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Proposta de Paz

Brasil Seikyo

Especial

Centelha da paz

“Não quero que a palavra ‘sofrimento’ seja empregada para descrever o mundo, um país ou um único indivíduo.”1 Esse sentimento enfático atravessa o tempo e o espaço. Há 66 anos, diante de 50 mil jovens, Josei Toda, segundo presidente da Soka Gakkai, fez um discurso acalorado. Mais tarde, conhecida como a Declaração pela Abolição das Armas Nucleares, trazia o férreo brado de preservar o direito à vida para a humanidade. Era 8 de setembro de 1957, no estádio de Mitsuzawa, em Yokohama, Japão. Doze anos antes, as primeiras bombas de destruição em massa, lançadas nas cidades japonesas de Hiroshima e de Nagasaki, em agosto de 1945, ceifaram instantaneamente cerca de 300 mil vidas. Nos anos seguintes, outros milhares sucumbiram em decorrência da radiação dessas armas. Em 1957, a Guerra Fria estava no apogeu. Os Estados Unidos e a hoje extinta União Soviética corriam freneticamente para polarizar e militarizar territórios. A bomba nuclear era sinônimo de força, induzindo a testes incessantes, com arsenais cada vez mais poderosos, em diversos pontos do mundo. Naquela época, permeava no ar a sensação de que uma nova guerra mundial poderia começar a qualquer momento. E a quantidade de armamentos atômicos já era tão grande que o mundo poderia ser dizimado em questão de horas. Josei Toda declarou-se contra as armas nucleares, bradando ser a missão de todos, em especial da juventude, erradicar o impulso dos seres humanos que as constroem. No dia do festival em que ocorreria a apresentação da declaração, a expectativa geral era sobre a possibilidade da passagem de um tufão pelo Japão. Mas Josei Toda desejava ardentemente que o clima estivesse agradável para que seus discípulos desfrutassem momentos tranquilos. E assim foi. O dia estava particularmente quente e o sol brilhava com radiância. O tufão enfraqueceu e se dissipou. Momento do discurso do presidente Josei Toda diante de 50 mil jovens, no estádio de Mitsuzawa, Japão: brado por um mundo de paz, livre das armas nucleares Da plateia jovem presente, Daisaku Ikeda, na época com 29 anos, abraça essa nobre causa. Isso aconteceu apenas sete meses antes da morte de Toda sensei, que colocou todo o seu ser em seu apaixonado apelo. Palavras que foram transformadas em ações “para proteger o direito da humanidade de viver e criar uma solidariedade de cidadãos do mundo por meio da força e da paixão dos jovens. Esse desejo se tornou o eterno ponto de partida do movimento de paz da Soka Gakkai e da Soka Gakkai Internacional (SGI)”,2 pondera o presidente Ikeda. Hoje, aos 95 anos, segue incansável abrindo caminhos por meio do diálogo para que esse objetivo seja realidade. Além disso, dedica-se a estimular a criação de instituições, como o Instituto Toda pela Paz, localizado em Yokohama. Somam-se às várias colaborações da SGI em projetos e seminários, bem como as Propostas de Paz que o Dr. Ikeda vem sugerindo à Organização das Nações Unidas (ONU) ao longo de quarenta anos, nas quais defendeu o respeito máximo à dignidade da vida, condição possível à humanidade com o fim das armas nucleares. Há seis anos, em julho de 2017, o Tratado sobre a Proibição de Armas Nucleares foi adotado por 122 nações na sede da ONU em Nova York. Ainda há muito a ser feito. Por meio de uma luta digna como praticantes do Budismo de Nichiren Daishonin, vamos corresponder, sem falta, à confiança do Mestre, criando uma renovada era de paz e de esperança em nossa vida e na vida das pessoas que nos cercam. No topo: momento do discurso do presidente Josei Toda diante de 50 mil jovens, no estádio de Mitsuzawa, Japão: brado por um mundo de paz, livre das armas nucleares Fonte: Brasil Seikyo, ed. 2.578, 4 set. 2021, p. 6. Notas: 1. Brasil Seikyo, ed. 2.005, 26 set. 2009, p. A3. 2. Idem, ed. 2.392, 21 out. 2017, p. B2-B3.

06/09/2023

Especial

Ponte da sincera amizade

Em 8 de setembro também, desta vez em 1968, uma corajosa iniciativa do presidente Ikeda abria as fronteiras da conturbada relação diplomática entre Japão e China. Foi quando ele apresentou um discurso que mais tarde ficaria conhecido como Proposta pela Normalização das Relações Diplomáticas entre Japão e China, numa convenção universitária da Soka Gakkai, no Japão, reunindo cerca de 20 mil participantes. São 55 anos a partir de então. Na obra Nova Revolução Humana, Ikeda sensei traz com detalhes o desenrolar dos fatos, como as críticas que lhe foram impostas. Ele parte para sua primeira viagem à China, retornando em dezembro, quando se dá o encontro com o primeiro-ministro chinês Zhou Enlai, que estava hospitalizado e que ansiava se encontrar com o presidente Ikeda. O presidente Ikeda, à direita da foto, encontra-se com o primeiro-ministro chinês, Zhou Enlai, em Pequim Zhou Enlai faleceu pouco mais de um ano do primeiro encontro com o Dr. Ikeda, em janeiro de 1976, não sem antes estreitarem os laços de amizade, fortalecidos depois com a esposa do primeiro-ministro chinês, Deng Yingchao. China e Japão assinaram em agosto de 1978 o tratado de paz e de amizade entre os países, dez anos após a proposta proclamada por Ikeda sensei aos jovens, somada às ações concretas de diálogo persistente realizadas nesse período pela edificação de um mundo de paz. Atualmente, várias universidades e instituições chinesas prestam homenagens ao nosso mestre, bem como há centros de pesquisa dedicados a estudar sua vida e obra. No topo: o presidente Ikeda, à direita da foto, encontra-se com o primeiro-ministro chinês, Zhou Enlai, em Pequim

06/09/2023

Reflexões sobre Cidadania

Fusão harmoniosa da lei secular com a Lei budista

É comum ouvirmos a expressão “budismo é a própria sociedade”. Nichiren Daishonin, por exemplo, escreveu que “o budismo é como o corpo, e a sociedade, como a sombra. Quando o corpo se inclina, a sombra faz o mesmo”.2 O princípio da “fusão harmoniosa da lei secular com a Lei budista” (obutsu myogo) relaciona esses dois mundos. “Lei secular” corresponde ao conjunto de normas, instituições, costumes e convenções que regem a sociedade, enquanto “Lei budista” refere-se à essência do ensinamento do Buda. No Japão da época de Daishonin, esse princípio era entendido de forma distorcida, pois se associava a lei secular à ordem e à autoridade, e ao poder do imperador e da classe política, enquanto a Lei budista era associada ao domínio dos grandes templos e dos monges e sacerdotes poderosos. Assim, a fusão da lei secular e da Lei budista era entendida como a relação harmoniosa entre o imperador e a classe política, de um lado, e os monges e sacerdotes, do outro. Nichiren Daishonin revolucionou esse entendimento ao colocar a amenização do sofrimento das pessoas comuns e sua felicidade como os elementos que definem a fusão da lei secular e da Lei budista. Ou seja, as leis seculares e a atuação dos governantes devem ser voltadas para a garantia do bem-estar das pessoas, assim como a Lei budista enfatiza a dignidade da vida de cada ser, porque todos possuem o estado de buda como condição inata. No escrito Estabelecer o Ensinamento para a Pacificação da Terra, Daishonin explica como o sofrimento por que passava o povo japonês à época (lei secular) estava associado à crença nas seitas budistas que ignoravam o ensinamento do Sutra do Lótus (Lei budista). A amenização do sofrimento das pessoas só seria possível quando a filosofia de paz e a valorização da dignidade da vida exposta no Sutra do Lótus constituíssem a base para a sociedade. Tanto a atuação social de Dai­shonin como a dos três primeiros presidentes da Soka Gakkai — Tsunesaburo Makiguchi, Josei Toda e Daisaku Ikeda — aplicam esse princípio, pois eles dedicaram a vida ao propósito de enaltecer a dignidade da vida expressa nos ensinamentos do Sutra do Lótus e à busca pela paz mundial (kosen-rufu). Em resumo, ao encontro entre a felicidade individual e o bem-estar da sociedade. Daisaku Ikeda explica que as leis seculares abrangem dimensões amplas da sociedade, não se restringindo a relações de poder nem tampouco a interpretações restritas sobre a política: A lei secular refere-se às atividades dos homens como a arte, a educação, a economia, a política, as quais são necessárias para a manutenção da vida comunitária, na qual se inclui a contribuição para a paz e a cultura. E a lei budista é a que cultiva a dignidade da vida, que por sua vez serve como solo fértil de onde brota e floresce a cultura de uma sociedade. A “fusão” significa ter o budismo como base dessas atividades; não indica a incorpora­ção do budismo nessas áreas nem a formação de um sistema próprio. Aplicando esse princípio na vida das pessoas, significa que cada uma atuará ativamente pela paz e pelo bem-estar social como resultado do seu despertar para a missão de criar uma nova era tendo como base o aprimoramento do caráter por meio da fé. Este é o significado de “fusão”. Portanto, o que liga o budismo à lei secular é o próprio ser humano, seu espírito. Em conclusão, a missão religiosa dos budistas é essencialmente cumprir essa missão social como seres huma­nos. Somen­te quando uma religião capacita as pessoas a realizar esse propósito pode ser chamada de “religião viva”. O budismo não é mero idealismo. Uma verdadeira religião é aquela que permite que o estandarte da vitória humana seja hasteado bem alto em meio à realidade do nosso mundo. É por isso que estou tentando diligentemente abrir a estrada da paz e da cultura.3 Shin’ichi Yamamoto (pseudônimo no presidente Ikeda no romance Nova Revolução Humana) menciona, na sequência do trecho acima, a fundação do Instituto de Estudos Orientais (mais tarde, Instituto de Filosofia Oriental) e da Associação de Concertos Min-On como exemplos de aplicação do princípio de obutsu myogo. Essa lista poderia claramente ser ampliada para incluir a fundação e o desenvolvimento das escolas e universidades Soka; os corais, as orquestras e bandas musicais; o Museu de Arte Fuji; o Instituto Soka Amazônia; a elabora­ção das Propostas de Paz de Ikeda sensei e, na verdade, todas as iniciativas e ações da Soka Gakkai voltadas para a promoção da cultura, da educação e da paz, tendo como fundamento o Budismo de Nichiren Daishonin. Do ponto de vista individual, a aplicação do princípio budista da “fusão harmoniosa da lei secular com a Lei budista” ocorre em meio aos nossos esforços diários, quando temos a oportunidade de alicerçar nossas ações e nosso comportamento na sólida base de vida fundamentada nos princípios do Budismo de Nichiren Daishonin. Portanto, compreendendo que “budismo é a própria sociedade” e que “prática da fé é a própria vida diária”, podemos nos valer de nossas experiências, habilidades e virtudes lapidadas por meio da prática do budismo para criar relações ainda mais humanas e enriquecedoras com nossos familiares, amigos e colegas de trabalho. Dessa maneira, de forma reiterada e coletiva, acabamos por oferecer uma incontestável contribuição para a sociedade na construção de uma cultura de paz e de educação que valoriza a vida humana. Fonte: Terceira Civilização, ed. 415, mar. 2003. Notas: 1. Comissão de Estudos sobre Consciência Política da BSGI: Grupo criado para a pesquisa e a produção de materiais que versam sobre cidadania e política à luz dos princípios budistas, dos escritos de Nichiren Daishonin e das publicações oficiais da Editora Brasil Seikyo. 2. Coletânea dos Escritos de Nichiren Daishonin. São Paulo: Editora Brasil Seikyo, v. II, p. 307, 2017. 3. IKEDA, Daisaku. Nova Revolução Humana. São Paulo: Editora Brasil Seikyo, v. 3, p. 234, 2019. Ilustração: GETTY IMAGES

22/06/2023

Notícias

Marco da vitória contagiante

Macapá foi a primeira cidade criada no estado do Amapá, norte do país. É a única capital brasileira cortada pela linha do Equador (que divide o planeta em dois hemisférios), e a mais próxima da foz do rio Amazonas. Concentra no mínimo dois cartões-postais: o monumento Marco Zero do Equador, onde foi construído um obelisco para a observação do fenômeno do Equinócio, que marca a mudança de estações; o outro ícone turístico é a Fortaleza de São José de Macapá, construída em 1782 para proteger a cidade de invasões. É dessa região que o Brasil Seikyo traz o destaque da edição, focalizando os bastidores de desafios e comprovações dos integrantes do Distrito Norte, Área Amapá. São 78 famílias e 124 membros na estatística, com duas comunidades, FAB e Novo Horizonte, cada uma com três blocos. “Todos os dias estamos em contato com nossos membros, por mensagens e ligações, buscando saber a realidade de cada um. Ao levarmos os incentivos do Mestre, sentimos uma forte correnteza de boa sorte unindo nossa vida”. A manifestação é do líder do distrito, Laércio Sousa, que, junto com a responsável pela Divisão Feminina (DF) do distrito, Rosângela Freitas, desafiam “muito mais daimoku” para realizar as visitas. No período de pandemia, os laços foram fortalecidos com os membros, apoiando-os para que superassem as dificuldades. E mais, nesse período desafiador, sete novas famílias chegaram à base, shakubuku concretizado por esses membros. Assim, veteranos e novos membros estão unidos pelo sentimento de gratidão, que se reflete nos resultados alcançados: aumento de assinantes dos periódicos em 70% e, da mesma forma, na participação no Kofu (contribuição voluntária). O fato de conseguirem integrar 85% de seus membros às atividades é resultado da força dessa dedicação e união, a marca da localidade. “Estamos cada vez mais empenhados em unir 100% de nossa base”, afirma o responsável pelo Distrito Norte. “Um membro incentivado já logo é convidado para fazer parte das programações nos blocos, e visitas a outros membros da base. Não deixamos ninguém para trás”, reforça. Pela Divisão Feminina intensificam esforços do jeito DF de ser, “com muito mais daimoku”. As integrantes da divisão criaram até uma marca para a atuação — Mulheres de Alto Valor (Mavs) — cuja base é a recitação de daimoku em sintonia, em formato on-line. “Embora ainda não estejamos com todos os blocos atuando, nosso objetivo é continuar ao lado do Mestre, pondo em prática tudo o que ele nos ensina. Por isso, nunca perdemos a esperança de podermos fazer com que todos despertem para a prática da fé e para as atividades pelo kosen-rufu da nossa localidade, declara a responsável pela DF do distrito. “Daimoku é a base da vitória.” Avanço contínuo O empoderamento flui, e quem nos conta sua experiência é Michely Dias, recém-nomeada responsável pela DF do Bloco Santa Rita. Polícia militar, está na família Soka há seis anos, apresentada à prática pelo marido. Com os filhos Thomas, de 3 anos, e Júlia, que nascerá em julho, comprova a força do Nam-myoho-renge-kyo, após turbulenta desarmonia familiar vivenciada no ano passado. “Foi quando percebi quanto eu estava deixando de lado a minha prática. Com incentivo, desafiei-me no daimoku, sentindo-me forte, convicta de que tudo ia se resolver, e assim eu venci. O que tirei de lição? Orar não somente nos momentos de dificuldades. Diariamen­te acumular boa sorte e ativar as energias protetoras do universo. Percebi, mais que nunca, a importância de assinar os periódicos para não perder nenhum incentivo e orientação do nosso mestre. Agora como responsável pelo bloco, determino de coração tornar-me uma pessoa de grande valor e propagar a Lei Mística para a felicidade dos membros e de todos ao redor”, enfatiza Michely. A boa nova que alegra a todos da organização local, e fruto dessa energia contagiante, é ter um representante aprovado para a próxima Academia Índigo Juventude Soka do Brasil, programada para junho, em São Paulo. Hugo da Silva Rosa é responsável pela DMJ da Comunidade FAB, função que exerce há um ano, depois de se mudar de outra cidade. Tem sido o braço direito dos líderes de distrito, presença constante nas programações, realizadas em formato híbrido. Além do apoio aos membros para que não fiquem sem receber os periódicos. “Pela nossa experiência, por vezes as pessoas precisam apenas de um ‘Alô!’, uma orientação técnica, pois todos sabem quanto as publicações são importantes na vida”, considera Hugo, que, depois de ultrapassar fortes desafios financeiros e de desarmonia familiar, carimbou seu passaporte para a tão sonhada oportunidade. “Estou indo à academia com o intuito de aprender ao máximo para conduzir da melhor forma possível os jovens da minha localidade e que todos, sem exceção, sejam felizes e vitoriosos”, determina. Um marco de renovada esperança que reverbera em todos do Distrito Norte. Programação com estudantes do distrito Print de encontro on-line da DF No topo: membros do Distrito Norte posam para foto após reunião Fotos: Colaboração local

09/06/2023

Matéria da Divisão Sênior

Constituir uma força capaz de cultivar uma família reluzente

Caros amigos e amigas da Divisão Sênior, desejamos que estejam desfrutando excelente saúde, superando com sabedoria e coragem os desafios da época, fundamentados na prática budista e nas orientações de Ikeda sensei. Diferentemente do Brasil, o Dia dos Pais no Japão é celebrado neste mês de junho. O país do sol nascente é a terra natal dos Três Mestres Soka: Tsunesaburo Makiguchi, Josei Toda e Daisaku Ikeda. Em sua trajetória de vida, mesmo extremamente concentrado na grandiosa e desafiadora tarefa de edificar e conduzir a Soka Gakkai, ao lado de sua respectiva esposa, cada um deles instruiu seus filhos com todo o zelo. Dessa forma, refletiremos sobre um tema de extrema importância: a família. E o que é família? Nos dias de hoje, de forma clara, é possível perceber que não existe um modelo-padrão do que seja uma família ou de como ela deva ser. A família possui diversas formações e abrange um número imenso de características e relações. De acordo com os dicionários, de forma geral, “família” é um grupo de pessoas que partilha ou que já partilhou a mesma casa, normalmente elas possuem relações entre si de parentesco, de ancestralidade ou de afetividade. Com essa descrição, podemos entender que família é a base da nossa relação social, formada pelas pessoas com as quais somos mais próximos, íntimos e temos afinidade. Durante o pós-guerra, o segundo presidente da Soka Gakkai, Josei Toda, compreendeu em seu íntimo quão importante era uma base familiar sólida, para cada integrante desse núcleo superar as amarguras da vida. Por isso, em dezembro de 1957, ele estabeleceu as “Três diretrizes eternas da Soka Gakkai”, das quais a primeira é justamente a “Prática da fé para criar a harmonia familiar”. Referente a esse tema, nosso mestre, presidente Ikeda, reflete: A família é um ponto de segurança e esperança necessário na vida. É uma fortaleza de felicidade e de paz; um ambiente para se revitalizar, recarregar as baterias todos os dias. Contém um vínculo positivo, que nutre a alma e constrói o caminho para o autoaprimoramento e a realização; um castelo de harmonia e crescimento.1 Meu papel na harmonia familiar Como podemos construir e manter uma família harmoniosa? Ikeda sensei nos direciona da seguinte forma: Em primeiro lugar, devemos nos esforçar para sermos pessoas alegres e radiantes, cuja presença envolva todos os familiares com a luz da compaixão. Em segundo, precisamos nos respeitar mutuamen­te, reconhecendo que os vínculos familiares entre pais e filhos ou entre cônjuges e parceiros consistem em laços cármicos que se estendem pelas “três existências” — passado, presente e futuro. Em terceiro, devemos prestar uma contribuição positiva à sociedade e trabalhar para desenvolver sucessores que também façam o mesmo.2 Dentre os inúmeros desafios da vida, podemos dizer que a construção de uma família harmoniosa está entre os maiores. Nesse contex­to, diversos companheiros da Divisão Sênior e pessoas em geral podem enfrentar questões como dificuldades financeiras, choque de gerações, conflitos no lar causados por vários motivos, podendo ser até divergências devido à prática budista. Essas são algumas das possibilidades dessa maravilhosa missão que é conviver num ambiente familiar. Pois os familiares são os que mais nos conhecem: nossas virtudes e defeitos. No seio familiar, não há como se esconder. Nele, somos genui­namente nós mesmos, da forma mais pura e transparente possível. Sobre esse ponto, no capítulo “Longa Jornada”, da Nova Revolução Humana, Shin’ichi Yamamoto incentiva um membro da Divisão Sênior, que estava aflito por ter filhos que não praticavam o budismo, dizendo: Pensar que seus filhos aceitarão a prática budista porque o senhor está praticando é superestimar a condição de pai. Se eles são maiores de idade, já possuem seus próprios pensamentos e vivem com base neles. Cabe ao senhor, de um lado, respeitar a opinião deles; do outro, se deseja realmente que eles compreendam e aceitem a prática do budismo, o senhor próprio deve provar em sua vida diária quanto a prática budista é extraordinária. Em todo caso, deve se esforçar em se tornar alvo do orgulho e do respeito de seus filhos. (...) Se o senhor deseja a felicidade dos seus filhos e ora sinceramente para concretizá-la, esse sentimento atingirá o cora­ção deles e certamente os despertará para a prática da fé. Além disso, essa oração produzirá benefícios e boa sorte para proteger seus familiares. Por isso, não há necessidade de ficar aflito, nem de impor a prática do budismo.3 Esses são incentivos acolhedores e extremamente adequados à época em que vivemos, na qual o intenso fluxo de informações pode nos distanciar do convívio familiar, por conta da relação estreita com as mídias sociais, entre outros problemas. Mas depende de cada um de nós pôr em prática essa vivência, mesmo nas questões mais simples, tais como jantar à mesa, brincadeira com as crianças, bate-papo descontraído ou assistir a um filme no sofá. O mais importante é o diálogo sincero e aberto, desarmado. Além disso, é fundamental buscar um desafio conjunto da prática da fé. Importante também levar em consideração a característica de cada indivíduo da família, ciente de que cada um tem suas características, e buscar utilizar as diferenças individuais como trampolim para a harmonia e o aprendizado mútuo. Não existe receita Cada família é única, e não existe uma receita pronta para cultivar e desenvolver a harmonia. Contudo, podemos afirmar com base nas orientações do presidente Ikeda que criar um ambiente alegre e respeitoso envolve — sobretudo dos pais — a sensibilidade em reconhecer virtudes, angústias, vulnerabilidades e sonhos de cada um. E a partir dessa “radiografia da alma”, implementar, com dinamismo e entusiasmo, ações de encorajamento, amor, correção e incentivo. Embora de fato não exista uma receita, temos a imensa boa sorte de desfrutar uma grandiosa filosofia de vida que possui sólidos e sábios ensinamentos para o cultivo da vida humana voltados para o humanismo, o respeito e a felicidade. DS que comprova Eu me chamo José Carlos Júnior, tenho 44 anos, e em maio de 2023 completei quarenta anos de prática deste maravilhoso Budismo Nichiren, que iniciei junto com minha mãe aos 4 anos. Nós sempre sofremos com problemas financeiros, e isso contribuiu para que eu não tivesse condições adequadas de estudar. Muitas foram as adversidades, ainda sim eu acalentava sonhos que pareciam ser impossíveis. Na juventude, esses obstáculos pareciam não ter fim. A desarmonia em nossa família era constante em razão de meu falecido pai ser alcoólatra e todos os dias chegar a casa bêbado, causando sofrimento a todos nós e, principalmente, à minha mãe, agredindo-a. Eu não suportava assistir àquela cena. Ia para frente do Gohonzon recitar daimoku até que a situação se acalmasse. Algum tempo depois, houve a separação dos meus pais e minha mãe nos criou sozinha ainda com mais dificuldades, mas sem desistir da sua fé de jamais abandonar o Gohonzon. Fui crescendo e compreendendo que o Gohonzon é a minha própria vida. Os anos se passaram, desafiei e venci nos estudos, formei-me em enfermagem no ensino superior e concluí dignamente minha atuação na Divisão dos Jovens. Já em 2020 trabalhava em duas grandes instituições no Rio de Janeiro. Estava tudo bem, até que em março do mesmo ano foi declarada oficialmen­te a pandemia da Covid-19. Com a pandemia, também veio uma crise financeira na família, pois todos os processos judiciais do meu companheiro, que é advogado, foram bloqueados em razão do fechamento do Fórum e do cancelamento das audiências, deixando-o sem nenhum valor para receber e para arcar com despesas e compromissos. Nossas dívidas aumentaram e chegamos a ponto de sentarmos e discutirmos a possibilidade de vender nosso apartamento para saldar as dívidas. Nesse meio-tempo, recebi uma promoção no hospital para assumir a coordenação interina de um complexo obstétrico, a qual melhorou ainda mais a minha remuneração. Mesmo assim, foi um período de muita dificuldade financeira. Após longos diálogos, decidimos alugar o apartamento, em vez de vendê-lo, e mudar para a cidade de Saquarema, RJ, uma vez que esse era um objetivo futuro e há tempos pensávamos nisso. O ano 2021 chegava com novos benefícios e desafios, visto que tudo estava a nosso favor. Meu companheiro recebeu todos os processos que estavam atrasados, achamos uma excelente casa na nova cidade, um emprego garantido que me foi prometido e, melhor, ao lado de casa. Então, resolvi pedir demissão do emprego maravilhoso que eu tinha. Enfim, mudança realizada! E agora, cadê o emprego prometido? Pois bem, o emprego não aconteceu. Intensifiquei meu daimoku todos os dias para transformar a causa do sofrimento em felicidade. Fiz algumas entrevistas, mas sem sucesso. Li uma orientação no Brasil Seikyo do dia 24 de julho de 2021 que falava da “teoria de valor” do presidente Makiguchi sobre o emprego dos princípios do “belo, do benefício e do bem”.4 Fiz um resumo sobre o emprego e coloquei no oratório para eu me lembrar toda vez que orasse. O fim do ano de 2021 se aproximava e o emprego não chegava. Quase sete meses sem trabalhar. Determinei que até o último dia do ano eu estaria empregado. Não poderia mais me permitir ser derrotado pela escuridão fundamental da minha vida. Em 3 de dezembro de 2021, foi publicada no Diário Oficial, da Cidade de Cabo Frio, uma chamada para duzentos enfermeiros para a Prefeitura e lá estava meu nome. Tomei posse no dia 16 de dezembro desse ano, e no dia 8 de janeiro de 2022, comecei meu primeiro plantão. Também me tornei professor de enfermagem na cidade de Saquarema e meu objetivo é formar profissionais que fazem a diferença na enfermagem e na vida de cada paciente. No início de 2023, fui convidado a assumir a coordenação-geral do centro cirúrgico do hospital em que atuo. Nesses primeiros meses, conseguimos implantar as primeiras cirurgias por videolaparoscopia dentro do município, o que nunca aconteceu em nenhum hospital da rede pública. Cada dia comprovo a grandiosidade de Ikeda sensei em meu local de trabalho. Comprovei nesses quarenta anos de Budismo de Nichiren Daishonin a grandiosidade do Gohonzon, a grandiosidade do meu mestre e me tornei daquele menininho com grandes sonhos um integrante da Divisão Sênior, um verdadeiro “pilar de ouro”. José Carlos Rocha Pereira Junior, CGERJ, RM Região dos Lagos. José Carlos, à dir., com seu companheiro, Lincoln Silva Reflexão sobre a matéria “Ao julgar os méritos relativos das doutrinas budistas, eu, Nichiren, acredito que os melhores critérios são aqueles da razão e da prova documental. E ainda mais importante que a razão e a prova documental é a prova real.”5 “A prova mais convincente para desenvolver o kosen-rufu é a felicidade que estabelecemos em casa. E é essa felicidade que sustentará a nossa convicção diante de qualquer pessoa.”6 Estimados companheiros, após lermos de forma atenciosa e cuidadosa os trechos da Nova Revolução Humana e do Gosho descritos acima, devemos refletir com honestidade e seriedade como está a harmonia e felicidade na minha família e que tipo de ação estou desenvolvendo para criar verdadeiramente a harmonia familiar em minha casa. Em meio à realidade cotidiana, certamente rea­lizamos esforços redobrados para atender às demandas do trabalho, do aprimoramento contínuo em estudar mais e é comum apoiarmos os companheiros da nossa organização. Todos esses nossos empenhos são preciosos, louváveis e com certeza criam uma imensurável boa sorte em nossa vida, como também nos faz exercitar o cumprimento da nossa própria missão. Mas, se não voltarmos os olhos, a atenção, a dedicação para construir a felicidade dentro de casa, junto dos nossos familiares, estaríamos falhando em criar a prova mais importante para o desenvolvimento do kosen-rufu, nossa mais elevada missão. O presidente Ikeda nos orienta: “Nós falamos sobre o kosen-rufu como um movimento a ser promovido na sociedade, mas seu verdadeiro eixo encontra-se em nosso lar, na família”.7 Nós, pilares de ouro Soka, temos papel decisivo na criação da harmonia familiar, e o primeiro passo é cultivarmos esse forte desejo consciente da importância da comprovação familiar para o kosen-rufu. Luís Otávio Vieira Arcoverde da Silva, vice-coordenador da CGERJ Notas: 1. IKEDA, Daisaku. Cinco Diretrizes Eternas da Soka Gakkai. São Paulo: Editora Brasil Seikyo, 2017. p. 20. 2. Ibidem. 3. IKEDA, Daisaku. Nova Revolução Humana. v. 6. São Paulo: Editora Brasil Seikyo, 2019. 4. Cf. Brasil Seikyo, ed. 2.573, 24 jul. 2021, p. 15. 5. Coletânea dos Escritos de Nichiren Dai­shonin. São Paulo: Editora Brasil Seikyo, v. I, p. 626, 2020. 6. IKEDA, Daisaku. Expansão. Nova Revolução Humana. v. 8. São Paulo: Editora Brasil Seikyo, 2019. 7. Ibidem. Ilustração: Getty Images Foto: Arquivo pessoal

09/06/2023

Mensagem

“Promovam, em união harmoniosa e alegre, o modelo de avanço número um do mundo!”

Meus amados e preciosos companheiros da família Soka do Brasil! Efusivas felicitações pela realização da resplandecente convenção da nova partida! E também a todos os que estão participando em cada localidade do Brasil, nosso coração está ligado e é uno. Certamente os dois mestres devem estar observando com alegria este encontro do juramento que se realiza no Centro Cultural Campestre de magníficas árvores e flores exuberantes próximo à Estrada Tsunessaburo Makiguti e ao Viaduto Jossei Toda. Em meio aos incessantes desafios que o mundo enfrenta, os companheiros do Brasil, com a união harmoniosa de “diferentes em corpo, unos em mente” e com o desafio de transformar veneno em remédio, vieram transmitindo encorajamentos de grande esperança. Nichiren Daishonin afirmou a uma louvável discípula: A distância entre as províncias em que vivemos é grande, e meses e anos se passaram; por isso, estava preocupado que talvez sua determinação tivesse enfraquecido. No entanto, a senhora tem demonstrado uma fé cada vez mais profunda e suas boas ações aumentam sem cessar. Com certeza, este não é o resultado de ter praticado apenas em uma ou duas existências passadas.1 Verdadeiramente interpreto essas palavras como o louvor aos senhores de profundos laços cármicos que vieram acumulando grandiosos esforços lutando em prol da Lei, das pessoas e da sociedade. Não há dúvida nenhuma de que os senhores, envoltos pelas recompensas resultantes das ações nos bastidores, desfrutarão a gloriosa vitória. No capítulo 25, “Portal Universal”, do Sutra do Lótus, consta: “Contempla os seres vivos com olhar compassivo. / O mar de seus benefícios acumulados é imensurável”.2 Daishonin demonstra por meio desse trecho do sutra que, ao incorporar a benevolência da Lei Mística, imensuráveis boa sorte e sabedoria, tal como o vasto mar, se manifestam na própria vida e na vida dos outros, na sociedade e na nação. Nas atividades diárias da Gakkai, preza-se com carinho a pessoa que se encontra à frente, conversa-se com a natureza de buda dela e, assim, cria-se os nobres laços budistas com ela. Esse sublime trabalho do Buda somente pode ser cumprido por nós. Então, avançando corajosamente pelo grande caminho do kosen-rufu de profunda missão, junto com a Gakkai e os companheiros, vamos continuar transmitindo incentivos com o espírito de prezar uma única pessoa e sem deixar ninguém para trás! E, em nossa terra do juramento, vamos construir a grande rede da felicidade e da paz! Rumo ao centenário de fundação da Soka Gakkai em 2030, com os jovens de altivo orgulho de genuínos emergidos da terra na vanguarda, conto com todos para que promovam, em união harmoniosa e alegre, o modelo de avanço número um do mundo! Estarei sempre orando sinceramente, junto com minha esposa, pela boa saúde e longevidade, segurança e tranquilidade, bem como pela boa sorte, harmonia, glória e triunfo de todos os senhores que reluzem no fundo do meu coração. Viva a família Soka do Brasil! Em 4 de junho de 2023 Daisaku Ikeda Presidente da Soka Gakkai Internacional Notas: 1. Coletânea dos Escritos de Nichiren Daishonin. São Paulo: Editora Brasil Seikyo, v. I, p. 513, 2020. 2. Lotus Sutra and its Opening and Closing Sutras [Sutra do Lótus e seus Capítulos de Abertura e Conclusão]. Tradução: Burton Watson. Tóquio: Soka Gakkai, cap. 25, p. 306. Foto: Seikyo Press

09/06/2023

Caderno Nova Revolução Humana

“Preencher o mundo com alegria”

PARTE 17 Shin’ichi e a comitiva se dirigiram para a parte antiga da cidade de Plovdiv, um verdadeiro sítio arqueológico. Em um edifício de sólida construção do século 19, de estilo renascença da Bulgária, o prefeito Michev explicou a sua história e a situação atual. Em seguida, eles visitaram as ruas da cidade caminhando sobre antigos pisos de pedra. Quando foram conduzidos a um edifício histórico considerado patrimônio cultural nacional, um coral infantil formado por cerca de sessenta meninos os aguardava. Vestindo camisas brancas com babado sobre um traje escuro na cor mate, eles cantaram seguidamente com uma bela e límpida voz. Então, um dos meninos avançou um passo e disse: — Agora, vamos cantar em japonês para os visitantes do Japão. Será a canção Kusatsubushi [Canção de Kusatsu]. Era uma consideração para tranquilizar o coração de todos. Kusatsu, um belo lugar. Venha uma vez Ah, dokkoisho Dentro das águas termais Também nasce a flor O refrão Tchoina tchoina que se segue acaba sendo pronunciado como Tcheina tcheina. Mas esse erro de pronúncia transmitia um aspecto ainda mais amável. Quando terminou a música, Shin’ichi se levantou da cadeira e, enviando uma grande salva de palmas, manifestou seus agradecimentos: — Que coral límpido, belo e alegre! Fiquei emocionado. O sentimento sincero de vocês que vieram ensaiando arduamente, por longo tempo, para uma única apresentação do coral, me tocou profundamente. Esse breve encontro se tornou um tesouro para sempre. Obrigado! Fiquei com um sentimento caloroso como se estivéssemos banhando juntos nas águas termais no Japão. Por favor, venham ao Japão. Vamos estreitar a amizade. A criança é uma emissária do futuro. A mensagem que Shin’ichi quis confiar a esses emissários [do coral] enviando-a para o futuro era que “criassem a paz, unindo o mundo com a amizade”. “Criança! Em seu pequenino corpo está hospedada a grandiosa alma”1 — são as palavras da mãe da literatura da China Xie Bingxin, com quem Shin’ichi e sua esposa criaram laços de profunda amizade. PARTE 18 Ao final da tarde do dia 23, a convite da presidente do Comitê de Arte e Cultura, Lyudmila Zhivkova, Shin’ichi participou do encontro “Bandeira da Paz”, realizado à véspera do Dia da Cultura. Comemorando também os 1.300 anos de fundação da Bulgária, o evento foi promovido de forma magnífica no alto de uma colina de onde se avistava a famosa montanha Vitocha, na periferia de Sófia. Na colina, ergue-se soberba a Bandeira da Paz, uma torre comemorativa com mais de 30 metros de altura. Na torre estão gravadas caligrafias com o significado de “Harmonia”, “Criação” e “Beleza”. E sobre a entrada da torre, há uma gravura dos irmãos Cirilo e Metódio, os quais construíram o alicerce da cultura búlgara, inclusive a forma original do alfabeto cirílico. O encontro da “Bandeira da Paz” começou a ser realizado em 1979 comemorando o Ano Internacional da Criança. Nesse primeiro evento, 2.500 crianças de 79 países, incluindo a Bulgária, realizaram um intercâmbio e juraram a paz. Do Japão, também participaram crianças com deficiência física na Bulgária, e uma representante leu o poema Viver de sua própria autoria. Foi um encontro de profunda admiração de todo o mundo. A presidente Zhivkova havia sido a pessoa que ofereceu extraor­dinária força para a realização desse evento. Ela havia percorrido o mundo afirmando seguidamente sobre proteção à paz e ao futuro da criança. Pouco depois das 17 horas, quando Shin’ichi e Mineko estavam juntos com a presidente Zhiv­kova, crianças em trajes étnicos coloridos os recepcionaram com bandeirolas da Bulgária nas cores branca, verde e vermelha. Quando eles se sentaram, iniciou o coral. O significado da canção era: “Queremos preencher o mundo com a alegria e as risadas das crianças. Colocando as asas da amizade, vamos voar alto pelos céus rumo ao mundo a partir da montanha Vitocha”. Seguiram-se apresentações de canções e de danças típicas. Nas atrações musicais, viam-se flautas e tambores da antiguidade, e todas elas estavam repletas de orgulho da cultura do seu país. Em cada número, a presidente Zhivkova enviava uma grande salva de palmas e incentivava dizendo: “Foi uma ótima apresentação. Foi maravilhoso”. Era o aspecto de uma mãe, forte e carinhosa, tentando amar e proteger as crianças. PARTE 19 Em suas palavras de cumprimento, a presidente Zhivkova referiu-se ao significado do Dia da Cultura na Bulgária. Disse que aquela era uma data para co­memorar louvando a eterna contribuição dos irmãos Cirilo e Metódio, que criaram o formato original do alfabeto cirílico. No início, não havia uma escrita representativa das línguas eslavas utilizadas na Bulgária. No século 9, os irmãos Cirilo, que eram missionários gregos, idealizaram o alfabeto glagolítico baseado no alfabeto grego com o propósito de traduzir a Bíblia para as línguas eslavas. Posteriormente, seus discípulos introduziram alguns ajustes criando o alfabeto cirílico na Bulgária; e este se expandiu amplamente pelos países de língua eslava, dentre os quais a Rússia. A presidente clamou o desejo de objetivar a paz do mundo a partir das três palavras “Harmonia”, “Criação” e “Beleza”, gravadas na torre da Bandeira da Paz. Na sequência, Shin’ichi se levantou para seus cumprimentos. Apesar dos chuviscos que começavam a cair, ele se dirigiu ao microfone sem guarda-chuvas. — Representando o Japão, quero cumprimentar a todos vocês, amáveis e tão importantes. Então, pediu para que suas palavras traduzidas para o búlgaro fossem lidas pelo intérprete. Ele queria diminuir o tempo em que as crianças ficassem sob a chuva. Nessas palavras constavam: — “Que se tornem pessoas corajosas e ao mesmo tempo carinhosas e compreensivas. Desejo que fortaleçam o corpo e a mente”. Ele disse também que a vida é sinônimo de luta, e, diante dos sonhos acalentados por todos, haveria de surgir numerosas dificuldades e provações. E manifestou sua expectativa: — “Nesses momentos, desenvolvam-se heroica e resolutamente, gravando em seu coração que os obstáculos e as dificuldades são oportunidades para fortalecer a própria capacidade”. Uma grande salva de palmas das crianças ecoou pela colina. E, finalmente, chegava à grande final. Ao som do badalar dos sinos da paz enviados pelos diversos países, foi acesa pelas mãos das crianças a chama da paz na pira que se levantou brilhantemente. Se a chama da paz for acesa no coração das crianças, o planeta Terra do século 21 se tornará um resplandecente astro repleto de brilho da paz. PARTE 20 No dia 24, foi realizado majestosamente na Praça 9 de Setembro o desfile do Dia da Cultura comemorativo dos 1.300 anos de fundação da Bulgária. Como convidado, Shin’ichi também participou dessa festividade junto com o presidente Zhivkov da Assembleia Nacional da Bulgária e com as demais autoridades do gabinete de ministros da Bulgária. A chuva do dia anterior havia passado e brilhava o sol de início do verão. Diversos grupos de jovens e idosos, de homens e mulheres, formados por estudantes dos ensinos fundamental, médio e superior, por profissionais de diversas áreas, por moradores de algumas localidades, entre outros, desfilavam elegantemente. Uma enorme gravura enaltecendo os irmãos Cirilo adornava o local do desfile. A banda de metais executou uma música suave e o grupo de baliza avançou exibindo uma dinâmica demonstração. Na vanguarda do desfile da Universidade de Sófia estava o reitor Dimitrov acompanhado de professores e alunos. Viam-se também pessoas conduzindo filhos pequenos pelas mãos e outros nos ombros, bem como gente que balançava cravos. Era uma grande marcha repleta de calor humano onde se observavam pessoas unidas em um só coração, desabrochando flores de sorriso. O vice-reitor da Universidade de Moscou, Vladimir Ivanovich Tropin, que participava como convidado, disse a Shin’ichi: — Aqui existe humanismo. Sua ideologia vai ao encontro do espírito da Soka Gakkai. Na tarde do dia seguinte, 25 de maio, a comitiva de Shin’ichi partiu da Bulgária. O vice-presiden­te do Comitê de Cultura do governo búlgaro, Emil Alexandrov, que veio ao aeroporto de Sófia para se despedir da comitiva, disse com o rosto corado: — Ficaremos imensamente felizes se puder nos considerar amigos do presidente Yamamoto, o qual desenvolve atividades em âmbito mundial. A presidente Zhivkova do Comitê de Arte e Cultura manifestou profunda gratidão pela visita do presidente Yamamoto e de sua esposa e pediu para lhes transmitir as melhores recomendações. A presidente Zhivkova faleceu repentinamente, dois meses depois, no dia 21 de julho, aos 38 anos. O mundo lamentou sua morte prematura. As pétalas da bela flor branca da Bulgária que trabalhou com todas as suas forças, sempre preparada para tudo, se espalharam vividamente. Relembrando sua nobre existência, vivendo pela sua convicção, Shin’ichi e Mineko oraram em sua memória. O personagem do presidente Ikeda no romance é Shin’ichi Yamamoto, e seu pseudônimo, como autor, é Ho Goku. Nota: 1. BINGXIN, Xie. Coletânea de Bingxin. v. 1. RU, Zhuo (ed.). Editora Kaikyou Bungei Shuppansha. Ilustrações: Kenichiro Uchida

