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Jornada de mestre e discípulo — os 95 anos da vida de Ikeda sensei

Parte 3: O caminho do incentivo que percorre o mundo

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01/03/2024

Jornada de mestre e discípulo — os 95 anos da vida de Ikeda sensei

Nesta terceira parte da série, vamos viajar junto com o Mestre seguindo a trajetória de como a solidariedade Soka se expandiu para 192 países e territórios.

Sentindo no coração as palavras do Mestre

No salão, já estavam reunidos 158 representantes de 51 países e territórios. Por volta das 11 horas da manhã do dia 26 de janeiro de 1975, o casal Ikeda chegou ao imponente edifício do Centro Internacional de Comércio, localizado não muito distante do aeroporto de Guam. Nesse local, estava prestes a ocorrer a Conferência Mundial para a Paz, que marcaria a fundação da Soka Gakkai Internacional (SGI).

Ikeda sensei foi até o livro de assinaturas, posicionado na entrada do salão. Pegou a caneta, escreveu seu nome e, no espaço destinado à nacionalidade, registrou: “Mundo”.

Da perspectiva do budismo, que prega a igualdade e a dignidade de todos, não há diferenças entre países ou etnias. No âmago do coração de Ikeda sensei ressoavam as palavras do seu falecido mestre, segundo presidente da Soka Gakkai, Josei Toda, que havia mencionado o “nacionalismo global” ao longo de sua vida.

Durante a conferência, ao assumir a presidência da SGI, Ikeda sensei declarou: “Em vez de buscarem a aclamação ou glória pessoal, espero que dediquem sua nobre vida a plantar as sementes da paz da Lei Mística no mundo. Farei o mesmo”.1

Uma entusiástica salva de palmas ecoou em resposta, como expressão de apoio e de decisão compartilhada por todos. O fato de estarem reunidos naquele momento e naquele local, cada qual tendo abraçado a Lei Mística, era, em si, a evidência de como Ikeda sensei havia plantado as sementes do incentivo pelo mundo desde que assumiu como terceiro presidente da Soka Gakkai [em 3 de maio de 1960].

Não sejam derrotados

A primeira vez que a expressão “kosen-rufu mundial” apareceu em destaque como manchete do Seikyo Shimbun foi em 5 de outubro de 1960. Isso ocorreu três dias após Ikeda sensei embarcar em sua primeira viagem pela paz partindo do Aeroporto Internacional de Haneda, em Tóquio.

Nessa época, as viagens internacionais ainda eram incomuns, e o número de membros no exterior era bastante reduzido. Como os companheiros do Japão daquele período de pouca vivência prática sobre o “mundo” devem ter sentido o coração palpitar com grande expectativa! Com certeza, vários amigos imaginaram o cenário no qual Ikeda sensei, que havia provocado a grande onda de propagação do shakubuku pelo Japão, finalmente a expandiria por todo o mundo.

No entanto, o que sensei buscou valorizar, antes de tudo, foi o ato de ouvir as pessoas. As reuniões de palestra realizadas em cada localidade que visitava eram principalmente conduzidas de forma a ouvir as perguntas e as dúvidas dos membros.

Em uma reunião realizada em Honolulu, Havaí, uma jovem senhora, nascida na região nordeste do Japão, disse: “Quero voltar para o Japão”. Ela havia se casado com um soldado americano que serviu na Guerra da Coreia e se mudou para o Havaí, terra natal dele. No entanto, a vida lá não era como havia sonhado devido a barreiras linguísticas, dificuldades econômicas e violência doméstica.
A mulher tremia e chorava copiosamente enquanto dizia: “Não sei o que fazer”. Entre as participantes havia outras mulheres que viviam experiências semelhantes e que também deixavam escapar soluços e lágrimas, compartilhando do mesmo sofrimento.O Mestre anuiu com a cabeça em sinal de profunda empatia e disse em tom sereno: “A senhora deve ter sofrido muito. Deve ter sido realmente muito difícil. Mas a senhora tem o Gohonzon, não é mesmo? A fé é o poder para sobreviver”.

