Conheça o Budismo
BS
Ressignifique-se!
O princípio budista de "desejos mundanos são iluminação"vai muito além do óbvio - não há mal algum querer algo, mas não pode ser só isso
16/11/2019
Uma explicação cuidadosa
No quarto mês do nono ano de Bun’ei (1272), Nichiren Daishonin (1222—1282) escreveu uma carta para seu discípulo Shijo Kingo, um samurai conhecido também por sua habilidade na medicina. No escrito Desejos Mundanos São Iluminação, Daishonin compartilha a seguinte frase do Sutra do Lótus (obra que forma a base do ensinamento budista): “A sabedoria dos budas é infinitamente profunda e imensurável” (CEND, v. I, p. 334). Nesse sentido ele faz algumas considerações que, simplificando, explicamos da seguinte forma:
- Sabedoria corresponde à “entidade do verdadeiro aspecto de todos os fenômenos1 e dos dez fatores da vida2 que conduzem os seres ao estado de buda” (Ibidem, p. 335).
- Essa entidade é o próprio Nam-myoho-renge-kyo — o verdadeiro aspecto de todos os fenômenos.
- Myoho-renge-kyo corresponde ao verdadeiro aspecto inerente a todas as pessoas.
- Revela ainda que “verdadeiro aspecto” corresponde ao próprio buda Shakyamuni, e “todos os fenômenos”, ao buda Muitos Tesouros.
- Para completar esse raciocínio, declara que “essas duas frases também representam ainda os elementos da ‘realidade’ e da ‘sabedoria’”. E que esses dois aspectos também são conhecidos como “desejos mundanos são iluminação” e “os sofrimentos de nascimento e morte são nirvana” (Ibidem).
Reciclando o conceito de “desejos mundanos”
Alguns sutras defendiam a ideia de que as pessoas deveriam abrir mão dos desejos mundanos para conseguir purificar seus sentidos e se livrar das causas negativas cometidas, pois somente assim atingiriam a iluminação. Porém, Nichiren Daishonin revela que o princípio de “desejos mundanos são iluminação” é a essência do Sutra do Lótus. Daishonin explica que, no budismo, é por meio da recitação contínua do Nam-myoho-renge-kyo (daimoku) que fazemos surgir nosso verdadeiro aspecto de buda, que direciona positivamente todos os fenômenos do universo. Com a recitação sincera do daimoku, é possível compreender a realidade como ela é, guiando-a com a sabedoria da condição de buda. Isso deixa claro que é impossível não “desejar”, pois esse querer está diretamente relacionado não apenas às nossas vontades, mas também às necessidades mais fundamentais da vida humana.
Reutilizando no dia a dia
O que você faz com aquela garrafa plástica que um dia estava cheia de suco? Descarta cuidadosamente? Joga fora junto aos demais tipos de lixo? Reaproveita o recipiente? Você deve ter se perguntado “Mas o que eu vou fazer com um plástico vazio?”. A resposta para isso não sabemos, mas o que temos certeza é de que agora você tem em mãos uma grande responsabilidade, a de dar um destino ecologicamente adequado a essa garrafa, pois quando comprou o suco a garrafa veio junto. Fazendo uma relação com o princípio de “desejos mundanos são iluminação”, esses dois pontos, “desejos” e “iluminação”, são inseparáveis; ambos são uma expressão da própria vida e possuem a mesma origem, o que reforça que um não existe sem o outro.
Criando algo positivo
Com essa referência ao recipiente plástico, concluímos que ele serve como matéria-prima para muita coisa. Porém, para ressignificá-lo, é preciso ter criatividade. No caso do nosso princípio básico budista, aprendemos com a explanação do presidente Ikeda que os desejos mundanos não devem ser a finalidade da vida, mas sim um meio que nos conduza à iluminação. Sensei afirma que “Quando nos dedicamos a realizar o grande juramento pelo kosen-rufu, transformamos tudo, sem exceção, em fonte de criação de algo positivo. Este é o verdadeiro significado de ‘desejos mundanos são iluminação’” (Terceira Civilização, ed. 583, mar. 2017, p. 58).
O planeta agradece
Mudar nossos hábitos não é tarefa fácil, mas quando se fala do ambiente em que vivemos, precisamos realmente fazer um esforço um pouco maior. Daí a necessidade de destinarmos corretamente os materiais recicláveis. O mesmo ocorre quando a questão é sobre transformar a vida para uma condição mais positiva. A partir do momento em que a pessoa baseia a vida na sincera, firme e contínua prática budista, todas as orações pela concretização de seus “desejos mundanos” agem a favor da sua felicidade e da felicidade dos demais. O Nam-myoho-renge-kyo é tão poderoso que faz surgir força, positividade e criatividade necessárias para sair de qualquer situação difícil. Quando uma pessoa recita daimoku, imediatamente os “desejos mundanos” tornam-se iluminação. O que farei com uma garrafa plástica vazia? As opções são muitas, desde que faça algo que sirva para beneficiar a você mesmo, os demais e o planeta.
Compartilhar nas