Na prática
TC
Fazer o bem faz tão bem!
08/07/2022
Dispomos de inúmeras atribuições e preocupações na vida diária — na família, nos cuidados com o bem-estar de cada integrante; na saúde, na atenção com a qualidade de vida; no trabalho, em nos mantermos engajados com as diretrizes da corporação. A todo instante, direcionamos energia e dedicação a um setor ou a outro da vida. Comumente, o decurso da existência das pessoas transcorre assim. No entanto, além das preocupações individuais, os integrantes da Soka Gakkai se empenham em contribuir para que o maior número de pessoas ao seu redor manifeste máximo resplendor.
Com certa frequência, aprendemos nas atividades da organização e também na leitura dos incentivos do presidente da Soka Gakkai Internacional (SGI), Dr. Daisaku Ikeda, o conceito de prática altruística. Ou seja, nosso sincero empenho em contribuir para o crescimento do outro, ao oferecer o que temos de mais genuíno — um sorriso, uma palavra ou um gesto de carinho e conforto. Toda a dedicação pensando na felicidade das demais pessoas retorna de modo positivo para nossa vida.
Numa sociedade em que costumeiramente presenciamos o “individualismo”, empenhar-se pelo bem-estar de alguém pode parecer “bobagem”. Em contrapartida, vemos pessoas que sofrem com excessos, seja de trabalho ou mesmo de preocupações. Logo, elas podem manifestar o pensamento de que se esforçar pelos outros seria mais uma tarefa desgastante emocionalmente. Entretanto, quando percebemos que essa atitude faz a diferença na vida das pessoas, o sentimento de missão cumprida desponta.
De acordo com o presidente Ikeda, essas são as ações mais nobres de todas. Ele diz:
Ao ajudar outras pessoas a se tornarem felizes, nós também nos tornamos felizes. Esse também é um princípio da psicologia. Como aqueles que estão sofrendo nas profundezas do inferno, a ponto de perder a vontade de viver, podem levantar-se novamente? Se meramente pensarem sempre em seus próprios problemas, irão se afundar ainda mais em seu desespero. Porém, o simples ato de ir ao encontro de outras pessoas que também estão sofrendo e oferecer-lhes um apoio possibilita a essa pessoa reaver sua vontade de viver. Quando agimos para ajudar o outro, isso nos possibilita fortalecer nossa própria vida.1
Podemos ilustrar essa ação da seguinte maneira. Imagine que você esteja com pessoas num local totalmente escuro. Ao acender uma lanterna para iluminar o caminho daquelas que o cercam, prontamente o lugar será iluminado para você também. Com certeza, tentar fazer a diferença na vida das pessoas é um dos caminhos da transformação pessoal e a manifestação concreta da prática altruística do budismo.
Sendo assim, vamos entender o que são as “ações mais nobres de todas” apresentadas por Ikeda sensei. Boa leitura!
Cultive um coração altruísta
Sabemos que muita preocupação, tensão ou medo podem resultar em doenças como transtorno de ansiedade generalizada (TAG) — tipo de distúrbio caracterizado pela “preocupação excessiva ou expectativa apreensiva”.2 Mas, conforme afirma o presidente Ikeda, “Ao ajudar outras pessoas a se tornar felizes, nós também nos tornamos felizes”. Vamos entender como esse pensamento opera em nossa vida.
Um estudo,3 liderado por Stephen G. Post, pesquisador e professor da Faculdade de Medicina da Universidade de Chicago, defende que emoções e comportamentos altruísticos, em relação aos outros, estão associados a maior bem-estar, saúde e longevidade. O artigo apresenta resumo e avaliação de dados de pesquisas existentes sobre altruísmo e sua relação com a saúde física e mental. Segundo o estudo, o altruísmo adulto — isto é, o comportamento voluntário motivado pela preocupação com o bem-estar do outro — esclarece que essa prática aumenta os níveis de satisfação, o senso de propósito, melhora o humor e reduz o estresse.
As atividades da Soka Gakkai no mundo inteiro têm como premissa possibilitar que cada integrante da organização cultive um coração altruísta e, dessa forma, promova efetivamente ações que auxiliem as pessoas que requerem atenção e cuidados. Em geral, esses encontros, principalmente aqueles realizados em nível de bloco e de comunidade da organização, por proporcionarem maior pessoalidade, são permeados de compartilhamentos de experiências dos membros que relatam seus desafios e vitórias por meio da prática budista.
Iluminar o caminho do outro
A ilustração da lanterna citada no início da matéria está amparada nos escritos do Buda. O presidente Ikeda comenta:
Nichiren Daishonin escreve: “Ao acender uma chama para os outros, a pessoa iluminará seu próprio caminho”.4 Quando nos preocupamos com o bem-estar dos outros e lhes estendemos uma mão amiga, não estamos apenas agindo para ajudá-los, mas também criando boa sorte para nós mesmos.5
Membros em todo o mundo acataram com profunda sinceridade esses ditos dourados do buda Nichiren Daishonin e os adotaram como diretriz pessoal em suas ações diárias.
