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Nosso coração pulsa no ritmo do rugido do leão de luta conjunta

[15] Ter os escritos de Nichiren Daishonin como base eterna Parte 2 [de 2]

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15/06/2019

Nosso coração pulsa no ritmo do rugido do leão de luta conjunta

Explanação

O grande escritor russo Liev Tolstói (1828–1910), cujas obras li avidamente em minha juventude, observou com aguçada percepção: “A vida do homem é determinada por seus pensamentos”.1

Assim como “árvores gigantescas se desenvolvem de uma única semente”, o pensamento possui um enorme poder que “determina esse ou aquele ato de um indivíduo e de milhões”,2 apontou Tolstói. “Nossa vida é boa ou má”, afirmou ele, “dependendo dos nossos pensamentos”.3 Por isso, devemos prestar grande atenção ao pensamento ou à filosofia que guia nossa vida.

Para nós, isso significa basear nossa vida na Lei Mística. Fazer dos supremosensinamentos do budismo o alicerce que nos permite triunfar na vida. Assim, continuamos a nos desafiar e a avançar com forte fé, impulsionados pelas “duas rodas” da prática e do estudo. O estudo orientado para a prática é tradição da Soka Gakkai, e fé quer dizer fundamentar nossas ações no Gosho, os escritos de Nichiren Daishonin.

Os escritos de Nichiren Daishonin são fonte de esperança, coragem e vitória

Pouco após meu mestre, Josei Toda, tomar posse como segundo presidente da Soka Gakkai, em maio de 1951, e começar a abrir novos caminhos para um desenvolvimento sem precedentes no avanço do kosen-rufu, registrei minha determinação, como discípulo direto dele, de liderar por meio do exemplo:

A Lei verdadeira: Compreenda-a profundamente!

A Lei verdadeira: Propague-a amplamente!

A Lei verdadeira: Aplique-a com todo o vigor na vida diária!

A Lei verdadeira: Enalteça-a com todo o louvor!

A Lei verdadeira: Deixe-a fluir com toda a pureza até as profundezas do seu ser!4

Escrevi isso em meu diário à noite, depois de assistir à explanação de Toda sensei sobre o escrito de Nichiren Daishonin intitulado Carta de Sado (em 26 de maio de 1951).

Tive a felicidade de presenciar inúmeras explanações do Gosho proferidas por meu mestre.Em cada explanação, não queria perder uma única palavra e procurava gravá-las no âmago da minha vida. Muitas vezes, eu me emocionava intensamente com as preleções dele, que eram repletas de entusiasmo e determinação, e ficava impressionado com a profunda dívida de gratidão que nós, como praticantes, temos com o budismo.

Participar das explanações de Toda sensei sempre me estimulava a estudar ainda mais por conta própria. Ao retornar para casa tarde da noite, depois das atividades da Soka Gakkai, apesar de cansado, instigava a mim mesmo a ler o Gosho. A leitura de uma única página que fosse inundava meu coração com a luz da esperança, me enchia de coragem para assumir novos desafios e gerava um novo impulso e energia para vencer novamente no dia seguinte. Registrava passagens inspiradoras dos escritos em meu diário. Além disso, muitas vezes em meio à nossa luta conjunta, lia o Gosho com veteranos da fé e outros companheiros próximos.

Por outro lado, eu, como discípulo que recebera treinamento integral participando das preleções do inigualável mestre, Josei Toda, sempre encarava cada explanação realizada por mim com grande seriedade e tentava oferecer incentivos e orientações solidamente alicerçadas nos escritos de Nichiren Daishonin. Ao me dirigir aos membros do Japão e do mundo todo, sempre recorri ao Gosho e compartilhei com eles os princípios humanísticos do budismo. Continuo proferindo explanações até hoje, determinado a abrir o caminho da nova era do kosen-rufu mundial com base nos escritos de Nichiren Daishonin.