09/06/2023

Encontro com o Mestre

Aqueles que propagam a Lei Mística são os mais nobres de todos

No ano 1278, nesta mesma data, 1o de maio, Nichiren Daishonin escreveu em uma carta endereçada a uma de suas discípulas [a monja leiga Myoho]: Mesmo que o sol e a lua caiam no chão, e o Monte Sumeru desmorone, é absolutamente certo que a mulher que abraça a Lei Mística atinja o estado de buda. Que fato promissor!1 Essa é uma promessa que Nichiren Daishonin faz a todas as mulheres, praticantes da Lei Mística, de que elas infalivelmente atingirão o estado de buda. Em um escrito encaminhado a outra discípula, a monja leiga Kubo, Daishonin declara: Neste mundo de intensas perseguições semelhantes a fortes ventanias que açoitam a grama e os relâmpagos atemorizam as pessoas, o fato de a senhora perseverar em sua fé até hoje é realmente algo maravilhoso. Dizem que, se as raízes de uma árvore são profundas, suas folhas não murcham, e que se houver uma joia preciosa na fonte, a água não para de jorrar. Da mesma forma, as raízes de sua fé são profundas e em seu coração brilha a joia preciosa da fé. Que nobre e admirável!2 Frequentemente, Daishonin louva a fé corajosa de suas seguidoras. Hoje, elas corresponderiam às nossas integrantes da Divisão Feminina. Espero que todas desfrutem um maravilhoso Dia das Mães da Soka Gakkai! A exposição Napoleão Bo­napar­te: O Homem está sendo apresentada, com grande aclamação, no Museu de Arte Fuji de Tóquio, em Hachioji. Como estamos prestes a entrar no novo século, creio que essa exibição proporcionará ao público uma pequena amostra do que um único indivíduo pode conquistar quando se levanta com inabalável comprometimento com um ideal e como é capaz de marcar a história e mudar a época quando decide agir assim. O que exatamente podemos aprender com a vida de Napoleão? O grande filósofo norte-americano Ralph Waldo Emerson declarou: “A lição que ele [Napoleão] ensina é a coragem. Tendo coragem, o caminho sempre se abre”.3 Estamos celebrando o glorioso 3 de maio, Dia da Soka Gakkai, e vocês se esforçaram com vigor e coragem para abrir o caminho do século 21 para o nosso movimento. Parabéns! Nosso sucesso é amplamente reconhecido e só poderia ser alcançado por uma organização de praticantes diretamente ligados a Nichiren Daishonin. É uma conquista milagrosa. Tenho certeza de que ele os está elogiando profundamente. Emerson também fez a seguinte observação sobre Na­poleão: “Mesmo que a situação presente fosse de muita popularidade, em nenhum momento, Napoleão se esquecia do caminho que ele deveria seguir”.4 Quando Napoleão conquistava uma vitória, imediatamente visualizava a próxima. Não se satisfazia com o triunfo do momento; jamais se permitia relaxar, jamais desistiu de empreender um esforço ainda maior. Esse é o segredo para vencer uma batalha. O importante é fazer de uma vitória a causa para a próxima. Esse é o modo sagaz de lutar, bem como o caminho que conduz a sucessivas vitórias. Aqueles que se deleitam com seus triunfos acabarão se tornando arrogantes e, no final, serão derrotados. É no exato momento em que triunfamos que devemos iniciar mais esforços na direção de um novo e maior objetivo. É dessa maneira que asseguramos nossa próxima vitória. Esse espírito de avançar ininterruptamente é o “avanço diligente com espírito destemido” — yumyo shojin, em japonês — referido no capítulo “Meios Apropriados” do Sutra do Lótus.5 Se considerarmos cada um dos ideogramas chineses desse termo individualmente, yu significa “coragem”; myo, ou “vigoroso”, refere-se a “aplicar a própria sabedoria e energia ao máximo”; sho, ou “puro”, quer dizer “inalterável”, “concentrado” e “perfeito”; e jin, ou “esforço”, indica “avanço ininterrupto”. O “avanço diligente com espírito destemido” desenvolve uma pessoa que sempre triunfa. Assim, fortalece-nos de forma que nossa vida seja sempre vitoriosa. Há outra observação famosa feita por Napoleão: “Levante-se na vanguarda das ideologias de sua época. Tais ideologias vão segui-lo e haverão de apoiá-lo”.6 Uma furiosa disputa está em andamento neste momento para determinar que filosofia, que força conduzirá o século 21. Quem determinará esse desfecho? Os “valores humanos”. Será crucial o surgimento de pessoas com espírito resoluto, possuidoras de força e caráter — pessoas íntegras. O objetivo da SGI é criar exatamente esse tipo de pessoa. Essa integridade é a qualidade especial daqueles que praticam o Budismo de Nichiren Daishonin. Isso se deve ao fato de tudo estar contido no Nam-myoho-renge-kyo: virtude, energia vital, inteligência, boa sorte e filosofia. A filosofia de Napoleão era dar oportunidades para as pessoas talentosas. O segundo presidente da Soka Gakkai, Josei Toda, nos ensinou a educar e a treinar nossos novatos de forma que eles nos superassem. Os “valores humanos” determinarão a vitória e criarão o futuro. É por essa razão que a Soka Gakkai se concentra em desenvolver “valores humanos” , e será vitoriosa porque enfatiza esse ponto. Em um editorial que Toda sensei redigiu para a edição do dia 1o de maio da revista de estudos da Soka Gakkai, Daibyakurenge, há 45 anos [1954], ele declarou que aqueles que conduziam o movimento pelo kosen-rufu são os emissários do Buda, os que conduzem o trabalho do Buda. Afirmou que eles eram infinitamente superiores a heróis, tais como Napoleão e Alexandre, o Grande. Aqueles que propagam a Lei Mística e participam das atividades da SGI são verdadeiros heróis, os mais nobres de todos. Em A Seleção do Tempo consta: A pessoa que pratica o Sutra do Lótus tal como este ensina deve ser superior a Brahma e mais sábia que Shakra. Se tiver a ajuda dos asura, poderá erguer e transportar até o Monte Sumeru. Com o auxílio dos dragões, poderá extrair toda a água do oceano até secá-lo.7 Embora possa haver várias maneiras de interpretar essa passagem, acredito que possa ser lida com o significado de que aqueles que praticam a Lei Mística, assim como o Buda ensina, podem livremente fazer aliada qualquer pessoa em qualquer estado de vida, mesmo asura e animalidade, para fazer avançar o grande empreendimento do kosen-rufu. De forma geral, a Soka Gakkai é uma reunião de grandes líderes da humanidade. Quanto mais nosso movimento crescer, mais o século 21 se tornará um século de esperança e de paz. Com essa convicção, vamos dar novos passos com orgulho e coragem a partir de 3 de maio! Estou orando sinceramente para que todos vocês desfrutem uma vida longa e saudável, repleta de boa sorte sem limites, e conti­nuarei fazendo isso enquanto eu viver. Obrigado por ouvir tão pacientemente hoje. Traduzido a partir da edição do jornal diário da Soka Gakkai, Seikyo Shimbun, de 23 de maio de 2023. Leia o discurso na íntegra no Brasil Seikyo, ed. 1.529, 30 out. 1999, p. A3. Estátua denominada “Travessia de Napoleão do Monte Saint Bernard”, na cidade de Hachioji, Tóquio Apresentação conjunta da Orquestra de Sopros Gloria Soka, da banda masculina Ongakutai e da Shining Spirit Soka, da banda feminina Kotekitai, na 13ª Reunião Nacional de Líderes (Tóquio, 3 maio 2023) Integrantes da SGI de países da Oceania e representantes da Divisão do Futuro (equivalente à Divisão dos Estudantes da BSGI) participam da13ª Reunião Nacional de Líderes (Tóquio, 3 maio 2023) No topo: Presidente Ikeda profere discurso durante a 33ª Reunião Nacional de Líderes, realizada no Auditório Memorial Makiguchi, em Hachioji (Tóquio, maio 1999).Notas: 1. Cf. The Writings of Nichiren Daishonin [Os Escritos de Nichiren Daishonin], v. II. Tóquio: Soka Gakkai: 2006, p. 752. 2. Cf. Ibidem, p. 755. 3. EMERSON, Ralph Waldo. Napoleon; Or, The Man of the Word [Napoleão ou O Homem do Mundo]. In: Representative Men [Homens Representativos]. Nova York: The Library of America, 1983. p. 739. 4. Ibidem, p. 732. 5. Cf. The Lotus Sutra [O Sutra do Lótus]. Tradução: Burton Watson. Nova York: Columbia University Press, 1993, cap. 2, p. 23. 6. Traduzido do francês. Les Pages Immostelles de Napoleón. AUBRY, Ocatave (ed.). Paris: Editions Corrês, 1941. p. 239. 7. Coletânea dos Escritos de Nichiren Dai­shonin. São Paulo: Editora Brasil Seikyo, v. I, p. 608, 2020. Fotos: Seikyo Press

09/06/2023

Notícias

Humanismo Soka é pauta em encontro sobre energia nuclear

REDAÇÃO A Universidade Federal de Santa Maria, no Rio Grande do Sul, em parceria com a Pugwash Internacional e BSGI, promoveu, no último dia 16, o evento América Latina na Era Nuclear, que reuniu diversos pesquisadores de assuntos relacionados à energia atômica. Entre os destaques da programação estavam Rafael Mariano Grossi, embai­xador da Argentina e diretor-geral da Agência Internacional de Energia Atômica. Miguel Shiratori, presidente da BSGI, abriu sua fala relembrando a ocasião em que conheceu o professor doutor Paulo Afonso Burmann, reitor da Universidade Federal de Santa Maria, além de cumprimentar os demais componentes da mesa, organizadores e participantes. Shiratori refletiu sobre questões como ataques nucleares às cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki e a pandemia da Covid-19. Ao citar tópicos da Proposta de Paz, do Dr. Daisaku Ikeda, ressaltou a importância de se desenvolver uma visão mais concreta sobre a criação de uma sociedade pacífica e que o Tratado sobre a Proibição das Armas Nucleares (TPAN) tem papel fundamental nesse processo. O presidente Shiratori reforçou que a atuação da SGI pela abolição das armas nucleares “está enraizada na mudança interna de cada pessoa e no respeito pela dignidade humana”, sempre com foco no desenvolvimento do indivíduo e sua atuação em prol da sociedade, em total alinhamento com o pensamento do presidente da organização, Dr. Daisaku Ikeda. Enfatizou que foi Josei Toda, segundo presidente da Soka Gakkai, quem levantou a bandeira da paz por meio da Declaração pela Abolição das Armas Nucleares, bandeira essa que foi abraçada amplamente por todos os membros da SGI. Diálogos fundamentais O encontro foi aberto com um vídeo do embaixador Rafael Mariano Grossi em que ele reflete sobre a importância de se redobrar os esforços para frear a proliferação das armas nucleares, apesar do crescimento desse tipo de iniciativa na América do Sul e no mundo. Foram realizadas duas mesas-redondas. A primeira, “América Latina no Setor Nuclear: Papel das Universidades”, foi composta pelos representantes: professora Dra. Monica Herz, diretora do Grupo Nacional Pugwash Brasil; Dr. Emiliano J. Buis, professor titular do curso de direito internacional público, da Universidade de Buenos Aires; Dr. Javier Palacios, presidente da Seção Latino-Americana da Sociedade Nuclear Americana; Álvaro Bermúdez, diretor de Energia e Tecnologia Nuclear do Uruguai; e Dra. Nelida Lucia Del Mastro, pesquisadora do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares da Comissão Nacional de Energia Nuclear da Universidade de São Paulo, mediadora da mesa. Entre os temas apresentados estavam a governança da tecnologia nuclear para fins violentos, direito internacional nuclear e formação de pessoas especializadas em energia nuclear em diferentes áreas de atuação. A segunda mesa-redonda, “América Latina no Setor Nuclear: Papel da Sociedade Civil”, foi composta, além de Miguel Shiratori, presidente da BSGI, pelos integrantes: professora Renata Dalaqua, líder do programa United Nations Institute for Disarmament Research (Unidir); professora Melina Belinco, vice-presidente da Women in Nuclear (WiN) Global; Graciela Tufani, coordenadora acadêmica da MPS Global; e professor Odilon Marcuzzo do Canto, PhD em engenharia nuclear pela Universidade da Califórnia - Berkeley. Entre os temas levantados estão a participação da sociedade civil na formulação de políticas nucleares e a participação ativa das mulheres nas questões nucleares. Ações da SGI e da BSGI foram apresentadas pelo presidente Miguel Shiratori em evento virtual promovido pela Universidade Federal de Santa Maria

18/11/2021

Notícias

Aplicativo a favor do verde

REDAÇÃO Em ação conjunta, Instituto Soka Amazônia (ISA), Fundação Rede Amazônica (Fram) e Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) promoveram um ciclo de diálogos, iniciado em maio e encerrado em grande estilo nos dias 20 e 21 de outubro. O 6º Seminário Águas da Amazônia foi transmitido via internet, mas também contou com participação presencial, seguindo todos os protocolos de segurança recomendados pelos ór­gãos de saúde. Entre os presentes estavam Marcya Lira, secretária executiva do Fram; Dra. Denise Gutierrez, coordenadora de tecnologia social do Inpa; e Akira Sato, presidente do ISA. Integrante da programação da 18a Semana Nacional de Ciência e Tecnologia, cujo tema estabelecido para 2021 foi a “Transversalidade da Ciência, Tecnologias e Inovações para o Planeta”, o 6º Seminário Águas da Amazônia procurou discutir justamente os três aspectos centrais do tema à questão das águas amazonenses. Como especialistas, foram convidados Thiago Terada, CEO da Águas de Manaus, empresa responsável pelo abastecimento hídrico, coleta e tratamento de esgoto da capital; e o Dr. Sávio Ferreira, pesquisador titular do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia. Thiago Terada explanou sobre a busca de eficiência na gestão dos recursos hídricos na área urbanizada do município, assunto de grande interesse nacional. Já o Dr. Sávio discorreu sobre o efeito da expansão urbana da cidade de Manaus nos igarapés, e ressaltou alterações consideráveis nesses cursos d’água, comparando informações coletadas entre aqueles que ficam próximos às áreas urbanizadas e os que ficam mais distantes. Tree Earth Na ocasião, foi lançado também o aplicativo Tree Earth, parceria entre o ISA, VS Academy, Faculdades Idaam e Fram, cuja principal funcionalidade é, via geolo­calização, monitorar o plantio e o desenvolvimento de mudas plantadas ou apoiadas pelo ISA. Vicente Tino, CEO da VS Academy, idealizador do aplicativo, revela que o projeto foi desenvolvido a partir da necessidade do Instituto Soka Amazônia de apresentar à sociedade os resultados dos esforços empreendidos no plantio das mudas. Tino nos conta também que o projeto avançou tanto que ganhou outras funcionalidades, como calcular a emissão de gás carbônico do usuá­rio a partir dos seus hábitos. Veja no BS+ Notícia comple­ta sobre o lançamento do aplica­tivo Tree Earth em: https://app.brasilseikyo.com.br/conteudo/999559914/instituto-soka-amazonia-lanca-aplicativo

04/11/2021

Especial

Passaporte para a felicidade

REDAÇÃO Um ideal. O sentimento de compartilhar a alegria e a felicidade por meio da prática do Budismo de Nichiren Daishonin. Um turbilhão de diferentes emoções devia estar permeando o coração do jovem discípulo. Entretanto, era claro seu principal objetivo: levar o budismo às pessoas e fazer ecoar os ideais do seu mestre, Josei Toda, por todo o mundo. Com 32 anos, recém-nomeado presidente da Soka Gakkai, e com uma saúde que necessitava de cuidados, Daisaku Ikeda, juntamente com sua comitiva, realiza a primeira viagem internacional. O roteiro da jornada envolveu os Estados Unidos, o Canadá e o Brasil. Por se tratar do primeiro grandioso passo rumo ao kosen-rufu mundial, 2 de outubro é considerado o Dia da Paz Mundial. Mas de onde surgiu essa decisão? Encontramos a resposta em um episódio do romance Nova Revolução Humana, de autoria do presidente Ikeda, em que ele dialoga com seu mestre. Toda disse-lhe: “Eles estavam esperando. Todos aguardavam ansiosamente a chegada do Budismo de Nichiren Daishonin. Como eu quero viajar pelo mundo numa jornada do kosen-rufu... Shin’ichi, o mundo é seu desafio, seu verdadeiro palco. E o mundo é vasto. (...) Shin’ichi, viva! Você precisa viver! Viva o máximo que puder e percorra o mundo!”1 Nas páginas da obra, captamos o real sentimento de Ikeda sensei: Shin’ichi gravou essas palavras no coração como um testamento de seu mestre para o futuro. No lugar de seu falecido mestre, o discípulo agora dava o primeiro passo em direção ao kosen-rufu mundial.Ele escolhera o dia 2 de outubro para embarcar em sua primeira viagem ao exterior porque o falecimento de Toda [2 de abril de 1958] era relembrado no segundo dia de cada mês. Tinha plena consciência da importância que havia por trás do desejo de Toda: “Percorra o mundo!”.2 Dentro do avião prestes a decolar, o jovem Ikeda retira do paletó uma foto do seu mestre. Olhando-a fixamente, pensou: “Como ele ficaria feliz se pudesse me acompanhar nesta viagem”.3 O itinerário da viagem foi Honolulu, no Havaí; São Francisco, Seattle, Chicago, Nova York, Washington, Los Angeles, nos Estados Unidos; Toronto, no Canadá; e São Paulo, no Brasil. Esses foram os primeiros lugares visitados por Ikeda sensei para a expansão do kosen-rufu além do Japão. Uma gota no oceano faz toda a diferença Assim como as águas de um manancial transformam o árido deserto num oásis, a benevolência e a sabedoria que brotam da vida do ser humano podem transformar este planeta num reino de paz e felicidade, numa eterna terra do tesouro. Esse triunfo do humanismo é chamado kosen-rufu.4 A importância desses primeiros passos de Ikeda sensei, em 1960, é nítida hoje, em 2021. A Soka Gakkai Internacional está presente em 192 países e territórios. Além de compartilhar a conduta budista ensinada por Nichiren Daishonin, a organização atua na propagação dos ideais de paz, cultura e educação com base no diálogo e no respeito entre as pessoas, promovendo o melhor do ser humano. Mesmo diante do cenário mundial atual, nós, membros da BSGI, dedicamos para não deixar o pessimismo e o negativismo aflorarem em nosso coração e inovamos em realizar reuniões em que trocamos mútuos incentivos e sorrisos. Com certeza, essas ações correspondem à visão do presidente Ikeda ao entrar no avião rumo ao mundo: “Nada é mais precioso do que a paz. Nada traz mais felicidade do que a paz. A paz é o primeiro passo para o avanço da humanidade”.5 O primeiro distrito fundado fora do Japão Em Seattle, Estados Unidos, o presidente Ikeda acabou adoecendo, o que comprometeu gravemente seu estado de saúde às vésperas da partida para o Brasil, programada para o dia 18 de outubro. Com a saúde debilitada, membros da comitiva estavam preocupados com ele, e sugeriram que permanecesse nos Estados Unidos. Na ocasião, Ikeda disse: Contudo, eu irei. Existem companheiros que estão me aguardando. Jamais cancelaria a viagem sabendo que eles estão me esperando. O senhor sabe perfeitamente que um dos propósitos principais desta viagem ao exterior é a visita ao Brasil. Chegamos até aqui exatamente para isso. Não posso desistir no meio do caminho. Houve alguma vez que o presidente Toda recuou em meio a uma luta? Eu sou discípulo do presidente Toda! Eu vou! Vou sem falta, custe o que custar! Se tiver de tombar, então tombarei em combate! Que desventura poderia haver nisso?!6 Desafiando sua condição de saúde, com risco à própria vida, na véspera da partida para o Brasil, em 19 de outubro, o presidente Ikeda chegou a São Paulo, data considerada a fundação da BSGI. Acompanhe nas próximas edições a emocionante história de progresso e conquistas da BSGI. Ao longo da viagem, em 1960, Ikeda sensei encontrou-se com diversas pessoas que, tendo iniciado a prática budista em sua terra natal, Japão, haviam migrado para as Américas do Norte e do Sul. A maioria desses membros enfrentava dificuldades inimagináveis. O presidente Ikeda as incentivou e orientou proporcionando-lhes coragem e esperança de vencer infalivelmente com base na sincera prática budista. O dia 2 de outubro é considerado como o Dia da Paz Mundial, e simboliza o ardente desejo do Mestre pela felicidade de cada pessoa e de toda a humanidade. Com esse espírito, vamos levantar voo rumo à nossa vitória triunfal. Notas: 1. IKEDA, Daisaku. Nova Revolução Humana. São Paulo: Editora Brasil Seikyo, v. 1, p. 10, 2019. 2. Ibidem, p. 10-11. 3. Ibidem, p. 14. 4. Ibidem, v. 6, p. 9. 5. Ibidem, v. 1, p. 9. 6. Ibidem, v. 1, p. 276.

23/09/2021

Encontro com o Mestre

A construção da paz por meio do diálogo

DR. DAISAKU IKEDA Gostaria de estender minha mais profunda solidariedade aos nossos membros de todas as partes do mundo que estão enfrentando dificuldades no rescaldo de vários desastres naturais, inclusive no oeste do Japão, que sofreu recentemente com chuvas torrenciais devastadoras. Como Nichiren Daishonin indica em seu tratado Estabelecer o Ensinamento para a Pacificação da Terra, chuvas torrenciais, assim como epidemias, constituem calamidades que vêm causando sofrimento e provações ao longo das eras. Hoje, em meio à pandemia da Covid-19 e aos desastres naturais aparentemente infindáveis, como podemos ajudar cada pessoa a se manter invencível diante desses desafios e transformar veneno em remédio? Precisamos pensar nisso no contexto de nossa comunidade e sociedade locais e do mundo, recitar daimoku e trabalhar juntos por esse propósito. É assim que cumprimos nosso juramento de concretizar o ideal de Daishonin de “estabelecer o ensinamento para a pacificação da terra” (rissho ankoku). Quero expressar minha imensa gratidão àqueles engajados nos esforços de auxílio humanitário e reconstrução, bem como aos profissionais da saúde que estão lutando incansavelmente para salvar e proteger vidas durante a pandemia. Também estou orando de coração pela saúde, longevidade e segurança dos nossos preciosos membros de todos os lugares. * * * Agosto é o mês para fortalecermos nosso juramento de alcançar um mundo sem guerras e expandir nossa rede de pessoas dedicadas à paz. Encontrei-me pela primeira vez com meu mestre, Josei Toda, em 14 de agosto de 1947, véspera do segundo aniversário do fim da Segunda Guerra Mundial. Eu tinha 19 anos na época. Isso se deu cerca de três meses após a minha família receber a notificação de que meu amado irmão mais velho havia sido morto na guerra, quando vi a reação de dor e de tristeza da minha mãe diante da terrível notícia. Toda sensei sobrevivera à prisão no período da guerra onde foi confinado por defender suas convicções e saiu de lá como líder de um movimento popular pela paz. No dia em que nos conhecemos, ele me ensinou o modo correto de viver, e dez dias depois, num 24 de agosto de calor sufocante, ingressei na Soka Gakkai. Iniciei a jornada conjunta de mestre e discípulo, sustentando o grande juramento pelo kosen-rufu, pela paz mundial. No dia 24 de agosto de 1950, meu terceiro aniversário de conversão à fé, numa época em que os negócios de Toda sensei estavam em grave crise, ele e eu, mestre e discípulo, discutimos a fundação do Seikyo Shimbun, o jornal da Soka Gakkai, como a voz em defesa da dignidade da vida. Na noite de 14 de agosto de 1952, peguei o trem expresso especial Tsubame atravessando a ponte sobre o rio Yodogawa rumo a Osaka, determinado a abrir novas esferas para o kosen-rufu. Na ocasião, participei de uma reunião de palestra na cidade de Sakai e, a partir daquele grupo de pessoas comuns otimistas e resilientes, iniciei uma brava luta para construir a “Kansai de Contínuas Vitórias”. Em agosto de 1955, eu estava na região de Hokkaido, terra natal do meu mestre, liderando a Campanha de Verão de Sapporo para expandir o nosso movimento pelo kosen-rufu lá. Naquela oportunidade, os membros e eu estudamos os escritos de Nichiren Daishonin e nos encorajamos mutuamente, determinados a edificar uma sociedade maravilhosa pautada pelos princípios de afirmação da vida preconizados pelo Budismo Nichiren. Então, recebemos Toda sensei em Hokkaido com um novo recorde de propagação no dia 24 de agosto, meu oitavo aniversário da fé. Ano após ano, continuei conquistando vitórias de mestre e discípulo em agosto, meu ponto de partida na fé. Ao lado dos meus fiéis amigos e meus companheiros da Divisão Sênior (DS), trilhei o caminho correto da vida rumo à concretização da paz e de “valores humanos”. Daishonin conclui seu tratado Estabelecer o Ensinamento para a Pacificação da Terra com o seguinte desejo e juramento: Espero que possamos tomar medidas contra essas calúnias à Lei o mais rápido possível e trazer a paz ao mundo sem demora, garantindo, dessa maneira, segurança nesta vida e boa sorte na próxima.1 Aconteça o que for, sempre recitaremos vigorosamente Nam-myoho-renge-kyo e avançaremos hasteando a bandeira da verdade. Estenderemos a mão àqueles à nossa volta que estão sofrendo, dedicando-nos à felicidade de todas as pessoas e à paz mundial. Com paciência e perseverança, e mediante diálogo sincero, prosseguiremos abrindo o caminho para uma sociedade pacífica e segura, e consolidaremos, para nós e para os outros, a felicidade eterna de atingir o estado de buda nesta existência. * * * Por uma interessante coincidência, 15 de agosto de 1947, dia seguinte ao meu encontro com Toda sensei, é a data em que a Índia, terra natal do budismo, obteve sua independência. Lembro-me de algumas palavras do grande poeta indiano Rabindranath Tagore, que este ano completaria 160 anos. Ele declarou que a história da humanidade aguarda com paciência pelo triunfo dos oprimidos.2 Essas palavras foram escritas durante as suas visitas ao Japão. Em sua primeira viagem ao país em 1916, Tagore chegou a Kobe e dali seguiu para Osaka e Tóquio. Permaneceu um tempo em Yokohama e, naquele verão, visitou a casa do empresário pioneiro japonês Eiichi Shibusawa (1840–1931), em Asukayama, no bairro de Kita, Tóquio, e em Izura, província de Ibaraki. Em Karuizawa, província de Nagano, ele também conversou com um grupo de estudantes de uma universidade feminina japonesa sentados sob uma frondosa árvore. A propósito, recebi a notícia sensacional de que no dia 19 de julho [2021], aniversário da Divisão Feminina de Jovens (DFJ), os membros do Kayo Kai (grupo de aprimoramento) da Índia ultrapassaram a marca dos 50 mil. Em meio à pandemia da Covid-19, nossas jovens integrantes da DFJ da Índia continuaram ampliando o lindo jardim florido de felicidade com seu espírito puro e resiliente, como flores de lótus que se abrem no pântano.3 Felizes são aquelas invencíveis. Felizes são aquelas destemidas. Felizes são aquelas que têm forte fé. Todas vocês são rainhas da felicidade. Essas são palavras que minha esposa, Kaneko, e eu dedicamos às mulheres Soka da Índia há três décadas [durante uma visita em 1992]. Minha esposa também sustenta a firme determinação de manter uma vida invencível ao lado de suas companheiras. Ela estava com 9 anos quando começou a praticar o Budismo Nichiren com os pais, completando este ano oitenta anos de conversão.4 Como precursora da Divisão dos Estudantes (DE) Futuro, certa ocasião, ela guiou Makiguchi sensei segurando a mão dele da estação de trem mais próxima da casa de sua família a uma reunião de palestra. Também foi uma das primeiras integrantes da Divisão Feminina de Jovens quando a divisão foi fundada por Toda sensei, e persistiu, empenhando-se intensamente pelo kosen-rufu, mesmo após se tornar mãe e membro da Divisão Feminina (DF), assim como as atuais componentes da Geração Jovem Lírio Branco do Japão.5 Ela continua recitando daimoku fervorosamente para que suas amigas, mulheres Soka, sóis da paz, não só na Índia, mas no mundo inteiro, tenham uma vida invencível de felicidade e vitória dia após dia. * * * Toda sensei proferiu sua Declaração pela Abolição das Armas Nucleares em 8 de setembro de 1957, no Estádio de Mitsuzawa, em Yokohama. Foi um evento profundamente significativo. Dois meses depois, apesar de sua péssima condição de saúde, ele anunciou a intenção de ir para Hiroshima em uma viagem de orientações. As privações dos dois anos de cárcere durante a guerra, somadas aos esforços monumentais pelo kosen-rufu ao longo de mais de uma década, o deixaram num estado de debilidade física extrema. Com profunda preocupação, roguei-lhe que cancelasse a viagem, mas ele me repreendeu, reiterando sua decisão de ir mesmo que isso lhe custasse a vida. O agravamento de sua condição física o impediu de realizar esse desejo. Mas por que ele estava tão determinado a ir? Disse que os membros estavam aguardando sua visita; principalmente por sua participação na reunião de partida programada para ser realizada no Memorial da Paz de Hiroshima [atual ala leste do Museu Memorial da Paz de Hiroshima]. Como discípulo dele, a determinação ferrenha do meu mestre de viajar para o primeiro lugar que foi alvejado por uma bomba atômica e agir lá para cortar pela raiz a natureza maligna do poder, que ameaçava o direito fundamental das pessoas de sobreviver, fez com que meus olhos se enchessem de lágrimas. Nós, da Soka Gakkai, unidos pelos laços de mestre e discípulo, estamos levando avante intrepidamente a grande luta de Nichiren Daishonin. Engajado numa batalha incessante com o rei demônio do sexto céu, que busca tomar posse do mundo saha (o mundo em que vivemos, cheio de sofrimentos), Daishonin declara: “Não pensei em recuar uma única vez”.6 * * * Os horrores da bomba atômica lançada sobre Hiroshima são descritos na série de pinturas Os Painéis de Hiroshima, de Iri Maruki e Toshi Maruki. Iri Maruki era natural de Hiroshima, e sua esposa, Toshi, de Hokkaido. Durante a ocupação americana no Japão, a realidade horrenda do bombardeio foi suprimida pela rígida censura militar, e as conversas sobre o assunto diminuíram. Esse fato enfureceu Maruki. Movido por sua convicção de que o uso das armas atômicas não deveria ser “varrido para debaixo do tapete”, de que precisava deixar um registro disso para a posteridade, ele criou, com sua esposa, Os Painéis de Hiroshima. Esse sentimento irrefreável de que “não posso permanecer em silêncio!” é a força propulsora para resgatar a verdade numa sociedade onde a indiferença, a covardia e o esquecimento são generalizados. Nichiren Daishonin fez a seguinte declaração: “Não posso ficar calado”.7 O rugido de leão dele continuou a ressoar por sete séculos, encontrando forte eco no profundo discernimento de Toda sensei sobre o raciocínio diabólico subjacente às armas nucleares. O espírito do pronunciamento antinuclear do presidente Josei Toda continua vivo na “batalha das palavras” da Soka Gakkai. Foi por isso que escolhi 6 de agosto de 1993, aniversário do lançamento da bomba atômica sobre Hiroshima, como o dia para começar a serialização do romance Nova Revolução Humana; e, nessa mesma data, 25 anos mais tarde, em 2018, após dedicar todo o meu coração a esse empreendimento, eu o concluí. O episódio final foi publicado no Seikyo Shimbun no dia 8 de setembro de 2018, aniversário da Declaração pela Abolição das Armas Nucleares, proferida por Toda sensei. Agora, passei o bastão para a próxima geração. Os Shin’ichis Yamamotos da nova era, meus amados discípulos e sucessores que compartilham do meu compromisso, estão desempenhando seus próprios magníficos e diversificados dramas de revolução humana ao redor do mundo. Este ano, lembrando o aniversário do lançamento da bomba atômica sobre Nagasaki no dia 9 de agosto, a 30a Cúpula dos Jovens da Soka Gakkai para a Renúncia à Guerra foi realizada on-line. Membros da Divisão dos Jovens (DJ) e da Divisão dos Estudantes Herdeiro de Hiroshima, Nagasaki, Okinawa e de outras partes do Japão participaram com muito entusiasmo. Os integrantes da DJ e da DE, sucessores do nosso movimento, estão levando avante resolutamente o juramento de pôr um ponto-final nas guerras e nas armas nucleares. Nada poderia ser mais tranquilizador. * * * Recentemente (em 30 de junho), a Arab Scientific Publishers Inc., do Líbano, publicou uma versão em árabe do meu diálogo Escolha a Vida, com Arnold J. Toynbee (1889–1975). No próximo ano, farão cinquenta anos desde que iniciamos nosso diálogo, hoje traduzido para trinta idiomas. Estou certo de que o Prof. Toynbee ficaria muito feliz com isso, e quero expressar meus agradecimentos a todos os que contribuíram para as várias edições traduzidas do livro. O Prof. Toynbee acreditava que a criatividade surgia do encontro casual entre indivíduos. Por isso, confiou a nós, da Soka Gakkai, a tarefa de promover o diálogo com base no espírito de “escolha a vida”, aproximando povos e culturas. Atualmente, tanto em nossa comunidade local imediata como na comunidade ampla e global, devemos nos empenhar ainda mais em dialogar sobre os diversos problemas atuais — como epidemias, mudanças climáticas, divisão e conflito —, juntar nossa sabedoria e demonstrar nossa capacidade de criar valor positivo. É hora de os bodisatvas da terra, cidadãos do mundo, assumirem a liderança de forma arrojada e expandirem nossa rede de pessoas dedicadas a transformar o destino da humanidade. * ** Nos primeiros dias de trabalho com meu mestre, copiei um verso de um poema de Walt Whitman em meu caderno: “Corpos humanos são palavras, miríade de palavras”.8 Palavras superficiais e vazias são insignificantes. Nada é mais eloquente que qualidades humanas como coragem e convicção, as quais emanam de todo o ser, da voz sincera, do sorriso radiante e do ato de imensa bondade de uma pessoa. Nossos veteranos na fé são exemplos disso. Compartilhemos a filosofia da esperança do Budismo Nichiren com os outros do jeito só nosso, no lugar onde estamos! Com a ardente paixão e o espírito indômito emblemáticos de Daishonin expressos na afirmação “Mesmo diante de tudo isto, ainda não fui desencorajado”,9 ampliemos ainda mais nossos esforços no diálogo! Meus estimados jovens amigos, sigam em frente, sempre em frente! Meus nobres companheiros, avancem com ânimo, fazendo a canção da vida, a canção da paz, reverberar poderosamente! Yusen (“Batalha Corajosa”) – os dois ideogramas registrados por Ikeda sensei durante a luta de Osaka em 1956 são novamente gravados com a marcante tinta preta nesta caligrafia em Kansai no ano de 1983 Na foto, tirada pelo presidente Ikeda, flor de lótus totalmente aberta, tal como o brilho da preciosa vida límpida e pura (área metropolitana de Tóquio, Japão, jul. 2021) No topo: Nas terras de Hokkaido, a história infindável da luta conjunta de mestre e discípulo. Na foto, presidente da Soka Gakkai Internacional (SGI), Dr. Daisaku Ikeda, e sua esposa, Kaneko, no Centro Cultural de Hokkaido (Sapporo, Japão, 24 ago. 1991) Notas: 1. Coletânea dos Escritos de Nichiren Daishonin. São Paulo: Editora Brasil Seikyo, v. I, p. 26, 2020. 2. Cf. TAGORE, Rabindranath. Stray Birds [Pássaros Perdidos]. In: Collected Poems and Plays of Rabindranath Tagore [Coletânea de Poemas e Peças de Rabindranath Tagore]. Délhi: Macmillan India, Ltd., 1991. p. 328. 3. Cf. The Lotus Sutra and Its Opening and Closing Sutras. Tradução: Burton Watson. Tóquio: Soka Gakkai, cap. 15, p. 263. 4. Kaneko Ikeda iniciou a prática em 12 de julho de 1941. 5. Na Reunião Nacional de Líderes da Soka Gakkai, realizada em 18 de novembro de 2019, anunciou-se que as integrantes da Divisão Feminina (DF), do Japão, com menos de 50 anos, seriam denominadas Geração Lírio Branco. O lírio-branco é um dos símbolos da DF. Em conjunto com esse desenrolar dos fatos, o Grupo de Jovens Mães foi dissolvido e absorvido por esse mais amplo. 6. Daishonin escreve: “O rei demônio do sexto céu (...), em meio ao mar dos sofrimentos de nascimento e morte, está em guerra com o devoto do Sutra do Lótus para impedi-lo de tomar posse e para afastá-lo desta terra impura onde habitam tanto pessoas comuns como sábios” (The Writings of Nichiren Daishonin. Tóquio: Soka Gakkai, v. II, p. 465). 7. A passagem na íntegra diz: “Com os limitados recursos que estão ao meu alcance, tenho examinado a questão em profundidade e lido algumas escrituras em busca de uma resposta. As pessoas da presente época ignoram o que é certo. Todas, sem exceção, sujeitam-se ao mal. É por essa razão que as divindades do bem abandonaram esta terra, e os sábios partiram para não mais regressar. No lugar deles, vieram os espíritos do mal e os demônios, e ocorreram desastres e calamidades. Não posso ficar calado nem reprimir meu temor” (Coletânea dos Escritos de Nichiren Daishonin. São Paulo: Editora Brasil Seikyo, v. I, p. 7, 2020). 8. WHITMAN, Walt. Song of the Rolling Earth [Canto da Terra Girando]. Leaves of Grass: Comprehensive Reader’s Edition [Folhas de Relva: Edição Completa]. BLODGETT, Harold W.; BRADLEY, Sculley (eds.). Nova York: New York University Press, 1965. p. 219. 9. Coletânea dos Escritos de Nichiren Dai­shonin. São Paulo: Editora Brasil Seikyo, v. II, p. 5, 2019. Publicado no jornal Seikyo Shimbun, de 24 de agosto de 2021.

