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Na prática

Revolução humana

O florescer da paz em cada indivíduo

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12/12/2019

Revolução humana

Mesmo com o atual desenvolvimento tecnológico, que permite aproximar as pessoas com conexões mais e mais velozes, ainda presenciamos situações de divisão e de hostilidade, tanto local quanto globalmente.

Embora a questão da paz mundial pareça grande demais para que um único indivíduo consiga fazer algo efetivo em prol do seu estabelecimento, a resolução se encontra nas ações que cada pessoa toma em escala menor. O Dr. Daisaku Ikeda, presidente da SGI, afirma: “Os problemas da sociedade humana não podem ser resolvidos unicamente por mudanças externas como reformas políticas e econômicas ou inovações institucionais e organizacionais”.1 Neste mês, veremos como a revolução humana de uma única pessoa pode construir uma sociedade pacífica.

A revolução das flores

O objetivo fundamental do Bu­dismo Nichiren é estabelecer uma sociedade pacífica onde “os seres vivem felizes e tranquilos”.2 Apesar de parecer um objetivo utópico diante do atual cenário que vivemos, o budismo capacita as pessoas a tornarem isso possível, e para tal apresenta o caminho da revolução humana. Vamos entender melhor esse processo de transformação interna que resulta na mudança de toda a sociedade.

Certa ocasião, o presidente Ikeda declarou: “A revolução humana ocorre a partir do momento em que uma pessoa passa a visualizar além de seu mundo restrito, rotineiro e comum, e se esforça para realizar algo mais grandioso, profundo e abrangente”. Ele ressaltou ainda:

O mundo jamais irá melhorar enquanto as pessoas — que são a força propulsora e o ímpeto que estão por trás de todos os empreendimentos — forem egoístas e insensíveis. Nesse sentido, a revolução humana é a mais fundamental de todas as revoluções, e também a mais necessária para toda a humanidade.3

Josei Toda, segundo presidente da Soka Gakkai, foi quem cunhou a expressão “revolução humana” para descrever o processo de reforma interior que leva a uma transformação positiva das circunstâncias e do ambiente. Com esse conceito, ele esclarece o ideal budista de “iluminação” — uma ideia que raramente é apresentada em termos concretos e acessíveis. Para Josei Toda, essa revolução é o único caminho da reforma social.

Ele enfatizou que o meio para avançarmos na erradicação dos males sociais e na realização da paz é cada indivíduo mudar a própria natureza interior. A base fundamental deve ser a transformação que ocorre na vida de cada ser humano e se expande amplamente pela sociedade.4

Segundo o dicionário Aulete, “revolução” é o “ato de realizar ou sofrer grande mudança ou alteração”.5 Ao longo da história da humanidade, existiram diversos tipos de revolução.

Em 1967, Bernie Boston (1933–2008), fotógrafo norte-americano, registrou uma foto que impactou o mundo. Nela, via-se um jovem, com idade em torno de 20 anos, que participava de um protesto em Washington, DC, pelo fim da Guerra do Vietnã, em frente a soldados armados que eram praticamente dessa mesma idade. O jovem colocou flores cuidadosamente na boca do cano dos rifles dos soldados. Essa foto se tornou muito conhecida no mundo todo como Flower Power (“Poder da Flor”, em português). Ver os jovens da foto, da mesma faixa etária, em lados opostos, um em defesa da continuidade da guerra, e outro se posicionando pacificamente pelo fim do conflito, tornou-se um símbolo tão forte que a cena é lembrada até hoje como uma representação da manifestação não violenta em prol da paz.

Podemos dizer que a famosa foto representa a disputa entre a iluminação e a escuridão no coração das pessoas que fazem sua própria revolução humana. Esse é o caminho da vitória da iluminação.

Grande onda de transformação

Tanto a violência como a paz se originam do coração humano. Alguém numa condição de vida inferior (no mundo do inferno, mundo dos espíritos famintos, mundo dos animais, mundo dos asura)6 lida com as questões de sua vida de maneira violenta e mesquinha. Já aquele que desfruta uma condição de vida elevada (como no mundo dos bodisatvas ou no mundo dos budas) busca soluções não violentas que respeitam a dignidade da vida humana. E o ambiente muda conforme essa condição de vida, pois ela é a base que norteia as decisões que o indivíduo toma em sua vida. As ações dessa pessoa, por sua vez, produzem o impacto no mundo à sua volta.

Para entender como a ação de uma pessoa pode causar uma onda de transformação no ambiente, vamos analisar a história do economista bengalês Muhammad Yunus.7

Yunus nasceu em um vilarejo de Bangladesh. Estudou economia, fez mestrado nos Estados Unidos e se tornou professor de economia nesse país. No final de 1971, quando Bangladesh conquistou a independência do Paquistão, Yunus voltou para sua terra natal e começou a lecionar em uma das universidades locais. Com isso, testemunhou a decadência econômica do país.