Explanações realizadas em Tohoku em julho, mês de fundação das Divisões Masculina e Feminina de Jovens

Julho, mês dos jovens, também é o mês da vitória de mestre e discípulo. Isso porque em julho 1951 — decorridos apenas dois meses desde a posse do meu mestre como presidente — ocorreu a fundação da Divisão Masculina de Jovens (DMJ) e da Divisão Feminina de Jovens (DFJ), cujos integrantes possuem a profunda missão de suceder nosso movimento.

“Tudo cabe aos discípulos!” — imbuído de ardente determinação, unido em espírito ao meu mestre e envolto pela energia e pelo entusiasmo daquela época, decorrentes da fundação da DMJ no dia 11 de julho e da DFJ no dia 19, fiz minha primeira viagem à província de Miyagi, na região de Tohoku, Japão (de 14 a 15 de julho). Fui enviado para lá com vários líderes veteranos, e me pediram que explanasse o Gosho para os membros. Os escritos escolhidos foram Resposta à Monja Leiga Nichigon e Carta de Sado.

Além de atuar como responsável pela DMJ da comunidade, também integrava o Departamento de Explanação do Gosho (precursor do Departamento de Estudo), na qualidade de explanador assistente. Vinte e quatro integrantes compunham esse departamento, que possuía quatro níveis de qualificação: explanador assistente, explanador, professor adjunto e professor.

No dia 1º de setembro de 1951, o Departamento de Explanação do Gosho passou a se chamar Departamento de Estudo, e dentre as atribuições dos integrantes figurava a realização de explanações dos escritos nas comunidades e nos distritos.

Toda sensei treinou esse grupo de explanadores pessoalmente e com muito rigor. Ele nos disse: “Não sejam arrogantes. Sejam gratos pela oportunidade de proferir explanações sobre o Budismo de Nichiren Daishonin e por haver membros para ouvi-los”. E também instruiu: “Explanem com convicção, em meu nome!”. Desse modo, ele nos ensinou que explanar o Gosho constitui uma solene luta conjunta de mestre e discípulo.

Explanações do Gosho em Kawagoe, Saitama

A primeira organização à qual fui designado para explanar um Gosho como integrante do Departamento de Estudo foi a Comunidade Kawagoe, do Distrito Shiki, província de Saitama, lugar que guardo com muito carinho em meu coração.

De 25 de setembro de 1951 ao início de 1953, percorri regularmente um longo percurso para realizar explanações. Depois do trabalho corria para pegar o trem da Linha Tobu Tojo, em Ikebukuro, Tóquio — passando por Wako, Asaka, Niiza, Shiki, Fujimi, Fujimino e outras áreas de Saitama — no trajeto até Kawagoe. Pelo que me lembro, lá fiz cerca de dez explanações ao todo.

Estudamos mais de uma dezena de escritos de Nichiren Daishonin, entre os quais As Perseguições ao Venerável, A Prática dos Ensinamentos do Buda, A Herança da Suprema Lei da Vida, O Aspecto Real do Gohonzon, e Carta de Teradomari.

Os certificados de participação na explanação eram conferidos em nome do “Presidente da Soka Gakkai, Josei Toda”, com seu carimbo aposto no documento. Listavam também o título do escrito explanado, o nome do explanador e a comunidade ou distrito onde a explanação havia acontecido. Eram entregues a todos os participantes. A simples outorga desses certificados já demonstrava a seriedade de Toda sensei em relação às explanações.

Os vários escritos de Nichiren Daishonin que explanei em Kawagoe inspiraram os membros a desenvolver sua fé e a empreender ações para desbravar caminhos para o kosen-rufu. Nesta oportunidade, gostaria de me concentrar em dois desses escritos em particular: Resposta à Monja Leiga Nichigon e Carta de Sado.