23/09/2021

Notícias

Proposta de Paz

REDAÇÃO / COLABORAÇÃO LOCAL Na BSGI, o mês de setembro tem sido marcado pela apresentação, em diversas organizações, da Proposta de Paz de 2021, documento de autoria do Dr. Daisaku Ikeda, presidente da SGI, enviado à Organização das Nações Unidas (ONU) em janeiro deste ano. Aderindo a essa iniciativa da Divisão dos Universitários (DUni), os jovens da RM Norte Catarinense (CRE Sul, CGRE) e da Sub. Norte (CNSP) promoveram diálogos no dia 11 de setembro. Ambas as atividades foram lideradas pela DUni de cada localidade. A DUni da RM Norte Catarinense pautou seu encontro pela interação e reflexão sobre as questões sociais que o país enfrenta. No item “Construir um mundo pós-crise”, os participantes foram provocados a pensar sobre o futuro do mundo e quais esforços vêm fazendo para isso, diálogo finalizado com sucesso e arrematado nas palavras de Sérgio Ogawa, vice-responsável pela Sub. Santa Catarina. Já na Sub. Norte, os universitários promoveram uma live, durante a qual trataram de assuntos como direitos humanos, viver com esperança em meio à situação atual da sociedade e a importância das ações individuais no dia a dia. Os jovens destacaram ainda a importancia da mudança interior de cada pessoa como forma de impactar a sociedade.

23/09/2021

Especial

Um discurso pela era do soft power

REDAÇÃO Há trinta anos, em 26 setembro de 1991, o presidente da SGI, Dr. Daisaku Ikeda, expressava suas ideias no emblemático discurso que proferiu na Universidade Harvard, nos Estados Unidos. Com o tema “A Era do Soft Power e da Filosofia de Motivação Interior”, trouxe uma análise profunda e revolucionária sobre o comportamento humano no contexto social o qual se apresentava, pela ótica do humanismo budista. A palestra em Harvard significou, além disso, ampla perspectiva no mundo intelectual em defesa da paz e da dignidade da vida. Provocar a mudança O fim da década de 1980 e o início da década de 1990 representam um período de transições e de conflitos no mundo, como o término da guerra entre Irã e Iraque, em 1988, seguido da retirada da ex-União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) do Afeganistão, em 1989, após dez anos de invasão; isso culmina na dissolução da URSS posteriormente. Ainda em 1989, cai o Muro de Berlim, marcando o fim da Guerra Fria. No entanto, a década de 1990 se inicia com a Guerra do Golfo. A época é tomada por autoritarismo, intolerância, desvalorização da vida e interesse pelo poder. O cientista político estadunidense e teórico de relações internacionais, Joseph Nye atribui tais características ao que ele denomina “hard power”. No fim da década de 1990, Nye difundiu este como um dos conceitos utilizados pelos Estados em relação ao poder, mas também o “soft power”, que corresponde à persuasão em vez da força. O Dr. Ikeda se aprofundou no conceito de “soft power”, defendendo a crença da automotivação e dos contínuos esforços de cada pessoa para evidenciar seu potencial intrínseco, visando à criação de uma sociedade colaborativa e pacífica — atributos da cultura Soka. Isso significou um impulso na nova corrente de pensamento que surgia em meio a tantos desafios globais. Antes de proferir o discurso em Harvard, Daisaku Ikeda dialoga com o Dr. Neil L. Rudenstine, um homem simples que se formou na Universidade de Princeton, nos Estados Unidos, e que na época se torna o 26º presidente de Harvard. O líder da SGI relembra: Perguntei-lhe diretamente: “Em uma época de intensas mudanças como a nossa, quais devem ser as prioridades máximas da educação universitária?” Sua resposta também foi direta: “Primeiro, os estudantes devem adquirir conhecimento básico em seu campo de estudo. Segundo, devem desenvolver uma profunda visão da vida. Se os estudantes possuí­rem uma sólida filosofia, eles serão capazes de realizar mudanças em seu ambiente flexivelmente e continuar a crescer”.1 Fundo de cena O presidente Ikeda descreve aquele setembro de 1991, ocasião da palestra, realizada na cidade de Boston: “À medida que atravessávamos o rio Charles, o Oceano Atlântico ia se destacando à direita. Uma agradável brisa outonal acariciava a superfície do rio. Nosso destino era a Universidade Harvard”.2 O Auditório Weiner da John F. Kennedy School of Government [Escola de Governo John F. Kennedy] foi o local destinado àquele evento. As cadeiras enfileiradas formam um semicírculo em torno do púlpito. Um painel anunciava o título em inglês da palestra “A Era do Soft Power e da Filosofia de Motivação Interior”. O Dr. Ikeda detalha: “Recordo-me de que o evento começou por volta das 18 horas. Além do corpo docente de Harvard, a audiência incluía professores do Instituto de Tecnologia de Massachusetts, da Universidade Tufts e da Universidade de Boston. (...) Quando terminei, houve uma breve pausa, e então o auditório irrompeu em aplausos. Senti uma profunda gratidão”.3 Após, o próprio Dr. Joseph Nye, diretor do Centro de Assuntos Internacionais de Harvard na ocasião, e o professor Ashton Carter, diretor do Centro de Assuntos Científicos e Internacionais da Escola de Governo John F. Kennedy, expressaram suas considerações. Como tudo começou O segundo presidente da Soka Gakkai, Josei Toda, deu passos significativos para difundir o humanismo Soka no mundo acadêmico ao publicar uma edição revisada da obra de Tsunesaburo Makiguchi — Teoria do Valor (Kachi Ron) — e doar exemplares para 422 instituições acadêmicas em cinquenta países e territórios. Josei Toda dizia frequentemente que o princípio do respeito absoluto à dignidade da vida e o espírito de benevolência que constituem a filosofia budista sustentada pela Soka Gakkai deveriam ser inseridos nas instituições acadêmicas com o objetivo de levar a felicidade às pessoas. “Quando as universidades do mundo inteiro começarem a apreciar a filosofia budista, a estudar e a pesquisar sobre isso, surgirá certamente um novo movimento intelectual”.4 Com sua palestra, Ikeda sensei concretizava também o desejo de Josei Toda. No romance Nova Revolução Humana, ele descreve sobre o primeiro discurso que fez numa universidade fora do Japão, salientando seu anseio de chegar a Harvard. “Quando chegaram ao hotel, Shin’ichi [pseudônimo do presidente Ikeda na obra] disse aos líderes que o acompanhavam: ‘Gostaria de continuar proferindo palestras em universidades para divulgar amplamente o pensamento budista. Chegará o dia em que discursarei em distintas instituições como a Universidade Harvard’”.5 Anos depois, numa época improvável, Daisaku Ikeda discursa nessa universidade e também em vários centros universitários pelo mundo. “Esperava que meu discurso em Harvard, em particular, fosse um ponto de encontro do conhecimento ocidental e da sabedoria oriental, como também um diálogo brilhante tendo como enfoque um sério reexame dos princípios religiosos. Além disso, queria lançar uma nova luz sobre a história da perspectiva do ser humano”.6 Dois anos depois, em 24 de setembro de 1993, realiza o segundo discurso na instituição, intitulado “O Budismo Mahayana e a Civilização do Século 21”. “Em ambos os discursos em Harvard, minha intenção não foi expor o budismo como um oriental que se dirige aos ocidentais que pouco conhecem sobre a sua filosofia. Ao contrário, com base em propósitos comuns com meus ouvintes, tentei examinar a questão de como o pensamento budista pode contribuir para o mundo no século 21”.7 Avanço ininterrupto A palestra em Harvard repercutiu amplamente nos Estados Unidos e em vários países, mas, principalmente, impulsionou o movimento pacífico promovido pela Soka Gakkai no campo da educação e da pesquisa com foco na criação de cidadãos globais. Em março de 1993, é inaugurado o Centro de Pesquisas para o Século XXI de Boston, com a meta de se tornar uma rede de cidadãos do mundo. No mesmo ano, é inaugurado o Centro Ikeda para a Paz, a Aprendizagem e o Diálogo, em Cambridge, Massachusetts, Estados Unidos, cuja missão é construir culturas de paz por meio do aprendizado e do diálogo. Além disso, vale salientar a ampliação do sistema educacional Soka com os ideais de formar líderes que atuem em prol da cultura, do humanismo e da paz, e para a coexistência criativa entre pessoa e ambiente. Os temas expostos na palestra sugerem um modelo social de coexistência criativa e pacífica que se inicia com a autorreforma do ser humano. Podem ser considerados respostas assertivas no contexto atual envolto nas crises políticas, humanitárias, ambientais e até diante da crise pandêmica e os desafios socioeconômicos que uma pandemia traz, mas também dos avanços que podem ser realizados. “Hoje, mais de dez anos após meu primeiro discurso, o soft power na informação, conforme demonstrado pela atual revolução de tecnologia de informação, está tendo um forte impacto nos sistemas sociais. Através de recursos como a internet, as pessoas do mundo inteiro estão simultaneamente conectadas. Por essa única razão, mais que nunca, as pessoas necessitam de uma força de motivação interior de autocontrole e consideração pelos demais”,8 conclui. O legado de Harvard Harvard foi fundada em 1636, 140 anos antes da independência dos Estados Unidos, sendo considerada um centro do intelecto no país. É a universidade mais antiga da América. Quando foi fundada, a matéria cálculo não era oferecida pela instituição, pois o cálculo ainda não tinha sido inventado. De suas célebres salas surgiram figuras proeminentes atuantes em todos os campos, entre as quais seis presidentes estadunidenses, mais de trinta ganhadores do Prêmio Nobel e trinta recebedores do Prêmio Pulitzer. A universidade se destaca por atender às exigências dos tempos e da sociedade de abrir as portas da educação para o mundo, sendo referida como “Nações Unidas privada” e um “conglomerado do saber”. Possui 79 bibliotecas, sendo o sistema bibliotecário mais antigo do país. Conta com um Departamento de Estudos de Sânscrito e de Hindi e um Centro de Estudos de Religiões Mundiais. Pontos citados na palestra 1. Substituição permanente do hard power: “Iniciei meu discurso destacando que a força motriz da história quase sempre dependeu do hard power do poder militar, do autoritarismo político e da riqueza, mas que em anos recentes a importância relativa desse poder havia diminuído gradativamente, dando lugar ao conhecimento, à informação, à cultura e às ideias — os instrumentos do soft power. (...) A espiritualidade de automotivação seria o meio para conseguir isso”. 2. Restauração da filosofia: “A filosofia teria crescente importância, e a consciência moral amplamente fundamentada e de valor universal se tornaria cada vez mais necessária. Defendi, portanto, uma restauração da filosofia que desencadeasse a energia inata do indivíduo”. 3. Japão e Estados Unidos: “Meu discurso teve como subtítulo ‘Para o Desenvolvimento de uma Nova Relação entre o Japão e os Estados Unidos’. (...) Discutindo sobre as relações do passado, salientei que a tendência do Japão moderno de oscilar entre os extremos da autoconfiança excessiva e a timidez devia-se à clara falta de autocontrole gerado interiormente”. 4. Contato entre culturas diferentes: “Argumentei ainda em meu discurso que, quando pessoas de diferentes culturas entram em contato, ambas as partes devem atuar a partir de uma espiritualidade voltada para o interior que fortaleça o autocontrole. Nesse sentido, defendi que o princípio budista de origem dependente, que sustenta que todos os seres e fenômenos existem ou ocorrem numa relação com outros seres ou fenômenos, tem grande importância como a chave para criar harmonia”. 5. Unicidade com o ambiente: “Também apresentei o conceito budista da unicidade do ser vivo e seu meio ambiente — a ideia de que o mundo subjetivo do indivíduo e o mundo objetivo do meio ambiente são dois aspectos integrantes da mesma entidade”. 6. Revitalização dos laços humanos: “Numa era de soft power, enfatizei que as pessoas procuram ansiosamente por uma filosofia que restaure e rejuvenesça laços humanos insubstituíveis como a amizade, a confiança e o amor”. Fonte: Terceira Civilização, ed. 397, set. 2001. LEIA O DISCURSO NA ÍNTEGRA no Brasil Seikyo, ed. 1.793, 30 abr. 2005, p. A5. Notas: 1. Terceira Civilização, ed. 397, set. 2001, p. 8. 2. Ibidem, p. 1 e 2. 3. Ibidem, p. 2. 4. IKEDA, Daisaku. Luz do Sol. Nova Revolução Humana. São Paulo: Editora Brasil Seikyo. In: Brasil Seikyo, ed. 2.079, 16 abr. 2011, p. A13. Parte 3. 5. Ibidem. 6. Terceira Civilização, ed. 397, set. 2001, p. 3. 7. Ibidem, p. 6. 8. Ibidem, p. 7.

16/09/2021

Notícias

BSGI integra Projeto Primavera Dourada

REDAÇÃO / COLABORAÇÃO LOCAL No dia 1o de setembro foi realizada a cerimônia de inauguração da grande cortina dourada de tsurus [ave japonesa, símbolo de saúde, boa sorte, felicidade, longevidade e fortuna] de papel instalada na entrada principal do Boulevard Shopping Londrina, PR. Essa ação faz parte do Projeto Primavera Dourada cujo objetivo é fomentar a esperança na população, em meio à pandemia; comemorar a chegada da primavera; e divulgar o Setembro Dourado, considerado pelos órgãos de saúde pública o mês da prevenção do câncer infantojuvenil. Além disso, a produção dos pássaros de papel é revertida em fundos pelo shopping para uma organização não governamental (ONG) da cidade. A BSGI da localidade integra a equipe de participantes convidados para a produção das dobraduras em conjunto com outras 23 organizações de origem japonesa presentes na região. E as entidades colaboradoras foram homenageadas com um tsuru de madeira pela participação. No total, foram confeccionados 32 mil tsurus dos quais mil foram produzidos por 25 membros da Divisão Feminina (DF) e da Divisão dos Jovens (DJ) da BSGI durante o mês de agosto. “Ficou muito bonito! É emocionante de se ver e realmente nos transmite esperança!, cita a vice-responsável pela DF da Sub. Norte do Paraná, Marcia Matsu­naga Moriyama.

16/09/2021

Especial

Brado indomável pela paz

REDAÇÃO Era 8 de setembro de 1957. Exatamente às 9 da manhã, foi iniciado o Encontro Esportivo dos Jovens do Leste do Japão. Mais de 50 mil jovens lotavam o Estádio de Desportos de Mitsuzawa. Desde muito cedo, os membros chegavam à estação de Yokohama e entravam nos ônibus que os levariam ao estádio. Um ônibus a cada 40 segundos. Nessa média, rapidamente os participantes chegavam e aguardavam ansiosos o encontro. A expectativa geral era sobre a possibilidade de haver um tufão naquele dia. Mas Josei Toda desejava ardentemente que o clima estivesse agradável para que seus discípulos desfrutassem momentos tranquilos. E assim foi. O dia estava quente e o sol brilhava radiante. O tufão enfraqueceu e se dissipou. Mestre e discípulo O jovem Daisaku Ikeda era discípulo de Josei Toda. Fortalecido diariamente durante dez anos a fio, Ikeda respirava e vivia ao lado do seu mestre. Todos os passos, pensamentos, sonhos e anseios do seu tutor eram levados a sério com a máxima diligência de um jovem completamente comprometido e engajado. Por sua vez, Josei Toda encarava aquele evento de maneira diferente desde os primeiros momentos. Ele pressentia que seu corpo frágil não aguentaria muito tempo e, numa profunda atitude reflexiva, disse a si mesmo: “Deixarei esta declaração como principal testamento dedicado aos jovens”.1 Ele se referia à sua histórica Declaração pela Abolição das Armas Nucleares. Doze anos antes, as primeiras bombas de destruição em massa, lançadas nas cidades japonesas de Hiroshima e de Nagasaki, em agosto de 1945, ceifaram instantaneamente cerca de 300 mil vidas. Nos anos seguintes, outros milhares sucumbiram em decorrência da radiação dessas armas. Em 1957, a Guerra Fria estava no apogeu. Os Estados Unidos e a hoje extinta União Soviética corriam freneticamente para polarizar e militarizar territórios. A bomba nuclear era sinônimo de força, induzindo a testes incessantes, com arsenais cada vez mais poderosos, em diversos pontos do mundo. Naquele 8 de setembro, permeava no ar a sensação de que uma nova guerra mundial poderia começar a qualquer momento. E a quantidade de armamentos atômicos já era tão grande que o mundo poderia ser dizimado em questão de horas. Josei Toda declarou-se contra as armas nucleares, bradando ser a missão dos jovens erradicar o impulso dos seres humanos que as constroem. Em um trecho da declaração, o líder afirma: Como já venho dizendo há muito, a próxima era será sustentada pelos jovens. Não preciso salientar que a missão de nossa vida é o kosen-rufu. Esse é um empreendimento que devemos conquistar infalivelmente, mas, diante das notícias de testes da bomba atômica e de hidrogênio que têm agitado o mundo, quero deixar bem clara minha posição em relação a essas questões. Se são meus discípulos, gostaria que herdassem esta minha mensagem e que propagassem pelo mundo o significado de seu conteúdo. Mesmo que neste momento esteja sendo realizado no mundo inteiro um movimento para abolir os testes nucleares, o meu desejo é atacar o problema pela raiz, ou seja, cortar as garras ocultas exatamente na origem. (...) Digo isso porque nós, cidadãos do mundo, temos o direito inviolável à vida. Todo indivíduo que tentar colocar esse direito em perigo merece ser chamado de criatura diabólica, um ser abominável, um monstro. Mesmo que um país conquiste o mundo por meio de armas nucleares, o conquistador deverá ser considerado um demônio, a expressão suprema do mal. Creio que a missão de cada membro da Divisão dos Jovens do Japão é difundir essa ideia em todo o mundo.2 Aquele momento em que Josei Toda proferiu a declaração deu origem às ações concretas da Soka Gakkai Internacional (SGI) para exterminar a miséria do coração humano, não mais somente no campo religioso, mas pela promoção da cultura e da educação. Hoje, os membros da SGI realizam diversas iniciativas para o fim das guerras e eliminação das armas nuclea­res sob a liderança do presidente Ikeda. Ele comenta: Este é o significado mais profundo do clamor de Toda pela abolição das armas nucleares e sua determinação de “arrancar as garras” das forças que as criaram. As armas nucleares são a manifestação mais medonha de uma civilização que trata a morte como um problema do outro. Condenando-as em termos os mais fortes possíveis, Toda estava apontando para os aspectos mais sombrios da civilização moderna a fim de transformá-los.3 Mohamed Habib, professor titular da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), comenta: “A questão das armas nucleares sempre esteve presente nas propostas de paz do Dr. Ikeda. O que ele defende em seus textos é uma legislação que visa de fato à eliminação total das armas nucleares do planeta Terra. Ele sempre quis ir além dos tratados e acordos. Isso porque sentiu na própria pele, como cidadão japonês, os horrores da Segunda Guerra Mundial, que culminou com o lançamento das bombas atômicas de Hiroshima e Nagasaki. Portanto, o Dr. Ikeda quer dizer ao mundo inteiro que tal experiência foi o suficiente para não desejar isso a nenhum povoado do planeta. E que a vida como um todo deve ser prezada com máximo respeito”. O professor Habib continua: “Obviamente, nós ficamos contentes com a entrada em vigor do Tratado de Proibição de Armas Nucleares [veja quadro abaixo], em janeiro deste ano. Aliás, isso representa um grande avanço. Mas nós não devemos parar aí, pois há muito o que fazer até que as grandes potências mundiais façam parte dos esforços pela paz. Devemos continuar nossas reivindicações para ampliar essa luta pacifista até que toda e qualquer arma de destruição em massa seja banida. Além disso, temos que ensinar os jovens a atuarem em prol da paz, a refletirem sobre as guerras e os desafios globais. São os jovens as principais pessoas que precisam estar à frente desses movimentos, com sua criatividade e força, para pensar no futuro e conduzir a humanidade para uma era pacífica e justa”. Já Fernando Mendonça, responsável pela Divisão dos Universitários (DUni) da BSGI, ressalta: “O presidente Josei Toda condenou todas as formas de violência que ameaçam a sobrevivência humana e compartilhou o seu desejo de que esse mal absoluto fosse completamente banido. Esse brado retumbante pela paz ressoa até hoje nos ouvidos de Ikeda sensei, na época um jovem ali presente que, desde então, não poupou esforços para que o ideal de seu mestre se tornasse realidade. A entrada em vigor do Tratado de Proibição de Armas Nucleares neste ano inaugura uma nova era desta jornada. Por isso, compreender a profundidade desse tratado representa parte de nossa missão enquanto discípulos Ikeda. Aumentar a consciência da sociedade civil corresponde a uma das principais contribuições da SGI para o futuro da humanidade”. Criar a paz duradoura e a segurança da vida na Terra é o em­preendimento mais importante da humanidade e a missão de cada um de nós, a começar pela criação de laços sinceros de confiança e respeito em nosso lar e comunidade. Mãos à obra! Notas: 1. Terceira Civilização, ed. 292, dez. 1992, p. 11. 2. Brasil Seikyo, ed. 1.906, 8 set. 2007, p. B5. 3. Terceira Civilização, ed. 429, abr. 2004, p. 15. Fonte: Brasil Seikyo, ed. 1.906, 8 set. 2007.Tratado de Proibição de Armas Nucleares O Tratado de Proibição de Armas Nucleares (TPAN) é o primeiro acordo internacional juridicamente vinculativo que proíbe as armas nucleares de forma abrangente e foi adotado com o objetivo da consequente eliminação destas. O tratado recebeu o apoio de 122 países na sede das Nações Unidas quando foi adotado pela primeira vez, em 7 de julho de 2017. Em 24 de outubro de 2020, ele atingiu sua quinquagésima ratificação para entrar em vigor e, daí em diante, ganhou maior apoio, com 86 países signatários e 52 ratificações até o fim de janeiro de 2021. Nos seus vinte artigos estão contidas as condições nas quais os Estados signatários devem concordar sobre: não desenvolver, testar, produzir, manufaturar, transferir, possuir, estocar, usar ou ameaçar usar armas nucleares, ou permitir que tais armamentos sejam posicionados em seu território. Estados que possuem arsenais nucleares podem aderir ao tratado a partir da submissão de um plano com vínculo temporal para a comprovada e irreversível eliminação de seu programa nuclear. Fonte: Terceira Civilização, maio 2021, p. 45. Herdar o nobre juramento Trechos de discurso do presidente Ikeda comemorativo dos sessenta anos da Declaração pela Abolição das Armas Nucleares, proferido em 2017 A verdadeira canção do triunfo como ser humano reside em permanecer fiel a um juramento nobre e perseverante no caminho da missão. A solidariedade das pessoas unidas pelo juramento e pela missão compartilhados são a força motriz para eliminar a miséria e o sofrimento do planeta e construir um mundo de paz e mais humano. (...) O presidente Josei Toda continuou o legado do seu mestre, Tsunesaburo Makiguchi, que lutou contra a opressão das autoridades militaristas do Japão durante a guerra e morreu na prisão por suas crenças. Advogando o ideal da cidadania global, afirmou que nenhum povo deveria ser sacrificado. Ele colocou a questão das armas nucleares como o maior mal que a raça humana deve superar. (...) Era seu desejo que [os jovens] despertassem uma base de ativismo popular para proteger o direito da humanidade de viver e criar uma solidariedade de cidadãos do mundo por meio da força e da paixão dos jovens. Esse desejo se tornou o eterno ponto de partida do movimento de paz da Soka Gakkai e da SGI. (...) Desde aquele dia, com a instrução do meu mestre em mente em todos os momentos, participei de diálogos com líderes e pensadores de vários países, incluindo Estados que possuíam armas nucleares. Além disso, pelas minhas propostas de paz anuais e por outras vias, ofereci sugestões concretas para abrir o caminho para a proibição e abolição das armas nucleares — sempre com as palavras e os ensinamentos de Toda sensei reverberando forte e profundamente no meu coração. (...) Para pôr fim à era nuclear, como o presidente Josei Toda destacou em sua declaração, é necessário incutir profundamente em cada nação a consciência de que as armas nucleares são um mal absoluto e que seu uso é inaceitável por qualquer motivo. Devemos estabelecer isso como um princípio inabalável compartilhado por toda a humanidade. (...) A solidariedade dos indivíduos de juramento tem um tremendo poder para transformar os tempos. Vamos compor uma história para o futuro que brilhará para sempre na trajetória humana! Fonte: Brasil Seikyo, ed. 2.392, 21 out. 2017, p. B2 e B3. Leia mais: IKEDA, Daisaku. Criação de Valor em Tempos de Crise. Proposta de Paz. In: Terceira Civilização, ed. 633, maio 2021. Presidente Ikeda em um de seus encontros com o ex-presidente soviético Mikhail Gorbachev; campanha de assinaturas pela abolição das armas nucleares promovida pelos jovens da SGI

02/09/2021

Rede da Felicidade

Triunfo da sabedoria

No dia 8 de outubro de 1961, o presidente da Soka Gakkai, Shin’ichi Yamamoto (pseudônimo do Dr. Daisaku Ikeda na obra Nova Revolução Humana) e comitiva viajaram para Berlim Ocidental como parte da programação de sua viagem à Europa. A alegria aparente do povo dividia o cenário com a profunda tristeza que se abatia desde a Segunda Guerra Mundial e seus reflexos. Diante daquela realidade, em que o povo era quem mais sofria, o presidente Yamamoto toma uma decisão corajosa e lança um objetivo que, anos mais tarde, se tornou realidade. Seu empenho incansável no diálogo sem fronteiras foi decisivo. Acompanhe! DR. DAISAKU IKEDA Os habitantes de Berlim vieram convivendo durante muito tempo como cidadãos de uma mesma cidade. No entanto, da noite para o dia, viram surgir uma barreira intransponível e amigos, namorados e membros de uma mesma família foram separados repentinamente. A arbitrariedade do poder havia extirpado sem piedade os laços entre as pessoas assim como se estivesse cortando uma árvore viva. Shin’ichi sentia uma dor profunda ao pensar no sofrimento do povo alemão diante dessa cruel retaliação. O céu estava aberto quando partiu do Aeroporto de Düsseldorf, mas nuvens espessas cobriam-no à medida que o avião se aproximava da Alemanha Oriental. Ele sentia como se essas nuvens estivessem refletindo a tristeza e a aflição dos habitantes de Berlim. (...) Logo chegaram a uma ampla via pública chamada “Dezessete de Junho”. Do outro lado da avenida, viram um portal de pedra que lembrava um antigo templo grego. Era o Portão de Brandemburgo, que ficava na divisa com Berlim Oriental. Em cima do portal, podia-se ver a estátua de uma deusa da paz montada numa quadriga da Roma antiga. O Portão de Brandemburgo, construído no final do século 18 para ser um portal da paz, estava servindo como um símbolo da divisão provocada pela Guerra Fria. Ao se aproximarem, encontraram uma barreira a aproximadamente quinhentos metros do portal. (...) Não existia vestígio de paz ao longo da fronteira. Os veículos do exército britânico providos de potentes metralhadoras percorriam a região com seus aparatos e a polícia da Alemanha Ocidental controlava os pontos estratégicos. Pelo Portão de Brandemburgo era possível visualizar soldados no setor oriental. Uma atmosfera tensa impregnava a área. Os turistas conversavam em voz baixa, aos sussurros. Shin’ichi resolveu ir de carro até onde era permitido. À esquerda do portal havia um monumento em memória da vitória da União Soviética na Segunda Guerra Mundial e do primeiro tanque que entrara em Berlim. O fato de esse monumento estar no território ocidental realçava a complexidade da situação. Num bosque próximo ao portal, o exército britânico havia montado um acampamento. Nas proximidades do Portão de Brandemburgo, o grande número de barreiras e alambrados de arame farpado demonstrava o clima tenso nessa área. A vigilância era intensa e viam-se soldados fortemente armados do lado da Alemanha Oriental. (...) A comitiva se dirigiu então para a Avenida Bernauer, localizada no distrito controlado pelo exército francês. Os edifícios de um lado dessa avenida pertenciam a Berlim Oriental, enquanto a calçada e a via pavimentada faziam parte de Berlim Ocidental. As janelas dos andares mais altos permaneciam como antes, mas as portas e janelas do primeiro e segundo pisos estavam todas vedadas com tijolos. Diante de uma entrada bloqueada havia um enorme ramalhete de flores. Shin’ichi foi informado pelo motorista que ali havia falecido uma senhora idosa que pulou do quarto andar na tentativa de fugir para Berlim Ocidental. Cem metros adiante havia outro ramalhete. Cinco ou seis pessoas estavam ao seu redor observando os edifícios do lado oriental. (...) Caminhando um pouco mais pela mesma avenida, encontraram um muro de tijolos por onde era possível ver Berlim Oriental. Nesse local, cerca de trinta pessoas estavam observando o outro lado e algumas acenavam. Ao olhar para o setor oriental, Shin’ichi percebeu vultos numa janela de um prédio ao longe acenando sem parar. Seriam parentes ou amigos daquelas que estavam perto do muro. De repente, os vultos desapareceram da janela. Eles se esconderam temendo ser vistos e acusados, eventualmente, pelos soldados berlinenses orientais de estarem transmitindo informações para o lado ocidental. Vendo diante dos próprios olhos a cruel realidade da separação forçada, ficaram estarrecidos. (...) A comitiva seguiu de carro ao longo da fronteira. O muro de tijolos e de cimento prolongava-se quase sem fim. Em vários pontos viam-se pessoas paradas e pensativas diante do muro. A parede que se erguia diante dos olhos não possuía mais de três ou quatro metros. Seria muito fácil destruí-la. Entretanto, tinha o poder de tolher a liberdade, de separar as pessoas e dividir famílias e parentes. Que ato cruel cometido pelo ser humano! Uma forte chama de indignação ardia no peito de Shin’ichi: “Negam às pessoas o direito de viver juntas e de se comunicar umas com as outras; consideram isso como um crime. É o equivalente a ordenar que os seres humanos não sejam humanos. Ninguém tem esse direito. Mesmo assim esse muro foi construído, e pelos seres humanos. Embora possamos falar de um conflito entre o Oriente e o Ocidente, é o surgimento da natureza demoníaca da sociedade que tolhe o coração das pessoas. E essa tragédia da separação assolou não somente a Alemanha como também a Península Coreana e o Vietnã. E não para aí. O Holocausto e as guerras em todas as suas formas, bem como as armas nucleares, são produtos da natureza maligna do poder”. Ele se lembrava do conteúdo da Declaração pela Abolição das Armas Nucleares que se tornara um dos principais testamentos de Josei Toda. Ele refletia em silêncio: “O espírito daquela declaração também foi o de ‘arrancar as garras da natureza demoníaca alojadas na vida das pessoas’. Existe apenas uma força capaz de vencer a natureza maligna: é a força da natureza de buda inerente na vida dos seres humanos. A natureza de buda é a força motriz que constrói a paz revertendo a destruição em construção, a aversão em união. O kosen-rufu é o ato que cria a união e a harmonia entre as pessoas e que faz despontar a natureza de buda como um sol no interior do ser humano para dissipar a escuridão da natureza maligna alojada na vida”. O carro voltou para a praça cercada de barreiras de onde se podia observar o Portão de Brandemburgo. Shin’ichi desceu do carro. A chuva já havia cessado e o céu se tingia com as cores do entardecer. Era um pôr do sol de rara beleza. O sol se coloria de vermelho profundo e os raios dourados se expandiam por todo o céu. A natureza celestial oferecia um momento de pausa e de tranquilidade na cidade coberta de tensão. No momento em que contemplavam o entardecer, o motorista disse sorrindo: — Nas ocasiões em que vemos um pôr do sol maravilhoso como esse, nós costumamos dizer: “Os anjos desceram do céu...” As torres, os prédios, as vias bloqueadas e o Portão de Brandemburgo se coloriam de dourado. Shin’ichi pensou: “Quando o sol desponta, as nuvens se dispersam e tudo fica envolto pelos raios dourados. Se o sol da vida despontar no coração das pes­soas, o mundo será certamente banhado pelos brilhos da paz e um arco-íris de amizade unirá gloriosamente a humanidade”. Fitando o portal, Shin’ichi disse aos companheiros da comitiva exaltando a sua convicção: — Estou certo que, dentro de trinta anos, o Muro de Berlim será derrubado completamente. Não se tratava de uma simples previsão do futuro nem mera expectativa. Sua esperança se basea­va na forte convicção no triunfo da consciência, da sabedoria e da coragem dos seres humanos que almejam a paz. Era também a expressão de devotar a sua vida em prol da paz e felicidade das pessoas. A determinação inabalável envolve todo o universo, o ichinen sanzen — esse é o princípio imutável do budismo. “Lutarei para derrubar este muro e pela paz no mundo, para estimular a vida das pessoas com o diálogo e despertar o humanismo na consciência de todos. Vou dedicar a minha vida nesse trabalho” — pensando assim, Shin’ichi recitou sozinho o daimoku três vezes em direção ao Portão de Brandemburgo. — Nam-myoho-renge-kyo... Sua voz imbuída de profunda oração e juramento ressoava altivamente pelo céu do entardecer de Berlim. Queda do Muro de Berlim Na noite de 9 de novembro de 1989, ocorreu um dos marcos da história mundial: a queda do Muro de Berlim. A construção de concreto e arame, com 4 metros de altura e cerca de 155 quilômetros de extensão, demarcava a divisão de Berlim em duas, impedindo que a população do lado oriental mudasse para o lado ocidental (com maior desenvolvimento econômico). Obra conjunta do governo da Alemanha Oriental e da União Soviética, resultava das divisões territoriais pós-Segunda Guerra Mundial. Mais que um símbolo da divisão física, marcava também a separação do socialismo, representado pelos paí­ses da Cortina de Ferro, do restante do mundo, regido pelo sistema capitalista. Também chamado “muro da vergonha”, veio abaixo pelas mãos do povo. Moradores locais ocuparam o topo do muro e, logo após, o derrubaram, simbolizando o fim da Guerra Fria (entre americanos e soviéticos) — declarado em dezembro do mesmo ano, pelos presidentes Mikhail Gorbachev (União Soviética) e George Bush (Estados Unidos). Dois anos depois da queda do muro, Gorbachev renunciou e declarou extinto seu cargo, pondo fim definitivo ao regime socialista soviético. São indiscutíveis as contribuições do presidente Ikeda para o fim da Guerra Fria, considerando os compenetrados diálogos que desenvolveu com diversas personalidades políticas da época, inclusive com o próprio Gorbachev. Sobre as perspectivas do Mestre, na Nova Revolução Humana constam as seguintes palavras de Eisuke Akizuki, vice-diretor-geral da Soka Gakkai: — A expectativa do presidente Yamamoto em relação aos membros da Alemanha é muito grande. Quando ele esteve diante do Portão de Brandemburgo, em outubro de 1961, disse que o Muro de Berlim seria demolido dentro de trinta anos. Eu acredito que isso não é apenas uma previsão, mas a própria decisão do presidente Yamamoto. Por isso, solicito aos senhores que criem uma correnteza de paz e de felicidade aqui na Alemanha.1 Momento em que Shin’ichi visita o Portão de Brandemburgo e profere sua histórica decisão (Berlim, out. 1961) Nota: 1. IKEDA, Daisaku. Primavera. Nova Revolução Humana. São Paulo: Editora Brasil Seikyo, v. 7, p. 139, 2018. O personagem do presidente Ikeda no romance é Shin’ichi Yamamoto, e seu pseudônimo, como autor, é Ho Goku. Fonte IKEDA, Daisaku. Grande Brilho. Nova Revolução Humana. São Paulo: Editora Brasil Seikyo, v. 4, p. 265-271, 2018.

