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Na prática

Estude o budismo com a própria vida

Desde a sua fundação a Soka Gakkai se desenvolve alicerçada no estudo dos escritos de Nichiren Daishonin. Se basearmos nossa vida na filosofia budista, podemos transformá-la positivamente como jamais imaginamos. “O estudo orientado para a prática é tradição da Soka Gakkai, e fé quer dizer fundamentar nossas ações no Gosho, os escritos de Nichiren Daishonin”,1 declara o presidente Ikeda. Romper as barreiras de um estudo meramente teórico e partir para a prática, no entanto, é um grande desafio que vale a pena superar. A seção Na Prática deste mês traz explicações de como isso acontece no dia a dia.

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15/06/2019

Estude o budismo com a própria vida

Em diferentes escritos que o buda Nichiren Daishonin dedicou aos seus discípulos, ele cita uma história antiga.

Chudapanthaka2 era conhecido por sua péssima memória. Era tão esquecido que mal se lembrava do próprio nome. Daishonin o descreve como “a pessoa mais esquecida de todo o continente de Jambudvipa [o mundo inteiro]” (WND, v. II, p. 657).

Ele se tornou discípulo de Shakyamuni junto com o irmão mais velho. Porém, mesmo sendo muito dedicado, não obtinha resultados em sua prática budista e era ridicularizado pelos outros discípulos por causa de sua lentidão.

Certo dia, até o próprio irmão desistiu dele e o mandou embora dizendo-lhe que não havia esperança e que ele deveria voltar para casa.

Chudapanthaka ficou parado, desanimado, mas ainda assim alimentando a esperança de que houvesse algum ensinamento que pudesse aprender.

Naquele momento, Shakyamuni surgiu ao seu lado e o conduziu de volta ao local em que os demais estavam praticando.

O jovem discípulo deve ter sentido uma alegria imensa diante da amabilidade e da compaixão do seu mestre. Mais tarde, Shakyamuni lhe ensinou um verso e lhe explicou o significado, e dessa forma ele aprofundou seu estado de vida.

No Sutra do Lótus, ele e seu irmão recebem a profecia de Shakyamuni de que se tornariam budas, ambos com o nome de Brilho Universal. Embora Chudapanthaka parecesse tolo e esquecido, ele passou a ter uma vida sábia do mais alto valor.

Entre outros escritos, o buda Nichiren Daishonin cita esse personagem, como em Três Mestres Tripitaka Oram por Chuva:

Em três anos, Chudapanthaka foi incapaz de memorizar um ensinamento de quatorze ideogramas, ainda assim, ele atingiu o estado de buda. Devadatta,3 por outro lado, havia memorizado sessenta mil ensinamentos, mas caiu no inferno de incessantes sofrimentos.4

Esse trecho do Gosho é usado para ilustrar um ponto primordial do estudo do budismo. Estudar os ensinamentos budistas não é meramente uma busca intelectual e vazia. Tampouco é um ato que distancia a pessoa do objeto de estudo, já que o budismo trata da própria essência da vida.

A pessoa que estuda o budismo deve fazê-lo com o intuito de ler os escritos com a própria vida a fim de vencer os desafios reais do cotidiano. A chave na história do jovem Chudapanthaka é justamente isso. Se ele dependesse somente de sua memória ou da capacidade intelectual, jamais atingiria a iluminação. Uma vez que compreendeu com o próprio coração, ele pôde desfrutar os benefícios da prática budista.

O impacto do budismo numa sociedade dividida

A história de Chudapanthaka se passa num país e numa época com características muito distintas de como vivemos atualmente. Porém, no romance Nova Revolução Humana, o presidente Ikeda narra um exemplo bastante interessante de um jovem norte-americano que sofreu com o racismo durante o regime de segregação nos Estados Unidos. Eis uma versão reduzida dessa passagem:5

Durante a infância, Robert Mi­chael foi vítima de discriminação racial. Nascera numa comunidade carente em Nova York. O pai era zelador de um prédio. Com o baixo salário que ganhava, mal conseguia sustentar a esposa e os cinco filhos. Havia ocasiões em que a família tinha de suportar a fome.

O jovem começou a conviver com a discriminação quando entrou na escola. No retorno para casa, tinha de passar correndo pelas ruas onde residiam os brancos para não ser apedrejado. Mesmo voltando com o coração amargurado, quando chegava ao lugar onde morava, o barraco era tão pequeno que não havia nem espaço para lamentações.

O pai bebia para esquecer a pobreza; gritava e agredia a esposa. As brigas e os gritos faziam doer ainda mais o coração ferido de Robert.

Certo dia, quando entrou numa igreja, foi repreendido duramente por um pastor branco.

— Saia imediatamente! Agora não é hora para você entrar aqui! Saia! Vá embora!

O menino não sabia que até na igreja havia horários para os brancos e para os negros.

Começou a andar com más companhias fazendo algazarras pelas ruas. Praticou roubos e aprendeu a se drogar para fugir da vida miserável. Foi preso duas vezes pela polícia por porte de arma de fogo. Não tinha mais interesse por nada e deixou de frequentar a escola.