Trecho do escrito 1

Resposta à Monja Leiga Nichigon

Depositei diante do Sutra do Lótus o seu pedido de oração, datado do oitavo dia do décimo primeiro mês do terceiro ano de Koan [1280], junto das oferendas de mil moedas e um manto sem forro confeccionado com fibras de casca de árvore. Já transmiti essa oração às divindades do Sol e da Lua; assim, agora, não há necessidade de ficar deduzindo o que acontecerá. Se a sua oração será ou não respondida, isso dependerá de sua fé; [caso não seja,] de maneira alguma deverá me culpar.

Quando a água é transparente, esta reflete a Lua. Quando o vento sopra, as árvores se agitam. Nossa mente é como a água. A fé fraca é como a água turva, ao passo que a fé corajosa é como a água límpida. Compreenda que as árvores são como os princípios, e o vento que as agita, como a recitação do sutra. (CEND, v. II, p. 347)5

“De maneira alguma deverá me culpar”

A monja leiga Nichigon era seguidora de Nichiren Daishonin e possuía uma fé forte e constante. Ela havia lhe enviado, junto com vários oferecimentos, um pedido de oração. A monja leiga Nichigon provavelmente tinha algum sincero desejo que esperava realizar; e, então, registrou-o e o enviou a Daishonin.

Nichiren Daishonin diz a ela que colocou o pedido diante do Gohonzon e orou para que se concretizasse, acrescentando, porém, que “Se a sua oração será ou não respondida, isso dependerá de sua fé; [caso não seja,] de maneira alguma deverá me culpar” (CEND, v. II, p. 347).

Trata-se de um ensinamento muito importante sobre a postura que devemos ter na fé e em nossas orações.

O Gohonzon possui os imensuráveis e ilimitados poderes do Buda e da Lei. Mas o importante é nossa própria fé — o poder da fé e o poder da prática. É isso que nos habilita a manifestar efetivamente o infinito poder da Lei Mística, a Lei fundamental que permeia todo o universo, a evidenciar provas reais de seus benefícios e a incorporá-la em nossa própria vida.

A fé no Budismo Nichiren não é passiva ou dependente, buscando-se simplesmente a felicidade por meio das boas graças concedidas por alguma força externa. A fé fundamentada na Lei Mística visa ativar a natureza de buda inerente a todos nós, e não invocar um poder ou ser externo que faça algo por nós. Como aponta Daishonin, “Se pensa que a Lei existe fora de seu coração, o senhor não está abraçando a Lei Mística, mas um ensinamento inferior” (CEND, v. I, p. 3). Tudo é determinado por nossa própria fé.

“O que importa é o coração” (CEND, v. II, p. 267), afirma Daishonin. Por essa razão, precisamos ter uma fé com o espírito de levantar-se só.

Como Nichiren Daishonin ensina, “A sua fé é que determinará isso tudo. A espada é inútil nas mãos de um covarde. A poderosa espada do Sutra do Lótus deve ser manejada por alguém corajoso na fé. Então, essa pessoa será tão forte quanto um demônio armado com um cajado de ferro” (CEND, v. I, p. 431). Levantar-se com fé corajosa é a base de tudo no Budismo de Nichiren Daishonin.

Tudo começa com a oração

Em Resposta à Monja Leiga Ni­chi­gon, Daishonin compara o grandioso poder do Gohonzon à Lua, equiparando a fé fraca à água turva que não reflete a Lua, e a fé corajosa ou pura à água límpida que espelha claramente a imagem dela.

Ele também relaciona os princípios do budismo às árvores, e a prática da recitação do Sutra do Lótus, ao vento que agita as árvores. Recitar Nam-myoho-renge-kyo diante do Gohon-zon pela nossa felicidade, bem como pela felicidade dos outros, e empenhar-se alicerçado nos escritos de Nichiren Daishonin abrirão o caminho para uma vida de vitórias, repleta de benefícios, em que todos os nossos desejos serão concretizados. Isso está totalmente de acordo com a afirmação de Daishonin: “Se alguém for capaz de mover o buda Shakyamuni, o senhor dos ensinamentos, a grama e as árvores poderão deixar de responder...?” (WND, v. II, p. 811).