Ele expressou sinceras palavras de incentivo com base no princípio budista de “transformação do carma” e concluiu: “Ao conquistar a felicidade, isso não se limitará apenas a uma questão pessoal; mas também inspirará todas as outras mulheres japonesas que vivem aqui no Havaí a se revigorar. Por esse motivo, você não deve ser derrotada pela tristeza”.

Havia mulheres com histórias parecidas também na cidade de São Francisco, cujos relatos sensei ouviu atentamente e a quem dedicou sinceros incentivos de todo o coração. Ele também deixou três diretrizes para todas: “Obter cidadania e ser boa cidadã”, “obter carteira de motorista” e “falar inglês fluentemente”.

Não busque um ideal em algum lugar distante. Estabeleça suas raízes na realidade da sociedade e viva a fim de conquistar a confiança e a felicidade no lugar em que se encontra neste momento. Essa era a sua mensagem.

Jornada de mestre e discípulo — os 95 anos da vida de Ikeda sensei

Foto comemorativa com os companheiros que recepcionaram a comitiva de Ikeda sensei no aeroporto de Chicago durante a visita dele aos Estados Unidos (8 out. 1960)

“Você” é importante

Nas reuniões de palestra realizadas no Brasil, sensei disse a todos de forma amistosa: “Fiquem à vontade para perguntar qualquer coisa. Eu vim aqui exatamente para isso”.

Quando um imigrante agricultor de meia-idade perguntou “Estou endividado devido a uma colheita fraca. O que eu devo fazer?”, em resposta, sensei lhe fez uma série de perguntas como “Há algum problema com fertilizantes?” e “Qual a relação entre o tipo de solo e a variedade plantada?”. Ele ensinou de maneira atenciosa o modo de ser de um verdadeiro praticante budista: “O budismo é um ensinamento da mais suprema razão. Portanto, a força de sua fé deve se manifestar no estudo, no planejamento, na criatividade e nos esforços redobrados”.2

O que ele enfatizou aos companheiros durante a sua viagem por nove cidades entre os Estados Unidos, Canadá e Brasil não foi “Vamos propagar os ensinamentos” ou “Vamos aumentar o número de membros”. Ele se propôs a declarar continuamente: “O importante é que você se torne feliz” e “É importante que você persevere na fé”.

A jornada pela paz começou com o ato de acender a “chama da coragem” no coração dos companheiros que estavam perdendo a esperança de viver e daqueles que lutavam arduamente contra as adversidades:

Embora tais esforços pudessem parecer insignificantes e muito distantes da paz mundial, o alicerce para esse objetivo encontra-se apenas no ser humano. Shin’ichi sabia perfeitamente que a paz jamais poderia ser criada sem antes revitalizar todos os indivíduos e estabelecer a verdadeira felicidade na vida de cada um.3

As convicções e ações de Ikeda sensei não mudaram, mesmo durante as visitas de incentivo em outros países e localidades.

Em janeiro de 1961, apenas três meses depois da primeira viagem, ele seguiu para Hong Kong, Sri Lanka, Índia, Mianmar, Tailândia e Camboja. Então, a partir de 4 de outubro do mesmo ano, ele percorreu a Europa, visitando a Dinamarca, Alemanha, Holanda, França, Reino Unido, Espanha, Suíça, Áustria e Itália.

Mesmo em países onde ainda não havia nenhum membro da Soka Gakkai, ele prosseguiu recitando daimoku em seu coração com o desejo de que este penetrasse naquele solo e que despontassem ali, sem falta, os bodisatvas da terra.

Em janeiro de 1962, sensei visitou o Oriente Médio e, em 1964, viajou para a Europa Oriental e o norte da Europa. Na época em que a SGI foi criada, em 1975, ele já havia plantado as “sementes do incentivo”, as “sementes do kosen-rufu” e as “sementes da paz” em 36 países e territórios.