02/09/2021

Encontro com o Mestre

Transmitir esperança e inspiração por meio do diálogo

DR. DAISAKU IKEDA Neste ano em que celebramos o 800º (octingentésimo) aniversário de nascimento de Nichiren Daishonin (de acordo com o método de contagem tradicional japonês),1 lembro-me de sua profunda ligação com Tóquio, área conhecida na época como parte da província de Musashi e da planície de Musashino. Daishonin comparou a assembleia do Sutra do Lótus no ar — onde uma multidão de bodisatvas da terra jura realizar o kosen-rufu nos Últimos Dias da Lei — à vasta planície de Musashino.2 Ele concluiu sua vida e obra em Ikegami, província de Musashi (atual bairro de Ota, em Tóquio), proferindo derradeira preleção aos seus discípulos sobre o tratado Estabelecer o Ensinamento para a Pacificação da Terra e deixando um legado espiritual para todas as gerações futuras. Meu mestre, Josei Toda, viu um profundo significado no fato de a Soka Gakkai, como herdeira do compromisso de Daishonin, por circunstâncias prodigiosas, ter surgido cerca de setecentos anos após o nascimento dele, com Tóquio como seu local de origem. Hoje, nossa dinâmica coletividade de bodisatvas da terra que compartilha do grande juramento pelo kosen-rufu é como uma assembleia do Sutra do Lótus dos dias atuais. Nossos membros de todos os recantos estão se empenhando de forma vigorosa para construir reinos do tesouro personificando o ideal de Nichiren Daishonin de “estabelecer o ensinamento para a pacificação da terra”. Que visão emocionante! Totalmente condizente com a perspectiva de Daishonin em relação ao futuro! * * * Foi também em Tóquio que o fundador do nosso movimento, Tsunesaburo Makiguchi, que nasceu em 6 de junho, há 150 anos [em 1871], morreu na prisão em defesa de suas convicções, após uma vida de dedicação incansável e abnegada à propagação da Lei. Em seu exemplar pessoal dos escritos de Nichiren Daishonin, Makiguchi sensei sublinhou a passagem do Sutra do Lótus: “Se [um desses bons homens ou uma dessas boas mulheres, na era posterior à minha morte,] for capaz de expor secretamente o Sutra do Lótus a alguém..., então, deve reconhecer que essa pessoa é a emissária d’Aquele que Assim Chega.3 (...) Aquele que Assim Chega os cobrirá com o seu manto”.4 Quando compartilhamos a Lei Mística com uma única pessoa que seja, afirma ele, somos os “emissários do Buda”, pessoas incumbidas da importante missão de realizar o trabalho compassivo do Buda. Desde a fundação da Soka Gakkai, com os presidentes Tsunesaburo Makiguchi e Josei Toda na liderança, efetuamos esse trabalho do Buda, dedicando nossa atenção total a cada indivíduo. Nossas reuniões de palestra são acolhedoras, frente a frente, em pequeno grupo, e os diálogos, francos de pessoa a pessoa. “Vamos analisar minuciosamente a questão”,5 propõe o anfitrião [Nichiren Daishonin] em Estabelecer o Ensinamento para a Pacificação da Terra. Fizemos exatamente isso, iniciando conversações alicerçadas em nossas orações pela felicidade dos outros e pela segurança da sociedade. Registros mostram que, ao longo do período de dois anos da Segunda Guerra Mundial, Makiguchi sensei coordenou mais de 240 reuniões de palestra. Além disso, encontrava-se todas as semanas com membros individualmente, tanto na casa deles como em algum outro local, e lhes proporcionava orientações na fé. Mesmo sob a pressão do governo militarista, continuou saindo e indo ao encontro das pessoas, engajando-se em incalculáveis diálogos com cada uma. E, após ser preso em virtude de suas crenças, expôs o Budismo Nichiren aos guardas da prisão com quem interagia. Toda sensei também fez isso. Não importando quais sejam nossas circunstâncias, é fundamental que prossigamos tentando entrar em contato e manter diálogos budistas com as pessoas ao nosso redor, baseados em nosso juramento como bodisatvas da terra. Agindo dessa maneira, ensinaram os presidentes Tsunesaburo Makiguchi e Josei Toda, podemos ajudar os outros a formar um vínculo com o Budismo Nichiren, plantando as sementes da felicidade na vida deles, e abrir o caminho para o triunfante desenvolvimento do kosen-rufu. Quando nos impelimos a avançar com o orgulho de ser “emissários do Buda”, nós nos vemos repletos de “força para triunfar alegremente”, assim como entoamos na canção da Soka Gakkai de Tóquio Ah! Nossos Inspiradores Membros!. * * * Enquanto esteve confinado no Centro de Detenção de Tóquio em Nishi Sugamo, no bairro de Toshima, Makiguchi sensei enviou cartas para a sua família em Mejiro, localizado no mesmo bairro. Ele escreveu para a esposa e a outras mulheres da família, cuja faixa etária abrangia à das atuais integrantes do Grupo Muitos Tesouros à das jovens do Kayo Kai, enfatizando a importância de se ter o coração do rei leão determinado a transformar todo veneno em remédio e externando o desejo de que vivessem com esse espírito. No período que cerca o aniversário do presidente Makiguchi em 6 de junho, temos o Dia do Ikeda Kayo Kai da SGI, em 4 de junho, e o 70º aniversário da Divisão Feminina, em 10 de junho. Posso imaginar como Makiguchi sensei ficaria feliz ao observar as atividades dinâmicas e vibrantes dos membros da nossa Divisão Feminina e Divisão Feminina de Jovens. * * * Talvez pela profunda unicidade de mestre e discípulo, por volta da época da morte do presidente Makiguchi no cárcere em novembro de 1944, Toda sensei vivenciou dentro dos muros da mesma prisão um despertar para sua identidade como bodisatva da terra e firmou seu grande juramento de concretizar o kosen-rufu. No fim de junho do ano seguinte, Toda sensei foi transferido para o Presídio de Toyotama, em Nakano, Tóquio, e na noite de 3 de julho, foi libertado, saltando como um leão acorrentado cujas correntes se arrebentaram. A caminho de casa, desceu na Estação Meguro, a qual se situava no alto, oferecendo uma visão da vasta área carbonizada de Meguro e de Shinagawa. Foi a partir daí que Toda sensei levantou-se só pelo kosen-rufu. Eu também tenho infindáveis lembranças de Meguro, entre as quais a de uma ocasião em que subi a ladeira Gonnosukezaka da Avenida Meguro-dori na chuva com meu mestre. A primeira reunião de palestra da qual ele participou em seus esforços pós-guerra para reconstruir a Soka Gakkai foi realizada no bairro de Kamata [que se tornou depois o bairro de Ota, em 1947], há 75 anos [em 5 de maio de 1946]. No ano seguinte, numa reunião de palestra no bairro de Ota [em 14 de agosto de 1947], na qual Josei Toda proferiu uma explanação sobre Estabelecer o Ensinamento para a Pacificação da Terra, jurei segui-lo como meu mestre. Toda sensei dizia sempre que, mesmo que apenas duas ou três pessoas comparecessem a uma reunião de palestra, deveríamos falar sobre como é maravilhoso praticar o Budismo Nichiren e nos certificar de que todas voltassem para casa inspiradas e repletas de alegria. Isso, segundo ele, promove o crescimento da linha de frente da organização. * * * Inspiração é a força propulsora da vida humana O empresário pioneiro japonês Eiichi Shibusawa (1840–1931) declarou: “Arregaçar as mangas e iniciar o trabalho a cada manhã com senso de alegria e com inspiração nos faz sentir contentes e animados”.6 O atual desenvolvimento da Soka Gakkai em âmbito mundial remonta ao despertar de Toda sensei na prisão, que o inspirou a dedicar a vida à missão pelo kosen-rufu. Um dos locais em que verifiquei uma reação em cadeia de inspiração espetacular em nosso movimento foi no bairro de Sumida, em Tóquio. Lá, tanto Toda sensei como eu assumimos a presidência da Soka Gakkai e demos início aos esforços para promover o kosen-rufu.7 A luta conjunta de mestre e discípulo é fonte de inspiração e de alegria, a qual faz “o alvorecer da vida do tempo sem início”8 brilhar intensamente. Na época pioneira do nosso movimento, Toda sensei compareceu a uma convenção do Distrito Adachi perto da Estação Oji [no bairro de Kita, em Tóquio]. O local era adjacente ao Parque Asukayama, com o qual Eiichi Shibusawa mantinha forte ligação [sua residência principal situava-se ao lado desse lugar)]. A reunião ocorreu em maio de 1953, durante um período em que a Soka Gakkai estava vivenciando um crescimento admirável. Toda sensei clamou aos membros, bravos defensores de pessoas sinceras e comuns, que haviam se reunido com um sincero juramento pelo kosen-rufu: “Se vocês possuírem profunda fé, sua vida mudará radicalmente. Conseguirão transformar seu destino”.9 Ele assegurou: “Nós, da Soka Gakkai, realizando o trabalho do Buda para ajudar todas as pessoas a se tornar felizes, obteremos benefícios sem falta!”.10 Muitos dos que atuaram ao meu lado, com o coração repleto de alegria, na campanha de orientação de verão em Arakawa, quatro anos depois [em 1957], haviam participado daquela convenção. * * * Foi a família Ikegami que acolheu Nichiren Daishonin naquela última visita a Musashino. Os dois irmãos Ikegami suportaram a provação de o primogênito ser deserdado duas vezes pelo pai, que havia sido influenciado negativamente por sacerdotes interesseiros hostis a Daishonin. Eles prosseguiram demonstrando esplêndidas provas reais de vitória, saldando, assim, parte da profunda dívida de gratidão que pos­suíam com o mestre. Durante as adversidades, Dai­shonin havia escrito para eles: “Agora, mais do que nunca, não demonstrem nem sintam qualquer temor. (...) Cerrem os dentes e jamais esmoreçam na fé”.11 Os irmãos Ikegami foram estimulados a agir e tiveram êxito em superar seus problemas. “Poderia haver uma história mais maravilhosa do que a de vocês?12 A fé das mulheres da família Ikegami era especialmente forte. Nichiren Daishonin as louvou, também, predizendo que se tornariam “exemplos de mulheres que atingiram o estado de buda nesta última era maléfica”.13 Minha esposa, Kaneko, e eu nunca nos esqueceremos de que, há trinta anos, quando o clero da Nichiren Shoshu revelou a dimensão plena de sua ingratidão e falsidade em relação à Soka Gakkai, as mulheres de Tóquio lideraram as companheiras ao redor do mundo ao se pronunciarem em defesa da verdade para esclarecer os fatos, erguendo bem alto a bandeira da Renascença Soka. A união espiritual dos nossos diversos membros é o fator fundamental para o progresso dos nossos esforços para concretizar o ideal de Daishonin de “estabelecer o ensinamento para a pacificação da terra”. Quando ficamos sabendo que um amigo está passando por dificuldades, oramos por ele e o apoiamos de todo coração, como se o problema fosse nosso. Com o espírito de “compartilhar das alegrias e tristezas de um amigo”,14 conforme salienta Daishonin, nossa família Soka se recuperou triunfalmente de todas as adversidades por meio do caloroso apoio e da amizade dos companheiros. O escritor japonês Saneatsu Mushanokoji (1885–1976) era proveniente da área Chofu de Tóquio, próximo ao Tama, um rio que Daishonin também atravessou durante as suas viagens. Ao se lançar a um empreendimento difícil, ele declarou que aquele era o momento crucial, frisando que “Devemos avançar outro passo. Devemos nos empenhar com determinação em todas as frentes”.15 Quanto mais desafiadora a época, mais preciosos são os laços de incentivo mútuo. Membros do Japão e do mundo valorizam Tóquio como o baluarte central de nossa organização em prol do kosen-rufu e por “estabelecer o ensinamento para a pacificação da terra”. Todos oram em uníssono pelo sucesso dos esforços dos membros de Tóquio e os apoiam sinceramente. Como somos afortunados por termos companheiros tão inspiradores! A Grande Tóquio é a “Fortaleza de Grande Valor!”16 símbolo da coragem Soka. * * * Nasci e fui criado em Tóquio. É minha terra natal e, como tal, possuo uma profunda dívida de gratidão com ela. Continuo orando para que a transformemos num dinâmico centro de criação de pessoas de grande valor repleto de felicidade, segurança, paz e prosperidade e que ilumine o mundo inteiro. Desde a minha juventude, estabeleci como lema os dizeres: “Quanto mais resistência as ondas encontram, mais elas crescem”. Adotando Tóquio como palco principal dos meus esforços, tomei uma decisão resoluta como ondas impetuosas que se erguem e contra-ataquei intrepidamente cada desafio que encontrei. “Uma vida tempestuosa”17 — é o que mestres e discípulos Soka estão preparados para enfrentar. Vamos demolir as pedras inquebrantáveis do nosso caminho com espírito indômito, tais como ondas estrondosas chocando-se ferozmente. Avancemos com renovada determinação rumo a julho, mês dos jovens e mês de mestre e discípulo da Soka Gakkai. Por meio dos encontros repletos de ânimo e de alegria de companheiros inspiradores, façamos soar o sino da esperança de um novo amanhecer de paz em cada terra, com base nos princípios humanísticos do Budismo Nichiren! Notas: 1. Nichiren Daishonin nasceu em 16 de janeiro de 1222. De acordo com o método de contagem tradicional japonês, considerava-se que a pessoa tivesse 1 ano no dia de seu nascimento. 2. cf. Coletânea dos Escritos de Nichiren Daishonin. São Paulo: Editora Brasil Seikyo, v. II, p. 258, 2017. 3. The Lotus Sutra and Its Opening and Closing Sutras (Sutra do Lótus). Tradução: Burton Watson. Tóquio: Soka Gakkai, cap. 10, p. 200-204 4. The Writings of Nichiren Daishonin (Escritos de Nichiren Daishonin), v. II, p. 925. 5. Coletânea dos Escritos de Nichiren Daishonin. São Paulo: Editora Brasil Seikyo, v. I, p. 7, 2014. 6. Traduzido do japonês. SHIBUSAWA, Eiichi. Seien Sensei Kungen-shu [Aforismos de Seien Sensei (Eiichi Shibusawa)]. YANO, Yoshijiro (comp. e ed.). Tóquio: Tomi no Nihonsha, 1919. p. 597. 7. As cerimônias de posse de ambos se deram no Auditório da Universidade Nihon, em Ryogoku, no bairro de Sumida, em Tóquio. 8. Verso da canção da Soka Gakkai de Tóquio: “Ah, nossos inspiradores membros!”. 9. Traduzido do japonês. TODA, Josei. Toda Josei Zenshu [Obras Completas de Josei Toda]. v. 4. Tóquio: Seikyo Shimbunsha, 1989. p. 41. 10. Ibidem, p. 44. 11. cf. Coletânea dos Escritos de Nichiren Daishonin. São Paulo: Editora Brasil Seikyo, v. I, p. 520, 2014. 12. cf. Ibidem, p. 522. 13. Ibidem, p. 525. 14. cf. The Writings of Nichiren Daishonin (Escritos de Nichiren Daishonin), v. II, p. 964, 2017. 15. Traduzido do japonês. MUSHANOKOJI, Saneatsu. Mushanokoji Saneatsu Zenshu [Obras Completas de Saneatsu Mushanokoji]. v. 17. Tóquio: Shogakkan, 1990. p. 488-489. 16. O presidente Ikeda inscreveu essas palavras numa caligrafia em 1984. 17. Ikeda sensei inscreveu essas palavras numa caligrafia em 1982. Fonte: Publicado no jornal Seikyo Shimbun, de 10 de junho de 2021.

15/07/2021

Caderno Nova Revolução Humana

Cumpra a sua missão

PARTE 31 — A Soka Gakkai é a reunião de bodisatvas da terra que surgiram para concretizar o kosen-rufu, o testamento de Nichiren Daishonin. Por isso, tanto o primeiro presidente, Tsunesaburo Makiguchi, como o segundo presidente, Josei Toda, ansiaram pela felicidade de todas as pessoas e desbravaram o caminho do kosen-rufu com a decisão de “devoção abnegada pela propagação da Lei” (shishin-guho). Nós também herdamos esse espírito de mestre e discípulo Soka e atuamos com coragem pela propagação do budismo com elevado orgulho para cumprirmos nossa missão nesta existência. Independentemente da situação, desde que se proteja o grande caminho de mestre e discípulo Soka, o avanço da propagação benevolente do kosen-rufu não cessará. As engrenagens da história se moverão em direção à paz do mundo e à felicidade da humanidade, e cada pessoa evidenciará uma vida de felicidade tal qual o máximo esplendor das flores de cerejeira — Shin’ichi Yamamoto queria que todos os companheiros mantivessem sem falta essa convicção. Na tarde do dia 16 de abril, Shin’ichi recebeu a visita do ex-secretário de Estado dos Estados Unidos, Henry A. Kissinger, que estava em visita ao Japão, e dialogou com ele no Centro Internacional da Amizade (atual Centro Internacional da Amizade de Tóquio) do bairro de Shibuya, em Tóquio. Cerca de quatro anos haviam se passado desde a última vez em que se viram. O Dr. Kissinger nasceu na Alemanhã em 1923, e fugindo da opressão dos nazistas aos judeus, mudou-se com a família para os Estados Unidos quando criança. Especializou-se em ciências políticas na Universidade Harvard, onde também obteve o título de doutorado. Tornou-se professor dessa universidade em 1962. Exerceu cargos de assessor presidencial e secretário de Estado no governo Nixon. Nesse período, durante a visita de Nixon à China, ele promoveu a viagem à União Soviética, atuou nas Conversações sobre Limites para Armas Estratégicas entre União Soviética e Estados Unidos, paz no Vietnã e no Oriente Médio, sua capacidade diplomática chamava a atenção do mundo. Ele recebeu o Prêmio Nobel da Paz em 1973. Em 1977, com o surgimento da administração Carter, deixou a Casa Branca e passou a atuar em diversas funções, entre elas, professor da Universidade Georgetown. — Seja muito bem-vindo! Eu o aguardava. Shin’ichi trocou um forte aperto de mão com Kissinger, e conversaram a respeito da situação recente caminhando juntos pelo jardim do Centro Internacional da Amizade. Por meio do diálogo, eles buscavam encontrar, juntos, ideias e sugestões para abrir o caminho da paz perene. A nova sabedoria nasce inspirada pelo diálogo. PARTE 32 Após caminharem pelo jardim, Shin’ichi Yamamoto e Henry Kissinger dialogaram na sala de visitas. Kissinger contou-lhe que a publicação do seu livro de memórias estava para ser lançado em breve. — O que está escrito aqui é a respeito de política externa e sobre o que eu fiz. Não é sobre a minha vida. Shin’ichi disse prontamente: — Aquilo que realizou de fato é justamente o mais importante, tanto na diplomacia como na construção da vida — e ele sorriu um pouco encabulado. Os assuntos do diálogo foram diversos. Recordando cada qual a jornada de sua vida, conversaram sobre as pessoas que os influenciaram e sobre temas como “O que é Necessário Transmitir para as Novas Gerações”, e se estendeu à questão da situação mundial. Quando o assunto chegou aos perigos da guerra, Shin’ichi afirmou que para a paz são imprescindíveis a filosofia, o pensamento e a religião que lhe dê sustentação. Kissinger concordou plenamente. Então, Shin’ichi mencionou a respeito da história da Índia e do governo do grande rei Ashoka, e expôs os princípios do budismo que se tornam o alicerce da paz: — Podemos dizer que Ashoka realizou um governo ideal por fazer do ensinamento denominado budismo sua base essencial. O budismo expõe originalmente que todas as pessoas estão dotadas da vida de suprema nobreza chamada “buda”, ou seja, da “natureza de buda”. Ao mesmo tempo em que isso é justamente a incontestável sustentação à dignidade da vida, é também o princípio filosófico da igualdade de todos os seres humanos. É a partir disso que nascem a ideia do pacifismo e a do humanismo. Como seria necessário empenhar muito mais tempo para esmiuçar as questões levantadas por ambos, eles se comprometeram a dialogar mais uma vez no futuro para oferecer sugestões para a edificação do século 21. Isso se tornou realidade, e os dois conversaram por dois dias em setembro de 1986. Somando ainda o conteúdo de trocas de correspondências posteriores, o diálogo foi publicado nas edições de janeiro a agosto de 1987 da revista mensal Ushio. E em setembro do mesmo ano, foi lançado em forma de livro com o título Heiwa to Jinsei to Tetsugaku so Kataru [Filosofia da Paz Humana] pela Editora Ushio. O personagem do presidente Ikeda no romance é Shin’ichi Yamamoto, e seu pseudônimo, como autor, é Ho Goku.

24/06/2021

Rede da Felicidade

Tudo possui um significado

DR. DAISAKU IKEDA Ele [Shin’ichi Yamamoto] escolhera o dia 2 de outubro para embarcar em sua primeira viagem ao exterior porque o falecimento de [Josei] Toda [2 de abril de 1958] era relembrado no segundo dia de cada mês. Tinha plena consciência da importância que havia por trás do desejo de Toda: “Percorra o mundo!” (...) A viagem de Shin’ichi abrangeria nove cidades de três países, iniciando em Honolulu, no Havaí, e prosseguindo para São Francisco, Seattle e Chicago (Estados Unidos), Toronto (Canadá), Nova York e Washington (Estados Unidos), São Paulo (Brasil), terminando em Los Angeles (Estados Unidos). O retorno ao Japão estava previsto para 25 de outubro. Um dos objetivos da viagem era levar orientações e incentivos sobre a prática e a fé budistas aos membros da Soka Gakkai que estavam começando a aparecer nessas re­giões. Outro objetivo era comprar material de construção para o Grande Salão de Recepção (Daikyakuden) que a Soka Gakkai pretendia construir e doar ao templo principal. (...) Shin’ichi Yamamoto retirou a foto de Josei Toda do bolso interno de seu paletó e, olhando-a fixamente, pensou: “Como ele ficaria feliz se pudesse me acompanhar nesta viagem”. (...) Após sete horas da decolagem do Aeroporto Internacional de Tóquio rumo ao Havaí, o avião iniciou a sua descida gradativa. O relógio de Shin’ichi, ajustado ao horário havaiano, marcava 22h30 do dia 1o de outubro. Devido ao fuso horário, existia uma diferença de dezenove horas a menos em relação ao Japão. Minutos depois, o avião preparou-se para a aterrissagem. Ao olhar pela janela, pequenos pontos luminosos salpicavam abaixo como pedras preciosas. Eram as luzes da cidade de Honolulu. O Fuji1 pousou no aeroporto de Honolulu por volta das 23 horas, com quase uma hora de atraso. Apesar de ser tarde da noite, o ar estava quente. O Havaí era mesmo a terra do verão permanente. O rosto dos integrantes da comitiva, que trajavam roupas de meia-estação, chapéu e paletó, logo começou a transpirar. Uma longa fila se formou no balcão de imigração. Enquanto aguardava sua vez, Shin’ichi perguntou a Kiyoshi Jujo: – Podemos contar com o seu inglês? Antes da partida, Jujo havia lhe garantido que falava inglês fluentemente. – Sim. Se for uma conversa corriqueira, não haverá problema. Na academia naval recebi rigoroso treinamento para aprender a língua inglesa — respondeu Jujo, orgulhoso. Shin’ichi e seus acompanhantes esperaram cerca de trinta minutos. Ao se aproximar do guichê, Jujo antecipou-se a Shin’ichi e disse: – Sensei, passarei pelos procedimentos de imigração antes, assim poderei ser seu intérprete quando chegar a sua vez. Por fim, chegou a vez de Jujo apresentar seu passaporte ao fiscal, que lhe fez uma pergunta em inglês. Jujo ficou parado por alguns instantes, parecia confuso, mas pôs-se a falar: – Uansu moa purizu! (Once more, please!, ou “Mais uma vez, por favor!”) Jujo repetiu as mesmas palavras várias vezes e o funcionário repetiu a mesma pergunta. Após várias tentativas sem sucesso, o funcionário abriu os braços e balançou a cabeça num gesto de desistência. Um rapaz que assistia à cena e que parecia ser um agente de viagens não conseguiu ficar indiferente e ofereceu-se para servir de intérprete. Assim, a comitiva pôde se livrar da embaraçosa situação. – Puxa, como é difícil entender o inglês dos havaianos — disse Jujo coçando a cabeça e rindo um tanto encabulado. Shin’ichi percebeu que ter intérpretes competentes era imprescindível para o desenvolvimento do kosen-rufu mundial. Ao passarem pela alfândega, pegaram as bagagens e se dirigiram ao saguão de desembarque. Já era madrugada do dia 2 de outubro em Honolulu. A comitiva seria recepcionada no aeroporto por um membro da Divisão Masculina de Jovens, Nagayasu Masaki, que havia se mudado para os Estados Unidos três anos antes a fim de estudar. Estava tudo acertado que Masaki esperaria a comitiva no aeroporto e serviria de guia e intérprete durante a visita deles.2 – Masaki deve estar cansado de esperar por causa do atraso do nosso voo — disse Shin’ichi a Jujo, com ar preocupado. – É verdade! Ele disse que iria nos recepcionar com um grande número de companheiros do Havaí. Ao chegar à ala de desembarque, a comitiva encontrou um ambiente cheio de pessoas que se confraternizavam alegremente. Contudo, o jovem Masaki não estava ali. Deixando a bagagem em um canto, o grupo pôs-se a esperar por Masaki. Ficaram observando com curiosidade o movimento no Aeroporto de Honolulu. Tudo era novidade. Havia moças vestidas com muumuus havaianos recepcionando os turistas com colares de flores coloridas. Viram também um senhor de cabelos grisalhos usando uma camisa aloha vermelha, típica dos havaianos. Em contraste, notaram a presença de um grupo de japoneses impecavelmente engravatados. Essas pessoas aguardavam a chegada de algum passageiro. Quando o avistavam, recebiam-no com alegria e um caloroso abraço. Assim, um grupo após o outro ia deixando o aeroporto. Com aspecto preocupado, Kiyoshi Jujo comentou com Eisuke Akizuki: – Parece que Masaki não está por aqui. Ele disse que viria nos receber no aeroporto. – É verdade... Estranho que não esteja aqui... A maioria dos passageiros que desembarcaram com eles já haviam deixado o aeroporto e poucas pessoas permaneciam no local. – Que coisa! O que faremos se ninguém vier nos buscar? Não conhecemos nada por aqui! A voz de Katsu Kiyohara, que normalmente soava confiante, deixava transparecer insegurança. Nesse momento, um rapaz que observava a comitiva de um canto do saguão aproximou-se e perguntou com certa hesitação: – Por acaso o senhor não é Shin’ichi Yamamoto, presidente da Soka Gakkai? Shin’ichi logo o reconheceu e disse: – Sim. Muito obrigado por ter vindo! Ao ouvir essas palavras, o rapaz tranquilizou-se e disse, sorrindo: – Eu sou Tony Harada, membro da Divisão Masculina de Jovens. – Eu conheço você. Já nos encontramos antes, não é mesmo? – Sim. O senhor me recebeu na Sede Central da Soka Gakkai antes de eu me mudar para o Havaí. Assim se apresentando, o jovem Harada colocou em Shin’ichi um colar de flores de boas-vindas que havia preparado e o cumprimentou com um aperto de mãos. A inesperada recepção de Harada fez com que todos respirassem aliviados. Mas logo Harada disse: – Bom, já vou indo. Shin’ichi então interpelou o rapaz, que já se retirava, dizendo: – Obrigado! Mas você já vai embora? – Sim. Já consegui me encontrar com os senhores. – E as outras pessoas? – perguntou Shin’ichi. – Não sei. Moro na Ilha do Havaí, e não aqui em Oahu. Recebi uma carta do Japão avisando que os senhores viriam a Honolulu. Então, peguei um avião e vim para cá. – Ah, sim. E você vai se hospedar em algum lugar? – Fique tranquilo, ficarei hospedado na casa de minha tia. Por favor, não se preocupe comigo. Até logo. O jovem Harada não havia percebido a dificuldade em que se encontravam os membros da comitiva e só estava tentando não ser inconveniente. O presidente Yamamoto ainda perguntou: – Bom, neste caso, por que não nos encontramos amanhã? Vou ficar no Hotel Kaimana. – Claro! – respondeu Harada com voz animada e retirando-se apressadamente. Os membros da comitiva despediram-se dele atônitos. Sem o jovem Harada, foram tomados novamente por uma sensação de desamparo. Passado algum tempo, pouco a pouco as luzes começaram a ser apagadas e o silêncio tomou conta do saguão do aeroporto. – Onde está Masaki? – perguntou impulsivamente Yukio Ishikawa com voz cheia de raiva. – Sensei, vou sair e procurar Masaki — ofereceu-se Kiyoshi Jujo. — Akizuki, vou dar uma olhada lá fora. Por que você não o procura aqui dentro? Assim, Jujo e Akizuki começaram a procurar Masaki. Depois de algum tempo, Akizuki voltou dizendo que não havia nem sombra de Masaki. Jujo retornou em seguida. – Não o encontrei. Mas, sensei, lá fora tem um carro do Hotel Kaimana. Como já é tarde, não seria melhor irmos para lá? Todos concordaram com a sugestão de Jujo e partiram para o hotel. O hotel Kaimana era um modesto prédio de três andares que ficava na ponta da Praia de Waikiki. Já eram quase duas horas da madrugada quando chegaram, e com a bagagem já nos quartos, se reuniram no quarto de Shin’ichi Yamamoto sem que tivessem combinado. Já havia passado muito tempo desde o jantar servido a bordo do avião, e todos estavam famintos e exaustos. – Estou com fome – disse Shin’ichi, como se falasse em nome de todos. O hotel ficava longe do centro comercial, por isso não havia nenhum restaurante nas proximidades e, por ser tarde da noite, o serviço de quarto já havia encerrado. Shin’ichi pegou algumas folhas de nori (alga marinha seca) que havia trazido do Japão e as dividiu com eles. O desânimo estava estampado no rosto de cada um. O fato de não terem encontrado ninguém para recepcioná-los na primeira viagem ao exterior e de estarem tentando enganar a fome com nori fez com que se sentissem desolados e abandonados. Percebendo isso, Shin’ichi abriu um sorriso animado e disse: – Este momento em que estamos aqui comendo nori será uma preciosa recordação no futuro. Esta noite ficará registrada na história de nossa vida como o início de uma grande jornada. Não é maravilhoso quando pensamos dessa forma? Apesar das palavras de Shin’ichi, eles não conseguiam perceber quão maravilhoso isso de fato seria. Porém, estar ao lado dele e ver seu sorriso confiante era o suficiente para dissipar-lhes as preocupações. Masaki e cerca de trinta membros do Havaí se encontram com Shin’ichi e comitiva, no terraço do hotel, após desencontro no aeroporto No topo: partida da comitiva da Soka Gakkai, liderada pelo presidente Yamamoto, tendo o Havaí como primeiro destino. O kosen-rufu mundial sendo desbravado com coragem e determinação Notas: 1. Apelido dado ao avião da Japan Air Lines. . 2. Por um erro de datilografia cometido pela agência de viagem, Nagayasu Masaki havia sido comunicado que o voo chegaria no dia 2 de outubro. Mas, enquanto realizava os preparativos para a recepção junto com os membros do Havaí, descobriu que o presidente Yamamoto já havia chegado no dia anterior e apressou-se a encontrá-lo no hotel em que estavam hospedados. O personagem do presidente Ikeda no romance é Shin’ichi Yamamoto, e seu pseudônimo, como autor, é Ho Goku. Fonte: IKEDA, Daisaku. Alvorecer. Nova Revolução Humana. São Paulo: Editora Brasil Seikyo, v. I, p. 11-20, 2019.

02/06/2021

Encontro com o Mestre

Okinawa - “A vida é o tesouro mais precioso — as cores da paz”

[Nota do editor: O dia 15 de maio marca a data em que Okinawa foi rea­nexada ao Japão. Essa terra, que mais sentiu e sofreu as atrocidades da guerra, é também aquela em que o presidente Ikeda solidificou sua decisão pela ausência de guerras e jurou a construção da terra do buda de paz e prosperidade eternas junto com os companheiros. O coração do respeito à dignidade da vida que pulsa em Okinawa se transforma em oração para “estabelecer o ensinamento” e une o mundo em um só espírito com generosa amizade. Ampliando cada vez mais o círculo dos incentivos, isso certamente será um alento a todos os amigos que vivem este momento crítico.] DR. DAISAKU IKEDA Castelo Okinawa que se destaca no mundo imponentemente no grande oceano de azul profundo. Tudo o que possui vida tem seu tom, sua cor. E todas as cores possuem uma característica insubstituível e única. Quando cada qual permite que o outro faça brilhar livremente a cor da vida assumida para si, e juntos tingem este mundo de maneira radiante e rica — não poderíamos dizer que esta seria uma das imagens que refletiria verdadeiramente a paz? Uma bela ilha em que tanto o imenso céu, como o profundo ocea­no, o grande solo e também a vida das pessoas irradiam um brilho particular e estão em perfeita harmonia é a minha amada Okinawa. Em Okinawa, resplandece o inabalável coração do respeito à dignidade da vida. “A vida é o mais precioso tesouro”, definem. Nessa terra pulsa o espírito de uma generosa amizade em que “ao nos encontrar, já somos todos irmãos”. “Naturalmente, darem-se bem e, ainda, tomarem a iniciativa para se aproximar fraternalmente das pessoas” — essa é a maneira de viver ampliando o círculo de harmonia, transmitido por meio de um dos contos folclóricos de Ryukyu [referente à ilha que faz parte da história de Okinawa] denominado Mura wo Tsukuru Kyoudai [Os Irmãos que Constroem Vilas]. Desde os tempos antigos, as pessoas do reino de Ryukyu não possuíam a característica de um povo de uma nação insular fechada. Elas mantinham um espírito aberto e expansivo como nação marítima e cruzaram bravamente os mares revoltos para avançar em direção à Ásia e ao mundo. Não há como enumerar a quantidade de histórias que narram o resgate de amigos estrangeiros que naufragaram e com que atenciosa hospitalidade foram acolhidos. Pessoas que tiveram contato com essa calorosa receptividade deixaram na história registros e depoimentos de gratidão e louvor: “O povo de Ryukyu é amigável e de confiança. Além disso, é um povo extremamente feliz”. De fato, Okinawa é como uma “ponte que liga o mundo”. Uma cultura variada foi desenvolvida em meio ao intercâmbio aberto com o estrangeiro. É também um “reservatório do tesouro de tingimento e tecelagem”, como o padrão colorido de Ryukyu, deslumbrante com sua arte de cores vivas. A origem do padrão salpicado, chamado kasuri, também é de Okinawa. O grande conselheiro de Ryukyu, Sai On (1682–1761), escreveu: “Ao criar uma dívida de gratidão com alguém, não deixe passar muito tempo para saldá-la”. Sem jamais se esquecer de sua gratidão, prezar as pessoas ao redor como se fossem de sua família e entoar alegre e harmoniosamente o hino em louvor à vida — podemos dizer que a fonte de luz que colore Okinawa de maneira tão linda é esse seu coração caloroso como o sol. Como uma ilha do tesouro da paz [Nota do Editor: Este ano [2020] marca os sessenta anos da primeira visita de Ikeda sensei a Okinawa. O presidente Ikeda fala a respeito do seu sentimento na época, quando estabeleceu seu firme juramento pela paz. E relembrando os inesquecíveis encontros ocorridos nas diversas localidades, em especial na cidade de Okinawa, onde foi realizado o grande festival cultural de 30 mil pessoas, ele anseia pela prosperidade ainda maior de Okinawa.] Construa o ponto primordial do glorioso alicerce da paz à frente dessa trágica história. Quando visitei Okinawa pela primeira vez, em julho de 1960, uni as palmas das mãos e orei profundamente diante dos monumentos de Himeyuri e Shihan Kenji. Nesse momento, estabeleci um firme juramento. As pessoas de Okinawa, que mais sentiram o sofrimento e o horror da guerra, mais que ninguém, são as que têm o direito de se tornarem felizes. Ou melhor, elas têm de ser felizes a qualquer custo. Por isso, jurei edificar sem falta nessa terra a ilha do tesouro do ideal da paz junto com os meus estimados amigos. Três meses após a minha primeira visita a Okinawa, voei para a histórica primeira viagem ao exterior. Mas, mesmo considerando minhas viagens pelo mundo expandindo a rede de diálogos desejando a paz, sempre tive Okinawa como ponto de partida do meu coração. Além disso, em dezembro de 1964, comecei a redigir o romance Revolução Humana em Naha, capital de Okinawa, e, logo no início, escrevi: Não existe nada mais cruel do que a guerra! Não existe nada mais terrível do que a guerra! Esse era o brado que havia herdado do meu mestre, presidente Josei Toda, que lutou incansavelmente contra as arbitrariedades do governo militarista, e era também a decisão compartilhada com meus amigos de Okinawa de acabar com a guerra no mundo. Reconfirmei com os companheiros de todos os cantos de Okinawa que prezar a cultura da qual essa ilha e terra natal se orgulha e ampliar os círculos de amizade dentro da localidade contribuem para a paz. Às vezes, eu amarrava o hachimaki [espécie de bandana] na cabeça, vestia o happi [vestimenta típica festiva] e entrava na roda da dança; outras vezes, liderava o coro gritando Iyasaka! [“Viva!”] Iyasaka!. Como cenas de um filme épico, com saudade e nostalgia, eu me lembro vividamente desses episódios e das conversas. Durante a minha primeira visita, declarei altivamente: “No futuro, Okinawa sem falta se tornará o ‘Havaí do Oriente’. Será um local admirado e venerado pelas pessoas do mundo inteiro e onde elas se reunirão”. Nada me deixa mais feliz que o fato de os nobres companheiros de Okinawa, como verdadeiros ganjumun [pessoa firme, saudável e vigorosa] — tal como as árvores de gajumaru [Ficus microcarpa], que conseguem suportar violentos vendavais —, terem superado dificuldades e sofrimentos indescritíveis, e seguem edificando uma prosperidade insuperável. Construir por toda a vida [Nota do Editor: Aqui, o presidente Ikeda apresenta a trajetória de uma integrante da Divisão Feminina que se devotou à construção da paz sem ser derrotada pelas tempestades do destino. Ele imaginou o futuro, desejando que esse espírito de Okinawa, de prezar a dignidade da vida, envolva o mundo todo.] Uma líder da Divisão Feminina de Okinawa, com quem minha esposa e eu viemos registrando uma história juntos, outrora vivia seus dias sem conseguir visualizar qualquer esperança diante do fracasso nos negócios do marido, dificuldades financeiras extremas e problemas de doença. No entanto, o casal decidiu que transformaria Okinawa, que foi palco das atrocidades e dos horrores da guerra, na sociedade mais feliz de se viver. Existe um ditado em Okinawa que afirma que “o mais importante nas pessoas é o coração”. A paz também se inicia a partir do momento em que cada pessoa supera os sofrimentos e as angústias pessoais, deixa de culpar e de chorar pelo destino e passa a realizar sua revolução humana. Conduzindo o filho pela mão, essa integrante da Divisão Feminina passou a visitar a casa de cada uma das amigas e conhecidas e a incentivava, após ouvir atentamente seus problemas e suas preocupações. Mesmo após a morte do marido, ela sucedeu o desejo dele e percorreu todas as ilhas de Okinawa para levar incentivo. O lema dela era “construir por toda a vida”; “é preciso levar a vida com firmeza, munida de coragem”. É a coragem que constrói a si e é também a força motriz para edificar a paz. O local em que está o nosso centro de treinamento na Vila de Onna em outros tempos fora a base militar de mísseis “Mace B” dos Estados Unidos com oito plataformas de lançamento. Durante a Guerra Fria, grandes cidades da China, como Pequim, estavam na linha de alcance. Agora, as ruínas dessa plataforma de lançamento renasceram como um monumento pela paz mundial. O cientista Dr. Joseph Rotblat, presidente honorário das Conferências Pugwash sobre Ciência e Negócios Mundiais que visa acabar com os armamentos nucleares, é uma das pessoas que recepcionei nesse centro de treinamento. Por ser alguém que veio devotando a vida à luta em prol da paz no mundo, o Dr. Rotblat demonstrou profunda empatia com o coração de Okinawa. “Nós precisamos, agora, uma vez mais, voltar nossos olhos para a dignidade do ser humano e de toda forma de vida” — essas palavras do Dr. Rotblat ainda ecoam fortemente no fundo do meu peito. “Nada é mais precioso do que a paz. Nada traz mais felicidade do que a paz.” “A vida é o mais precioso tesouro” — sempre imagino um reluzente futuro no qual este espírito de Okinawa envolva o planeta e os sorrisos de mães e filhos do mundo inteiro resplandeçam infinitamente Observando os senhores, oro para que haja felicidade e haja vitória para os amigos de Okinawa. Foto tirada pelo presidente Ikeda retrata o Mar de Okinawa, que brilha em azul profundo (Vila de Onna, fev. 1997) No topo: presidente Ikeda e sua esposa, Kaneko, experimentam a pintura em esmalte para louça (Centro de Treinamento de Okinawa, mar. 1995) Fonte: Publicado no Seikyo Shimbun do dia 15 de maio de 2020.