Tudo começa com a oração. Independentemente da época ou da situação, vamos sempre dar a partida em nosso avanço positivamente, com forte oração e uma fé pura e corajosa, recitando daimoku com o juramento seigan de realizar o kosen-rufu. Essa é a essência da prática da fé para alcançar a vitória absoluta.

Construir uma rede de “valores humanos atuantes” em todos os lugares

A série de explanações que ministrei em Kawagoe terminou em fevereiro de 1953. Depois da última explanação, anotei em meu diário: “Cinquenta participantes. Parece que muitas pessoas de grande valor e excelente caráter estão surgindo pouco a pouco”.6

O estudo do Gosho desenvolve as pessoas e proporciona um aprimoramento para que sejam realmente “valores humanos”. No Gosho pulsa a grande energia vital de Nichiren Daishonin, que lutou com o máximo de suas forças como devoto do Sutra do Lótus. Nas explanações do Gosho, tanto o explanador como os participantes entram em contato com a condição de vida de leão do buda Nichiren Daishonin. Não há como a condição de vida deles também não se expandir imensamente. É exatamente esse fato que leva a Soka Gakkai a considerar essas explanações como um importante fórum ou local de aprimoramento para criar “valores humanos” para o kosen-rufu.

Por meio das explanações em Kawagoe, muitas pessoas aprofundaram sua convicção. Demonstrando renovada compreensão sobre a grandiosidade dos ensinamentos de Nichiren Daishonin, exalavam uma transbordante coragem só então descoberta.

Quando estava quase concluindo as explanações em Kawagoe, iniciei uma série de explanações por comunidade no Distrito Tsurumi, província de Kanagawa, e depois também no Distrito Bunkyo, de Tóquio. Além disso, como líder da DMJ do 1º Distrito Geral, estava realizando explanações para representantes dessa divisão. E assim, na sequência de Saitama, continuei ampliando nossa rede de “valores humanos” cujas ações se baseavam no Gosho, em Kanagawa, em Tóquio e nas atividades da Divisão dos Jovens.

Todos aqueles esforços firmes e persistentes também contribuíram para a vitória que alcançamos pouco tempo depois na Luta de Osaka de 1956,7 na qual sessões de explanação matinais do Gosho eram o motor das atividades de cada dia.

Carta de Sado — um brado pela renovada luta conjunta

Discorri sobre a Carta de Sado em Kawagoe duas vezes, escolhendo-a como tema da primeira e da última explanação nessa localidade.

Nichiren Daishonin endereçou essa carta, que enfatiza a importância de se possuir o “coração do rei leão”, a todos os discípulos de forte espírito de procura que estavam lutando ao seu lado em meio a grandes adversidades. Ele afirma: “Esta carta deve ser entregue a Toki [Jonin]. Deve também ser apresentada (...) aos meus outros seguidores” (CEND, v. I, p. 317), acrescentando “Se uma única pessoa ficar sem receber uma mensagem minha, isso poderá causar ressentimento” (Ibidem, p. 323).8

Empenhando-me com meu mestre para inaugurar uma nova fase de desenvolvimento para nosso movimento, superando juntos terríveis obstáculos, gravei em minha vida passagens de Carta de Sado, as quais se tornaram fonte de profunda inspiração e força espiritual para mim. Canalizei todo o meu ser na explanação desse escrito, guiado pelo desejo sincero de transmitir aos meus companheiros de Saitama o espírito de mestre e discípulo que a carta expõe.

Em 1271, Nichiren Daishonin quase foi executado durante a Perseguição de Tatsunokuchi e, em seguida, foi exilado na Ilha de Sado. Muitos discípulos reagiram a esses acontecimentos abandonando a fé. Alguns até criticaram seu mestre, que se dedicava a propagar a Lei Mística de forma intrépida.