Além disso, nos registros da civilização moderna, encontramos inúmeras referências de pessoas que empreenderam importantes trabalhos preocupadas com a segurança, tranquilidade e felicidade dos outros. Uma biografia que retrata bem as “ações mais nobres de todas” e que se tornou um farol para iluminar a vida de muitas pessoas é a de Florence Nightingale, fundadora da enfermagem moderna. O presidente Ikeda relata a trajetória de vida dessa mulher de coração e ação altruísticos. Vejamos a seguir.
Contribuir para o bem-estar do próximo
Ela nasceu em uma rica família de classe alta. Na juventude, mesmo enfrentando a oposição dos familiares e dos amigos, foi em busca da concretização do seu ideal de vida: ajudar aqueles que mais sofriam. Sua história deixa um imponente legado de amor pela humanidade que inspiraria as futuras gerações.
Essa mulher é Florence Nightingale (1820–1910) — fundadora da enfermagem moderna. Ela era terna e carinhosa, abnegada e apaixonada. Tinha a sensibilidade de um bodisatva ante a dor e o sofrimento dos semelhantes.
Seu exemplo vibrante realmente me lembra as integrantes das Divisões Feminina e Feminina de Jovens nos primórdios da Soka Gakkai.
Quando Florence Nightingale estava com 25 anos, sua avó e sua criada ficaram seriamente doentes. Florence passou a cuidar delas. À medida que cuidava das enfermas, começou a se sentir revitalizada. Percebeu que, trabalhando para ajudar outros, ajudava a si própria.
Florence compreendeu que para exercer seu trabalho era necessário não apenas benevolência e paciência, mas também conhecimento apropriado e treinamento. Ela informou aos familiares que queria cursar enfermagem. Eles se opuseram firmemente.
Florence ficou angustiada pela oposição de sua família, tanto que ela mesma adoeceu. Quando finalmente havia encontrado o propósito de sua vida, a oportunidade de realizá-lo lhe era negada!
Às escondidas da família, acordava cedo e estudava por conta própria sobre organização e administração hospitalar, saúde pública e outros temas relevantes. Posteriormente, veio a ser considerada especialista nesses campos.6
Durante a Guerra da Crimeia (1853-1856), Florence leu nos jornais os relatos do enorme número de mortes e de soldados feridos e doentes. De imediato, ela decidiu ajudar no fronte de combate com seu ofício de enfermagem. Exatamente naquela época, o secretário de guerra britânico planejava enviar enfermeiras para auxílio aos combatentes debilitados e havia selecionado Florence para essa tarefa. Ela foi designada para trabalhar em um hospital militar britânico, localizado na Turquia. Nesse local imundo, infestado de ratos, era mais frequente os soldados morrerem de cólera, tifo e outras doenças causadas pelas precárias condições de higiene do que de seus ferimentos. Era uma tragédia deplorável. Como chefe da equipe de enfermeiras, Florence lançou-se ao trabalho em meio a tudo isso.
Quanto mais grave o estado do paciente, mais diligentemente ela cuidava dele. Florence fazia tudo o que estava ao seu alcance para amenizar o sofrimento dos feridos. Estava sempre lá, ao lado do leito dos que não tinham mais chances de sobreviver. Um dos médicos escreveu, com surpresa e admiração: “Acredito que não houve um único caso de gravidade que tenha escapado ao seu conhecimento. E, às vezes, era maravilhoso vê-la junto ao leito de um paciente que havia sido internado apenas uma hora antes e cuja chegada dificilmente alguém suporia que ela já tivesse conhecimento”.7
Dizem que a pioneira da enfermagem também ficou conhecida por sua habilidade de encorajar os deprimidos e desesperados. Suas palavras vigorosas e alegres possuíam a força de restaurar a determinação do indivíduo mais desanimado. Certamente, quando agia para revigorar as pessoas, o sentimento de missão cumprida brotava no coração de Florence.
Ações mais nobres de todas
A história de vida da Florence é comovente e inspiradora, e não está distante das atuações de inúmeros integrantes da SGI — que se dedicam genuinamente à felicidade daqueles que os cercam. E o que residia no íntimo da pioneira da enfermagem era cuidar da saúde das pessoas, e isso lhe proporcionava enorme senso de realização. O presidente Ikeda diz:
Enquanto nos empenhamos [como membros da organização] corajosamente na sociedade, estamos propagando o kosen-rufu pelo bem da Lei e pela felicidade dos seres humanos. Como resultado de nossos esforços, um grandioso benefício brotará em nossa vida.8
Com o intuito de contribuir para o florescimento da realização das “ações mais nobres de todas”, Ikeda sensei sugeriu cinco diretrizes9 para as componentes da Divisão Feminina do mundo, contemplando também os membros da Divisão Sênior e da Divisão dos Jovens:
1. Tudo começa com a oração
A recitação do Nam-myoho-renge-kyo faz despertar a vitalidade, energia, sabedoria e coragem para incentivar e iluminar a vida das pessoas ao redor.