13/05/2021

Especial

Mapas para a paz

REDAÇÃO Ao observar a comunidade global, poderíamos dizer que o desarmamento é um assunto específico do século 21? Por mais próximo que o tema esteja da nossa realidade atual, ele vem sendo debatido pelo Dr. Daisaku Ikeda, presidente da Soka Gakkai Internacional (SGI), há quase quarenta anos. Nova Proposta para a Paz e Desarmamento é o título da primeira Proposta de Paz escrita por esse filósofo, pacifista e poeta laureado que vem se dedicando incansavelmente para enaltecer a dignidade da vida humana. Desde 1983, ele reflete sobre as questões sociais de cada época e apresenta sugestões de ações possíveis que, postas em prática, podem impactar positivamente o mundo. Neste mês, foi publicada oficialmente em português a Proposta de Paz de 2021, com o título Criação de Valor em Tempos de Crise. As propostas de paz são profundas pesquisas realizadas pelo Dr. Ikeda, nas quais ele oferece soluções para os principais dilemas globais, a partir de sua visão pautada no conceito de dignidade da vida humana exposto no Budismo de Nichiren Daishonin. Cruzando dados, resultados de pesquisas e relacionando-os com obras literárias e fatos biográficos de personalidades renomadas, o Dr. Ikeda redige o documento que, todos os anos, no dia 26 de janeiro, é enviado à Organização das Nações Unidas (ONU), marcando o aniversário da fundação da SGI. Esse impressionante estudo realizado pelo presidente Ikeda é um mergulho no cerne da sociedade global que, além de servir de apoio para a ONU, pode ser considerado um registro histórico construído ano a ano, e uma verdadeira contribuição à humanidade. São como mapas que mostram à sociedade o caminho para alcançar a paz duradoura. Motivação No outono japonês, em 8 de setembro de 1957, sete meses antes de sua morte, Josei Toda, segundo presidente da Soka Gakkai, proferiu sua Declaração pela Abolição das Armas Nucleares. O Estádio Mitsuzawa, em Yokohama (Japão), estava lotado e foi completamente tomado pela força e pela paixão das palavras de Toda sensei. A explanação sobre a crueldade das armas nucleares tocou fundo no coração do jovem Daisaku Ikeda, seu discípulo direto. Num artigo publicado em 2017, celebrando os sessenta anos da declaração de Josei Toda, o presidente Ikeda registrou o desejo do seu mestre de que o povo, em especial os jovens, se erguesse para livrar a sociedade das garras da maldade: Era seu desejo que despertassem uma base de ativismo popular para proteger o direito da humanidade de viver e criar uma solidariedade de cidadãos do mundo por meio da força e da paixão dos jovens. Esse desejo se tornou o eterno ponto de partida do movimento de paz da Soka Gakkai e da SGI.2 A partir daquele episódio, Ikeda sensei recebeu uma série de orientações do seu mestre sobre como deveria agir e para que suas ações servissem também como empoderamento de todas as pessoas comuns. O presidente Ikeda continua: Desde aquele dia, com a instrução do meu mestre em mente em todos os momentos, participei de diálogos com líderes e pensado­res de vários países, incluindo Estados que possuíam armas nucleares. Além disso, em minhas propostas de paz anuais e por outras vias, ofereci sugestões concretas para abrir o caminho para a proibição e abolição das armas nucleares — sempre com as palavras e ensinamentos de Toda sensei reverberando forte e profundamente no meu coração.3 Amigos do mundo Por toda a BSGI, a cada ano, são realizadas inúmeras atividades que têm como base a Proposta de Paz, a fim de inteirar os membros sobre o conteúdo do documento e de promover amplamente as reflexões do presidente Ikeda sobre o momento atual. Vários núcleos trazem o conteúdo em suas reu­niões possibilitando que o máximo de pessoas não apenas leia, mas compreenda profundamente os pensamentos do Mestre. Destaca-se entre esses núcleos a Divisão dos Universitários (DUni), que desenvolve um importante papel nesse sentido. Desde 2006, os membros da DUni se empenham não somente no estudo, mas também na divulgação da Proposta de Paz na sociedade, em especial no meio acadêmico. Foram muitas as oportunidades criadas pelos esforços desses jovens para apresentar esse documento além das atividades da organização. Exemplo disso ocorreu no ano de 2008, quando a DUni do Distrito Federal (CRE Oeste, CGRE), recebeu o convite da Secretaria de Juventude do Governo do Distrito Federal para participar da 1ª Conferência Distrital da Juventude. No encontro, uma prévia para a Conferência Nacional da Juventude, representantes da divisão proferiram algumas palavras, tendo como base a Proposta de Paz daquele ano, para cerca de quinhentas pessoas. Foi naquela mesma ocasião que a secretaria concedeu o título de “Amigo do Mundo” a Ikeda sensei. O que move os integrantes da Divisão dos Universitários como os membros dos demais núcleos a rea­lizar tais ações é o profundo comprometimento com o objetivo do presidente Ikeda de construir uma sociedade global mais harmoniosa a cada dia. As propostas de paz do presidente Ikeda se tornaram uma das principais fontes de estudo da DUni em diversas localidades da BSGI. Comprometidos, esses jovens se dedicam para popularizar o conteúdo e os diálogos sobre Ikeda sensei dentro da organização. “Boa parte dos esforços da Divisão dos Universitários, atualmente, tem sido no sentido de aproximar cada vez mais os membros desse material, seja por meio de lives, explanações nas atividades ou mesmo de estudos em grupos menores”, declara Fernando Mendonça, coordenador da DUni da BSGI. A respeito dos planos para este ano, o líder revela que o planejamento sobre a utilização da Proposta de Paz de 2021, Criação de Valor em Tempos de Crise, pela DUni, segue a todo vapor e em conjunto principalmente com a Divisão dos Jovens (DJ). Uma grande conquista é que o mês de setembro foi definido na programação da BSGI como o momento em que toda a organização se dedicará a estudar e a apresentar a Proposta de Paz. Pessoas valorosas A Proposta de Paz de 2021 foi aguardada com muita expectativa, pois todos ansiavam conhecer as observações e proposições do Dr. Daisaku Ikeda para a atual situação que a humanidade atravessa. Considerando o cenário complexo da sociedade, ocasionado pela pandemia da Covid-19, Ikeda sensei reflete sobre o estabelecimento da paz na sociedade global e o desenvolvimento de pessoas valorosas no século 21. O Mestre trata gradativamente em seu texto sobre a necessidade de valorizar todas as pessoas, englobando aquelas com dificuldade de acesso aos ambientes digitais e também se referindo aos cuidados a se tomar para que a contaminação pelo coronavírus seja evitada (higiene e distanciamento físico). Destaca, ainda, a urgência de uma atuação conjunta entre órgãos mundiais para superar a atual crise, além da educação e da conscientização sobre a dignidade da vida no combate à difusão de falsas notícias — especialmente sobre o coronavírus. Nessa mesma proposta, inclusive, o presidente Ikeda defende que se estabeleçam diretrizes internacionais contra a Covid-19, tendo a ONU e os jovens como protagonistas. Retoma a necessidade de se colocar em vigor o Tratado de Proibição de Armas Nucleares e aponta possíveis caminhos para a reconstrução da economia global e da vida das pessoas afetadas pela pandemia. O resultado da Proposta de Paz de 2021, Criação de Valor em Tempos de Crise, é realmente surpreenden­te e tocante, se partirmos do princípio de que essa análise foi desenvolvida com base em pesquisas e estudos, mas que também se fundamenta numa filosofia de profunda dignidade que supera os limites da religião e se expande no âmago da vida diária do ser humano e dos demais seres vivos do planeta. No entanto, é necessário que não fiquemos presos a mero encantamento após ler o texto ou ao orgulho por esse conteúdo ter sido redigido pelo nosso mestre, presidente Ikeda. É preciso identificar em nossa realidade como agir e o que fazer para que essa proposta faça sentido em nossa vida. É essencial colaborarmos para que ela não seja vista somente como um belo texto, mas sim absorvida como um documento que demonstra ser possível conduzir a humanidade por um caminho de paz e de respeito mútuo. Notas: 1. Terceira Civilização, ed. 621, maio 2020. p. 61. 2. Brasil Seikyo, ed. 2.392, 21 out. 2017. 3. Ibidem. A Proposta de Paz de 2021, Criação de Valor em Tempos de Crise, de autoria do Dr. Daisaku Ikeda, já está disponível na íntegra na revista Terceira Civilização, ed. 633, maio 2021. Para acessar o conteúdo completo, clique no link https://app.brasilseikyo.com.br/tc/edicoes/633

13/05/2021

Terceira Civilização

Encarte Especial

Nova Revolução Humana em fotos

No dia 11 de fevereiro, Shin’ichi Yamamoto participou da cerimônia em que recebeu o título de doutor honoris causa da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Em seu discurso de agradecimento, mencionando que aquele era o dia do aniversário natalício do seu venerado mestre, Josei Toda, discorreu sobre sua filosofia. — Aprendi com meu mestre a filosofia que explica que todos, seja quem for, podem igualmente revelar o supremo tesouro inerente à vida. Ele também me confiou o nobre caminho da paz a ampliar a rede de solidariedade entre as pessoas por meio do acúmulo de sinceros diálogos. Herdei a filosofia humanística que prega o emanar de ilimitada sabedoria quando se dedica com firme determinação compassiva em prol do povo e do ser humano. Logo após o término da Segunda Guerra Mundial, meu mestre propôs aos jovens cultivar o ideal denominado “cidadania global”. Na época, sua visão não foi reconhecida, mas o mundo de hoje, atormentado pelo agravamento dos conflitos étnicos, está começando a buscar esse caminho da coexistência harmoniosa. Shin’ichi desejava transmitir a grandiosidade do seu mestre ao mundo. Ele também queria dedicar o título de doutor honoris causa que acabava de receber ao seu venerado mestre, que o havia treinado. (Nova Revolução Humana, v. 30-II, p. 282-283) No topo: Presidente Ikeda discursa durante a solenidade de outorga do título de doutor honoris causa da Universidade Federal do Rio de Janeiro (fev. 1993) Foto: Seikyo Press

01/02/2024

Especial

Reunindo a criatividade histórica para restaurar a paz

Reunião dos países envolvidos, a ser realizada nas Nações Unidas, para o mais breve cessar-fogo! O presidente da SGI, Dr. Daisaku Ikeda, publicou uma proposta emergencial intitulada Reunindo a Criatividade Histórica para Restaurar a Paz, pedindo medidas pelo mais breve cessar-fogo na crise da Ucrânia e pela prevenção do uso de armas nucleares. Ao colocar novamente em pauta as questões fundamentais relacionadas às armas nucleares, as quais foram discutidas nas quarenta propostas de paz comemorativas do dia da SGI, o conteúdo clama pela solidariedade nas ações a fim de avançar no desarmamento nuclear para abrir o futuro da humanidade. A proposta cita que, conforme a crise se prolonga, a vida de muitas pessoas continua sendo ameaçada, e que a escassez de alimentos e de energia vem causando sérios danos em todo o mundo. O Dr. Ikeda defende a realização de uma reunião dos países envolvidos, incluindo a Rússia e a Ucrânia, com a mediação das Nações Unidas, e um acordo de cessar-fogo. A proposta declara também a necessidade urgente de os Estados possuidores de armas nucleares estabelecerem em conjunto o princípio de “não serem os primeiros a utilizar armas nucleares”, foco da Conferência de Revisão do Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares, realizada em agosto do ano passado [2022]. Reconhecendo sinceramente os perigos da dissuasão nuclear expostos pela crise atual, o autor da proposta pede uma transição para um mundo livre de armas nucleares. *** Declaração sobre a crise na Ucrânia e o princípio da “não iniciativa do uso nuclear” Dr. Daisaku Ikeda, presidente da Soka Gakkai Internacional Turbulências e sérios danos se espalham pelo mundo A crise na Ucrânia, que eclodiu em fevereiro do ano passado [2022], continua sem perspectivas de término. À medida que se intensifica a guerra, os danos às áreas densamente povoadas e às instalações de infraestrutura continuam a crescer, e é doloroso ver a vida de tantos civis, incluindo crianças e mulheres, ser constantemente ameaçada. Mais de 7,9 milhões de pessoas foram forçadas a encontrar refúgio em países da Europa e quase 5,9 milhões foram deslocadas internamente. A história do século 20, que testemunhou os horrores causados por duas grandes guerras mundiais, deveria ter trazido a lição de que não há ato mais bárbaro e trágico que a guerra. Durante a Segunda Guerra Mundial, quando era adolescente, eu também sofri com a experiência de bombardeio aéreo em Tóquio. Ainda hoje, lembro-me nitidamente de os membros da minha família se separarem enquanto fugíamos desesperadamente do mar de chamas, permanecendo até o dia seguinte sem notícias de que eles estavam seguros ou não. É também indelével por toda a minha vida a imagem das costas trêmulas da minha mãe, aos soluços, depois de ser informada que meu irmão mais velho — o qual tinha sido convocado e estava angustiado ao ver os atos bárbaros cometidos pelo Japão — havia sido morto no campo de batalha. Quantas pessoas perderam a vida, algumas tiveram seus meios de subsistência destruídos e outras precisaram mudar sua vida e a da família devido à atual crise na Ucrânia? As Nações Unidas, com o objetivo de romper o impasse, também convocaram uma sessão especial emergencial da Assembleia Geral, pela primeira vez em quarenta anos, a pedido do Conselho de Segurança, com base na resolução “Unindo pela Paz”. Na sequência, o secretário-geral da ONU, António Guterres, se engajou em diálogos repetidas vezes com os líderes da Rússia, da Ucrânia e de outros países em um esforço para a mediação. Apesar disso, a crise se prolonga, não só aumentando as tensões em toda a Europa, mas afetando seriamente muitos outros países na forma de restrição de suprimentos alimentares, da alta dos preços de energia e da turbulência nos mercados financeiros. Isso tudo agravou ainda mais o desespero de um grande número de pessoas do mundo já aflitas por eventos extremos causados por mudanças climáticas, como também pelos sofrimentos e pelas mortes resultantes da pandemia da Covid-19. É imprescindível romper a situação atual a todo custo para interromper o agravamento das condições enfrentadas pelas pessoas do mundo inteiro, em especial do povo ucraniano, obrigado a viver com insuficiência de energia em meio ao inverno muito mais rigoroso e aos conflitos militares cada vez mais intensos. Assim, faço um forte apelo às Nações Unidas para, mais uma vez, mediar e realizar urgentemente uma Reunião de Ministros das Relações Exteriores da Rússia, da Ucrânia e de outros países-chave envolvidos, a fim de chegar a um acordo sobre o cessar-fogo. Exorto também para que sejam feitas reuniões de cúpula com os chefes dos Estados envolvidos, visando encontrar um caminho para a restauração da paz. Este ano [2023] marca os 85 anos desde que foi estabelecida a resolução sobre a proteção de civis contra ataques aéreos em tempos de guerra na Assembleia Geral da Liga das Nações. É também o 75o aniversário da adoção pelas Nações Unidas da Declaração Universal dos Direitos Humanos, que expressa o juramento mútuo de criar uma nova era na qual a dignidade humana nunca mais seria pisoteada e abusada. Com base na importância de proteger a vida e a dignidade sustentada pelo direito internacional humanitário e pelo direito internacional dos direitos humanos, exorto a todos para que a atual crise seja encerrada o mais rápido possível. Lições da história da crise dos mísseis de Cuba Junto com o apelo pela solução, mais rápida possível, para a crise na Ucrânia, enfatizo a importância de tomar “medidas para prevenir a ameaça e o uso de armas nucleares”, não só na crise atual, mas também em conflitos futuros. À medida que o conflito se arrasta e a retórica nuclear aumenta, o risco de que essas armas possam realmente ser usadas está hoje em seu nível mais alto desde o fim da Guerra Fria. Mesmo que nenhum país queira travar uma guerra nuclear, no atual estado de alerta, erros de dados e de informações, acidentes imprevistos e confusões causadas por ataques cibernéticos podem desencadear o “uso não intencional de armas nucleares” muito maior que o normal. O mês de outubro do ano passado [2022] marcou os sessenta anos desde a crise dos mísseis de Cuba que levou o mundo à beira de uma guerra nuclear. Apesar disso, foi nesse mesmo mês que tanto a Rússia como a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) realizaram uma série de exercícios com suas equipes de comandos nucleares. Diante do aumento das tensões, o secretário-geral da ONU, António Guterres, alertou: “As armas nucleares não oferecem segurança, mas apenas carnificina e caos”.1 Essa consciência deve se tornar a base compartilhada para a vida no século 21. Como tenho afirmado há muito tempo, se considerarmos as armas nucleares somente da perspectiva da segurança nacional, corremos o risco de ignorar as questões de importância crítica. Em minhas quarenta propostas de paz anuais, apresentadas desde 1983, venho argumentando que a natureza desumana das armas nucleares deve ser o foco principal de qualquer discussão. Ao mesmo tempo, vim enfatizando a necessidade de enfrentar diretamente a irracionalidade dos ataques nucleares com sua capacidade de destruir e apagar instantaneamente todos os vestígios da nossa vida individual, como também da nossa sociedade e das civilizações. Outro ponto que quero enfatizar nesta ocasião é o que pode ser chamado de atração gravitacional negativa inerente às armas nucleares. Com isso, refiro-me à maneira como a escalada das tensões em torno do possível uso de armas nucleares cria um senso de urgência e uma crise que mantêm as pessoas sob seu domínio como uma espécie de força gravitacional negativa capaz de despojá-las de sua capacidade de impedir um aumento da intensidade dos conflitos. Durante a Crise dos Mísseis de Cuba, o secretário-geral da União Soviética, Nikita Khrushchev (1894–1971), escreveu para o presidente dos Estados Unidos, John F. Kennedy (1917–1963): “Não terá forças para desatá-lo, e então será necessário cortar esse nó (…)”.2 De sua parte, Kennedy disse que o mundo permanecerá impossível de ser administrado enquanto houver armas nucleares. Essas declarações sugerem o grau em que os líderes desses Estados possuidores de armas nucleares experimentaram as condições da época como algo além de seu controle. E mais, chegando-se a ponto de considerar o lançamento de mísseis nucleares, não haverá tempo nem capacidade institucional para discutir as opiniões dos cidadãos das partes envolvidas, e muito menos dos povos do mundo, sobre como evitar os horrores catastróficos prestes a ser desencadeados. A política de dissuasão para a dependência de armas nucleares é a forma como um país tenta exercer o controle e afirmar autonomia. Mas, uma vez alcançada a situação crítica, de abismo, inevitavelmente acabará vinculando os povos do mundo e do próprio país à crise. Essa realidade das armas nucleares permanece imutável desde a época da Guerra Fria. E essa é a realidade para a qual tanto os países possuidores de armas nucleares como aqueles dependentes delas precisam enfrentar com todo o rigor. Expansão da rede de solidariedade com a Declaração pela Abolição das Armas Nucleares no coração Em setembro de 1957, meu mestre, segundo presidente da Soka Gakkai, Josei Toda (1900–1958), apresentou a Declaração pela Abolição das Armas Nucleares. Na época, acelerava a corrida armamentista nuclear, e o teste de lançamento de mísseis balísticos intercontinentais era bem-sucedido. Com isso, o ataque nuclear a qualquer ponto do globo terrestre, tornando-o seu alvo potencial, se transformava em realidade. Mesmo considerando a importância do crescente movimento pedindo o fim dos testes de armas nucleares, o presidente Josei Toda estava convencido de que a solução fundamental para o problema exigia extirpar as formas de pensar que justificavam seu uso. Quando ele externou sua determinação de “expor e arrancar as garras ocultas nas profundezas de tais armas”,3 expressou sua indignação com a lógica de não hesitar em sacrificar pessoas do mundo por tais horrores catastróficos. O foco dessa declaração era o apelo ao autocontrole completo daqueles em posições de autoridade política, que têm nas mãos a vida ou a morte de um grande número de pessoas. Outro objetivo da declaração era combater o sentimento de resignação popular diante da ameaça das armas nucleares, isto é, de que suas ações não poderiam transformar o mundo. Assim, buscou abrir o caminho para que o cidadão comum fosse o protagonista do esforço de banir as armas nucleares. O presidente Josei Toda posicionou essa declaração como sua principal instrução deixada para seus discípulos. Eu a interpretei como “uma marca indispensável para o futuro da humanidade”, ou seja, como a definição de uma linha que jamais deveria ser cruzada. Para cumprir esse legado, vim enfatizando a importância da solução das questões nucleares nos diálogos com intelectuais e líderes de diferentes países. Ao mesmo tempo, com o objetivo de pôr fim à era das armas nucleares, a Soka Gakkai Internacional (SGI) vem promovendo uma série de exposições e se envolvendo em esforços educacionais de conscientização em todos os países. Em 2007, o 50o aniversário da apresentação da Declaração pela Abolição das Armas Nucleares, do presidente Josei Toda, a SGI lançou a Década do Movimento Popular pela Abolição Nuclear, ao mesmo tempo em que colaborava com a Campanha Internacional pela Abolição das Armas Nucleares (Ican), que, na mesma época, vinha trabalhando para a concretização de um instrumento legal para a proibição das armas nucleares. As discussões na Conferência de Revisão do TNP como ponto de partida O desejo e a determinação da sociedade civil, representada pelas vítimas dos bombardeios de Hiroshima e de Nagasaki, de que a tragédia do uso de armas nucleares jamais seja vivenciada pelas pessoas de qualquer país foi cristalizada em 2017, quando o Tratado de Proibição de Armas Nucleares (TPAN) foi adotado, entrando em vigor em 2021. Para nós, também, isso representou um avanço no cumprimento do legado de Josei Toda. O TPAN proíbe de forma abrangente todos os aspectos das armas nucleares, não se limitando à sua utilização ou à ameaça de uso, mas incluindo seu desenvolvimento e sua posse. Embora não seja fácil aos países possuidores de armas nucleares adotarem o tratado, é provável que haja o reconhecimento comum da importância de prevenir as consequências catastróficas do uso de armas nucleares. Além de aliviar as tensões com o objetivo de resolver a crise na Ucrânia, acredito ser de suma importância que os países possuidores de armas nucleares tomem medidas para reduzir os riscos dessas armas como forma de evitar situações futuras em que haja preocupações com o uso delas. Foi com isso em mente que, em julho do ano passado [2022], apresentei uma proposta para a Conferência de Revisão do Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares (TNP), na qual exortei os cinco países possuidores de armas nucleares a se comprometer de forma imediata e inequívoca a nunca ser os primeiros a lançar um ataque nuclear, ou seja, o princípio da “não iniciativa do uso nuclear”. Infelizmente, a Conferência de Revisão do TNP, realizada em agosto [de 2022], não conseguiu chegar a um consenso sobre o documento final. Porém, de forma alguma significa que as obrigações de desarmamento nuclear estipuladas no artigo VI do TNP tenham desaparecido. Como indicam as diversas minutas do documento final, houve amplo apoio às medidas de redução de risco nuclear, como a adoção de políticas de “não iniciativa do uso” e da “garantia de segurança passiva”, pelas quais os países possuidores de armas nucleares se comprometem a nunca usar armas nucleares contra os países não possuidores de tais armas. Com base nas deliberações da Conferência de Revisão, é absolutamente necessário sustentar a condição do não uso de armas nucleares, que, apesar de tudo, vem se mantendo nos últimos 77 anos, e avançar no processo de desarmamento nuclear em direção ao objetivo da abolição. A base para isso já existe. Trata-se da declaração conjunta emitida em janeiro do ano passado [2022] pelos líderes dos Estados Unidos, da Rússia, do Reino Unido, da França e da China confirmando o espírito de que “uma guerra nuclear não pode ser vencida e nunca deve ser travada”.4 Durante a Conferência de Revisão do TNP, muitos governos pediram que os cinco países possuidores de armas nucleares cumprissem essa declaração de janeiro [de 2022] e mantivessem a postura de autocontrole. Os representantes desses cinco países também fizeram referência à declaração conjunta citando suas responsabilidades como Estados possuidores de armas nucleares. Se compararmos as responsabilidades dos países com armas nucleares em manter a autocontenção do uso dessas armas com um círculo, então a declaração conjunta para prevenir a guerra nuclear pode ser considerada a metade desse círculo. Contudo, somente isso não é suficiente para eliminar o temor do uso de armas nucleares. Acredito que a chave para resolver esse desafio seja o compromisso dos países em não ser os primeiros a utilizar as armas nucleares. Durante a Conferência de Revisão do TNP, a SGI trabalhou em cooperação com outras organizações não governamentais (ONGs) na realização de um evento paralelo na ONU focado na urgência de adotar esse princípio da “não iniciativa do uso nuclear”. Estou certo de que, se esse princípio for vinculado à declaração conjunta de janeiro do ano passado [2022] como a outra metade do círculo, o compromisso para conter a ameaça nuclear, que há muito paira sobre o mundo, abrirá finalmente o caminho para fazer avanços no desarmamento nuclear. Em novembro do ano passado [2022], o Instituto Toda pela Paz, fundado por mim, realizou uma conferência em Nepal para apoiar a mudança desse tipo de paradigma. Os participantes concordaram com a necessidade de o Paquistão se juntar à China e à Índia para declarar o compromisso da “não iniciativa do uso nuclear”, estabelecendo esse princípio no sul da Ásia. Eles também compartilharam a ideia da importância de estimular o debate internacional sobre o princípio da “não iniciativa do uso nuclear”, de modo que todos os países possuidores de armas nucleares possam tomar medidas nessa direção. Perigos fundamentais da política de dissuasão nuclear Isso traz à mente as opiniões do Dr. Joseph Rotblat (1908–2005), que, por muitos anos, atuou como presidente das Conferências Pugwash sobre Ciência e Assuntos Mundiais. No diálogo que publicamos juntos, ele se referiu ao acordo da “não iniciativa do uso nuclear”, dizendo que seria o passo mais importante para a abolição total das armas nucleares e propondo um tratado para esse fim. O Dr. Rotblat também estava profundamente preocupado com os perigos inerentes às políticas de dissuasão da dependência de armas nucleares que estão enraizadas no clima de temor mútuo. Porém, as estruturas básicas da dissuasão nuclear não mudaram até hoje desde a época do nosso diálogo em 2005. A crise atual deixa claro, mais uma vez, que é indispensável para a humanidade avançar além de tais políticas. A promessa de não serem os primeiros a usar armas nucleares é uma medida que os países possuidores dessas armas podem tomar, mesmo mantendo seus arsenais na situação atual. E, também, não significa que a ameaça de 13 mil ogivas existentes no mundo hoje desapareça rapidamente. No entanto, o que gostaria de enfatizar é que, se essa política se enraizar entre os países possuidores de armas nucleares, ela criará uma abertura para remover o sentimento de temor mútuo. Isso, por sua vez, pode possibilitar que o mundo mude de rumo — longe do constante acúmulo de armas nucleares baseado na dissuasão, e em direção ao desarmamento nuclear para evitar a catástrofe. Rememorando, a situação internacional na época da Guerra Fria foi caracterizada por uma sucessão de crises aparentemente insolúveis, sem a perspectiva da luz no fim do túnel, as quais abalaram o mundo e espalharam ondas de choque de insegurança e pavor. Apesar disso, a humanidade conseguiu encontrar estratégias de saída e seguir em frente. Um exemplo que gostaria de citar são as Conversações sobre Limites para Armas Estratégicas (Salt), realizadas entre os Estados Unidos e a União Soviética, em resposta ao Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares (TNP), estabelecido em 1968 a partir das reflexões sobre a crise dos mísseis de Cuba. A intenção de iniciar o TNP foi anunciada no mesmo dia da cerimônia de assinatura desse tratado. Os primeiros passos dados pelos Estados Unidos e pela União Soviética para frear a corrida armamentista nuclear com base no artigo VI do TNP foram as negociações denominadas Salt. Pode-se dizer que não foi uma decisão fácil para ambos os lados impor restrições à própria política nuclear, que vinha sendo promovida como questão de soberania nacional. Entretanto, tal decisão foi certamente importante e indispensável não só para os povos de ambos os países, mas para a sobrevivência da humanidade. Para mim, a denominação Salt, que, em inglês, possui também o significado de “sal”, traz à mente esse contexto complexo. Por ter experimentado o terror de viver à beira de uma guerra nuclear, as pessoas daquela época conseguiram demonstrar uma história de imaginação e de criatividade. Agora é novamente o momento em que se torna urgente a cooperação mútua de todos os países e povos no trabalho para demonstrar essa mesma criatividade histórica. O espírito e o propósito que prevaleciam na época do surgimento do TNP estão alinhados com os princípios do Tratado de Proibição de Armas Nucleares (TPAN). Apelo veementemente a todas as partes para explorar e expandir formas de vincular os esforços feitos com base nesses dois tratados, extraindo seus efeitos sinérgicos em direção a um mundo livre de armas nucleares. No topo: Presidente da SGI, Dr. Daisaku Ikeda, dialoga carinhosamente com sua mãe, Ichi Ikeda (Japão, abr. 1975) Foto: Seikyo Press Notas: 1. NAÇÕES UNIDAS. Secretary-General’s Remarks for the International Day for the Total Elimination of Nuclear Weapons. Disponível em: https://www.un.org/sg/en/content/sg/speeches/2022-09-26/secretary-generals-remarks-for-the-international-day-for-the-total-elimination-of-nuclear-weapons. Acesso em: 11 jan. 2023.2. GABINETE DO HISTORIADOR. Telegram from the Embassy in the Soviet Union to the Department of State. Disponível em: https://history.state.gov/historicaldocuments/frus1961-63v06/d65. Acesso em: 11 jan. 2023.3. TODA Josei. Declaration Calling for the Abolition of Nuclear Weapons. Disponível em: https://www.joseitoda.org/vision/declaration/. Acesso em: 11 jan. 2023.4. GOVERNO DOS ESTADOS UNIDOS. Joint Statement of the Leaders of the Five Nuclear-Weapon States on Preventing Nuclear War and Avoiding Arms Races. Disponível em: https://www.whitehouse.gov/briefing-room/statements-releases/2022/01/03/p5-statement-on-preventing-nuclear-war-and-avoiding-arms-races/. Acesso em: 11 jan. 2023.

02/05/2023

Especial

Carta da Soka Gakkai

Em novembro de 1995, foi promulgada a Carta da Soka Gakkai Internacional (SGI) em comemoração do seu vigésimo aniversário de fundação. O documento, fundamentado nos reluzentes ensinamentos de Nichiren Daishonin, foi aprovado por todas as organizações constituintes. A Carta tem como propósito estabelecer os ideais e as pautas de ação da SGI como diretrizes para os países em que a organização é representada, a fim de permitir que cada qual, a seu modo e respeitando a cultura local, lance pleno movimento pela paz, cultura e educação — as atividades institucionais da SGI estão assentadas nessa tríade — e transmita, de modo cristalino, esses princípios para as gerações futuras. Para se adequar às mudanças e às necessidades da época atual, o documento foi atualizado com base na Constituição da Soka Gakkai, proclamada em 2017, e recebeu o nome de Carta da Soka Gakkai. A versão final do documento foi anunciada em novembro de 2021 e, a partir de então, encaminhada aos países em que a organização se encontra para ciência de todos. Assim sendo, neste ano (2022), foi deliberada a divulgação da Carta nos idiomas locais. Na Proposta de Paz de 2022, o presidente da SGI, Dr. Daisaku Ikeda, explica: Seus propósitos e princípios constam de dez pontos, incluindo o fato de que, com base no espírito budista de tolerância, a organização “respeitará outras religiões, promoverá diálogos e atuará em parceria para a solução de questões fundamentais da humanidade”. Expressa ainda nosso compromisso de “contribuir para a conquista da igualdade de gênero e promover o empoderamento feminino”.Enquanto movimento popular budista presente em 192 países e territórios, estamos determinados a continuar a expandir os círculos de confiança e de amizade como cidadãos que contribuem para a construção de um mundo de felicidade e dignidade para todos.1 A Carta da Soka Gakkai apresenta e consolida a missão da SGI, para o mundo e para o futuro, de promover esforços efetivos em benefício da paz e do bem-estar da humanidade. Com isso, a organização em seus países constituintes, coordenada notavelmente pelo presidente Ikeda, renova seu compromisso com a sociedade, estabelecendo-se de forma sólida como o farol que lança raios de esperança para todo o planeta. Confira, a seguir, o texto na íntegra em português. Preâmbulo Nós, organizações e membros da Soka Gakkai do mundo inteiro, abraçamos o objetivo e a missão de promover a paz, a cultura e a educação com base no ensinamento budista de respeito pela dignidade da vida. Diante das múltiplas crises interligadas que o planeta atravessa, torna-se evidente que a sobrevivência e o progresso da humanidade devem ser uma tarefa compartilhada, colaborativa, alicerçada na consciência de nossa profunda relação com todas as formas de vida. A cooperação de todos é necessária, ninguém deve ser excluído. Acreditamos que os ensinamentos do Budismo Nichiren oferecem meios para cada um de nós manifestar na realidade diária o potencial ilimitado de sabedoria, coragem e compaixão que possui. Portanto, buscamos desenvolver indivíduos capazes de enfrentar os enormes desafios, comprometidos a construir um mundo mais justo e sustentável para as gerações futuras. Nós, respectivas organizações da Soka Gakkai, hasteando alto a bandeira da cidadania global, do diligente espírito de tolerância e do respeito pela dignidade humana, determinados a enfrentar as ameaças à humanidade, tendo como base o compromisso inabalável com a não violência e a cultura de paz, adotamos esta Carta e ratificamos os seguintes propósitos e princípios. Propósitos e Princípios 1. A Soka Gakkai contribuirá para a paz, a cultura e a educação fundamentada no ensinamento budista de respeito à dignidade de todas as formas de vida. 2. A Soka Gakkai promoverá a compreensão do Budismo Nichiren por meio do diálogo e do intercâmbio de base popular, contribuindo, desse modo, para a conquista da felicidade e para o bem-estar de cada uma das pessoas. 3. A Soka Gakkai respeitará e promoverá a liberdade de pensamento, consciência e religião. 4. A Soka Gakkai, alicerçada no espírito budista da tolerância, respeitará outras tradições religiosas e filosóficas, empreendendo o diálogo e trabalhando junto com elas para a solução dos desafios fundamentais que a humanidade enfrenta. 5. A Soka Gakkai respeitará a cultura e os costumes locais, bem como a autonomia das organizações. Cada organização desenvolverá as atividades de acordo com as leis e as condições vigentes em seu país ou território e incentivará seus membros a contribuir para a sociedade como cidadãos responsáveis. 6. A Soka Gakkai trabalhará pela paz, por um mundo livre de armas nucleares e promoverá um desenvolvimento justo e sustentável. 7. A Soka Gakkai salvaguardará e promoverá os direitos humanos. Não discriminará nenhum indivíduo e se oporá a todas as formas de preconceito. Contribuirá para a conquista da igualdade de gênero e incentivará o empoderamento das mulheres. 8. A Soka Gakkai respeitará a diversidade cultural e fomentará o intercâmbio entre as diferentes culturas, contribuindo, dessa forma, para o entendimento mútuo e a cooperação entre os povos do mundo. 9. A Soka Gakkai, compromissada com a construção de um mundo sustentável para as gerações futuras, contribuirá com os esforços para enfrentar a crise climática, protegendo e cuidando dos ecossistemas da Terra. 10. A Soka Gakkai promoverá a educação, o aprendizado e o saber, a fim de propiciar a todas as pessoas cultivar seu caráter e desfrutar uma vida contributiva, plena e feliz. No topo: Foto da fachada do Auditório do Grande Juramento pelo Kosen-rufu Mundial, no Japão Nota: 1. Terceira Civilização, ed. 645, maio 2022, p. 36.

03/10/2022

Proposta de Paz

Propostas de Paz enviadas à ONU pelo Dr. Daisaku Ikeda em 26 de janeiro, Dia da SGI

2022 — Transformar a História Humana com a Luz da Paz e da Dignidade 2021 — Criação de Valor em Tempos de Crise 2020 — Rumo ao Futuro Compartilhado: Construindo uma Era de Solidariedade Humana 2019 — Nova Era de Paz e Desarmamento: Uma Abordagem Focada no Ser Humano 2018 — Rumo à Era dos Direitos Humanos: Construindo um Movimento Popular 2017 — A Solidariedade Mundial dos Jovens: O Alvorecer de uma Nova Era de Esperança 2016 — Respeito Universal pela Dignidade Humana: O Grande Caminho da Paz 2015 — Compromisso de Todos com um Mundo Mais Humano: Acabar com a Miséria da Terra 2014 — Criação de Valores Humanos: A Construção de um Mundo Solidário, Capaz de se Recuperar de Tantas Aflições 2013 — Compaixão, Sabedoria e Coragem — Para a Humanidade Viver em Paz 2012 — Segurança Humana e Sustentabilidade: Compartilhar o Respeito pela Dignidade da Vida 2011 — Por um Mundo Digno de Todos: Triunfo da Vida Criadora 2010 — Novos Valores para uma Nova Era 2009 — Competição Humanitária: Nova Esperança na História 2008 — A Humanização da Religião a Serviço da Paz 2007 — Resgatar a Nossa Humanidade: Primeiro Passo para a Paz Mundial 2006 — A Nova Era do Povo: Uma Rede Mundial de Indivíduos Conscientes e Fortes 2005 — Uma Nova Era de Diálogo: O Triunfo do Humanismo 2004 — Revolução Interior: Uma Onda Mundial pela Paz 2003 — Por uma Ética Global — A Dimensão da Vida: Um Paradigma 2002 — O Humanismo do Caminho do Meio — O Alvorecer de uma Civilização Global 2001 — O Desafio da Nova Era: Construir a Todo Instante o “Século da Vida” 2000 — A Paz pelo Diálogo — É Tempo de Falar: Uma Cultura de Paz 1999 —Pela Cultura de Paz — Uma Visão Cósmica 1998 — A Humanidade e o Novo Milênio: do Caos para o Cosmos 1997 — Novos Horizontes de uma Civilização Global 1996 — Rumo ao Terceiro Milênio: O Desafio da Cidadania Global 1995 — Criando um Século sem Guerras por Meio da Solidariedade Humana 1994 — A Luz do Espírito Global: Uma Nova Alvorada na História da Humanidade 1993 — Rumo a um Mundo mais Humano no Século Vindouro 1992 — Uma Renascença de Esperança e Harmonia 1991 — O Alvorecer do Século da Humanidade 1990 — O Triunfo da Democracia: Rumo a um Século de Esperança 1989 — A Alvorada de um Novo Globalismo 1988 — Entendimento Cultural e Desarmamento: Os Blocos Edificadores da Paz Mundial 1987 — Propagando o Brilho da Paz: Rumo ao Século do Povo 1986 — Rumo a um Movimento Global por uma Paz Duradoura 1985 — Novas Ondas de Paz Rumo ao Século 21 1984 — Criando um Movimento Unido para um Mundo sem Guerras 1983 — Nova Proposta para a Paz e o Desarmamento

02/05/2022

Proposta de Paz

Bibliografia

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Disponível em: https://www.mite.gov.it/sites/default/files/archivio_immagini/Y4C_COP-PRECOP/Youth4Climate%20Manifesto%20%281%29.pdf. Acesso em: 26 jan. 2022.