Em Carta de Sado, Daishonin dissipa as trevas do medo e da dúvida que havia se alojado no coração dos seus discípulos. Ele cria elos verdadeiros com esses discípulos que, assim como ele, possuíam o “coração do rei leão” e se mantiveram invencíveis mesmo diante da perseguição mais implacável. E ele clama solenemente a eles que retomem a luta conjunta.

Sempre que leio Carta de Sado fico profundamente tocado pelacompaixão rigorosa, porém afetuosa, de Daishonin.

Trecho 1 do escrito 2

Carta de Sado

É da natureza dos animais ameaçar os fracos e temer os fortes. Nossos eruditos contemporâneos das várias escolas agem exatamente da mesma forma: desprezam um sábio que não detém o poder, mas temem os governantes maléficos. Esses indivíduos não passam de serviçais aduladores. Somente quando uma pessoa vence um poderoso inimigo é que ela consegue provar a sua verdadeira força. Quando um mau governante, associado a sacerdotes que praticam ensinamentos errôneos, tenta destruir o ensinamento correto e eliminar um sábio, os que possuem o coração de um rei leão, sem dúvida, atingirão o estado de buda, assim como Nichiren, por exemplo. Afirmo isso não por arrogância, mas porque estou profundamente comprometido com o ensinamento correto. O arrogante sempre fica amedrontado quando está diante de um forte inimigo, assim como ocorreu com o insolente asura9 que, ao ser repreendido por Shakra,10 se encolheu e se escondeu numa flor de lótus no Lago Livre de Calor. (CEND, v. I, p. 318)11

Manter-se firme com o “coração do rei leão”

Em Carta de Sado, Nichiren Daishonin assegura: “Há dois métodos de propagação do budismo — shoju e shakubuku —, e a escolha de um deles depende da época” (CEND, v. I, p. 318-319). Depois de esclarecer que o shakubuku (refutação estrita), e não o shoju (persuasão suave),12 é o método de propagação apropriado para os Últimos Dias da Lei, ele explica que a dedicação incansável a tais esforços inevitavelmente confrontará grande oposição e obstáculos.

Na passagem que estamos estudando, Daishonin destaca as circunstâncias reais que estavam por trás do seu exílio na Ilha de Sado e a verdadeira natureza das autoridades e dos sacerdotes caluniadores que estavam lhe atacando. Ao fazê-lo, ele revela o padrão das perseguições que invariavelmente incidem sobre legítimos praticantes do Sutra do Lótus.

“Mau governante” indica as autoridades seculares que tentam destruir o correto ensinamento do budismo. Agindo sem princípios nem razão, perseguem os bons e justos. Em épocas como essas, “sacerdotes que praticam ensinamentos errôneos”, impelidos pela inveja e ambição pessoal, aliam-se aos maus governantes. Por possuírem a “natureza dos animais”, são servis em relação àqueles que detêm o poder. Eles juntam forças com os maus governantes para perseguir e “eliminar um sábio” (Ibidem, p. 318).

No que se refere a Nichiren Daishonin, os “três poderosos inimigos”,13 que são descritos no capítulo “Encorajamento à Devoção” (13º) do Sutra do Lótus, assumiram a forma de sacerdotes e praticantes leigos de ensinamentos errôneos, como as doutrinas da Terra Pura (Nembutsu), que eram hostis a Daishonin e a seus seguidores, e de sacerdotes influentes como Ryokan,14 que, por meios desonestos, persuadiu Hei no Saemon-no-jo15 e outras importantes autoridades do governo militar de Kamakura a persegui-los.

Os “três poderosos inimigos” aliam forças para atacar os devotos do Sutra do Lótus. Aqueles que se levantam sozinhos e seguem em frente com o “coração do rei leão” em meio a esses ataques intensos são budas.