Em 1974, ele ficou impactado com a notícia de que muitas pes­soas em seu país morriam por inanição em consequência da miséria que se alastrava. Então, foi tomado por um sentimento de impotência ao perceber a pouca aplicabilidade prática do que ensinava em relação à realidade vivida pelo povo. Ele relata: “Da frustração de estar em um ambiente tão obscuro, você tenta fazer algo. (...) Como seres humanos, temos a capacidade de apoiar outro ser humano e sermos úteis a essa pessoa, mesmo por um dia”.8

A partir dessa tomada de consciência, Yunus foi às ruas e conversou com as pessoas a fim de descobrir o que poderia fazer para mudar aquela condição. Foi quando descobriu que a população dos vilarejos ao redor da universidade em que lecionava sofria abusos de agiotas, que pediam os poucos bens que eles possuíam como garantia de um empréstimo com valor muito baixo. Para o economista, aquela situação de exploração era uma tortura à população que já não tinha recursos para sobreviver. Ao fazer um levantamento na vila, descobriu que havia 42 pessoas endividadas com agiotas, e o valor total da dívida delas somava 27 dólares americanos. Por impulso, usou o próprio dinheiro para pagar as dívidas, e assim libertar as pessoas dessa “tortura” — segundo ele.

Suas ações impactaram visivelmente os envolvidos, e Yunus dedicou-se a buscar novas soluções para combater a exploração dos agiotas. Ele entrou em acordo com um banco, que inicialmente se recusava a emprestar dinheiro, mesmo em pequenas quantias, para as pessoas pobres, e se ofereceu para ser fiador; assim, o banco não precisaria assumir o risco de uma possível inadimplência.

Com o tempo, a ação dele se tornou conhecida no vilarejo, e muitas pessoas começaram a pegar empréstimos. Como a quantidade de credores cresceu muito, o banco se recusou a continuar emprestando, alegando que o risco havia aumentado. Yunus, então, decidiu abrir o próprio banco e assim nasceu o Grameen Bank, pioneiro em trabalhar com “microcrédito” (empréstimos de pequeno valor).

Em 2014, o Grameen Bank movimentou 1,5 bilhão de dólares americanos com a concessão de crédito para 8,5 milhões de consumidores. Contrariando as expectativas, a taxa de inadimplência foi de 3%, o que significa que 97% das pessoas que obtiveram empréstimos honraram as condições oferecidas.

O mais importante, no entanto, foi o fato de esses pequenos valores possibilitarem às pessoas investir em seus próprios empreendimentos, os quais garantiram as condições básicas de sobrevivência à população de Bangladesh. Com isso, Muhammad Yunus passou a ser conhecido como o “Banqueiro dos Pobres”, e foi laureado com o Prêmio Nobel da Paz em 2006. O projeto continuou e hoje o Grameen Bank atua também em outros países.9

O exemplo de Yunus mostra que as ações de uma única pessoa, quando preocupada sinceramente com o bem-estar e a felicidade dos demais, causam uma grande onda de transformação na sociedade.

A religião da revolução humana

O kosen-rufu, movimento liderado pelo presidente Ikeda por meio das atividades da Soka Gakkai, provoca uma onda de transformação profunda em escala global. Isso porque a proposta básica desse movimento é a ampla propagação da filosofia da revolução humana.

Ele consiste em prezar a pessoa que se encontra diante de nós, ensinar-lhe a importância de respeitar a dignidade da vida e conduzi-la ao caminho da iluminação, enquanto nós mesmos também fazemos nossa própria revolução humana. Isso significa estabelecer, no dia a dia, uma condição elevada de bodisatva e de buda, conquistadas por meio da prática da fé, como ponto de partida para quaisquer ações e decisões.

Com a recitação do Nam-myoho-renge-kyo, recarregamos nossa vida com a energia que nos dá coragem e esperança para não desistirmos e sermos vitoriosos em cada encruzilhada que a vida nos apresente. Munidos de energia vital, mesmo enfrentando grandes obstáculos, podemos levar esperança aos demais por meio de nosso exemplo e convicção, e ensinar mais e mais pessoas a recitar daimoku e a ser felizes também.

Ao adotarmos essa postura, assumimos a condição de um verdadeiro bodisatva, que dedica a vida à felicidade de si e à felicidade daqueles à sua volta. Uma pessoa com esse tipo de mentalidade conduz a sua existência de acordo com o princípio do respeito à dignidade da vida, fazendo o humanismo florescer por todo o mundo a partir de suas ações.

Uma vez que propagamos a cultura de paz da Soka Gakkai e a prática do Nam-myoho-renge-kyo, permitindo que mais e mais pessoas façam a própria revolução humana em sua realidade, estamos realizando a paz mundial em escala local. A partir disso, cria-se uma onda de mudanças que eventualmente culminará na transformação de toda a sociedade, pondo em prática a frase “A grandiosa revolução humana de uma única pessoa, um dia, impulsionará a mudança total do destino de um país e, além disso, será capaz de transformar o destino de toda a humanidade”.10

O presidente Ikeda orienta: “Em última análise, a menos que se transforme fundamentalmente o espírito humano com uma revolução religiosa, o caos da realidade jamais será remediado”.11

As ações de uma única pessoa podem provocar ondas que impactam o ambiente ao seu redor, assim como aprendemos com as histórias do ganhador do Nobel da Paz Yunus e do Flower Power. Ao realizar a própria revolução humana, você conduz sua vida à iluminação e dá um grande passo rumo a uma importante e profunda transformação positiva no mundo.

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