02/05/2022

Proposta de Paz

Abolição das armas nucleares: a chave para um futuro global sustentável (parte 7 de 8)

A terceira área temática fundamental a ser endereçada é o imperativo da abolição das armas nucleares. Para isso, gostaria de fazer duas propostas. A primeira envolve passos para libertar o mundo das doutrinas de segurança dependentes de armas atômicas. Em 3 de janeiro deste ano, líderes de Estados com armamentos nucleares — Estados Unidos, Rússia, China, Reino Unido e França — lançaram uma declaração sobre a prevenção de guerras nucleares e para evitar corridas armamentistas que envolvam tais tecnologias. Ao mesmo tempo em que pode ser interpretada de diversas maneiras, a declaração afirma claramente que “uma guerra nuclear não pode ser vencida e nunca deve ser travada” e expressa a vontade de buscar, de forma conjunta, caminhos para evitar conflitos militares.80 Devemos ter a esperança de que isso levará a ações positivas que conduzam a esse fim. Aqui solicito que o Conselho de Segurança da ONU use essa declaração conjunta, com o reconhecimento da importância da autocontenção, como base para a resolução que exorte os cinco Estados possuidores de armamentos nucleares a tomar medidas concretas para cumprir suas obrigações relacionadas ao desarmamento nuclear estipulado no artigo VI do Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares (TNP). Eu também insisto em que, na Conferência de Revisão do TNP, a ser realizada neste ano, se inclua o chamado para reunião de alto nível para acordo relacionado à redução do papel das armas nucleares a fim de ser incluído em sua declaração final. Essa reunião de alto nível deve convidar à participação os Estados que possuem armas nucleares, mas estão fora do âmbito do TNP, assim fazendo avanços concretos para o desarmamento nuclear. Mesmo em meio à crise da Covid-19, os gastos militares mundiais continuaram a crescer.81 Atualmente, existem mais de 13 mil ogivas nucleares em estoque e a modernização prossegue sem fim à vista.82 Há uma grande preocupação de que veremos acúmulo ainda maior no arsenal nuclear global. A pandemia também trouxe à luz novos riscos envolvendo as armas de destruição em massa ao criar situações que podem romper a cadeia de comando: líderes políticos de Estados com armamentos nucleares tendo de transferir temporariamente o poder aos deputados devido à infecção pela Covid-19. Houve ainda grandes surtos a bordo de aeronaves que usam tecnologia nuclear e de um destróier de mísseis teleguiados. Em suas palavras sobre a questão das armas nucleares, em setembro do ano passado, a Sra. Izumi Nakamitsu, Alta Representante das Nações Unidas para Assuntos de Desarmamento, ressaltou outra questão causada pela pandemia: “[Ela] nos ensinou que eventos de aparentemente baixa probabilidade podem ocorrer sem aviso prévio e com efeitos globais catastróficos”.83 Também quero alertar sobre o perigo de continuar a compartilhar o excesso de confiança na esperança de que seremos poupados de uma catástrofe nuclear. Assim como a Sra. Nakamitsu frisou em seu discurso, “foi apenas graças a uma combinação de boa sorte e a ação de alguns indivíduos a impedir que incidentes se agravassem de forma desastrosa que não vimos outro episódio de uso de armas atômicas desde o bombardeio de Hiroshima e de Nagasaki”. Hoje, em um “ambiente internacional fluido, onde as barreiras foram desgastadas ou estão completamente ausentes”,84 não podemos mais nos dar ao luxo de contar somente com fatores humanos e com a sorte. Atualmente, o único acordo-quadro bilateral para o desarmamento nuclear é o Novo Tratado de Redução de Armas Estratégicas (New Start, em inglês), que a Rússia e os Estados Unidos concordaram em estender para fevereiro de 2021. A Conferência de Revisão do TNP, previamente agendada para este mês [janeiro], foi adiada devido ao impacto da pandemia. Agora se considera a realização de uma reunião remarcada para o mês de agosto. A última Conferência de Revisão, ocorrida em 2015, falhou em adotar um documento final, e essa falha não deve ser repetida. Exorto às partes que cheguem a um acordo sobre medidas concretas para atender ao apelo do preâmbulo do TNP: “empreender todos os esforços para afastar o risco de tal guerra”.85 O espírito reafirmado pela declaração conjunta de cinco Estados possuidores de armamentos nucleares — que “uma guerra nuclear não pode ser vencida e nunca deve ser travada”86 — foi enunciado pela primeira vez durante a Guerra Fria, quando o ex-presidente dos Estados Unidos Ronald Reagan (1911–2004) e o então secretário-geral da União Soviética Mikhail Gorbachev se encontraram em Genebra, em novembro de 1985. A importância do espírito que animou a Convenção de Genebra foi também referenciada na declaração emitida depois da convenção que os Estados Unidos e a Rússia realizaram em junho do ano passado. O Conselho de Segurança da ONU deve criar uma oportunidade para discutir os passos necessários para dar fim à era das armas nucleares, adotando o resultado de tais deliberações em resolução, e, dessa forma, iniciar um processo de transformação fundamental. A declaração conjunta dos Estados Unidos e da União Soviética na Convenção de Genebra de 1985 é amplamente conhecida como um marco do início das negociações sobre o desarmamento nuclear, benéfica não só para as duas superpotências, mas para toda a humanidade. O ex-presidente Gorbachev mais tarde se referiu à sua decisão de se dedicar ao desarmamento nuclear da seguinte forma: Imagine rolar uma pedra do topo de uma montanha, supondo que ela não faria, sozinha, a montanha vir abaixo. Então, desencadeadas por essa única pedra, as demais pedras da montanha começam a rolar, causando seu colapso total. Uma guerra nuclear pode ser iniciada de forma semelhante. O lançamento de um único míssil pode colocar tudo em movimento. Hoje, o comando e o controle dos sistemas de armas nucleares estratégicas estão quase completamente computadorizados. Quanto mais armas nucleares existirem, maior a possibilidade de uma guerra nuclear acidental.87 O desenvolvimento de armas nucleares continua, e a constante correnteza de novas formas de confrontar outros países pode ser o reflexo da pressuposição de que nenhuma dessas ações vai fazer a montanha vir abaixo. Estados com armas nucleares e Estados dependentes de tecnologia nuclear precisam enfrentar a dura realidade: eles estão se autocondenando e condenando o mundo a condições de extrema e infinita precariedade enquanto se basearem na dissuasão nuclear enraizada na ameaça mútua. Em diálogo com o ex-presidente Gorbachev, ele me afirmou: “Está se tornando cada vez mais claro que as armas nucleares não podem ser um meio de conquista de segurança nacional. De fato, a cada ano que passa, elas colocam nossa segurança cada vez mais em xeque”.88 A fim de romper esse atual impasse, marcado pelo elevado risco de que as armas atômicas serão usadas, acredito que seja ainda mais urgente que encontremos um caminho de nos “desintoxicar” das atuais doutrinas de segurança dependentes de tecnologias nucleares. O objetivo anunciado pela política de dissuasão nuclear é evitar que o país que esteja do lado oposto dê o primeiro passo no uso de armas nucleares. Essa política, no entanto, carrega a contradição de que uma instância de dissuasão, mesmo com o propósito de evitar o uso de armas aniquiladoras, requer que se demonstre continuamente a própria prontidão em usá-las. Para superar essa contradição e remover as armas nucleares da política de segurança, deve-se considerar renovadamente os tipos de medidas que agora são exigidas, incluindo aquelas que criarão condições mais favoráveis na sociedade internacional. A segurança nacional pode ser uma preocupação de importância primordial. Mas que significado pode haver na contínua dependência de armas nucleares quando elas são capazes de causar danos tão devastadores tanto ao país inimigo quanto ao próprio país, e podem minar de forma irreversível as bases da sobrevivência humana? A partir desse ponto de vista, devemos começar o processo de desintoxicação retirando nosso foco das ações dos outros países e colocando-o nas ações de nosso próprio país. Nesse sentido, os Estados podem começar a cumprir o apelo no preâmbulo do TNP e, de fato, “empreender todos os esforços para afastar o risco de tal guerra”. Deveria estar claro: o objetivo do TNP não está em tornar permanente o estado de ameaças nucleares interligadas como o destino inevitável da humanidade. Não podemos nos esquecer de que a obrigação de conquistar o desarmamento nuclear foi estipulada pelo artigo VI como um pilar essencial do TNP a fim de refletir sobre a compreensão compartilhada de que se trata de uma questão que precisa ser fundamentalmente resolvida. Ao contrário do que aconteceu durante a Guerra Fria, vivemos em época na qual os líderes políticos podem se encontrar de forma virtual mesmo em meio a uma crise, e observar as expressões faciais um do outro em tempo real. Ainda assim, eles continuam a antecipar os movimentos um do outro por meio de um véu de desconfiança e de suspeitas, enquanto mantêm seu arsenal nuclear no status de pronto para lançar. A declaração conjunta dos cinco Estados com armas nucleares afirma: “Reiteramos a validade de nossos acordos prévios sobre desfocalização [de mísseis], reafirmando que nenhuma de nossas armas nucleares está apontada para os demais ou para qualquer outro Estado”.89 Com base nesse tipo de autocontenção, agora é a hora de os Estados possuidores de armas nucleares efetivarem uma reorientação fundamental em suas políticas de segurança e removerem a ameaça nuclear que existe desde o começo da Guerra Fria. Para fomentar tal ambiente, devem-se iniciar negociações com as seguintes medidas: redução do papel das armas nucleares em políticas de segurança; neutralização de conflitos e minimização do risco de seu uso acidental; e cessar o desenvolvimento de novas armas nucleares. O Japão sediará a Cúpula do G7 em 2023. Proponho que uma reunião de alto nível sobre a redução do papel das armas nucleares seja realizada de forma paralela em Hiroshima, na qual líderes de países que não sejam do G7 possam também participar e se envolver em deliberações intensivas sobre os caminhos para a promoção de tais medidas concretas. Em janeiro do ano passado, o Japão e os Estados Unidos lançaram uma declaração conjunta sobre o TNP. Nela, os dois governos declararam que “o bombardeio atômico de Hiroshima e de Nagasaki, enraizado para sempre na memória mundial, sirva como uma dura lembrança de que o recorde dos 76 anos do não uso das armas nucleares deve ser mantido”.90 Eles também clamam aos líderes políticos, aos jovens e a outros que visitem Hiroshima e Nagasaki para aumentar a conscientização sobre os horrores do uso dessas armas maléficas. Há tempos venho ressaltando a importância de os líderes políticos visitarem os locais dos bombardeios atômicos. Uma cúpula ocorrida em Hiroshima seria uma excelente oportunidade para concretizar essa sugestão. Em adição ao fomento de um ambiente propício ao estabelecimento do princípio da não utilização abrangente das armas nucleares como um passo rumo à abolição global, essa reunião de alto nível deveria discutir as proibições contra ciberataques dirigidos aos sistemas ligados a essas armas e contra a integração da inteligência artificial (IA) nas operações de tais sistemas, pontos que abordei na proposta de 2020. Eu insisto fortemente que, por meio de tais esforços, as negociações para assegurar o cumprimento das obrigações de desarmamento estipuladas pelo artigo VI do TNP sejam aceleradas, gerando um impulso irreversível rumo à abolição das armas nucleares. Apelo das Cidades do ICAN Lançado em novembro de 2018, o Apelo das Cidades da Campanha Internacional pela Abolição das Armas Nucleares (Ican) é uma campanha popular para aumentar a conscientização e o apoio local, civil e político ao Tratado de Proibição de Armas Nucleares (TPAN). O Apelo das Cidades visa expandir a solidariedade entre os governos locais que apoiam o TPAN e possibilitar que os cidadãos se engajem proativamente ao contatar o conselho local da cidade ou seus representantes eleitos. Ao usar as mídias sociais e a hashtag #icansave, eles podem declarar sua convicção de que possuem o direito de viver em um mundo livre de armas nucleares. > Para ler a parte 8 de 8 clique aqui. Notas: 80. Joint Statement of the Leaders of the Five Nuclear-Weapon States [Declaração Conjunta dos Líderes de Cinco Estados com Armamento Nuclear]. 81. Ver SIPRI. SIPRI Yearbook 2021 [Anuário de 2021 da SIPRI], p. 12. 82. Ibidem, p. 16. 83. Nakamitsu. Eliminating the Existential Threat of Nuclear Weapons [Eliminar o Perigo Existencial das Armas Nucleares], p. 3. 84. Ibidem, p. 4. 85. UN GA. Treaty on the Non-Proliferation of Nuclear Weapons [Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares], Preâmbulo. 86. Joint Soviet-United States Statement [Declaração Conjunta União Soviética-Estados Unidos]. 87. (Tradução de) Yoshida. Kaku no Amerika [Estados Unidos das Armas Nucleares], p. 151. 88. (Tradução de) Ikeda e Gorbachev. Shinseiki no Akebono [Amanhecer do Novo Século], p. 170–171. 89. Joint Statement of the Leaders of the Five Nuclear-Weapon States [Declaração Conjunta dos Líderes de Cinco Estados com Armamento Nuclear]. 90. Japan-U.S. Joint Statement [Declaração Conjunta Japão-Estados Unidos].

02/05/2022

Proposta de Paz

Carta da Soka Gakkai Internacional

Nós, organizações constituintes da Soka Gakkai Internacional (SGI), abraçamos o objetivo fundamental e a missão de contribuir para a paz, a cultura e a educação, com base na filosofia e nos ideais do Budismo de Nichiren Daishonin. Reconhecemos que, em nenhuma outra época da história, a humanidade testemunhou tamanha justaposição de guerra e paz, discriminação e igualdade, pobreza e fartura, como no século 20. O desenvolvimento da tecnologia militar cada vez mais sofisticada e exemplificada pelas armas nucleares, criou uma situação em que a própria sobrevivência da espécie humana foi posta em risco. A realidade da violenta discriminação étnica e religiosa tem se apresentado num interminável ciclo de conflito. Se não bastasse, o egoísmo e a negligência do homem causaram, e continuam causando, problemas mundiais, como a degradação do meio ambiente. Também observamos que os abismos econômicos criados se intensificam entre as nações desenvolvidas e em desenvolvimento, com sérias repercussões para o futuro coletivo da humanidade. Acreditamos que o Budismo de Nichiren Daishonin, filosofia humanística de infinito respeito pela dignidade da vida e de benevolência que abrange tudo, capacita os indivíduos a cultivar a sabedoria e a criatividade do espírito humano para vencer as dificuldades e as crises que a humanidade enfrenta. Tal capacitação faz surgir uma sociedade de coexistência próspera e pacífica. Nós, organizações constituintes e membros da SGI, nos determinamos a hastear bem alto a bandeira da cidadania mundial, do espírito de tolerância e do respeito aos direitos humanos. Embasados no humanismo budista, no diálogo, nos esforços práticos e no firme compromisso com a não violência, dispomo-nos a desafiar as questões mundiais. Assim, adotamos esta Carta para ratificar os seguintes propósitos: 1. A SGI contribuirá para a paz, a educação e a cultura, visando à felicidade e ao bem-estar de toda a humanidade, inspirada no respeito budista à dignidade da vida. 2. A SGI, com base no ideal da cidadania mundial, salvaguardará os direitos humanos fundamentais e não discriminará nenhum indivíduo. 3. A SGI respeitará e protegerá a liberdade de crença e de expressão religiosa. 4. A SGI promoverá a ampla compreensão do Budismo de Nichiren Daishonin por meio de intercâmbios, contribuindo, dessa forma, para a concretização da felicidade individual. 5. A SGI, por intermédio das organizações constituintes, encorajará seus membros a contribuir para a prosperidade de suas respectivas sociedades, como bons cidadãos. 6. A SGI respeitará a independência e a autonomia de suas organizações constituintes, de acordo com as condições predominantes em cada país. 7. A SGI, com base no espírito budista de tolerância, respeitará outras religiões, promoverá diálogos e atuará, em parceria, para a solução de questões fundamentais da humanidade. 8. A SGI respeitará a diversidade cultural e realizará intercâmbios culturais para criar uma sociedade internacional de cooperação e de compreensão mútua. 9. A SGI visará, com base no ideal budista de simbiose, à proteção da natureza e do meio ambiente. 10. A SGI contribuirá para a promoção da educação, da busca da verdade e também do desenvolvimento da ciência para capacitar as pessoas a aprimorar o caráter e desfrutar uma vida plena e feliz.

02/05/2022

Proposta de Paz

Esforços centrados na ONU para superação da crise climática (parte 5 de 8)

A seguir, quero oferecer propostas concretas relacionadas a três questões centrais que requerem resoluções pelo bem desta e das futuras gerações. A primeira é a mudança climática. Apesar de incontáveis advertências ao longo dos anos, o ritmo da mudança climática continua a acelerar.47 A cada ano que passa, o dano causado pelos eventos climáticos extremos se intensifica e se torna mais generalizado. Secas e incêndios se tornaram frequentes em muitas partes do mundo. Isso, associado ao aumento crescente das temperaturas e da acidificação marítimas, resultou na deterioração da capacidade dos ecossistemas terrestres e aquáticos de absorver os gases de efeito estufa.48 Essa situação requer ações urgentes, e a 26ª Conferência das Partes sobre Mudança Climática (COP26) ocorreu em Glasgow, em outubro e novembro do ano passado. Apesar de a conferência se estender por um dia devido à diferença de posições políticas que resultaram na inabilidade para se chegar a um consenso, as partes finalmente adotaram uma resolução sobre a necessidade de empreender esforços para limitar o avanço do aumento da temperatura global em até 1,5 grau Celsius em comparação aos níveis pré-industriais. Esse novo objetivo é um passo significativo à frente do Acordo de Paris, adotado em 2015, cujo objetivo comum era limitar o aumento da temperatura global em menos de 2 graus Celsius.49 Concretizar esse novo objetivo, no entanto, será desafiador. De acordo com especialistas, não será suficiente que cada país reduza as emissões de gases de efeito estufa aos níveis que prometeram. Serão necessárias medidas futuras mais robustas.50 No encerramento, o presidente da COP26, Alok Sharma, alertou: “Mantivemos 1,5 vivo (…), mas eu ainda diria que o pulso de 1,5 é fraco”. Ele também ressaltou que, enquanto as partes chegaram a um acordo histórico, o sucesso de suas ações não será em razão de elas assinarem o acordo, “mas ao fato de elas atenderem e cumprirem o que prometeram”.51 Ainda que a situação continue crítica, há esperança de que os caminhos para superar essa crise serão encontrados. De acordo com relatório do Instituto de Recursos Mundiais, se os países do G20, responsáveis por 75% das emissões de gases estufa, lançarem o objetivo ambicioso de redução de emissões correspondente a 1,5 grau [Celsius] até 2030 e alcançarem a meta de zero emissões líquidas até 2050, o aumento da temperatura global pode ser limitado a 1,7 grau52 — abaixo apenas do objetivo de 2 graus do Acordo de Paris. Durante a COP26, os Estados Unidos e a China concordaram em reforçar as medidas de cooperação em ações climáticas, e apelo fortemente ao Japão e à China para que cheguem a um acordo semelhante, desenvolvendo juntos cenários proativos em seus esforços para enfrentar essa crise. Em sua declaração conjunta pela melhora das ações relacionadas ao clima, os Estados Unidos e a China afirmaram sua intenção de cooperar em áreas que contribuem significativamente para a variação das temperaturas, como a redução de emissões de metano, a promoção da energia renovável e a prevenção do desmatamento ilegal.53 Nos últimos anos, a relação entre Estados Unidos e China tem sido tensa. Essa é a razão que torna ainda mais significativo o compromisso dessas duas nações — que são responsáveis por mais de 40% do total de emissões de gases de efeito estufa54 — em trabalhar juntas para enfrentar essa crise comum da humanidade. De maneira semelhante, o Japão e a China deveriam se movimentar rapidamente para chegar a um acordo que fortaleça a cooperação em relação à mudança climática. Este ano marca o cinquentenário da normalização das relações diplomáticas entre Japão e China. Acredito que o momento é oportuno para que os dois países formulem um apelo conjunto sobre a ação climática e aprofundem a solidariedade pelo bem de uma sociedade global sustentável, promovendo assim um novo ponto de partida rumo aos próximos cinquenta anos de cooperação bilateral. O Japão e a China possuem um longo histórico de colaboração em questões relacionadas ao clima. Esses esforços começaram em 1981, quando os dois países assinaram um acordo para proteger os pássaros migratórios e seus habitats. Em 1994, foi assinado o Acordo de Cooperação para Conservação Ambiental Japão-China e, em 1996, o Centro de Proteção Ambiental da Amizade Sino-Japonesa foi estabelecido em Pequim. E continuaram a trabalhar juntos ao longo dos anos, obtendo considerável progresso na abordagem de uma variedade de questões, incluindo a poluição do ar, a conservação florestal, o desmatamento e a gestão de energia e de resíduos. Em 2006, dez anos depois do estabelecimento do Centro de Proteção Ambiental da Amizade Sino-Japonesa, fui agraciado com uma cátedra honorária na Universidade Normal de Pequim. Em meu discurso na entrega desse título, refleti sobre a história dos esforços realizados em colaboração para proteger o meio ambiente. Precisamos intensificar o ritmo desses louváveis esforços. Para isso, solicito urgência no estabelecimento de uma parceria ambiental abrangente e efetiva entre Japão e China, visando os cem anos futuros. Se o Japão e a China se unirem com seu vizinho vital, a Coreia do Sul, e os três países investirem ainda mais energia na pesquisa ambiental, na cooperação tecnológica, no intercâmbio profissional e no fomento a especialistas da área, estou certo de que tais esforços produzirão um efeito cascata em toda a Ásia e, consequentemente, no mundo inteiro. Os benefícios da cooperação entre Japão e China têm sido abrangentes. Com o Centro de Proteção Ambiental da Amizade Sino-Japonesa como polo de esforços conjuntos, os dois países colaboraram em projetos com os Estados Unidos, com a Rússia e com membros da União Europeia, e ofereceram programas de treinamento para instâncias ambientais decisoras de mais de cem países em desenvolvimento. Espero que o Japão e a China continuem a desenvolver o legado que eles criaram e a intensificar seus esforços para responder à crise climática, enquanto reforçam ainda mais a rede de cooperação com a Coreia do Sul e com outros países da Ásia. Minha convicção é que tal colaboração estimulará a ação corajosa a gerar ondas de esperança e de mudança que se estenderão ao mundo. Em adição a essas propostas referentes à cooperação interestatal, solicito também o fortalecimento da estrutura de parcerias entre a ONU e a sociedade civil. Os recursos dos quais todos nós precisamos para sobreviver e prosperar são conhecidos como “bens comuns globais”. Eles incluem o clima e a biodiversidade. Proponho o estabelecimento de espaço dentro do sistema da ONU onde a sociedade civil, liderada pelos jovens, possa discutir livremente a proteção abrangente aos bens comuns globais. Em 2022, completam-se trinta anos desde que a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, mais conhecida como Cúpula da Terra, foi realizada no Rio de Janeiro. A cúpula foi um marco importante que presenciou a abertura das assinaturas tanto para a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima (UNFCCC, sigla em inglês) e a Convenção sobre Diversidade Biológica. Foi também estímulo para a adoção da Convenção para o Combate à Desertificação. Em 2001, estabeleceu-se um Joint Liasion Group (Grupo de Ligação Conjunta, em tradução livre) para aprimorar a cooperação na implementação de três convenções que facilitem o compartilhamento de informações e a coordenação de atividades. Acredito que agora seja a hora de expandir essa aliança para incluir e engajar o apoio à sociedade civil. Estou convencido de que isso abrirá novos caminhos para obtermos sucesso ao enfrentarmos a questão da mudança climática. Os problemas da mudança climática, da perda de biodiversidade e da desertificação estão profundamente interligados e as soluções estão igualmente inter-relacionadas. Abordagens criativas podem inspirar um novo ímpeto para que possamos superar desafios que parecem ser insuperáveis. Os bens comuns globais abrangem o alto-mar e os Polos Norte e Sul, nenhum dos quais está sob a soberania e a competência de uma única nação, assim como a atmosfera e os ecossistemas globais, recursos essenciais para a humanidade sobreviver e prosperar. A proteção deles, pelo bem das atuais e futuras gerações, deve ser um assunto da mais alta prioridade. Ano passado, a ONU lançou a Década da Restauração de Ecossistemas. Acredito que ela seja uma oportunidade para aprimorar a coordenação de esforços não só nos campos cobertos pelas três convenções mencionadas anteriormente, mas também em áreas que estão fora de seu objetivo principal, catalisando uma cadeia de reações positivas que pode estimular o progresso nas questões ambientais que enfrentamos. Em março deste ano [2022] será realizada uma Sessão Especial da Assembleia das Nações Unidas para o Meio Ambiente em Nairóbi [África] em comemoração do quinquagésimo aniversário da criação do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Unep). Sugiro fortemente a adoção, nessa sessão especial, de uma declaração para definir os passos e fortalecer uma abordagem abrangente para as questões ambientais, com a perspectiva de salvaguardar os bens comuns globais. Adicionalmente, gostaria de ver decisões firmes na ONU sobre os problemas relacionados a esses bens comuns globais. Em proposta do ano passado, examinei o grande valor potencial de um conselho jovem da ONU, cujo papel seria comunicar à liderança das Nações Unidas ideias e propostas desenvolvidas a partir da perspectiva dos jovens. Um conselho jovem seria um espaço perfeito para o tipo de deliberação sobre os bens comuns globais que sugiro. Em setembro do ano passado, a conferência internacional Pré-COP26 denominada Youth4Climate: Driving Ambition (Juventude pelo Clima: Impulsionando Aspirações, em tradução livre) aconteceu em Milão. Realizada em sequência da Cúpula Jovem pelo Clima de 2019, essa reunião ofereceu uma plataforma para os jovens se unirem e transmitirem suas preocupações para os que estão engajados em negociações intergovernamentais. Essa oportunidade evocou precisamente o tipo de conselho jovem das Nações Unidas que defendo. Por volta de quatrocentos jovens de 186 países — quase todos os signatários do Acordo de Paris — incluindo um jovem membro da Soka Gakkai do Japão, participaram da conferência. O Manifesto Youth4Climate fez o seguinte apelo pela participação significativa dos jovens, solicitando à ONU que: Estabeleça um órgão dentro da UNFCCC para aumentar a participação dos jovens e ofereça um ambiente permanente para que os jovens se engajem em discussões formais e periódicas com representantes das Partes do UNFCCC e entre eles (…). Aumente as oportunidades para intervenções dos jovens durante as sessões, inclusive assegurando que tais intervenções sejam apresentadas no começo ou no meio dos plenários em vez de realizá-las no final.55 A juventude ao redor do mundo demanda papel maior nos esforços globais para enfrentar a crise climática, questão que ameaça diretamente a vida e o futuro dela. Os jovens se dedicam proativamente a estabelecer um modelo de trabalho dentro do qual podem participar de forma consistente em discussões e processos de decisão. De forma semelhante à convenção de Milão, o conselho jovem da ONU que proponho deveria estar aberto à participação de todos os países. Sessões regulares e reuniões podem ser realizadas on-line, com sessões plenárias presenciais para decisões importantes realizadas, por exemplo, em diversos locais a cada dois anos. O resultado de cada sessão plenária deveria ser enviado à ONU para incorporação em seus processos de decisão. Quando a ainda jovem ONU estava à procura de um local para sua sede central, várias cidades do mundo se ofereceram como anfitriãs. Era difícil decidir sobre uma cidade em particular como o lar para uma organização global. Houve até proposta de situar a sede central em um navio, que se moveria constantemente por todo o mundo. No fim, a primeira Assembleia Geral das Nações Unidas foi realizada em Londres, e a terceira, em Paris, com sessões ocorridas em diversas outras cidades antes que a sede permanente em Nova York fosse finalmente concluída. Até nessa época deve ter parecido um conceito sensacional sediar a organização em um navio que viajaria os oceanos, pois o alto-mar, que não está sob a soberania de nenhum país, é um símbolo dos bens comuns globais, e a ideia remete à visão das Nações Unidas como um parlamento da humanidade. Esses fatos parecem ter fundamentado a ideia de rotacionar as sessões plenárias de um conselho jovem entre vários países em vez de estabelecer como sua base a sede da ONU em Nova York. Ao selecionar os locais, a prioridade deve ser dada para localidades acessíveis a representantes da sociedade civil de áreas onde a perda, o dano e a degradação ecológicos causados pela mudança climática foram mais severos. Em relação a esse ponto, o Instituto Toda para a Paz fundado por mim, por vezes, escolheu realizar suas conferências em áreas afetadas criticamente pela questão em discussão. Isso é baseado em seu princípio de ouvir a voz daqueles que estão sofrendo e de estar ao lado deles. Com esse compromisso enraizado, o instituto está atualmente trabalhando em um programa de pesquisa sobre mudança climática focado nas comunidades das ilhas do Oceano Pacífico, que estão sofrendo com os efeitos severos do aumento do nível dos mares.56 Acredito firmemente que a criação de um conselho jovem da ONU que se reúna nos ou perto dos locais afetados pelas questões em discussão seria uma inovação para o fortalecimento da parceria entre a ONU e a sociedade civil. Nesse contexto, quero ressaltar um importante compromisso do Comitê das Nações Unidas dos Direitos das Crianças. O comitê está atualmente redigindo um Comentário Geral sobre os Direitos das Crianças e o Meio Ambiente com Foco Especial na Mudança Climática (Comentário Geral Nº 26). Tendo já obtido contribuições de ONGs e de pessoas de todas as faixas etárias, a partir de fevereiro, o comitê buscará ativamente a visão das crianças do mundo e então lançará um Time de Aconselhamento Infantil para engajar crianças na elaboração do Comentário Geral Nº 26. Esse time representará uma oportunidade inestimável para que a voz das crianças seja considerada nos processos globais.57 De maneira consistente, a SGI tem centralizado os jovens nas atividades para enfrentar as questões ambientais. Ano passado, quando a COP26 ocorreu em Glasgow, foi lançada a Sementes da Esperança e Ação: Tornando os ODS uma Realidade, uma exposição criada recentemente pela Carta da Terra Internacional e pela SGI. De forma adicional, a seguinte declaração foi feita pela SGI em uma coletiva de imprensa ocorrida durante a conferência: “Ouvir a voz dos jovens não é opcional; é o único caminho lógico à frente se estamos verdadeiramente preocupados com o futuro do mundo”.58 Seres humanos possuem em comum a força para superar qualquer desafio. Quando os jovens se levantam em solidariedade, confiantes de que eles podem determinar o futuro, essa nova consciência e esse ímpeto certamente se tornam a força motriz rumo a um futuro mais brilhante. Bens comuns globais A justiça internacional reconhece a atmosfera, o alto-mar, a Antártica e o espaço sideral como bens comuns, considerando-os uma herança comum da humanidade. De forma mais ampla, leva-se em conta que os bens comuns globais incluem os recursos naturais compartilhados no planeta que estão além da jurisdição nacional e aos quais todas as nações têm acesso: os oceanos, o clima, a biodiversidade, as florestas, as placas de gelo e os glaciares. As ameaças aos bens comuns globais incluem a sobre-exploração ou a degradação não intencional de recursos causados pela crescente demanda da sociedade. > Para ler a parte 6 de 8 clique aqui. Notas: 47. Veja IPCC. Summary for Policymakers [Sumário para Decisores], p. 5. 48. Veja OMM. WMO Greenhouse Gas Bulletin [Comunicado da OMM sobre Gases Estufa], p. 1. 49. UN Climate Change. COP26 Reaches Consensus [COP26 Chega a um Consenso]. 50. Veja UNEP. Updated Climate Commitments [Compromissos pelo Clima Atualizados]. 51. Sharma. COP President Concluding Media Statement [Comunicado de Imprensa Conclusivo do Presidente da COP]. 52. Climate Analytics and World Resources Institute. Closing the Gap [Reduzindo as Desigualdades], p. 4. 53. Veja U.S.-China Joint Glasgow Declaration [Declaração Conjunta de Glasgow Estados Unidos-China]. 54. Veja Crippa et al. Fossil CO2 Emissions [Emissões Fósseis de CO2], p. 11. 55. Youth4Climate. Youth4Climate Manifesto [Manifesto Youth4Climate], p. 2. 56. Veja INSTITUTO TODA PARA A PAZ. Vanishing Homelands [Pátrias que Desaparecem]. 57. Veja CRC. General Comment No. 26 [Comentário Geral Nº 26]. 58. Soka Gakkai. Sowing Seeds of Hope [Plantando as Sementes da Paz].

02/05/2022

Proposta de Paz

Daisaku Ikeda

DAISAKU IKEDA nasceu em Tóquio, Japão, em 2 de janeiro de 1928. Formado pela Escola Superior Fuji, na área de economia, é atualmente presidente da Soka Gakkai Internacional (SGI), uma das maiores organizações não governamentais (ONG) das Nações Unidas, com mais de 12 milhões de membros em 192 países e territórios. Fundou várias instituições educacionais e culturais, como as Escolas Soka (da educação infantil ao ensino superior), a Associação de Concertos Min-On, o Instituto de Filosofia Oriental e o Museu de Arte Fuji de Tóquio. Pacifista, filósofo, poeta laureado e escritor, com obras traduzidas para mais de 32 idiomas, é sócio correspondente da Academia Brasileira de Letras (ABL) desde 1993, ocupando a cadeira de nº 14. Ikeda acredita que um movimento popular centralizado nas Nações Unidas é a chave para transformar o mundo, onde imperam a desunião e a hostilidade, num lugar de coexistência pacífica. Por isso, apresenta anualmente, no dia 26 de janeiro, aniversário de fundação da SGI, sua proposta de paz à Organização das Nações Unidas (ONU) e ao mundo. A SGI é oficialmente registrada como ONG no Conselho Econômico e Social das Nações Unidas (Ecosoc), no Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur), no Departamento de Informações Públicas das Nações Unidas (UNDPI) e na Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). Também integra a Federação Mundial das Associações das Nações Unidas (WFUNA).

02/05/2022

Proposta de Paz

Transformar a História Humana com a Luz da Paz e da Dignidade (parte 1 de 8)

Ao nos aproximarmos do segundo aniversário da declaração oficial da pandemia do novo coronavírus (Covid-19) [em março de 2022], variantes continuam a surgir em ondas de infecção e a gerar situações desafiadoras em muitos países. É angustiante contemplar a realidade das pessoas carentes de alívio e de apoio a carregar as chagas da perda de saúde, dos meios de subsistência e de propósito ou afligidas pela perda de membros da família ou de amigos ao redor do mundo. A vida diária continua sem perspectiva clara do caminho a seguir, e os impactos da pandemia serão provavelmente de longo prazo. Sugeriu-se até que a história passará a ser demarcada em períodos “pré” e “pós-Covid”. Embora seja inegável que a pandemia representa uma ameaça sem precedentes, quando consideramos os eventos e as tendências que marcaram os períodos históricos, fica igualmente claro que não podemos permitir que essa história seja assinalada apenas por perdas sofridas e devastadoras. Digo isso porque acredito firmemente que o fator-chave a determinar a direção da história será o ser humano, e não o vírus. É natural que as pessoas tendam a focar apenas nos aspectos negativos por estar confusas e convivendo com perdas em meio às condições que antes seriam inimagináveis. Mas é fundamental buscarmos esperança nas ações positivas empreendidas para resolver a crise, sem poupar esforços para apoiá-las e expandi-las. Em novembro de 1942, no auge da crise da Segunda Guerra Mundial, embora a natureza da ameaça fosse diferente, Tsunesaburo Makiguchi (1871–1944), presidente fundador da Soka Gakkai, apresentou a seguinte reflexão como chave para dissipar o miasma e a turbulência daquela época: de um lado, devemos evitar o tipo de “foco fechado” que nos deixa tão imersos em nossa realidade imediata a ponto de ignorarmos todo o resto; e, do outro, o “foco aberto”, caracterizado por frases vazias desacompanhadas da ação para transformar efetivamente a realidade. Ele advertiu que, em vez disso, a sociedade adotasse um “foco equilibrado e perspicaz” que leva as pessoas a agir em suas circunstâncias com firme senso de propósito sobre para quem e para que dedicam seus esforços.1 Makiguchi argumentava que essa visão equilibrada também é necessária na vida diária e não requer conhecimento, compreensão ou capacidades especiais para se realizar. Acredito que, por meio da nossa experiência recente com o turbilhão de perturbações e de deslocamentos causados pela pandemia, muitas pessoas chegaram às seguintes percepções: 1. A vida e o funcionamento apropriado da sociedade não são possíveis sem o apoio de muitos, e que as alegrias mais profundas da vida se dão por meio da nossa conexão com os outros. 2. Os problemas do mundo estão profunda e mutuamente conectados; as ameaças e os desafios que afligem as pessoas em lugares distantes rapidamente chegarão às nossas comunidades locais. 3. A dor da perda súbita de familiares ou de ser afastado das coisas que dão significado à vida é igual para as pessoas em qualquer país e, ainda que as circunstâncias específicas variem, a tragédia é a mesma em sua essência. O ponto mais crucial, então, é construir laços de solidariedade a partir da consciência dessa conexão obtida por nós de forma tão profunda e intensa durante a crise, e fazer dela a base de nossos esforços compartilhados a fim de encontrarmos um caminho a salvo dessa tempestade. Makiguchi valorizava a máxima budista de que “quando o céu está límpido, a terra se ilumina”2 porque ele acreditava firmemente que as pessoas possuem dentro de si a habilidade de dispersar o pessimismo aparentemente impenetrável que paira sobre o mundo e de iluminar o caminho rumo a um futuro de esperança. Aqui, gostaria de discutir, de três perspectivas diferentes, os tópicos que vejo como essenciais para superar não só a crise da Covid-19, mas também outros desafios que assolam o mundo e, dessa forma, abrir um novo capítulo na história humana. > Para ler a parte 2 de 8 clique aqui. Notas: 1. Veja MAKIGUCHI. Makiguchi Tsunesaburo Zenshu [Obras Completas de Tsunesaburo Makiguchi], v. 10, cap. 149–150, p. 155. 2. NICHIREN. Coletânea dos Escritos de Nichiren Daishonin, v. I, p. 395.