Superando as tempestades

Jornada de mestre e discípulo — os 95 anos da vida de Ikeda sensei

Em junho de 1983, durante a sua viagem da França para a Holanda [atual Países Baixos], em uma parada, Ikeda sensei desembarca na estação sul de Bruxelas, na Bélgica. Ele se dirige aos companheiros reunidos na plataforma e diz: “Vamos realizar uma reunião de palestra! Será a primeira reunião de palestra aqui!”. O tempo de parada é de apenas sete minutos. Mesmo após o trem começar a se locomover com maior velocidade, sensei assiste benevolentemente os companheiros até perdê-los de vista

Não houve nenhum lugar onde o kosen-rufu tenha se espalhado facilmente. Muito pelo contrário, sempre houve uma série de dificuldades enfrentadas.

Na Ásia, nos lugares em que o Japão invadiu durante a Guerra do Pacífico, a simples menção de “religião japonesa” já provocaria uma tempestade de críticas por conta do preconceito e da visão errônea. Em Taiwan, as organizações da Soka Gakkai receberam a ordem de dissolução por parte do governo em 1963; e em 1964, o governo sul-coreano tomou medidas para proibir a propagação dos ensinamentos da Soka Gakkai, rotulada nesses países como “organização antinacionalista”.

Nas décadas de 1960 e de 1970, regimes militares foram sendo estabelecidos em sucessão nos países das Américas Central e do Sul. As atividades da Soka Gakkai continuaram a ser realizadas em meio a situações de alerta, com restrições de aglomerações, e também as visitas de Ikeda sensei foram impedidas.

Sensei enviava mensagens e cartas de incentivo aos líderes da organização de cada país e território. Quando ficava sabendo da vinda de algum companheiro ao Japão, reservava um tempo em meio à sua agenda atarefada para encontrá-lo e encorajá-lo pessoalmente, com o sentimento de que aquela era uma oportunidade única na vida.

Às vezes, ele abraçava o companheiro calorosamente afirmando: “Não se preocupe, estou com você, então tudo vai ficar bem”. Outras vezes, principalmente para os jovens, ele enfatizava a essência do espírito da Soka Gakkai, dizendo: “Primeiro, aguente firme por cinco anos sem se afastar. Agora é a hora de sofrer. Se você não se tornar um verdadeiro leão, não será capaz de realizar o kosen-rufu!”. O que era consistente na ação de sensei era a paixão de “Vou reerguer esta pessoa! Não vou permitir que esta pessoa seja infeliz!”.

Sob a Guerra Fria entre o Oriente e o Ocidente, sensei enviou repetidamente mensagens aos companheiros do exterior, alertando-os: “Não sejam influenciados pelo sistema político”. Em 1981, na Alemanha ainda dividida em Oriental e Ocidental, ele falou sobre a razão da existência da SGI.

O capitalismo está em um impasse. O socialismo também está sem saída. Mas nós não estamos tentando discutir sobre cada sistema. Não importa qual o sistema político da sociedade, nosso movimento budista começa focando e iluminando cada indivíduo que se faz presente exatamente neste local.

Um por um, os companheiros foram se levantando em seu respectivo país e território e foram somando esforços para contribuir pelo bem da sociedade como bons cidadãos. A simpatia pelo movimento da SGI e a confiança na organização continuaram a crescer ano após ano. Diversos governos locais, assim como universidades, passaram a conceder títulos de cidadania honorária e títulos acadêmicos honorários em reconhecimento à notável liderança de Ikeda sensei.

Em fevereiro de 1987, sensei recebeu a Ordem Nacional da República Dominicana. Em uma reunião com os membros locais, ele expressou seu sincero sentimento: “Se possível, gostaria de dividir esta medalha em pedaços menores e entregá-los a cada um de vocês individualmente. Porque todos os senhores realmente vieram se esforçando em meio às dificuldades”. Então, disse: “O importante é que todos se tornem felizes. Ao receber essa homenagem, isso facilitará a realização de atividades da Soka Gakkai neste país. Minha medalha é fazer os membros felizes”.

