Na prática
TC
Eleve seu brilho interior ao máximo
Ao nos depararmos com um ambiente em que há total ausência de luz, é instintivo sentirmos insegurança, e muitas vezes vacilamos até para dar um único passo com receio de tropeçar ou de colidir contra a parede. No Budismo de Nichiren Daishonin, um dos temas mais intrigantes é o conceito de “escuridão fundamental”. Isso porque, quando ela se faz presente, age de forma sorrateira e impede que o indivíduo enxergue seu verdadeiro valor como ser humano. Contudo, com o regresso da luz ou da “iluminação”, a alegria e a confiança brotam de maneira instantânea. Veja como irradiar a luz da esperança na prática.
06/07/2020
Entenda o conceito
Vamos entender a essência do conceito. “Escuridão fundamental” (gampon no mumyo, em jap.), ou “ignorância fundamental”, é a ilusão que está profundamente arraigada na vida e é ela quem dá origem a todas as outras ilusões.
“No budismo [escuridão fundamental] é considerada como a causa do sofrimento e das ilusões por impedir as pessoas de reconhecerem a verdadeira natureza da vida e também de abraçarem a fé na Lei Mística”.1 E isso equivale a não acreditar na própria dignidade e capacidade de transformar qualquer adversidade e, assim, impede o indivíduo de evidenciar uma condição de total liberdade — referido no budismo como iluminação ou condição de buda. Da mesma forma que a pessoa dominada pela escuridão deprecia sua natureza como entidade da Lei Mística, ou manifestação do Nam-myoho-renge-kyo, ela também não enxergará o potencial intrínseco da vida de outras pessoas. Como consequência, nascem os diversos conflitos — desde os familiares aos sociais e até as conflagrações mundiais —, e com isso ações desumanas se multiplicam aos montes.
O buda Nichiren Daishonin revela que todas as pessoas, assim como tudo no universo, possuem inerente a escuridão e a iluminação, o potencial para o mal e para o bem, para a infelicidade e a felicidade, para a destruição e a criação, ou seja, abrigam na própria vida a causa dos sofrimentos e a chave para sua solução.2
Agora que constatamos que o bem ou o mal, assim como a escuridão e a iluminação, são inerentes à vida humana, é fundamental entendermos como fazer prevalecer a luz cintilante do estado de buda em face das diversas circunstâncias da vida diária.
Rajadas de vento
Quando nos referimos à escuridão, o que vem à mente são os cenários extremamente adversos, tal como desemprego, problemas de relacionamento ou concernentes à saúde mental e física a ponto de distanciar as pessoas da prática da fé.
À medida que o indivíduo sofre em meio às circunstâncias, ou seja, se sente incapaz de lidar com as situações negativas e lamenta a má sorte, não consegue perceber que ele mesmo é um buda. Sobre isso, o presidente Ikeda manifesta:
O que deixa a pessoa com a sensação de impotência e desespero é ela desistir de tentar, acreditando que “não dá mais”. Desistir assim é simplesmente fechar com as próprias mãos as portas do infinito potencial da sua vida e aprisionar completamente o seu espírito. A desistência é a causa da derrota.3
Por outro lado, em momentos de grande extasia, a pessoa fica totalmente embevecida pelos ventos, ditos favoráveis, que podem afastá-la da prática budista por considerar que tenha alcançado os objetivos almejados e por presumir que o budismo não terá mais serventia.
Seja diante de acontecimentos que testam a capacidade física e espiritual ou mesmo quando a pessoa obtém a prosperidade, essas duas condições aparentemente opostas, mas que provocam falta de clareza, e que resultam na ideia de que “não consigo” ou “não preciso”, também são a causa fundamental da infelicidade.
No entanto, ao contrário da escuridão, a iluminação é a força subjacente que também é inerente à vida de todas as pessoas. Sua origem reside na fé na Lei Mística, isto é, na absoluta crença de que “eu” tenho a capacidade e a força para transformar o infortúnio em felicidade. Ao recitar daimoku com essa determinação pulsante, a pessoa ilumina suas ações, e sua postura mental passa a ser mais otimista e confiante.