2. Avançar em harmonia com nossos familiares
Essa sabedoria e energia, oriundas da prática budista, quando convertidas em amparo, respeito e incentivos podem aquecer e unir o coração de cada integrante e, dessa forma, toda a família será iluminada.
3. Treinar jovens sucessores
O incentivo sincero pode alterar positivamente a trajetória de vida das pessoas. Ikeda sensei vem transmitindo encorajamento em suas ações ao longo de sua jornada pelo kosen-rufu, em especial aos mais jovens. Seguramente, essa dedicação do Mestre cooperou com o êxito de inúmeras pessoas.
4. Estimar nossa comunidade e nossa sociedade
O ato de contribuir, seja com a doação de tempo a ações voluntárias específicas, de gentileza ou de encorajamento, faz com que nos conectemos aos outros. E como retorno, a sensação de pertencimento à comunidade local aumenta, contribuindo para a felicidade de si e dos demais.
5. Compartilhar alegremente com todos nossas experiências na prática da fé
Quando alcançamos uma vitória com o esforço e a dedicação provenientes da prática da fé, prontamente a compartilhamos com as pessoas queridas, a fim de dividir nosso entusiasmo e nossa alegria. Essa felicidade os contagia e os motiva a desafiar suas circunstâncias também.
O compromisso de contribuir de maneira positiva para a sociedade e promover ações que valorizem uma única pessoa são a força motivadora e fonte de orgulho dos membros da Soka Gakkai do mundo todo.
Precioso tesouro da vida
Em nossa trajetória, vamos encontrar pessoas para quem desejamos transmitir força e coragem. Então, nós nos empenhamos para recitar daimoku pela felicidade delas e lhes enviamos mensagens de reflexão e de encorajamento. Porém, pode ser que essa pessoa não demonstre tanto entusiasmo diante de todo o empenho. Como resultado, o sentimento de que nossos esforços parecem em vão pode se manifestar. Quando isso acontecer, o presidente Ikeda sugere:
Essas atitudes podem parecer insignificantes e, muitas vezes, o fazem sentir que não está chegando a lugar algum; mas, no futuro, quando olhar para trás, perceberá que nenhum esforço foi em vão. Pelo contrário, o desafio de se encontrar com outras pessoas e incentivá-las o transformou em um indivíduo forte. Verá que orar pela felicidade do amigo enriquece a própria vida. Quanto mais o tempo passa, mais notará que toda ação se torna um precioso tesouro em sua vida.10
Como vimos na trajetória da inglesa Florence Nightingale, ao ajudar as pessoas queridas, ela encontrou o verdadeiro ofício — cuidar da saúde daqueles que mais sofriam. Apesar de ser desencorajada e decerto tendo ponderado em alguns momentos se todo esforço valeria a pena, ela não desistiu. Assim, mesmo diante de diversos reveses e desafios, Florence conseguiu exercer sua missão como enfermeira, tornou-se plenamente realizada e é inspiração para muitas gerações.
Agora, tendo como base a história de vida da inglesa e as diretrizes do presidente Ikeda, à sua maneira, compartilhe gentileza e coragem com aqueles ao seu redor. Além de iluminar a vida deles, clareará ainda mais seu genuíno coração altruísta. Pois fazer o bem faz muito bem!
Notas:
1. Brasil Seikyo, ed. 2.254, 6 dez. 2014, p. B3.
2. Disponível: https://drauziovarella.uol.com.br/doencas-e-sintomas/ansiedade-transtorno-de-ansiedade-generalizada/ Acesso em: 8 fev. 2022.
3. Disponível: https://greatergood.berkeley.edu/images/uploads/Post-AltruismHappinessHealth.pdf Acesso em: 8 fev. 2022.
4. The Writings of Nichiren Daishonin [Os Escritos de Nichiren Daishonin]. Tóquio: Soka Gakkai, v. II, p. 1060.
5. Brasil Seikyo, ed. 2.431, 11 ago. 2018, p. B2.
6. Cf. Terceira Civilização, ed. 444, ago. 2005, p. 38.
7. Terceira Civilização, ed. 444, set. 2005, p. 38.
8. Brasil Seikyo, ed. 1.743, 10 abr. 2004, p. A3.
9. Idem, ed. 1.998, 8 ago. 2009, p. A4.
10. dem, ed. 2.254, 6 dez. 2014, p. B2.
Compartilhar nas