Seguir o exemplo de Nichiren Daishonin

Ao escrever “assim como Ni­chiren, por exemplo” (CEND, v. I, p. 318), Daishonin está conclamando a seus discípulos que se mirem em seu exemplo. Diante de perseguições que punham sua vida em risco, permanecia sereno, com a imponente condição de vida do estado de buda. Por meio do próprio exemplo, ele instiga seus discípulos a seguirem-no nesse grande caminho do rei leão.

Nós, mestre e discípulo Soka, perseveramos sempre em frente nessa estrada. Detectando a verdadeira natureza dos “três obstáculos e quatro maldades”,16 despertamos uma forte fé. Ao nos defrontarmos com dificuldades, imediatamente lidávamos com a situação com a firme determinação de transformar veneno em remédio. Evocando o “coração do rei leão”, enfrentamos as adversidades com destemor, prontos a encarar qualquer desafio. Também convertemos oponentes em aliados e transformamos vento de proa em vento de cauda, o que nos levou cada vez mais alto. Em cada luta, praticamos de acordo com os ensinamentos do Buda e lemos o Gosho com a nossa vida.

Há um episódio inesquecível que gostaria de compartilhar. Aconteceu na Convenção do Distrito Shiki, no Centro Cívico de Toshima, em Ikebukuro, Tóquio, em outubro de 1954, na qual participei como secretário da Divisão dos Jovens.

Na reunião, Toda sensei disse estar desapontado porque, embora estivéssemos realizando progressos no kosen-rufu, os “três poderosos inimigos” ainda não tinham feito sua aparição. Entretanto, afirmou que o primeiro e o segundo inimigos [leigos arrogantes e sacerdotes arrogantes] estavam começando a surgir. Ele declarou convictamente que, quando o terceiro dos “três poderosos inimigos” — falsos veneráveis arrogantes — aparecesse, o tempo do kosen-rufu teria chegado.

“Quando isso ocorrer”, expressou, “ficarei extasiado e espero que vocês também se sintam felizes. Quando esse dia chegar, lutemos bravamente!”.17

Esse espírito de luta, de considerar os obstáculos uma honra, é o espírito Soka diretamente ligado a Nichiren Daishonin. Lutemos, nós também, brava e resolutamente, e vençamos sem falta — para atingirmos a condição de vida do buda nesta existência e concretizarmos o ideal de Daishonin de “estabelecer o ensinamento correto para a pacificação da terra”.

Trecho 2 do escrito 2

Carta de Sado

Além dessas pessoas, havia aquelas que pareciam acreditar em mim, mas começaram a criar dúvidas ao me verem ser perseguido. Elas não só abandonaram o Sutra do Lótus como também acreditaram que eram sábias o bastante para me orientar. O triste fato é que essas pessoas perversas deverão sofrer no inferno Avichi por um tempo ainda mais longo que os seguidores da Nembutsu. Um asura argumentou que o Buda havia ensinado apenas dezoito elementos,18 ao passo que ele próprio havia exposto dezenove. Os mestres não budistas alegaram que o Buda havia oferecido somente um caminho para a iluminação, enquanto eles ofereciam noventa e cinco.19 De modo semelhante, os discípulos renegados declaram: “Embora o sacerdote Nichiren seja nosso mestre, ele é enérgico demais. Nós propagaremos o Sutra do Lótus de maneira mais branda”. Com tal declaração, eles demonstram ser tão ridículos quanto um vaga-lume que ri do Sol e da Lua, um formigueiro que despreza o Monte Hua,20 poços e riachos que zombam dos rios e dos oceanos, ou uma gralha que imita a fênix. (CEND, v. I, p. 322-323)

Mestres e discípulos Soka são um grupo de reis leões

Esses trechos compõem a parte conclusiva da Carta de Sado.

A maneira como reagimos à adversidade é a medida do nosso compromisso com a verdade e a justiça. Quando as dificuldades surgem, os verdadeiros discípulos de fé genuína se diferenciam daqueles que são discípulos só de fachada.

