aborrecimento ou depreciar a necessidade de planejar nossa estratégia significa simplesmente criar a causa para a derrota. Tudo está sob a responsabilidade dos líderes.”11
Inspire todos ao redor
Como vimos lá no início da matéria, o conceito accountability está presente principalmente no universo empresarial, mas pode ser incorporado também ao dia a dia de todos. O termo corresponde a responsabilidade, protagonismo, autonomia e coragem — todos esses princípios fazem parte do comportamento do presidente Ikeda ao se dedicar genuinamente à conclusão da Nova Revolução Humana [coletânia de trinta volumes], e também constam na trajetória de vida de Nelson Mandela.
E os pilares do conceito apresentado — ver, assumir, resolver e fazer — associado às seis condições de um líder enunciado por Ikeda sensei —, bem como ter convicção no Gohonzon, enfrentar e desafiar as dificuldades, conhecer as questões da sociedade, desenvolver sucessores, ser magnânimo e possuir senso de responsabilidade — são premissas para desenvolver a liderança em todas as áreas da vida. Dessa forma, como líder humanista que abraça e inspira todos ao redor, aproveite cada oportunidade manifestando sempre seu brilho interior.
No topo: Representantes da Divisão dos Jovens participam da 2a Academia Índigo Juventude Soka do Brasil (Itapevi, SP, mar. 2023) Foto: BS
Notas:
1. Disponível em: https://exame.com/bussola/lideres-tem-o-mesmo-impacto-na-saude-mental-que-parceiros/. Acesso em: 18 jul. 2023.
2. Brasil Seikyo, ed. 2.011, 14 nov. 2009, p. A2.
3. IKEDA, Daisaku. Nova Revolução Humana. São Paulo: Editora Brasil Seikyo, v. 1, p. 7-8, 2019.
4. Brasil Seikyo, ed. 2.404, 27 jan. 2018, p. A3.
5. IKEDA, Daisaku. Nova Revolução Humana. São Paulo: Editora Brasil Seikyo, v. 10, p. 262, 2019.
6. Brasil Seikyo, ed. 2.277, 30 maio 2015, p. A2.
7. Idem, ed. 2.057, 30 out. 2010, p. A3.
8. Idem, ed. 2.067, 15 jan. 2011, p. A3.
9. Idem, ed. 2.514, 2 maio 2020, p. 4-5.
10. Idem, ed. 2.240, 23 ago. 2014, B2.
11. Idem, ed. 1.862, 7 out. 2006, p. A3.
Para os assinantes do BS+ acesse o link e ouça o Podcast da Nova Revolução Humana [v. 1-4].
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