Seja persistente
Uma das ações da “escuridão fundamental” é justamente ceifar a energia vital, e como consequência a pessoa fica inerte ante às adversidades. Podemos elucidar essa observação, quando um indivíduo reconhece uma característica, seja uma crença ou mesmo um comportamento, prejudicial a si ou aos outros à sua volta, e ainda assim não tem coragem ou forças para transformá-la. Essa fraqueza pode ser considerada a própria ação da escuridão fundamental.
No entanto, quando há o entendimento e também a mudança efetiva, aí sim, a escuridão é superada. Tomemos como exemplo uma pessoa que fuma. Ela tem consciência de que o hábito de fumar é prejudicial à saúde e ao mesmo tempo acredita ser muito difícil se desvencilhar desse vício. Apesar disso, inicia uma profunda batalha, consciente de enfrentar duras quedas durante o percurso e dores suplantadas — mas com persistência consegue parar de fumar —, essa força interior que a pessoa manifesta ao longo do processo é a própria condição da iluminação. Além disso, essa vitória pessoal também servirá de inspiração para muitas outras pessoas.
Jamais perca a esperança
Num ensaio direcionado às mulheres, o presidente Ikeda compartilhou a história de uma jovem senhora que venceu a doença.
Essa mulher, citada por Ikeda sensei no ensaio, percebeu que surgira um caroço debaixo do queixo, e por essa razão decidiu fazer exames mais detalhados. Ao saber que a situação dela era grave, ele lhe dedicou um poema:
Viva sua existência com
confiança,
e triunfe sobre todas elas,
gargalhando da
maldade da doença
e se tornando a rainha da
longevidade.4
Antes de ser hospitalizada, ele enviou novamente incentivos para encorajá-la.
Não se preocupe. Seja confiante. Minha esposa e eu estamos orando por você. Tranquilize sua mente e, independentemente do que descubra, não permita ser intimidada pela doença. Não se deixe ser derrotada. Uma vez mais, não há nada que se preocupar. Cuide-se!5
Os resultados dos exames indicaram que ela estava com câncer — linfoma maligno. Mesmo recebendo esse duro diagnóstico, ela enviou uma carta ao presidente Ikeda expressando sua decisão em vencer a doença: “Graças aos seus constantes incentivos, fui capaz de aceitar o diagnóstico com muita calma. Seguirei seu conselho de ‘gargalhar das maldades da doença’ com a decisão de lutar alegremente e vencer.”6
Os pacientes internados naquele hospital atravessavam desafios semelhantes ao dela. Alguns se lamentavam e diziam preferir a morte do que enfrentar o doloroso tratamento. A mulher observava as pessoas à sua volta e compreendia seus medos e a ansiedade diante dessas situações. Contudo, ela decidiu encarar a doença com inabalável coragem.
O presidente Ikeda discorre no ensaio sobre o desfecho da história de coragem dessa mulher:
Ela teve de tomar todo o cuidado durante um ano, pois a quimioterapia enfraquecia sua imunidade. Mas, fora perder o cabelo, não teve nenhuma dor ou efeito colateral.
Agora essa jovem senhora é ainda mais ativa do que antes de descobrir a doença, e um grande número de pessoas a procurou para receber conselhos sobre como lidar com problemas de saúde, pois sabia que ela havia superado a séria doença de maneira categórica.
Ela compartilha de coração sua experiência com as pessoas, incentivando-as sinceramente. Nada transmite mais segurança e esperança do que palavras de incentivo, embasadas em experiência pessoal, que brilham de convicção.7
Mesmo diante de um diagnóstico arrasador, ela não foi envolvida pela escuridão; com coragem e bravura, não sucumbiu e venceu a doença. A vitória em não se abater e triunfar sobre o medo simboliza a cristalização da felicidade.
Iluminar o mundo com o brilho do Budismo do Sol
Num momento em que as crises em escala global se intensificam, os ensinamentos do Budismo de Nichiren Daishonin, praticados pela SGI, têm papel fundamental para que a prosperidade da humanidade e a paz mundial sejam efetivamente concretizadas. Há mais de duas décadas, o presidente Ikeda proferiu incentivos para os líderes da SGI-Estados Unidos, e essa reflexão se encaixa precisamente nos dias atuais:
O mundo atual carece intensamente de esperança, de uma perspectiva positiva e de uma sólida filosofia. Não há nenhuma luz brilhante a iluminar o horizonte. Tudo está num impasse — a economia, a política e as questões ambientais e humanitárias. E os próprios seres humanos — a força motriz de todas essas esferas — também estão perdidos e não sabem como avançar.