Entrou para o exército aos 17 anos. Lá, também encontrou forte preconceito entre brancos e negros. Os alojamentos eram separados e os serviços pesados ficavam sempre para os negros.

Robert encontrou o budismo em junho de 1958, quando estava em serviço militar no Japão. Seu maior benefício foi descobrir a verdade exposta no budismo de que todas as pessoas possuem igualmente a natureza de buda e têm o mesmo direito à felicidade.

Ele se deparou com um novo mundo na Soka Gakkai. Não havia preconceito nem discriminação entre os membros, brancos ou negros. Todos se relacionavam com forte senso de igualdade. Havia também calor humano, diálogo franco, incentivos e verdadeira amizade.

Robert pensou: “A propagação da grandiosa filosofia budista, que expõe a verdade universal da imanência da natureza de buda na vida de todos os seres humanos, contribuirá para a efetiva abolição do preconceito racial. Os afro-americanos viverão mais confiantes e os brancos erradicarão a discriminação. Assim como ocorre no mundo da Gakkai, surgirá uma sociedade com base na compreensão e no respeito mútuo entre as pessoas. Lutarei por esse propósito. Consagrarei a vida em prol do kosen-rufu!”.

Ao conhecer a Soka Gakkai e estudar a filosofia budista, Robert compreendeu com a própria vida, de maneira prática, que a essência dos ensinamentos de Nichiren Daishonin é que todos os seres vivos, sem exceção, possuem dentro de si o potencial de buda. Estudar o budismo significa fazer essa leitura não como algo relativo aos outros, mas sim diretamente relacionado conosco. Quando ele teve contato com essa verdade e a assumiu sem poupar a própria vida, iniciou um processo de profunda transformação interna.

A revolução humana começa no coração

Tanto Robert como Chudapan­thaka são exemplos claros de que, uma vez que se estuda o budismo com a própria vida, ela se transforma. Isso é possível porque, segundo a visão budista, o corpo e a mente são duas entidades que vivem em unicidade. Ou seja, não se pode transformar uma sem mudar a outra. Esse princípio é chamado “unicidade de corpo e mente” (shikishin funi, em japonês).

O termo “unicidade” (funi, em japonês) possui o significado de “dois, mas não dois”. Designa a interação entre dois fenômenos inseparáveis. Em tradução livre, “corpo” (shiki) e “mente” ou “espírito” (shin). O corpo representa o “aspecto físico” de uma pessoa, que corresponde a “tudo o que tem forma visível, ou pode ser mensurável, visto ou ouvido pelos órgãos sensoriais”.6 Já a mente representa o “aspecto espiritual”, ou seja, “o que não pode ser percebido pelos órgãos sensoriais”.7 Por meio desse princípio, entendemos que não há distinção entre corpo e mente. Tudo o que a pessoa faz ou fala é representação da sua mente e do seu espírito.

Não é possível haver uma verdadeira mudança de comportamento sem uma profunda mudança no coração. Por isso, o estudo no budismo não é tarefa meramente teórica ou acadêmica. Quando se lê os escritos ou se estuda os princípios budistas com a vida, imediatamente se inicia um processo de transformação positiva que chamamos “revolução humana”. Essa é uma revolução que começa de dentro (no coração) para fora (no comportamento), até impactar o mundo à sua volta.

O estudo do budismo no cotidiano

Os exemplos de Robert e de Chudapanthaka podem parecer distantes para alguns, mas os princípios estudados são aplicáveis a todas as pessoas, independentemente do drama que vivenciam.

O presidente Ikeda explica como líderes e membros encaravam o estudo no início do movimento da Soka Gakkai:

O estudo do Budismo Nichiren que realizamos na época serviu como uma fonte de força para perseverarmos na vida, em nossas batalhas diárias, em nossos esforços pelo kosen-rufu. Foi um processo de aquisição de compreensão sobre ensinamentos e princípios do Budismo Nichiren, uma grandiosa filosofia realmente apta a ser incorporada em nossa vida para podermos lidar com os desafios existenciais e para vencer na sociedade.8

Cada pessoa vive um drama particular: no caso de Chudapanthaka, aprender o budismo; e para Robert, vencer a discriminação. Podemos redimensionar esses exemplos para todos os impasses, grandes ou pequenos, que enfrentamos na vida.

O estudo no budismo serve para nos dar ferramentas para superar os desafios reais diários. Se por meio da leitura dos escritos de Nichiren Daishonin ou dos incentivos de Ikeda sensei você aprofundar sua crença de que “você é um buda”, infalivelmente vencerá todas as adversidades. Nosso mestre afirma:

É importante que gravemos profundamente as palavras de Daishonin em nosso coração — mesmo que seja apenas uma única linha ou passagem que nos toque intimamente ou pareça ter sido escrita especialmente para nós”.9

Se seguir essa orientação de Ikeda sensei, sem dúvida estará lendo os escritos de Nichiren Daishonin com a própria vida. A partir disso, transformará seu coração e seu comportamento e provará, por meio da própria existência, o supremo benefício da filosofia budista, assim como Robert e Chudapanthaka.

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