Shin’ichi Yamamoto da nova era

Em 1993, quando a Soka Gakkai quebrou as correntes de ferro que a prendiam à seita herética que conspirou para sua destruição e alçou voo em direção à Renascença Soka — sensei percorreu a América do Norte, a América do Sul e a Ásia ao longo de três meses. Foi em meio a isso que ele iniciou sua batalha da escrita, a qual definiu como “Uma luta feroz contra o tempo limitado da vida”. Era a serialização da obra Nova Revolução Humana, que passou a ser publicada no Seikyo Shimbun em 6 de agosto daquele ano.

O volume 1 desse romance abre com o personagem Shin’ichi Yamamoto iniciando sua jornada pelo kosen-rufu e tendo em seu coração o sonho que lhe foi confiado por seu venerado mestre, Josei Toda: “Você deve ir para o mundo”.

“Nada é mais precioso do que a paz. Nada traz mais felicidade do que a paz. A paz é o primeiro passo para o avanço da humanidade”,4 afirma ele.

A solidariedade Soka de pessoas comuns que abarcava 115 países e territórios quando a publicação em série foi iniciada chegou a 192 países e territórios. Após a conclusão do volume 30, em 6 de agosto de 2018, a legião de “Shin’ichi Yamamoto da nova era” se expandiu ainda mais e, atualmente, o número de companheiros no exterior está próximo de 3 milhões.

As vozes ouvidas nos cinco continentes em louvor ao movimento pela paz, cultura e educação promovido pela Soka Gakkai não cessam. A SGI-Taiwan, que já tinha sido alvo de opressão no passado, foi condecorada com o Prêmio de Contribuição Social Religiosa por 21 anos consecutivos pelo Ministério de Assuntos Internos, comprovando o reconhecimento de sua notável contribuição para a sociedade taiwanesa. Mesmo na Coreia do Sul, são muitas e contínuas homenagens concedidas a Ikeda sensei e à Sra. Kaneko por organismos do governo e por instituições locais dos mais variados segmentos.

Em julho de 2016, o acordo religioso firmado entre o Instituto Budista Soka Gakkai da Itália e o governo da República Italiana, entrou em vigor. Além disso, naquele mesmo ano, a SGI-Alemanha foi reconhecida como “entidade jurídica de direito público” e deu sua nova partida como “Soka Gakkai da Alemanha”.

Em setembro de 2023, sensei conclamou em sua mensagem dedicada aos companheiros do mundo inteiro, em especial aos jovens de 44 países e territórios que foram ao Japão participar do Curso de Aprimoramento da SGI:

Junto com os “Shin’ichi Yamamoto” do mundo que se desenvolvem ilimitadamente, façamos o juramento de garantir a vitória e a prosperidade do Castelo dos Grandes Monarcas da Soka Gakkai, de cor dourada, a concretizar, sem falta, a transformação do destino da humanidade.5

As “sementes da paz chamada Lei Mística” que sensei semeou ao longo de sua vida não se limitam aos 54 países e territórios que ele visitou pessoalmente. Por meio da luta conjunta de mestre e discípulo com os preciosos amigos da unicidade que formam um só corpo, essas sementes foram de fato sendo plantadas no mundo inteiro, fazendo com que desabrochassem as flores humanas emergidas da terra. 

Foto: Seikyo Press

Notas:

1. IKEDA, Daisaku. SGI. Nova Revolução Humana. São Paulo: Editora Brasil Seikyo, v. 21, p. 38, 2019.

2. Ibidem.

3. Ibidem, v. 1, p. 47, 2019.

4. Ibidem, p. 9.

5. Brasil Seikyo, ed. 2.643, 23 set. 2023, p. 5.

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