É por isso que nós, bodisatvas da terra, aparecemos. É por essa razão que o Budismo do Sol de Nichiren Daishonin é tão essencial. Nós nos levantamos, segurando bem alto a tocha da coragem em uma mão e a filosofia da verdade e da justiça na outra. Nós começamos a agir para romper corajosamente a escuridão (...) da sociedade e do mundo.8
Quando evidenciamos nossa humanidade, burilada por meio da prática budista e dos incentivos acolhedores do presidente Ikeda, lançamos a luz da compaixão, da benevolência e da esperança às pessoas ao nosso redor, e assim contribuímos verdadeiramente para que a paz mundial seja aos poucos edificada.
Sendo assim...
Para dissipar a escuridão encrustada no âmago da vida, é importante evidenciar um forte eu, a partir da recitação convicta do Nam-myoho-renge-kyo, além de alicerçar suas ações no comportamento humanístico do presidente Ikeda e dos mestres antecessores. Dessa forma, indicamos quatro passos essenciais para a vitória absoluta no Budismo Nichiren:
- Faça uma auto-observação para descobrir a causa principal do seu sofrimento — a qual pode ser derivada de uma crença ou comportamento. Esse hábito, além de resultar em profunda angústia, pode provocar dissabores às outras pessoas. Independentemente da causa, esteja certo em transformar tudo em oportunidade para a vitória. Por isso, decida fazer do seu universo interior, a partir de um vigoroso daimoku, uma fortaleza de coragem e de otimismo para deter qualquer expressão de negatividade.
- Decida vencer a cada dia com base na fé e jamais perdê-la, não importa o que aconteça, principalmente quando defrontar com grandes obstáculos. Ao cerrar os punhos e determinar que será vitorioso em qualquer circunstância, estará empregando a iluminação diante da escuridão inata da vida.
- Busque a companhia de pessoas encorajadoras e que ao mesmo tempo estejam dispostas a trocar incentivos mútuos com você. Ter um suporte de “bons amigos” que exerçam influência positiva é fundamental para atravessar um período de grande escuridão.
- Quando rompemos a escuridão e irradiamos as pessoas com o brilho da felicidade, passamos a ser confiados por aqueles que nos cercam. Como resultado, eles compreendem e apreciam o budismo porque nossas atitudes e comportamento as inspiram a ter esperança, coragem e confiança. Dessa forma, ao se iluminar, a pessoa será capaz de contribuir para a iluminação de outrem. E isso é a efetiva contribuição para que a escuridão fundamental em escala global também seja dissipada, ou seja, é a concreta realização do empreendimento denominado kosen-rufu.
Brilhe ao máximo
Quando rompemos a escuridão fundamental e preenchemos a vida com a luz ofuscante da Lei Mística, e como consequência alteramos a rota de amargura e de infelicidade de inúmeras pessoas, atingimos o ápice da prática budista chamada estado de buda ou iluminação.
Praticando o Budismo Nichiren, nós, membros da Soka Gakkai, atingimos uma condição na qual percebemos profundamente que nós próprios somos entidades da Lei Mística e que possuímos potencial ilimitado. Kosen-rufu não é nada além da construção de uma era de revolução espiritual na qual cada pessoa atue alicerçada na crença profunda na natureza de buda infinitamente nobre inerente a todos os seres humanos. Estamos liderando o movimento para efetuar uma grande mudança no destino da humanidade.9
Portanto, manifeste toda a coragem diante dos desafios que surgirem neste exato momento, seja a intempérie que for. A determinação em dar o primeiro passo, de persistir e não ser derrotado pelas fraquezas fará com que seu brilho interior se eleve ao máximo. Então, irradie em todas as pessoas a luz da felicidade!
Notas:
1. Terceira Civilização, ed. 437, jan. 2005, p. 46.
2. Terceira Civilização, ed. 450, fev. 2006, p. 6.
3. Brasil Seikyo, ed. 2.189, 20 jul. 2013, p. A11.
4. Brasil Seikyo, ed. 2.290, 5 set. 2015, p. B4.
5. Ibidem.
6. Ibidem.
7. Ibidem.
8. Brasil Seikyo, ed. 1.397, 19 out. 1996, p. 4.
9. Brasil Seikyo, ed. 2.373, 27 maio 2017, p. C4.
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