02/05/2022

Proposta de Paz

Uma economia que ofereça esperança e dignidade (parte 4 de 8)

O terceiro desafio é desenvolver uma economia que inspire esperança nos jovens e permita que as mulheres brilhem com dignidade. Estima-se que o equivalente a 255 milhões de postos de trabalho foram perdidos por conta da Covid-19 e de seus efeitos devastadores na economia global.28 Uma questão de particular preocupação é quão gravemente os jovens foram impactados. As últimas estimativas da Organização Internacional do Trabalho (OIT) indicam que o emprego para os jovens ao redor do mundo diminuiu a uma taxa maior do que para aqueles com 25 anos ou mais,29 com o emprego para jovens nos países do G20 caindo em torno de 11%.30 Tendências recentes sugerem a probabilidade de os jovens que conquistaram um emprego durante a crise passarem por estresse e ansiedade relacionados ao trabalho como resultado das rápidas mudanças no ambiente profissional devido à Covid-19. Cada vez mais jovens começam novos trabalhos de forma remota ou em outros locais, que não o ambiente tradicional, e continuam a trabalhar sem que ninguém em seu círculo imediato possa lhes dar apoio. A pandemia criou maiores dificuldades financeiras para muitos lares e os jovens sentiram de maneira mais acentuada o peso dos débitos estudantis ou a ausência de oportunidades de desenvolver as capacidades que precisam para as carreiras que desejam. Além disso, estudos indicam que as perspectivas de carreira são sombrias para um número cada vez maior de estudantes, com 40% deles expressando incerteza e 14% sentindo medo real sobre o que os aguarda no futuro.31 A recuperação econômica é demanda urgente, mas a menos que possamos aliviar a sensação de medo e de incerteza de tantos jovens e acender a chama da esperança no coração deles, não só as perspectivas econômicas, mas todas as esperanças de desenvolvimento social saudável permanecerão na escuridão. Sobre essa questão, refiro-me às observações feitas pelos professores Abhijit V. Banerjee e Esther Duflo do Instituto Massachusetts de Tecnologia (MIT, sigla em inglês), cujo trabalho foi reconhecido com um Prêmio Nobel de Economia em 2019, o qual dividiram com o professor Michael Kremer da Universidade Harvard. No livro que escreveram, Good Economy for Hard Times [publicado em português como Boa Economia para Tempos Difíceis], os autores refletem sobre o real significado de índices como o Produto Interno Bruto (PIB): “A chave, em última instância, é não perder de vista o fato de que o PIB é um meio e não um fim”.32 Alertando para o foco restrito à renda como lente distorcida que por vezes levou a decisões políticas erradas, eles argumentam: Restaurar a dignidade humana ao seu lugar central (…) desencadeia uma reflexão profunda sobre as prioridades econômicas e os caminhos pelos quais as sociedades cuidam de seus membros, particularmente quando eles têm essa necessidade.33 Esse trabalho foi publicado no ano anterior à pandemia, mas acredito que a questão de construir uma economia que sustente a dignidade humana é mais relevante que nunca. A importância de se ter trabalho não é exagerada quando consideramos as prioridades econômicas com um foco equilibrado e perspicaz sobre como ele pode reforçar a dignidade humana, tema fortemente ressaltado por Banerjee e Duflo. O livro descreve como Banerjee, ao atuar no Painel de Pessoas Eminentes da ONU e contribuir para a elaboração dos ODS, conheceu e foi inspirado pelas atividades de um membro de uma ONG internacional. Ele e Duflo participaram de uma das reuniões que visava oferecer oportunidades de emprego para pessoas que passaram pela pobreza. Dentre os participantes dessa conferência em particular estavam uma enfermeira que ficou seriamente debilitada e incapacitada de trabalhar por vários anos após um acidente; uma pessoa que tinha sofrido com depressão severa; e um homem que perdera a custódia do filho devido a comportamentos relacionados ao Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH).34 Essa ONG e suas atividades ofereciam aos professores algumas perspectivas para a reflexão sobre as políticas sociais. Uma delas era que “o trabalho não necessariamente se concretiza depois de todos os problemas serem resolvidos e as pessoas estarem ‘prontas’, mas é parte do processo de recuperação em si”.35 No livro, os autores também relatam o caso de um pai que conheceram. Ele foi capaz de recuperar a custódia do filho depois de obter trabalho, e o orgulho que o filho sentiu, por ele estar trabalhando, o inspirou. Nesse sentido, uma mudança na situação do homem produziu efeito cascata de felicidade para toda a família. Um dos ODS é oferecer empregos decentes para todos, incluindo as pessoas com deficiência, e o exemplo dessa família representa precisamente o tipo de mudança esperançosa almejada a partir da promoção dos ODS. Na proposta que redigi em 2012, quando Banerjee estava atuando no Painel de Pessoas Eminentes da ONU, enfatizei que os esforços para conquistar os ODS deveriam concentrar-se não só em atingir metas, mas também em restaurar o sorriso no rosto daqueles que sofrem angustiados. Essa é uma prioridade que não podemos perder de vista enquanto lutamos pela recuperação econômica pós-pandemia. Citando a necessidade de mudar a maneira como encaramos as pessoas atualmente ignoradas e abandonadas pela sociedade, Banerjee e Duflo argumentam: Embora “possam” ter problemas, elas não são “os” problemas. Elas têm o direito de ser vistas como realmente são, e não de ser definidas pelas dificuldades que as cercam. Vimos repetidamente em nossas viagens para países em desenvolvimento que a esperança é o combustível que faz as pessoas seguirem adiante.36 Estou completamente de acordo. Quando as pessoas ganham acesso ao tipo de trabalho ou ao lugar que lhes permite plena manifestação de seu potencial único, o caminho se abre para que nossas comunidades e sociedades sejam banhadas pela luz da dignidade. A Organização Internacional do Trabalho (OIT) agendou a convocação de fórum multilateral para a recuperação centrada no ser humano. Proponho que essa ocasião sirva de plataforma para que os países compartilhem boas práticas e aprendizados sobre a Covid-19, bem como priorizem os esforços para assegurar condições de trabalho decentes e humanas a todos, com foco especial na melhoria da empregabilidade dos jovens. De forma semelhante, o trabalho de reconstruir a economia deve estar baseado no avanço da igualdade de gênero e do empoderamento feminino. A pandemia colocou um fardo sem precedentes nos sistemas de saúde; globalmente, as mulheres compõem 70% da força de trabalho nessa área.37 A crise também forçou muitas mulheres a suspender suas carreiras ou a tirar licenças prolongadas do emprego para cuidar de membros da família e de outras pessoas próximas que ficaram doentes. Além disso, a grande proporção daqueles que perderam seus trabalhos era de mulheres, com maior impacto sentido pelas mães com crianças pequenas. A desigualdade de gênero é um tema de importância crítica há tempos. A pandemia exacerbou essa desigualdade e intensificou os clamores por uma reforma fundamental. Uma iniciativa importante nesse sentido foi o Fórum Geração Igualdade da ONU Mulheres e outros parceiros em duas ocasiões no ano passado. O encontro ocorrido no México em março de 2021 teve a participação de quase 10 mil pessoas de 85 países, e participantes remotos, que se dedicaram às discussões sobre as melhores formas de acelerar as ações e os movimentos pela igualdade de gênero.38 O fórum que se seguiu na França em junho e julho testemunhou a inauguração de um Plano de Aceleração Global para a Igualdade de Gênero com duração de cinco anos. Além das cinco áreas para ação urgente, incluindo violência de gênero e tecnologia e inovação para a igualdade de gênero, o plano identifica a justiça e os direitos econômicos como prioridades fundamentais. Ao reconhecer questões como a disparidade salarial entre homens e mulheres, o plano aborda reformas econômicas sensíveis ao gênero para reduzir o número de mulheres que vivem na pobreza. O plano dá especial ênfase em aprimorar as condições de trabalho das mulheres que atuam na chamada “economia do cuidado”. A realidade em muitos países é que o trabalho assistencial, como o cuidado de idosos ou de membros de outras famílias, por vezes não é remunerado e é realizado principalmente por mulheres. Em meio à crescente preocupação de que os trabalhadores dessa área carregaram o fardo da pandemia, o Plano de Aceleração Global para a Igualdade de Gênero faz um apelo aos países para que adotem reformas abrangentes por meio de medidas como investimento de 3% a 10% da receita nacional para expandir as oportunidades e aprimorar as condições do trabalho assistencial.39 Esse ponto também foi enfatizado pelo Plano Feminista, lançado pela ONU Mulheres em setembro do ano passado, o qual clama para que o cuidado seja colocado como centro de uma economia sustentável e justa.40 Estudos mostram que, atualmente, um grande número de pessoas no mundo requer algum tipo de assistência para conduzir sua vida. Isso inclui a estimativa de 1,9 bilhão de crianças abaixo dos 15 anos,41 um bilhão de pessoas acima dos 60 anos42 e 1,2 bilhão com deficiência.43 Os investimentos públicos em trabalho assistencial não só reduziriam o fardo colocado sobre as mulheres, mas também gerariam impactos de longo alcance, melhorando as condições de vida de muitos outros grupos demográficos, incluindo crianças, idosos e pessoas com deficiência. Não podemos nos esquecer do papel essencial que o trabalho assistencial desempenha em levar a experiência indispensável de felicidade e dignidade para aqueles que recebem os cuidados. Uma maré de crescimento econômico não pode levantar navios que estão severamente danificados. No entanto, estou certo de que, ao aprimorar o trabalho assistencial de forma a apoiar diretamente a igualdade de gênero e o empoderamento feminino, poderemos construir sociedades que fomentem a subsistência, a felicidade e a dignidade de incontáveis pessoas. Com base no espírito budista, filosofia que confere importância maior à felicidade e à dignidade de todos, a SGI tem mantido esforços constantes e sólidos para promover a igualdade de gênero e o empoderamento feminino. Em janeiro de 2020, quando a ONU Mulheres lançou a campanha Geração Igualdade, a SGI e outras organizações baseadas na fé realizaram o seu simpósio anual em Nova York, em colaboração com agências da ONU, onde discutiram maneiras pelas quais as comunidades religiosas podem contribuir de forma mais efetiva para o avanço da igualdade de gênero. Durante o mesmo simpósio ocorrido em janeiro de 2021, seus participantes reforçaram a certeza de que a superação das desigualdades de gênero, também por meio de medidas político-econômicas, será essencial na reconstrução e na recuperação da Covid-19. Hoje, a SGI apoia esforços para empoderar mulheres em comunidades carentes de Togo [África] por meio do reflorestamento. O projeto, iniciado em janeiro do ano passado em cooperação com a Organização Internacional de Madeiras Tropicais, apoia o reflorestamento e a proteção de recursos naturais em lugares onde houve perda rápida de cobertura vegetal, enquanto possibilita que as mulheres conquistem meios de subsistência e de independência financeira. Já existem planos atualmente em curso para realizar uma segunda fase, na qual os participantes do programa visitarão outras comunidades para se dedicar ao aprendizado mútuo e ao intercâmbio de experiências e melhores práticas em desafios compartilhados.44 Não importa quão crítica seja a época ou quão adversa seja a situação, os seres humanos são inerentemente capazes de trabalhar juntos para criar valor positivo e gerar ondas de mudança que podem transformar a época. Estou completamente convencido de que a igualdade de gênero e o empoderamento feminino são a chave para superarmos a crise da Covid-19 e construirmos economias e sociedades que sustentem a dignidade humana. A Carta da Soka Gakkai Internacional foi adotada em novembro de 1995, no mesmo ano em que ocorreu a Conferência Mundial sobre a Mulher em Pequim, marco do ponto de partida de esforços dedicados a tornar a igualdade de gênero e o empoderamento feminino as correntes definidoras de nossa época. Com base nos propósitos e princípios da Carta da SGI — incluindo o compromisso de “salvaguardar os direitos humanos fundamentais e não discriminar nenhum indivíduo”45 —, continuamos a nos dedicar à resolução de questões globais. Em novembro passado, adotamos nova e atualizada Carta da Soka Gakkai. Seus propósitos e princípios constam de dez pontos, incluindo o fato de que, com base no espírito budista de tolerância, a organização “respeitará outras religiões, promoverá diálogos e atuará em parceria para a solução de questões fundamentais da humanidade”. Expressa ainda nosso compromisso de “contribuir para a conquista da igualdade de gênero e promover o empoderamento feminino”.46 Enquanto movimento popular budista presente em 192 países e territórios, estamos determinados a continuar a expandir os círculos de confiança e de amizade como cidadãos que contribuem para a construção de um mundo de felicidade e dignidade para todos. > Para ler a parte 5 de 8 clique aqui. Notas: 28. OIT. World Employment and Social Outlook [Níveis de Emprego e Panorama Social Mundiais], p. 11. 29. Ibidem, p. 24. 30. OIT. Invest in Youth [Invistam na Juventude]. 31. OIT. Youth & COVID-19 [Juventude & Covid-19], p. 26. 32. Banerjee e Duflo. Good Economics for Hard Times [Boa Economia para Tempos Difíceis], p. 205. 33. Ibidem, p. 9. 34. Veja Banerjee e Duflo. Good Economics for Hard Times [Boa Economia para Tempos Difíceis], p. 315–16. 35. Ibidem, p. 318. 36. Ibidem, p. 322. 37. Veja ONU Mulheres. Beyond COVID-19 [Além da Covid-19], p. 37. 38. Generation Equality Forum [Fórum Geração Igualdade]. Activism and Commitments [Ativismo e Compromissos]. 39. Veja ONU Mulheres. Action Coalitions [Coalizão de Ação], p. 19. 40. Veja ONU Mulheres. Beyond COVID-19 [Além da Covid-19], p. 12. 41. ONU. Secretary-General’s Policy Brief [Sumário do Secretário-geral sobre Políticas], p. 15. 42. OMS. Ageing and Health [Envelhecimento e Saúde]. 43] WeThe15. A Global Human Rights Movement [Movimento Global de Direitos Humanos]. 44. Veja OIMT. Togolese Women Are Becoming Restoration Leaders [Mulheres Togolesas se Tornam Líderes de Reflorestamento]. 45. Soka Gakkai. SGI Charter [Carta da SGI]. 46. Soka Gakkai. Soka Gakkai Charter [Carta da Soka Gakkai].

02/05/2022

Proposta de Paz

Um ambiente de aprendizado saudável para as crianças (parte 6 de 8)

A segunda área temática que precisa da nossa atenção e ação imediatas é a educação, e quero fazer algumas propostas para assegurar e aprimorar o oferecimento de oportunidades de aprendizado para crianças e adolescentes. Desde o início da pandemia da Covid-19, o foco global tem sido na saúde pública e na recuperação econômica. Com essas questões, outra preocupação emergiu ao redor do globo — o impacto da pandemia em crianças e jovens devido aos serviços educacionais interrompidos e à perda de oportunidades de aprendizado com o fechamento das escolas. Um estudo mostra que por volta de 1,6 bilhão de estudantes foram atingidos.59 A perda de horas de aprendizado não é a única consequência do fechamento das escolas. Por conta da suspensão abrupta das interações diárias com os amigos, incontáveis crianças sentem dificuldade em perceber algum progresso tangível e em sentir esperança no futuro, resultando em distúrbios emocionais e psicológicos enquanto se veem atoladas em uma epidemia de solidão e perda de motivação. O fechamento das escolas também resultou na suspensão das refeições escolares, uma linha vital que garante às crianças de famílias e comunidades economicamente carentes uma fonte necessária de nutrição. Há preocupação crescente sobre o aumento no número de crianças com os efeitos da desnutrição, com sintomas de anemia e baixo peso corporal devido à longa ausência das refeições escolares. Essa ruptura ampla e prolongada do aprendizado em sala de aula sendo vivida de forma simultânea ao redor do mundo não tem paralelo na história dos sistemas modernos de educação escolar. Enquanto os governos de muitos países tomaram medidas para providenciar o ensino remoto, em um esforço para minimizar a perda na educação e para assegurar oportunidades aos estudantes, há ainda um enorme número de jovens estudantes isolados do outro lado do fosso digital, incapazes de acessar os meios necessários para a educação a distância. A Educação Não Pode Esperar, fundo global dedicado a oferecer respostas às emergências educacionais em regiões afetadas pelo conflito, pelos desastres naturais e outras crises humanitárias, instituiu apoio adicional para responder à emergência da Covid-19. Isso inclui o apoio para soluções de ensino a distância que chegou a 29,2 milhões de meninos e meninas.60 Não sou capaz de expressar de forma suficiente a importância do fortalecimento da cooperação internacional nessa área para assegurar educação ininterrupta a todas as crianças. A fim de restaurar as oportunidades educacionais ao maior número de crianças o mais rápido possível, também se faz importante aprender com os exemplos de sucesso em países onde a educação a distância foi oferecida sem a dependência de acesso à internet. Por exemplo, logo depois do surto da Covid-19, o governo de Serra Leoa lançou um programa de ensino via rádio interativo, possibilitando que 2,6 milhões de estudantes continuassem seu aprendizado enquanto estavam fora da escola.61 O que tornou tal resposta imediata possível foi a experiência adquirida ao enfrentarem diversos surtos de ebola, quando o governo escolheu oferecer lições pelo rádio. Outras soluções podem ser vistas no Sudão do Sul, que distribuiu rádios com carregadores solares para as crianças de lares carentes,62 e o Sudão, que publicou tarefas de casa nos jornais.63 Tais respostas criativas e flexíveis que conferem a mais alta prioridade ao aprendizado infantil são de grande significado. Elas demonstram a importância de assegurar que a luz do aprendizado brilhe sobre todas as crianças, em todas as épocas, independentemente das circunstâncias nas quais elas vivem. Esse papel fundamental da educação foi certa vez resumido pelo secretário-geral da ONU, António Guterres, com base em sua própria experiência como professor que oferecia instrução gratuita de matemática para crianças em bairros de baixa renda em Portugal: “Nas favelas de Lisboa, vi a educação como uma engrenagem para a erradicação da pobreza e uma força para a paz”.64 O mesmo espírito fundamenta a rede de escolas e universidades Soka, que tive a honra de estabelecer. A história delas tem raízes de quase cem anos nas práticas e nos esforços de dois educadores devotados, Tsunesaburo Makiguchi e Josei Toda, que mais tarde se tornaram, respectivamente, primeiro e segundo presidentes da Soka Gakkai. Como diretor de uma escola de ensino fundamental para crianças de famílias de baixa renda em Tóquio, enquanto morava nas dependências da escola, Makiguchi trabalhou duro dia após dia para oferecer aos seus estudantes o melhor ambiente educacional possível. Dentre as várias medidas que ele introduziu estão as refeições gratuitas às crianças desnutridas. Ele também fazia visitas às casas das crianças que estavam incapacitadas de ir às aulas devido a alguma questão de saúde ou doença. Um observador, depois de uma visita às dependências da escola, que consistia em um prédio cujas janelas quebradas haviam sido remendadas com papelão para barrar o mau tempo, escreveu: “O que me marcou mais foi o entusiasmo e a energia com os quais Makiguchi se devotava à tarefa de fazer tudo o que estava ao seu alcance para a educação e para o bem-estar dessas crianças de lares carentes”.65 O discípulo e sucessor de Makiguchi, Josei Toda, lecionou na mesma escola de ensino fundamental e se juntou a ele nos esforços de levar a luz do aprendizado às crianças que estavam vivendo em lugares pequenos e afastados de Tóquio nas mais desafiadoras condições. Dando continuidade ao espírito desses dois educadores, as escolas Soka do ensino fundamental ao superior vêm expandindo e aprimorando seus programas de bolsa de estudo para apoiar estudantes de famílias em dificuldades financeiras. Sem limitar seu apoio econômico a estudantes japoneses ou internacionais, no âmbito do escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur) — Programa de Acesso ao Ensino Superior de Refugiados ao qual ela se juntou em 2016, a Universidade Soka do Japão oferece bolsas de estudo para candidatos com o status de refugiados. Desde 2017, participa da Iniciativa Japonesa pelo Futuro dos Refugiados Sírios (JSIR, sigla em inglês) da Agência de Cooperação Internacional do Japão. Além disso, no ano passado assinou acordo com o Acnur para apoiar estudantes graduados, fazendo da Universidade Soka a primeira instituição do Japão a aceitar refugiados tanto em programas de graduação como de pós-graduação. Estima-se que apenas 5% dos refugiados no mundo tenham conseguido ingressar em programas de ensino superior de outras universidades.66 Tendo como pano de fundo essa dura realidade, devemos sempre nos lembrar que as aspirações dos jovens forçados a se deslocar em busca de oportunidades de educação e para conquistar seus objetivos são pelo menos tão fortes quanto as de seus colegas que vivem em ambientes menos desafiadores. A Soka Gakkai tem apoiado há tempos as atividades do Acnur. Além disso, em fevereiro do ano passado, lançamos um novo projeto em colaboração com os Músicos sem Fronteiras.67 Esse esforço conjunto, iniciado em meio à pandemia da Covid-19, utiliza-se da música para levar esperança tanto às crianças refugiadas como às crianças nativas do país anfitrião. Sediado na Jordânia, o projeto inspira a esperança e a força para superar dificuldades por meio da educação e do exercício da música. Até a presente data [janeiro 2022], o programa estimulou aqueles com inclinação para a educação musical, e esses aprendizes se dedicaram a preparar oficinas de verão em várias localidades do país. Tareq Jundi, músico e parceiro local do projeto, comparou suas atividades ao ato de plantar sementes, afirmando que, embora o resultado não apareça de imediato, as mudanças estão definitivamente começando a emergir.68 Eu também acredito que a essência da educação pode ser encontrada no esforço paciente de semear possibilidades no coração das crianças e de se empenhar sinceramente para que elas desabrochem por completo. Além de assegurar a disponibilidade de oportunidades educacionais durante emergências, outra questão de importância vital ao redor do mundo é a aceleração da oferta de educação inclusiva, que garante o direito de aprendizagem e educação a crianças e jovens com deficiência. De acordo com um relatório lançado em novembro do ano passado pelo Unicef, o número de crianças com deficiência é estimado em quase 240 milhões no mundo, significando que uma em cada dez crianças vive com algum tipo de deficiência.69 Mesmo que, sob o princípio de inclusão e de abraçar todas as pessoas de forma igual, tais crianças buscassem a garantia dos direitos desfrutados por outros, isso seria dificultado devido ao diminuto progresso que foi feito para combater a discriminação e outros entraves sociais. A situação que essas crianças enfrentam foi mais exacerbada pela Covid-19. Mesmo quando há infraestrutura e serviços de educação virtual, sem assistência específica adaptada para suas necessidades individuais, os estudantes com deficiência sentem particular dificuldade para participar em [programas de] educação remota. Isso por vezes significa que o apoio intensivo de membros da família e de outros cuidadores se torna necessário. Com o objetivo de “assegurar a educação inclusiva e equitativa de qualidade”70 para todos, os ODS demandam ação para o acesso aos níveis de educação e para providenciar ambientes de ensino que estejam de acordo com as necessidades das pessoas com deficiência. Agir para atingir esses objetivos e responder a questões relacionadas que vieram à luz pela pandemia da Covid-19 é assunto de máxima prioridade. A educação foi um dos temas de uma deliberação mais vigorosa no processo da adoção da Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e seu Protocolo Facultativo Opcional (CRPD) na Assembleia Geral da ONU em 2006. Como resultado, a convenção estipulou que os Estados-membros devem garantir o sistema educacional inclusivo em todos os níveis de aprendizado para concretizar as oportunidades educacionais igualitárias.71 A CRPD também define o princípio de que falhar ao oferecer às pessoas com deficiência “instalações razoáveis” que estejam de acordo com suas condições individuais constitui um ato de discriminação.72 Posteriormente, ela especifica que instalações razoáveis devem ser salvaguardadas na educação.73 A convenção estabeleceu o conceito de que a deficiência não deve ser considerada uma questão do próprio indivíduo, mas sim inserida por meio de mudanças nos sistemas sociais. Ressaltar esse novo entendimento foi um ato crucial no processo de negociação. ONGs do ramo de deficiências apelaram de modo profundo aos governos com o slogan “Nada sobre nós sem nós”,74 e a participação de seus representantes foi assegurada. Até a presente data [janeiro 2022], a CRPD foi ratificada por 184 países e territórios.75 Relembrando-me da determinação e da decisão de um grande número de pessoas envolvidas em sua elaboração e adoção, incito ainda por maiores esforços para fazer da educação inclusiva uma realidade. Nujeen Mustafa, refugiada síria que nasceu com paralisia cerebral, atua como jovem defensora e patrona das crianças com deficiência pelo Acnur. Com base em sua própria experiência, ela reforça: A educação inclusiva significa não só matricular uma pessoa com deficiência na escola, e sim ter suas necessidades inseridas sem fazê-la se sentir isolada, separada ou diferente dos demais estudantes que possam não ter uma deficiência. Não se trata apenas de construir um banheiro ou tornar o prédio acessível, mas de possibilitar capacitação.76 Quando a jovem Mustafa estava com 16 anos, ela foi forçada a fugir de sua terra natal, assolada pela guerra civil. Depois de percorrer uma jornada de 3,5 mil milhas (6 mil quilômetros) em uma cadeira de rodas, ela encontrou um novo lar na Alemanha. Ali, ela foi entrevistada sobre o que pensava a respeito da educação inclusiva. Falando em nome das pessoas com deficiência, ela ressaltou a necessidade de transformação radical na percepção e na atitude das pessoas em relação a esses problemas: Onde eu nasci, ter uma deficiência significava que sua expectativa era de viver à margem e não crescer em nada como pessoa — acadêmica e pessoalmente falando. (...) Por isso, acredito que o maior equívoco da sociedade sobre nós é que ela espera que não tenhamos nenhuma ambição ou sonhos. De que o mero fato da deficiência deveria excluir qualquer vislumbre de nossa esperança de que esses sonhos se tornem realidade.77 Assim como a jovem Mustafa aponta, é errado extinguir a esperança das crianças pelo futuro a partir de uma concepção errônea da sociedade e do preconceito sobre a deficiência. Em setembro deste ano, a ONU convocará a Cúpula sobre a Transformação da Educação. A base dessa cúpula estará nas conclusões do relatório da Unesco lançado em novembro do ano passado, que apresenta uma visão para o futuro da educação. Em esforço para repensar o papel da educação em momentos-chave de transformação social, a Unesco publicou relatórios similares em 1972 e em 1996. Esse novo relatório segue os dois anteriores e é o primeiro do tipo em 25 anos. Com a colaboração e informações coletadas de mais de um milhão de pessoas por meio de um processo de consultoria global que durou dois anos, o relatório considera as seguintes questões: Futuros cenários extremos também incluem um mundo no qual a educação de qualidade é um privilégio das elites, e onde vários grupos de pessoas vivem na miséria devido à falta de acesso aos bens e serviços essenciais. As atuais desigualdades educacionais apenas piorarão ao longo do tempo até que o currículo se torne irrelevante? Como essas possíveis mudanças impactarão nossa humanidade básica?78 Com base nessa perspectiva, o relatório ressalta a importância de uma cooperação global para apoiar os refugiados e aqueles em circunstâncias desfavoráveis, caminhando lado a lado com o ato de assegurar o direito à educação de qualidade para todos, independentemente de seu status de deficiência. Além disso, o relatório solicita esforços coletivos para explorar qual papel a educação pode desempenhar quando visualizamos 2050 em diante. À luz disso, acredito que a Cúpula sobre a Transformação da Educação de setembro apresenta a oportunidade perfeita para discussões produtivas sobre temas como a educação em situações de emergência e a educação inclusiva. A agenda pode também incluir o ensino sobre cidadania global como um meio indispensável para fomentar o tipo de consciência sobre solidariedade global que sugeri na primeira metade desta proposta. Além disso, incentivo que os envolvidos elaborem e adotem um plano de ação global para o aprendizado, crescimento e felicidade de todas as crianças. Conflitos, desastres e pandemias apresentam ameaças que excedem em muito a capacidade de enfrentamento que uma criança possui. Priorizar a prontidão global para a assistência educacional em situações de emergência manifesta um claro compromisso de não deixar nenhuma criança para trás. Aprimorar a inclusão na educação em todos os níveis, do ensino básico ao superior, melhorará também o ambiente de aprendizado para as crianças que enfrentam várias formas de dificuldades e discriminação. Por fim, estou confiante de que o aprendizado para a cidadania global servirá como base compartilhada para lidar com as crises comuns que a humanidade enfrenta. Assim como mencionado anteriormente, meu mestre, segundo presidente da Soka Gakkai, Josei Toda, expressou a ideia de cidadania global usando o termo chikyu minzokushugi (“nacionalismo global”), e eu devotei minha vida à educação que promove isso. Esse tem sido também um foco consistente dos esforços da SGI. Ao fim deste século, projeta-se que a população mundial alcançará os 10,9 bilhões.79 Acredito fortemente que a adoção de uma ação global para o aprendizado, o crescimento e a felicidade de todas as crianças na Cúpula sobre a Transformação da Educação de setembro constituirá o alicerce fundamental para salvaguardar os sonhos e as esperanças das crianças de hoje, e daquelas que ainda nascerão. > Para ler a parte 7 de 8 clique aqui. Notas: 59. International Commission. Reimagining Our Futures Together [Reimaginar Nosso Futuro Juntos], p. v. 60. Veja ECW. Winning the Human Race [Vencer a Corrida Humana], p. 38. 61. Veja UNICEF. Covid-19 in Sierra Leone [Covid-19 em Serra Leoa]. 62. Veja UNICEF. 32,000 USAID-funded Solar-powered Radios [32 mil Rádios Solares Financiados pela USAID]. 63. Veja GEM Report. COVID-19 Has Prompted Countries to Adjust [Covid-19 Levou Países a se Ajustar]. 64. Guterres. Education Cannot Wait Interviews [Entrevistas A Educação Não Pode Esperar].65. (Tradução de) Sato. Tokyo-shi no Shogakko o Miru [Observação de Escolas de Ensino Fundamental na Cidade de Tóquio], v. 35, p. 42. 66. ACNUR. Staying the Course [Mantendo o Curso], p. 9. 67. Veja MÚSICOS SEM FRONTEIRAS. Al-Musiqa Tajm’ana [A Música nos Une]. 68. (Tradução de) Jundi. Soka Gakkai to Kokkyo naki ongakuka [Soka Gakkai e MÚSICOS SEM FRONTEIRAS]. 69. UNICEF. Seen, Counted, Included [Vistos, Considerados, Incluídos], p. 18. 70. UN GA. Transforming Our World [Transformar Nosso Mundo], p. 14. 71. Veja ONU. Conventions on the Rights of Persons with Disabilities [Convenções sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência], artigo 24. 72. Ibidem, artigo 2º. 73. Ibidem, artigo 24. 74. ACNUDH. UN Leads the Way on Disability Rights [ONU Abre Caminho para os Direitos das Pessoas com Deficiência]. 75. UN Treaty Collection. Status of Treaties [Status dos Tratados]. 76. Mustafa. ECW Interviews [Entrevistas do ECW]. 77. Ibidem. 78. International Commission. Reimagining Our Futures Together [Reimaginar Nosso Futuro Juntos], p. 3. 79. UN DESA. World Population Prospects 2019 [Panorama de 2019 da População Mundial], p. 5.

02/05/2022

Proposta de Paz

Consciência global de solidariedade (parte 3 de 8)

O segundo desafio que gostaria de considerar é a criação de uma consciência de solidariedade que se estenda para todo o mundo. Diz-se que a sensação compartilhada da crise que marcou a reação à pandemia em cada país foi, em grande parte, sem precedentes. Em contraste, a escala da cooperação internacional foi inadequada, e há uma disparidade gritante ao acesso global à vacina. Enquanto muitos países já estão instituindo vacinas de reforço, no fim do ano passado [2021], apenas metade dos 194 Estados-membros da OMS tinham completado a vacinação de 40% ou mais de sua população.14 A grande dificuldade de se obter vacinas persiste na África, onde apenas 8% da população do continente foi efetivamente vacinada.15 É crucial que o déficit na cooperação internacional, que deixou pessoas em muitos países ainda à espera do acesso às vacinas, seja resolvido o mais rapidamente possível. Acredito que as palavras do físico Albert Einstein (1879–1955) expressam o pensamento que deve ter ocorrido a muitas pessoas conscientes em face das presentes circunstâncias. Em 1947, enquanto as tensões da Guerra Fria entre os Estados Unidos e a União Soviética emergiam e se intensificavam após o fim da Segunda Guerra Mundial, Einstein clamou ao mundo que rejeitasse a divisão e avançasse no caminho da solidariedade: Seria diferente, por exemplo, se uma epidemia de peste bubônica estivesse ameaçando todo o mundo. Nesse caso, pessoas conscientes e especialistas se uniriam e trabalhariam em um plano inteligente para combater a praga. Depois de chegarem a um acordo sobre as formas e os meios, eles enviariam o plano aos governos. Estes dificilmente levantariam oposições sérias, em vez disso concordariam rapidamente sobre as medidas a ser tomadas. Certamente nunca pensariam em lidar com a questão de tal forma que a própria nação fosse poupada enquanto a outra poderia ser dizimada.16 Atualmente, um plano inteligente, com formas e meios corretos, foi desenvolvido e materializado, por exemplo, no Acelerador de Acesso às Ferramentas contra a Covid-19 (ACT), uma resposta coordenada internacionalmente, lançada em abril de 2020, apenas um mês após a OMS declarar a pandemia. Dentro disso, o Instrumento de Acesso Global de Vacinas Covid-19 (Covax Facility) objetiva assegurar o acesso equitativo às vacinas em países de baixa e de média rendas. Embora mais de um bilhão de doses da vacina tenham sido fornecidas em 144 países e territórios desde essa ocasião,17 esse número é muito inferior aos 2 bilhões de doses originalmente planejadas pelo Covax, um déficit resultante de atrasos na cooperação financeira e da competição por insumos. É importante fortalecer rapidamente o apoio ao Covax. Na Cúpula do G20, ocorrida em Roma em outubro do ano passado, foi feito um acordo para acelerar o fluxo de vacinas e de suprimentos médicos para países em desenvolvimento. Conforme ressaltado no Painel Independente de Alto Nível sobre o Financiamento de Bens Comuns Globais para a Preparação e Resposta à Pandemia, em termos globais, a capacidade e os recursos requeridos para reduzir o risco apresentado pela pandemia não estão em falta. E temos não só conhecimento científico, mas também as fontes de financiamento necessárias para preparar resposta efetiva à Covid-19.18 Com o plano inteligente e as formas e meios corretos que Einstein imaginou claramente aparentes nas atividades do Covax e do acordo do G20, o elemento final que falta para superar essa crise é a solidariedade global em que países buscam proteger não apenas a si mesmos, mas a todos os ameaçados. A formação da OMS remonta às discussões ocorridas durante a Conferência de São Francisco, quando representantes de governos se reuniram, entre abril e junho de 1945, para chegar a um consenso sobre a Carta das Nações Unidas. A saúde pública não estava originalmente na agenda, mas foi alçada a importante área de preocupação, com a sua inclusão no artigo 55 da Carta da ONU como uma das áreas para a qual a cooperação internacional seria promovida. Também foi identificada, no artigo 57, como um campo no qual uma agência especializada da ONU seria estabelecida.19 Na conferência ocorrida no ano seguinte para constituir a OMS, governos, incluindo os de antigos países do Eixo — Japão, Alemanha e Itália —, foram convidados a participar como observadores com base na ideia de que envolver todos os Estados, de forma independente das alianças da Segunda Guerra Mundial, serviria melhor aos interesses da agência. Também é notável que, no processo da formação da OMS, se estabeleceu um caminho para que muitos territórios, ainda sob domínio colonial e que não haviam conquistado sua independência, fossem admitidos na agência sob a categoria especial de Membros Associados.20 Além disso, foi definido que a palavra “mundo” seria usada no nome da nova agência especializada em vez de “Nações Unidas”, a fim de evitar a implicação de que o escopo seria limitado aos Estados-membros da ONU. A Organização Mundial da Saúde foi oficialmente instituída em abril de 1948. Em março de 1993, tive a oportunidade de visitar e discursar no histórico local em que ocorreu a Conferência de São Francisco. Na ocasião, ressaltei os esforços que a SGI realizou para apoiar a ONU, os quais possuem como base as convicções expressas por meu mestre, segundo presidente da Soka Gakkai, Josei Toda (1900–1958). Logo depois de o texto da Carta da ONU ser finalizado, Josei Toda emergiu de dois anos encarcerado pelas autoridades militares japonesas e se lançou à reconstrução da Soka Gakkai, um novo tipo de movimento popular em defesa do humanismo. Os ideais do meu mestre têm profundos paralelos com os da Carta da ONU, pois eles se desenvolveram a partir do seu ardente desejo de efetivar a transformação fundamental na história humana ao quebrar o ciclo aparentemente interminável de violência e de guerra. Inspirada por esse espírito, a Soka Gakkai continuou a expandir sua rede global de pessoas comuns que despertaram para a filosofia da paz e do respeito pela dignidade da vida. Finalizei minhas palavras em São Francisco acentuando que Josei Toda havia confiado a nós o trabalho de apoiar a ONU — a cristalização do melhor da sabedoria do século 20 — que deve ser protegida resolutamente e cultivada como uma fortaleza da esperança para o século vindouro. Ao refletir sobre as lições aprendidas com a experiência da guerra, Josei Toda desejou sinceramente promover uma transformação na trajetória não só de uma nação, mas do mundo como um todo. Essa visão havia sido proposta setenta anos atrás, em fevereiro de 1952. Naquela época, ele traduziu sua convicção com a frase chikyu minzokushugi (jap.), que pode ser literalmente traduzida por “nacionalismo global” e corresponde ao que denominamos atualmente “cidadania global”.21 Em um período no qual as crescentes tensões globais irromperam da Guerra da Coreia e de outros conflitos, Josei Toda apresentou seu ponto de vista no sentido de dar à humanidade condições de se libertar dos ciclos trágicos da história. Ele procurou transmitir sua firmeza de ânimo no sentido de que nenhum povo deveria ser obrigado a sofrer, e que todas as pessoas do mundo deveriam ser capazes de vivenciar conjuntamente a alegria e a prosperidade. Hoje, em meio a uma pandemia prolongada, ao refletir sobre a história da fundação da OMS, ocorre-me quanto a visão de Josei Toda referente à cidadania global do espírito está relacionada com a fundação da OMS, conforme expresso no uso da palavra “mundial” em seu nome. A importância da solidariedade global no mundo atual foi afirmada de forma inequívoca pela Declaração Política para Acesso Global Equitativo às Vacinas contra a Covid-19, adotada no ano passado pela Assembleia Geral da ONU e ratificada por seus 181 Estados-membros: Nós nos comprometemos à solidariedade e à intensa cooperação internacional, considerando de forma igualitária as necessidades de todos os seres humanos, especialmente às pessoas em situações vulneráveis, para ser protegidas da doença do coronavírus, independentemente da nacionalidade ou da localidade, e sem qualquer tipo de discriminação.22 O foco das medidas de resposta à pandemia precisa estar no trabalho em conjunto dos governos e na sua forma de agir para superar a ameaça e não em como cada Estado pode individualmente escapar da crise. Em minha Proposta de Paz do ano passado, escrevi que, quando a atenção é direcionada aos dados negativos do crescente número de infecções, uma preocupação mesquinha com a defesa do próprio país pode preceder à solidariedade aos outros. Em vez disso, é importante estabelecer um foco positivo em como muitas vidas podem ser salvas ao se trabalhar em conjunto. Se todos os países continuarem mantendo isso à vista, o caminho para a resolução será aberto. Nos ensinamentos budistas encontramos os seguintes dizeres: Quando se acende uma tocha para alguém à noite, produz-se luz não apenas para o outro, mas para si também. Do mesmo modo, quando se aviva o aspecto das outras pessoas, aviva-se o próprio também, quando se fornece força a elas, fornece-se para si também, quando se prolonga a vida delas, prolonga-se a sua própria vida também.23 Quando esse tipo de círculo virtuoso é gerado a partir de um interesse compartilhado por si e pelos outros, e conforme mais países assumirem o trabalho de cooperação e assistência, a crescente desolação se dispersará. Esse é o caminho para o estabelecimento de uma consciência de solidariedade global. Para isso, necessita-se precisamente desse espírito compartilhado e esclarecido na declaração política citada — o de proteger a vida de todos de forma igual, independentemente da nacionalidade ou da região de origem de cada pessoa e sem qualquer tipo de discriminação. Textos budistas também expressam que, quando se trata de salvar vidas, não deve ser feita nenhuma distinção entre elas. Isso é expresso nos registros dos esforços de um médico de nome Jivaka, que viveu no reino de Magadha, na Índia antiga, na mesma época de Shakyamuni. Quando era jovem, Jivaka viajou até o reino de Taxila com o intuito de ser treinado, ao saber que lá vivia um médico excepcional. Com ele, estudou tudo o que era possível sobre a arte da medicina. Ao voltar para casa, usou suas habilidades e salvou muitas vidas. Depois de curar a doença de um rei, Jivaka passou a ser tão reconhecido que lhe deram a ordem de não viajar mais para tratar as pessoas. Deveria ficar ao lado do rei e prestar seus serviços para alguns poucos selecionados. Apesar disso, ao saber que alguém estava enfermo, Jivaka pedia permissão ao rei para visitar a casa da pessoa e tratá-la. Sabe-se que Jivaka correu ao encontro de uma criança adoecida no reino de Kaushambi para realizar uma cirurgia. Certa vez, outro rei, cujas dores de cabeça ele já havia curado, implorou-lhe para que ficasse ao seu lado em troca de robusto salário, porém, Jivaka recusou a oferta. Ele continuou a curar inúmeras pessoas e, com isso, conquistou grande respeito.24 Dessa maneira, depois de estudar medicina em determinado reino, Jivaka dedicou-se a curar as pessoas de diferentes cidades, vilas e até de outros territórios, nunca limitando seu trabalho a indivíduos selecionados. Jivaka significa “vida” em sânscrito e, fiel ao seu nome, ele salvou a vida de muitas pessoas sem discriminá-las ou considerar as diferenças de nação ou de localização. Nichiren Daishonin (1222–1282), que expôs e propagou o budismo no Japão do século 13 e cujos ensinamentos inspiram a prática dos membros da SGI, exaltava Jivaka denominando-o tesouro de sua época.25 Nossa gratidão pelos incontáveis profissionais da área médica e pelos trabalhadores da saúde que se esforçam dia após dia com absoluta dedicação em meio à pandemia não tem limites. Enquanto apoiamos sinceramente esses genuínos tesouros de nossa época, devemos fortalecer a cooperação global no campo da segurança da saúde com base no espírito de oferecer igual proteção a todos, independentemente da nacionalidade ou do local que habitam e sem qualquer tipo de discriminação. Em minha Proposta de Paz do ano passado, clamei pela adoção de diretrizes internacionais que não só serviriam como base para uma resposta coordenada à Covid-19, mas seriam suficientemente robustas para nos defender contra futuros surtos de doenças infecciosas. No mês passado [dezembro 2021], durante uma seção especial da Organização Mundial da Saúde, uma resolução foi adotada de forma unânime, estabelecendo um corpo de negociação intergovernamental aberto a todos os Estados-membros e membros associados para a formulação de regras internacionais de preparação para pandemias.26 Com base nas lições aprendidas com a pandemia da Covid-19, a assembleia concordou em trabalhar na redação de um tratado ou algum outro instrumento sobre medidas como o acesso igualitário às vacinas e o compartilhamento de informações. A primeira reunião do corpo de negociação está prevista para ocorrer em 1º de março deste ano [2022]. Muitos especialistas declararam que não se trata de “se” outra pandemia ocorrerá, mas “quando” ela ocorrerá. À luz dessa realidade, clamo urgentemente pela rápida elaboração de um primeiro rascunho de tal sistema de regras internacionais, seguidas de passos para assegurar a sua adoção e implementação. A Covid-19 nos mostrou como a ameaça que se intensifica em uma parte do mundo pode se tornar, em pouco tempo, ameaça em todo o planeta. Essa é a realidade do mundo em que vivemos atualmente. Em sua agenda compartilhada para a ação global, líderes na Cúpula do G7 (ocorrida em junho do ano passado no Reino Unido) reforçaram que as ameaças à saúde humana não respeitam limites em um mundo interconectado, e concordaram que um de seus papéis e responsabilidades específicos era “melhorar a rapidez da resposta ao desenvolver protocolos globais que desencadeiem ações coletivas no caso de uma pandemia futura”.27 Com base nessa agenda compartilhada, os países do G7 devem liderar os esforços para negociar um tratado que estabelecerá protocolos internacionais para respostas a futuras pandemias, e proativamente desenvolver a abordagem de cooperação internacional que poderá servir como base para o tratado. No passado, sugeri que o G7 fosse expandido a fim de incluir a Rússia, a Índia e a China em uma “cúpula de Estados responsáveis”. Com essa expressão, não me refiro às obrigações que eles possuem como potências mundiais, mas sim ao compromisso com a resposta solidária às preocupações e às aspirações dos povos do mundo que buscam caminhos para superar as crises que assolam a todos. Se a abordagem principal à crise que enfrentamos for o “gerenciamento de risco”, os países adotarão uma perspectiva limitada e suas preocupações serão, por conseguinte, restritas aos impactos que eles sofrerem diretamente. No entanto, o que o mundo mais precisa é de governos que trabalhem juntos para desenvolver e fortalecer o tipo de resiliência que permitirá a união necessária para superar os graves desafios que todos nós enfrentamos. Além disso, esse espírito de solidariedade proverá a energia e a base para enfrentar o espectro amplo de nossos desafios, incluindo a crise climática. Estou certo de que ao enraizarmos nossas ações nesse espírito de solidariedade e ao avançarmos na construção de uma sociedade global que seja inabalável diante de quaisquer ameaças, deixaremos algo de imenso valor para as futuras gerações. Soka Kyoiku Gakkai A Soka Kyoiku Gakkai [Sociedade Educacional de Criação de Valor] foi fundada por Tsunesaburo Makiguchi e Josei Toda em Tóquio, no ano de 1930. Esse pequeno grupo de educadores dedicados à reforma educacional gradualmente se transformou em uma organização de participação mais ampla, promovendo o Budismo Nichiren como um meio de reformar não só a educação, mas a sociedade como um todo. O grupo entrou em conflito com o governo militarista da época, que via na educação uma forma de moldar os indivíduos para se tornar servos do Estado, impor a ideologia xintoísta e assim justificar a agressão da guerra. Durante o fim dos anos 1930 e da Segunda Guerra Mundial, membros da Soka Kyoiku Gakkai foram submetidos a crescente vigilância e perseguição da polícia, e a organização foi esmagada. Tanto Tsunesaburo Makiguchi como Josei Toda foram presos como “criminosos do pensamento” em 1943. Makiguchi faleceu na prisão em 1944. Josei Toda foi libertado em 1945 e reconstruiu a organização que se tornou a atual Soka Gakkai. Chikyu minzokushugi O termo chikyu minzokushugi pode ser traduzido diretamente como “nacionalismo global” e indica a crença na união inerente a todos os povos do mundo. Ele foi usado pela primeira vez pelo segundo presidente da Soka Gakkai, Josei Toda, em uma reunião da Divisão dos Jovens da organização em 1952. O termo corresponde ao que hoje é conhecido como “cidadania global”. A forte determinação de Josei Toda de considerar a felicidade das pessoas como o princípio mais primordial foi a fonte de seu ideal de cidadania global. Com base em suas experiências das tragédias causadas pelo ultranacionalismo japonês, Josei Toda buscou libertar as pessoas dos grilhões de um nacionalismo mesquinho, a fim de capacitá-las a transcender as limitações da visão restrita a apenas um Estado ou povo. Ele bradou pela consciência de que a humanidade é una, e que, em última instância, compartilha um destino comum. Josei Toda estava convencido de que as guerras entre Estados e povos terminariam e que uma sociedade global pacífica seria construída quando as pessoas concretizassem esse ideal e se responsabilizassem totalmente como membros de uma única comunidade humana. > Para ler a parte 4 de 8 clique aqui. Notas: 14. GHEBREYESUS. WHO Director-General’s Opening Remarks [Observações Iniciais do Diretor-geral da OMS], 22 de dezembro. 15. GHEBREYESUS. WHO Director-General’s Opening Remarks [Observações Iniciais do Diretor-Geral da OMS], 9 de dezembro. 16. EINSTEIN. Out of My Later Years [Meus Últimos Anos], p. 204. 17. GAVI. COVAX Vaccine Roll-out [Implementação da Vacina Covax]. 18. G20 HLIP [Painel Independente de Alto Nível do G20]. A Global Deal for Our Pandemic Age [Um Acordo Global para Nossa Era Pandêmica], p. 1. 19. ONU. United Nations Charter [Carta das Nações Unidas], artigos 55, 57. 20. OMS. Constitution of the World Health Organization [Constituição da Organização Mundial da Saúde], artigo 8. 21. Veja TODA. Toda Josei Zenshu [Obras Completas de Josei Toda], v. 3, p. 460. 22. ONU. Political Declaration on Equitable Global Access to COVID-19 Vaccines [Declaração Política sobre Acesso Global Equitativo às Vacinas contra a Covid-19]. 23. NICHIREN. The Writings of Nichiren Daishonin [Os Escritos de Nichiren Daishonin], v. II, p. 1066. 24. Veja HORNER, trad. The Book of the Discipline [O Livro da Disciplina], v. 4, p. 381–394. 25. Veja NICHIREN. Coletânea dos Escritos de Nichiren Daishonin, v. II, p. 202. 26. Veja OMS. The World Together [O Mundo Unido]. 27. CÚPULA G7. Carbis Bay G7 Summit Communiqué [Declaração de Carbis Bay na Cúpula do G7], p. 6.