Quando Nichiren Daishonin se deparou com a perseguição representada pelo exílio na Ilha de Sado, alguns de seus discípulos começaram a duvidar dele e a abandonar seus ensinamentos, ou julgando saber mais do que Daishonin, inferiam que ele estava enganado. Trata-se, afirma ele, de um “triste fato” (CEND, v. I, p. 322).

Qual a real natureza desses discípulos que assumiam ares de que seu conhecimento era superior?

Eles eram covardes, interesseiros e arrogantes. Por mais que tentassem encobrir a verdade, jamais conseguiriam esconder sua vil traição ao mestre. Possuem a mesma natureza deplorável dos asura e dos não budistas que, pela rivalidade que nutriam pelo Buda, insistiam que o superavam.

Soube, por intermédio de Toda sensei, que o presidente fundador da Soka Gakkai, Tsunesaburo Makiguchi, citava com frequência esse trecho da Carta de Sado. Alguns discípulos criticavam Daishonin dizendo: “Embora o sacerdote Ni­chiren seja nosso mestre, ele é enérgico demais. Nós propagaremos o Sutra do Lótus de maneira mais branda” (CEND, v. I, p. 322-323). Daishonin repudiava tal comportamento, classificando-os como “ridículos”, algo que só merece nosso riso (cf. CEND, v. I, p. 323).

Makiguchi sensei costumava dizer: “Ser desprezado por tolos é a maior honra que pode haver”. E conclamava aos seus discípulos: “Prefiro um único leão a mil ovelhas!”.

Declarando que “o leão não busca aliados”, Toda sensei levantou-se só para cumprir o grande juramento de propagar a Lei Mística e lançou-se a uma luta sem paralelos em prol do kosen-rufu.

Mestres e discípulos Soka são um grupo de reis leões. Dando gargalhadas das críticas levianas, seguimos em frente intrépida e vigorosamente com o “coração do rei leão”, avançando imponentemente com a radiância e a intensidade do sol nascente.

Não seria exagero dizer que Carta de Sado é o Gosho da Soka Gakkai. Aplicando as verdades expostas nela, permanecemos intrépidos diante de críticas e insultos incoerentes. Mantemos um modo de vida realmente admirável, dedicado ao kosen-rufu, que Daishonin enalteceria com os mais altos louvores.

Fazendo ressoar a triunfante canção da nossa luta conjunta

O mundo da luta conjunta de mestre e discípulo fundamentada no Gosho é tão amplo e profundo quanto o oceano, tão alto e vasto quanto o céu.

O Budismo de Nichiren Daishonin é um repositório do tesouro da sabedoria ilimitada, que abre as portas da revolução espiritual do século 21.

Se avançarmos sustentando essa extraordinária filosofia de vida, poderemos mudar a base espiritual intrínseca da sociedade. Por essa razão, precisamos manter a chama da luta conjunta ardendo em nosso coração, continuando a nos dedicar à concretização dessa transformação essencial. Hoje, o Budismo do Sol, dissipando as trevas dos Últimos Dias da Lei, está começando a irradiar sua luz pelo mundo todo, iluminando a sociedade.

Julho [mês em que esta matéria foi originalmente publicada na revista Daibyakurenge] é o mês em que renovamos nossos esforços para tornar realidade o ideal de Nichiren Daishonin de “estabelecer o ensinamento correto para a pacificação da terra” [Em 16 de julho de 1260, Daishonin encaminhou um tratado sobre esse assunto às autoridades do governo].

Este é o momento para avançar! Os filhos do leão nada temem! Sigamos em frente pela nossa estrada, sem arrependimentos! E com um uníssono rugido do leão, mestre e discípulo em unicidade como se fossem um só, convictos da vitória do nosso movimento, registremos uma nobre história de conquistas e façamos ressoar vasta e longinquamente, por toda parte, a triunfante canção da nossa luta conjunta!

(Daibyakurenge, edição de julho de 2016)

Com a colaboração/revisão do Departamento de Estudo do Budismo (DEB) da BSGI

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