02/05/2022

Editorial

Novo foco para nova construção

O papel do Mestre é abrir caminhos, principalmente em meio a grandes desafios. É justamente o que o Dr. Daisaku Ikeda, presidente da Soka Gakkai Internacional (SGI), faz ao explicar, na Proposta de Paz deste ano, por que ainda acredita na capacidade do ser humano de superar as crises que enfrenta, atualmente, em níveis individual, social e global — e ao mostrar como podemos fazer isso na prática. O Dr. Ikeda ressalta, ao longo do documento, o potencial de cada pessoa, individualmente ou aliada a projetos e iniciativas maiores, de ser o elemento-chave para a transformação social e para a construção de um novo futuro. Da mudança de foco necessária no dia a dia para não nos sentirmos limitados pela realidade nem distantes dos problemas, a casos específicos como o da menina com deficiência refugiada e os projetos de educação a distância na África, o Mestre se vale de diversos exemplos e abordagens que nos permitem olhar tudo por outro ângulo. Isso está em total acordo com a extensa produção literária e com as ações práticas dedicadas ao desenvolvimento do ser humano e da própria sociedade global por parte do Dr. Ikeda. Por décadas, ele se empenha diariamente para despertar o potencial ilimitado de cada um de nós, a fim de que não só vençamos os obstáculos à frente, mas criemos um novo caminho rumo a um futuro de esperança. No volume 30, parte 2, do romance Nova Revolução Humana, o Mestre afirma:1 “O espírito de luta cultivado com incessantes esforços em meio a épocas difíceis torna-se a ilimitada força para uma nova construção”. Esperamos que esta proposta lhe inspire, a cada dia, a renovar o foco dado às questões enfrentadas, a renovar o espírito de luta e a construir, à sua maneira, um futuro brilhante para si e para as gerações que virão. Excelente leitura! Redação Nota: 1. IKEDA, Daisaku. Nova Revolução Humana. São Paulo: Editora Brasil Seikyo, v. 30-II, p. 47, 2021.

02/05/2022

Proposta de Paz

Proposta de Paz: principais ideias

Reconstituição do tecido social Considerando o cenário mundial ainda crítico e incerto devido às consequências de dois anos de pandemia da Covid-19, o Dr. Daisaku Ikeda inicia a Proposta de Paz deste ano mostrando como cada pessoa pode fazer parte dos esforços globais para reconstituir o tecido social. Esse é o primeiro desafio apresentado no documento. Consciência global de solidariedade O segundo desafio é a criação de uma consciência de solidariedade que se estenda para todo o mundo. Nessa parte, o Dr. Ikeda cita exemplos de medidas possíveis e de situações dentro da área da saúde, lançando luz ao tema que considera elemento-chave para a superação da atual crise. Economia que oferece esperança e dignidade O terceiro desafio é o de desenvolver uma economia que inspire esperança nos jovens e que permita às mulheres brilharem com dignidade. Consciente do estado de desesperança e de ansiedade de muitos jovens e da desigualdade ainda sofrida pelas mulheres, o Dr. Ikeda mostra por que a reconstrução da economia mundial deve estar necessariamente baseada nesses dois pontos. Esforços centrados na ONU para a superação da crise climática A partir desse tópico, o autor apresenta propostas concretas para três áreas temáticas centrais, sendo a mudança climática a primeira delas. Aqui, o Dr. Ikeda cita o exemplo dos “bens comuns globais” e propõe uma participação maior dos jovens nos esforços mundiais para enfrentar a crise climática. Ambientes de aprendizado saudável para as crianças A segunda área temática é a educação. O Dr. Ikeda ressalta o impacto da pandemia no ensino e o que isso significou na vida de cada aluno e chama a atenção para a necessidade do aprimoramento da inclusão na educação de todos os níveis, além da priorização mundial à assistência educacional em situações de emergência. Abolição das armas nucleares: a chave para um futuro global sustentável A terceira área temática é o imperativo da realização da abolição das armas nucleares. Para isso, o autor faz duas propostas: a primeira envolve passos para libertar o mundo das doutrinas de segurança dependentes de tais armas. Nossa responsabilidade compartilhada pelo futuro E a segunda e última proposta apresenta o Tratado de Proibição de Armas Nucleares (TPAN) como ferramenta indispensável na proteção da paz da humanidade e na preservação do ecossistema global. Aqui, o Dr. Ikeda relembra o brado do seu mestre, Josei Toda, pela abolição das armas nucleares, e mostra que concretizar essa tarefa é a forma de cumprir com a responsabilidade de todos pelo futuro. > Para começar a ler a Proposta de Paz em partes, clique aqui. > Para ler a Proposta de Paz na íntegra, clique aqui.

02/05/2022

Proposta de Paz

Reconstituir o tecido social (parte 2 de 8)

O primeiro desafio é encarar de cabeça erguida as questões que a pandemia expôs e reconstituir o tecido social para que ele dê suporte à vida das pessoas nos anos e nas décadas que virão. Embora a Covid-19 tenha impactado todos os setores e aspectos da sociedade, o grau do impacto diferiu de acordo com as condições nas quais as pessoas se encontravam. Para aqueles em situação de vulnerabilidade — que estavam em circunstâncias ainda mais desesperadoras —, as dificuldades enfrentadas são maiores do que uma pessoa poderia suportar. E isso se aplica até para os que antes tinham condições de vida relativamente estáveis. A intensidade das consequências que os indivíduos sofrem depende de uma série de fatores. Por exemplo, eles podem contar com as pessoas ao seu redor para apoiá-los caso fiquem doentes? Eles são capazes de assegurar os meios para continuar trabalhando mesmo que medidas restritivas sejam adotadas para conter o contágio? Eles têm a capacidade de responder a mudanças rápidas e dramáticas em seu ambiente? Ainda que seja urgente a reconstituição da vida social, se o interesse estiver focado apenas em dados estatísticos, como o número de pessoas infectadas ou índices econômicos, isso poderá dar origem a pontos cegos éticos que resultarão em grande número de pessoas deixadas para trás. A preocupação é que tais pontos cegos possam agravar as disparidades nas implicações, no ritmo e na capacidade da recuperação. A pandemia da Covid-19 afetou toda a sociedade humana; isso significa que, diferentemente de desastres nos quais os impactos negativos estão geograficamente concentrados ou delimitados, as pessoas que precisam de assistência não estão em único espaço visível, em área de evacuação. Há o risco de, em adição a nova e quase visceral consciência de nossos contatos e interações, surgida com os esforços para se prevenir a difusão da infecção, a necessidade de nos proteger tenha criado um tipo de “quarentena da consciência”. Isso, por sua vez, dificultou nosso envolvimento com o que estivesse além do nosso ambiente imediato. No que se refere à busca de caminhos para eliminar essas disparidades nos impactos e no processo de recuperação, quero citar uma palestra proferida pelo secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, em julho de 2020, alguns meses depois de a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarar a Covid-19 uma pandemia. Endereçando-se a um evento que celebrava o aniversário natalício do falecido presidente da África do Sul, Nelson Mandela (1918–2013), cuja vida foi devotada às causas dos direitos humanos e da justiça social, o secretário-geral focou sua análise não nos perigos e nas ameaças apresentados pela pandemia, mas nas pessoas que foram, de fato, impactadas por ela. Ele notou que o vírus é um grande risco para os mais marginalizados, àqueles que vivem na pobreza, idosos e pessoas com deficiência e más condições de saúde preexistentes.3 Ao descrever como a Covid-19 pode ser “comparada a um raio x ao revelar fraturas no frágil esqueleto das sociedades que nós próprios construímos”, ele clamou pelo desenvolvimento de novo contrato social para nova era.4 O secretário-geral também mencionou as seguintes palavras que o presidente Mandela dedicou ao povo da África do Sul, ao apresentar o direcionamento para concretizar tal visão: “Um dos desafios da nossa época... é o de incutir novamente na consciência do nosso povo o senso de solidariedade humana, de estar no mundo uns pelos outros, por causa dos outros e por meio dos outros”.5 Tive o privilégio de me encontrar com o presidente Mandela em duas ocasiões e essas palavras trazem à minha mente o rosto dele, que transmitia um aspecto cálido e primaveril. Em minha Proposta de Paz de 2015, considerei as limitações da teoria do contrato social, parte constituinte das correntes profundas que sustentam o pensamento político moderno. Assim, referenciei seus aspectos problemáticos conforme foram apresentados pela filósofa política norte-americana Martha C. Nussbaum. A teoria do contrato social tem suas origens em pensadores a exemplo de Thomas Hobbes (1588–1679) e John Locke (1632–1704). Nussbaum observa em seu trabalho Frontiers of Justice [Fronteiras da Justiça]: “Todos os teóricos clássicos assumiram que seus agentes contratuais eram homens de capacidade equivalente e aptos para exercer atividade econômica produtiva”.6 Como resultado, enquanto se deu grande ênfase à ideia da vantagem mútua, na realidade, mulheres, crianças e idosos foram excluídos, e pouco progresso foi feito para se incluir plenamente os demais, como as pessoas com deficiência, na vida em sociedade. É profundamente lamentável que, mesmo em meio à crise da Covid-19, esse pensamento estabelecido continue a exercer uma influência poderosa. Nos espaços de decisão instituídos para responder à pandemia, a participação das mulheres foi limitada e surgiram críticas de que muitas respostas foram desenvolvidas sem considerar as questões de gênero. Os interesses das crianças raramente tiveram a atenção que merecem e a Covid-19 causou perdas enormes em oportunidades educacionais. Na mesma proporção, isso se deu com as crianças que foram privadas de apoio por conta do desemprego, da doença ou do falecimento de seus pais, guardiães ou familiares. As respostas de emergência também falharam em priorizar as necessidades dos idosos e dos enfermos, e muitos foram privados de receber os serviços essenciais ou forçados a viver em isolamento por períodos extensos. Mesmo sob condições de não emergência, pessoas com deficiência tiveram dificuldades em acessar os serviços médicos e a informação necessária; esses e outros aspectos de sua vida se tornaram ainda mais desafiadores durante a pandemia. A melhoria das condições para as populações vulneráveis é crucial, com especial foco em cada indivíduo. Chegou a época de nos libertarmos da ideia clássica de vantagem mútua enquanto encaramos essas realidades. Ao considerarmos tal mudança de paradigma, vale atentarmos para as palavras do secretário-geral Guterres, proferidas na ocasião do Dia Mundial do Refugiado, em junho do ano passado: “Todos nós ficamos curados quando recebemos os cuidados de que precisamos”.7 Atualmente, mais de 82,4 milhões de pessoas no mundo foram forçadas a fugir de sua casa e até de seu país para escapar dos perigos inter-relacionados a conflitos, perseguições e mudanças climáticas,8 e agora se encontram vivendo em situações nas quais são excluídas dos sistemas de bem-estar social dos países anfitriões. O secretário-geral Guterres serviu por muitos anos como Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados, e seu apelo em prol dos refugiados e das pessoas deslocadas internamente, cujas situações precárias se deterioraram ainda mais com a crise da Covid-19, carrega pungência e peso particulares. De forma similar, não posso evitar de sentir uma convergência entre a essência desse pensamento e o ideal da SGI — o compromisso de concretizar a dignidade e a felicidade para si e para os outros. O Sutra Vimalakirti, um texto do budismo Mahayana, inclui um episódio que ressoa essa visão de mundo e sensibilidade à vida. Em certa ocasião, Vimalakirti, discípulo de Shakyamuni (Buda histórico), profundamente respeitado pela forma com a qual interagia com as pessoas nas mais variadas condições de vida sem estabelecer qualquer diferença ou distanciamento, adoeceu. Ao tomar conhecimento disso, Shakyamuni deslocou um grande número de seguidores liderados por seu discípulo mais próximo, Manjushri, para visitar Vimalakirti. Depois de transmitir a preocupação de Shakyamuni e os melhores votos por sua recuperação, Manjushri perguntou a Vimalakirti como ele havia adoecido, por quanto tempo ele estava adoentado e o que poderia curá-lo. Vimalakirti respondeu: “Como todos os seres vivos estão doentes, eu também estou doente”. E fez a seguinte analogia para expressar com mais fidelidade o que queria dizer: “É como o caso de um homem rico que tem apenas um filho. Se a criança ficar doente, o pai e a mãe também adoecerão, mas se o mal da criança for curado, os pais também poderão se curar”. Ele explicou que, por ser alguém que dedicou a vida como bodisatva, seus sentimentos pelas outras pessoas eram como os sentimentos de um pai ou de uma mãe [em relação aos filhos]. Por isso, “se os seres vivos estão doentes, o bodisatva também adoecerá, mas se os seres vivos forem curados, o bodisatva também restabelecerá a saúde”.9 Como se vê, Vimalakirti não estava, de fato, sofrendo de nenhuma doença específica. Em vez disso, sua empatia — a dor compartilhada que não poderia ser extinta enquanto outros estivessem sofrendo — se manifestou na forma de enfermidade. Para Vimalakirti, compartilhar a dor com aqueles que sofrem não era algo experimentado como peso ou fardo, mas a evidência de que ele continuava a viver com autenticidade. Ele estava sintonizado com a verdade vital de que nossa segurança individual não pode ser concretizada de forma isolada das condições de privação enfrentadas pelos outros. Quando consideramos a crise da Covid-19 à luz dessa perspectiva budista, naturalmente somos levados a questionar o que significa viver com felicidade e saúde em uma época na qual tantas pessoas no mundo são severamente impactadas pela enfermidade e seus efeitos colaterais. Nesse contexto, eu me lembro das palavras do economista John Kenneth Galbraith (1908–2006) em um diálogo que realizamos. Intelectual de grande renome, o professor Galbraith tinha vivido na pele várias crises, incluindo a Grande Depressão, a Segunda Guerra Mundial e a Guerra Fria, e havia sido profundamente tocado por testemunhar incessantes chagas infligidas à vida das pessoas. Isso o fez questionar de maneira contínua não só a ordem econômica, mas a própria organização da sociedade. Quando o questionei sobre como poderíamos configurar o mundo do século 21, ele respondeu que deveríamos visar à criação de “um século no qual as pessoas possam dizer ‘Gosto de viver neste mundo’”.10 Em nosso diálogo, também abordamos a visão de mundo budista — expressa pela frase do Sutra do Lótus “Os seres vivos vivem felizes e tranquilos”11 — de que nascemos nesta vida a fim de saborear a alegria. Nosso diálogo ocorreu em 2003 e, ao longo dos últimos anos, meu entendimento sobre a verdade contida nas palavras do professor Galbraith apenas se intensificou: agora, mais que nunca, precisamos construir uma sociedade na qual as pessoas possam enfrentar e superar juntas até as mais severas adversidades, compartilhando a alegria por estar vivas. Este ano, 2022, marca o sétimo ano desde a adoção dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas (ONU), visando o ano de 2030. O progresso rumo à concretização dos ODS foi, em grande parte, prejudicado pela pandemia e, a fim de recomeçar e acelerar o avanço, acredito que seja importante dar corpo ao espírito central dos ODS — a determinação de não deixar ninguém para trás — ao adicionar uma visão ainda mais ampla sobre a construção de uma sociedade na qual todos possam cultivar a alegria de estar vivos. Em ocasiões imediatamente posteriores a desastres, o espírito de não deixar ninguém para trás tende a ser compartilhado de forma espontânea. Porém, conforme os esforços de reconstrução avançam, por vezes esse sentimento desaparece da consciência das pessoas. Além disso, quanto maior a escala do desafio — como em uma pandemia ou mudança climática — maior o perigo de que fiquemos focados exclusivamente na ameaça e, mesmo que saibamos que é importante não deixar ninguém para trás, nosso compromisso em fazê-lo pode enfraquecer ao longo do tempo. Por isso, devemos centralizar nossos esforços em assegurar que os expostos a maiores perigos encontrem em seu ambiente pessoas a quem possam recorrer. Neste ponto, gostaria de revisitar a palestra ministrada por Makiguchi que citei anteriormente, na qual ele discutiu a importância de se manter um foco equilibrado e perspicaz. Com relação ao que se qualificaria como um ato de “grande bem” possível de ser realizado pelos membros de uma sociedade, Makiguchi ressaltou que, embora de forma tradicional, se pensava que um ato de “grande bem” fosse algo com significativo impacto em escala nacional. Mas não é o tamanho ou a escala das ações o que realmente importa. Se você pode salvar a vida de alguém ao lhe oferecer um copo de água, não seria esse gesto impossível de se pagar com qualquer soma de dinheiro? Nesse exemplo, podemos compartilhar a convicção de Makiguchi de que “o valor não é encontrado nas coisas, mas nas relações”.12 Não há uma solução de “forma única” para o espectro diversificado dos problemas que as pessoas estão enfrentando. Portanto, a questão essencial a ser respondida é como cada um de nós pode se tornar a mão que se estende em apoio aos que enfrentam dificuldades, e como fortalecer o tipo de relação na qual participamos da alegria um do outro ao superarmos as respectivas provações. No Sutra do Lótus, ensinamento no qual a essência do budismo é exposta, encontramos as seguintes analogias: “como uma fogueira para quem passa frio”; “que encontra um barco para atravessar as águas”; “alguém que acha uma lamparina no meio da escuridão”.13 O sentimento de alívio e até de alegria que emergem em uma pessoa ao receber ajuda no encontro de um porto seguro, depois de ter sido arrastada pela correnteza das provações da vida e de ter cedido ao desespero (...). Devemos nos concentrar na construção de uma sociedade em que tais sentimentos — a percepção efetiva de que, de fato, é bom estar vivo — são compartilhados por todos. Teoria do contrato social Um contrato social é um acordo real ou hipotético, feito entre cidadãos ou entre governante e governados, que estabelece regras políticas e morais de determinada sociedade. Com a condição de que todos concordem em abdicar de algumas liberdades em prol do estabelecimento de uma autoridade soberana ou central, garante-se aos indivíduos segurança e direitos iguais. Apesar de os primeiros proponentes da teoria do contrato social terem visões diferentes sobre a natureza humana, eles geralmente concordam que sem algum tipo de contrato social o conflito entre as pessoas inevitavelmente surgiria. Ao aceitarmos nossa obrigação de também proteger os direitos dos outros, argumentam eles, conquistamos os direitos civis. Os teóricos do contrato social demonstraram que seria racional assumir tal contrato em prol da vantagem mútua e voluntariamente renunciar a algumas das liberdades individuais. > Para ler a parte 3 de 8 clique aqui. Notas: 3. GUTERRES. Secretary-General’s Nelson Mandela Lecture [Palestra do Secretário-geral sobre Nelson Mandela]. 4. Ibidem. 5. MANDELA. 5th Steve Biko Lecture [5ª Palestra de Steve Biko]. 6. NUSSBAUM. Frontiers of Justice [Fronteiras da Justiça], p. 14. 7. GUTERRES. Secretary-General’s Message [Mensagem do Secretário-geral]. 8. ACNUR. UNHCR: Conflict, Violence, Climate Change [ACNUR: Conflito, Violência, Mudança Climática]. 9. WATSON, trad. The Vimalakirti Sutra [Sutra Vimalakirti], p. 65–66. 10. (Tradução de) IKEDA e GALBRAITH. Ningenshugi no Daiseiki o [Rumo à Criação da Era do Humanismo], p. 67. 11. WATSON, trad. The Lotus Sutra [Sutra do Lótus], p. 272. 12] (Tradução de) Makiguchi Tsunesaburo Zenshu [Obras Completas de Tsunesaburo Makiguchi], v. 10, p. 157. 13. WATSON, trad. The Lotus Sutra [Sutra do Lótus], p. 328.

02/05/2022

Proposta de Paz

Nossa responsabilidade compartilhada pelo futuro (parte 8 de 8)

Minha segunda proposta relacionada às armas nucleares diz respeito ao Tratado de Proibição de Armas Nucleares (TPAN), e aqui mais uma vez insisto fortemente ao Japão e a outros Estados dependentes de energia nuclear, e aos Estados possuidores de armas nucleares, que participem como observadores na primeira reunião dos Estados-membros (1MSP) do TPAN a ser realizada em março, em Viena. Também sugiro que um compromisso seja firmado nessa reunião para criar um secretariado permanente que assegure o cumprimento das obrigações e da cooperação internacional estipulada pelo TPAN. A Suíça, a Suécia e a Finlândia, países não signatários do TPAN, assim como a Noruega e a Alemanha, membros da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), já indicaram que participarão dessas reuniões como observadores. A Otan tem o histórico de permitir que Estados-membros escolham seu próprio caminho em relação às armas nucleares. O TPAN, por sua parte, não inclui proibição específica sobre os Estados-membros formarem alianças com Estados com armas nucleares. O significado da Noruega e da Alemanha buscarem o status de observadores na primeira reunião dos Estados-membros é verdadeiramente profundo, assim como muitas cidades em países membros da Otan se juntaram a centenas de municipalidades ao redor do mundo na assinatura do Apelo das Cidades da Campanha Internacional pela Abolição das Armas Nucleares (Ican), pela qual as cidades expressam seu apoio ao TPAN e encorajam seus respectivos governos a se juntar ao tratado. A lista de cidades que apoiam o Apelo das Cidades inclui tanto Hiroshima e Nagasaki como aquelas em países que possuem armas nucleares, a exemplo dos Estados Unidos, do Reino Unido, da França e da Índia.91 A pauta da 1MSP do TPAN incluirá o oferecimento de assistência a vítimas de uso e teste de armas nucleares, bem como à recuperação de ambientes contaminados. O Japão deveria participar das discussões, e assim contribuir para compartilhar as tragédias da devastação vivida no bombardeio atômico e as lições do acidente nuclear de Fukushima ocorrido em 2011. Em entrevista recente, o Dr. Oliver Meier, pesquisador sênior do escritório de Berlim do Instituto de Pesquisa de Paz e Política de Segurança da Universidade de Hamburgo, disse que o compromisso da Alemanha ao participar como observador na primeira reunião poderia contribuir para reforçar o multilateralismo e o desarmamento nuclear. Quando questionado sobre o desejo do Japão em servir como uma ponte entre os Estados com armamentos nucleares e os que não o possuem, ele respondeu que, ao participar como observador, o Japão poderia desempenhar um papel que somente um país que viveu o ataque atômico poderia desempenhar, ressaltando que uma “ponte” não pode cumprir seu papel sem diretamente participar de discussões de ambos os lados.92 Em 2017, o Japão organizou o Grupo de Pessoas Eminentes para o Avanço Substantivo do Desarmamento Nuclear (Group of Eminent Persons for Substantive Advancement of Nuclear Disarmament, ou SAG, em inglês) convidando especialistas tanto do lado dos Estados possuidores de armas nucleares como do lado dos países que não as possuem. Reuniões posteriores também foram realizadas e as deliberações da 1MSP do TPAN poderiam ser ainda mais construtivas se o Japão participasse como um observador e reportasse as descobertas do processo do SAG. Exorto ao Japão promover tais esforços enquanto trabalha rumo à assinatura e à ratificação do tratado. A primeira reunião dos Estados-membros da Convenção sobre as Munições de Fragmentação, por exemplo, teve a participação de 34 Estados como observadores, muitos dos quais mais tarde se tornaram Estados-membros.93 De forma similar, é essencial que o máximo possível de Estados participe como observadores na 1MSP do TPAN a fim de testemunharem diretamente sobre os esforços iniciais e a firme determinação dos Estados-membros e da sociedade civil em concretizar a abolição das armas nucleares. Isso ajudará a construir e compartilhar a valorização de como o TPAN abre novos horizontes de possibilidades em nosso mundo. O significado do TPAN vai além de ser uma estrutura de um tratado convencional sobre desarmamento que tem em seu cerne o compromisso com as normas humanitárias — prevenir destruições catastróficas — e com os direitos humanos — salvaguardar o direito das pessoas do mundo à vida. Em termos de bens comuns globais, que mencionei anteriormente como relacionados ao problema da mudança climática, o TPAN é indispensável na proteção da paz da humanidade como um todo e na preservação do ecossistema global, a base da vida da presente e das futuras gerações. Ao termos em mente o significado do TPAN, discussões abertas e francas devem abordar os impactos negativos da segurança dependente de armas nucleares no mundo, em nossa vida atual e no futuro. Essa primeira reunião pode servir como oportunidade para o diálogo, independentemente das diferenças. Enquanto o número dos Estados-membros cresce e mais países sentem que não podem assinar ou ratificar o TPAN, mas também começam a se conscientizar positivamente sobre o seu verdadeiro valor e significado, permaneço confiante de que isso catalisará a energia e a vontade política necessárias para pôr um fim à era das armas nucleares. É por essa razão que solicito o estabelecimento de um secretariado permanente para servir como veículo da união dos esforços dos governos e da sociedade civil para universalizar os ideais e os compromissos do TPAN. Por meio da campanha Década do Povo pela Abolição Nuclear, lançada inicialmente pela SGI em 2007, trabalhamos com o Ican e outros grupos para defender a adoção de um tratado de banimento das armas atômicas. A segunda Década do Povo pela Abolição Nuclear começou em 2018, depois que o TPAN foi criado. A segunda década concentra-se na universalização dos ideais do TPAN por meio do trabalho de atores da sociedade civil. Neste ano, temos o compromisso de avançar com ímpeto nessa direção porque estamos convencidos de que o apoio das pessoas de todo o mundo é uma base fundamental para o fortalecimento da eficácia do tratado. Lembro-me da forma enfática que o professor Galbraith se colocava sobre a eliminação da ameaça nuclear, “como algo que todos devemos nos dedicar para conquistar” — uma conclusão que reflete sua experiência direta com muitas crises do tumultuado século 20. Na conclusão do seu livro de memórias, Uma Vida em Nossa Época, ele escreveu: “Notei que aqueles que escrevem suas memórias têm dificuldade de saber quando, em assuntos públicos, eles devem se deter”.94 Por sua vez, ele fechou o livro com um assunto fora do tema de economia, seu campo de especialização. Escolheu, em vez disso, concluir falando sobre as armas nucleares, a realidade que nunca saiu de sua mente desde que visitou o Japão no outono de 1945, logo depois dos bombardeios de Hiroshima e de Nagasaki. Para tanto, ele lembrou um discurso que havia feito em 1980: Se falharmos em controlar a corrida nuclear, todos os outros assuntos que debatemos nesta época não terão mais significado. Não haverá mais questões de direitos civis, porque não haverá ninguém para gozá-los. Não haverá problema de deterioração urbana porque nossas cidades estarão destruídas. Então que discordemos, digo com bom humor, nas outras questões (...), mas concordemos em dizer a todos os nossos compatriotas, todos os nossos aliados, todos os seres humanos, que nos dedicaremos para acabar com esse horror nuclear que atualmente paira como uma nuvem sobre toda a humanidade.95 Conforme o professor Galbraith observou tão incisivamente, a natureza desumana das armas de destruição em massa não se limita às consequências catastróficas de seu uso. Não importa quantas pessoas lutem por um mundo e por uma sociedade melhor, ou por quanto tempo, uma vez que o intercâmbio de forças nucleares começar, tudo será em vão. A realidade da era nuclear é que estamos obrigados a viver na constante companhia do pior — o mais incompreensível e absurdo — perigo imaginável. O compromisso da SGI pela abolição das armas nucleares vem desde a declaração do presidente Josei Toda de 1957 clamando por ela. No meio da corrida armamentista entre os Estados com armas nucleares, a União Soviética havia testado com sucesso um míssil balístico intercontinental (ICBM) no mês anterior [agosto], criando uma nova realidade na qual todas as partes do mundo estavam expostas à possibilidade de um ataque nuclear. Em face dessa aterradora realidade, Josei Toda frisou que o uso das armas nucleares por qualquer Estado deveria ser absolutamente condenado, expressando sua indignação pelo pensamento que justifica a posse delas: “Quero expor e extirpar as garras ocultas nas profundezas dessas armas”.96 Recordo-me como se fosse ontem da indignação do meu mestre com a natureza desumana dessas armas, que podem nos arrancar o significado e a dignidade da nossa vida e destruir o funcionamento da sociedade humana da raiz aos galhos. Como seu discípulo, determinado a tornar realidade a visão do meu mestre, senti sua ira justa nas profundezas do meu ser. Com a convicção de que o destino da humanidade não pode ser transformado sem que se resolva o desafio das armas nucleares, o mal fundamental da civilização moderna, vim consistentemente tratando dessa questão em minhas propostas de paz anuais desde 1983 e me empenhando pela proibição das armas nucleares. Muitas décadas depois, o TPAN, um tratado que ressoa o espírito da declaração de Josei Toda, entrou em vigor, e seu primeiro encontro dos Estados-membros está para ser realizado. O estágio crucial dos esforços para abolir as armas nucleares foi enfim atingido, objetivo tão entusiasticamente perseguido por tantas pessoas no mundo, começando pelos hibakusha — as vítimas dos bombardeios de Hiroshima e de Nagasaki e os impactados pelo desenvolvimento e pelos testes dessas armas ao redor do globo. Completar essa tarefa é a forma de cumprir nossa responsabilidade com o futuro. Firme nessa crença, a SGI continuará a avançar, aumentando a solidariedade da sociedade civil com especial foco nos jovens, rumo à criação de uma cultura de paz na qual todos desfrutem o direito de viver na mais autêntica segurança. Notas: 91. Veja ICAN. ICAN Cities Appeal [Apelo das Cidades da ICAN]. 92. Veja Meier. Doku, Kaku Kinshi Joyaku Kaigi Obuzaba Sanka [Significado da Participação da Alemanha como Observadora na 1MSP do TPAN]. 93. Veja ICAN. Observing the First Meeting of States Parties [Observação da Primeira Reunião dos Estados-membros], p. 2. 94. Galbraith. A Life in Our Times [Uma Vida em Nossos Tempos], p. 537. 95. Ibidem. 96. Toda. Declaration Calling for the Abolition of Nuclear Weapons [Declaração pela Abolição das Armas Nucleares].

02/05/2022

Proposta de Paz

Criação de Valor em Tempos de Crise (Parte 1 de 7)

Atualmente, o mundo enfrenta um complexo conjunto de angustiantes crises sem precedentes na história da humanidade. O aumento da crescente incidência anual de eventos climáticos extremos reflete o agravamento das mudanças climáticas; o ataque violento da pandemia do novo coronavírus (Covid-19) ameaça a estabilidade social e econômica de todo o mundo. Uso o termo “sem precedentes” não apenas em referência ao entrelaçamento dos vários níveis sobrepostos da crise que vivemos hoje. A humanidade enfrentou graves desafios ao longo de sua extensa história, mas jamais passou por situação na qual o impacto se estendesse ao planeta inteiro ao mesmo tempo — ameaçando, dessa forma, gravemente a vida, o sustento e a dignidade das pessoas de todos os países, deixando-as em condições nas quais necessitam de assistência urgente. Em 25 de janeiro de 2021, o número de pessoas infectadas pela Covid-19 ultrapassou a casa de 99 milhões; destes, mais de 2,12 milhões faleceram.1 Em pouco mais de um ano, o número de mortos excedeu em muito o total de vidas ceifadas por desastres naturais de larga escala nos últimos vinte anos.2 A intensidade nunca antes vista do sofrimento daqueles que perderam entes queridos, vítimas do vírus, é inimaginável; dor esta apenas acentuada pelo fato de que, devido às medidas de prevenção da disseminação do vírus, muitas vítimas foram impedidas de passar os momentos finais com a família ao seu lado. Agravando ainda mais tal aflição, por ter tirado das pessoas a possibilidade da vivência do luto, o colapso das atividades econômicas levou a um aumento repentino das falências e do desemprego, arrastando um grande número de pessoas à pobreza e à miséria. No entanto, mesmo com as nuvens sombrias da crise a envolver o mundo, os esforços para se criar uma sociedade global dedicada à paz e aos “valores humanos” avançam. Exemplos de importantes progressos incluem a entrada em vigor do Tratado de Proibição de Armas Nucleares (TPAN), em 22 de janeiro deste ano; a ratificação universal de 187 Estados-membros da Organização Internacional do Trabalho (OIT) da convenção que torna ilegal as formas inaceitáveis do trabalho infantil; e a erradicação do vírus selvagem da poliomielite na África. Cada uma dessas conquistas agrega grande valor à luta mundial pela concretização dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) até 2030, ano limite definido pela Organização das Nações Unidas (ONU). Tais sucessos são expressões nítidas da ilimitada capacidade humana de superar obstáculos e de criar uma nova história. Assim podemos definir especialmente o TPAN, que preencheu as condições para entrar em vigor em 24 de outubro do ano passado, Dia das Nações Unidas. O tratado traça um caminho claro para a consecução do tão almejado objetivo de abolição das armas nucleares — questão esta abordada na ONU em 1946, um ano após a sua fundação, na primeira resolução adotada pela Assembleia Geral, e que até então estava pendente. Em setembro de 1957, durante a acelerada corrida nuclear da Guerra Fria, Josei Toda (1900–1958), segundo presidente da Soka Gakkai, lançou sua Declaração pela Abolição das Armas Nucleares. Inspirada por esse documento, nossa organização atuou em prol da completa proibição das armas nucleares e para que esta fosse uma diretriz a governar as relações internacionais. Para isso, a Soka Gakkai Internacional (SGI) colaborou ativamente com organizações como a Campanha Internacional pela Abolição das Armas Nucleares (Ican). À luz dessa história, a entrada em vigor do TPAN é, sem dúvida, motivo para comemorar. Com o mundo ainda se recuperando dos impactos da pandemia, gostaria de examinar algumas abordagens que acredito serem necessárias para superarmos essa complexa crise, assim como oferecer algumas propostas no sentido de impulsionar concretamente o desafio da construção de uma sociedade global de paz e de “valores humanos” no século 21. Erradicação da pólio em regiões africanas A pólio (ou poliomielite) é uma doença viral infecciosa que pode causar paralisia permanente e ser fatal nos casos em que são afetados os músculos relacionados à respiração. Não possui cura, mas a vacinação é capaz de imunizar as pessoas durante toda a vida e, dessa forma, levar à erradicação da doença. Em 2020, todos os 47 países da Região Africana da Organização Mundial da Saúde (OMS) foram declarados livres da pólio selvagem após quatro anos sem nenhum caso do vírus. Tal conquista só foi possível por conta de um programa de vacinação e supervisão liderado pela Iniciativa Global de Erradicação da Pólio, a maior iniciativa de saúde pública da história. Há, no entanto, o risco apresentado por variedades raras do vírus da pólio que sofreram mutações a partir do vírus enfraquecido presente na vacina oral. A pólio se mantém endêmica em dois países: Afeganistão e Paquistão. Notas: 1. Veja OMS. WHO Coronavirus Disease (Covid-19) Dashboard [Painel da OMS sobre a Doença do Coronavírus (Covid-19)]. 2. Veja UNDRR. Human Cost of Disasters [Custo Humano dos Desastres], p. 6. Continua...

03/05/2021

Proposta de Paz

Proposta de Paz: principais ideias

A determinação de nunca deixar para trás aqueles que enfrentam desafios Diante do cenário extremamente complexo causado pela pandemia da Covid-19, o Dr. Daisaku Ikeda tece o presente documento a fim de oferecer propostas práticas para impulsionar o desafio da construção de uma sociedade global de paz e “valores humanos” no século 21. Como primeiro ponto de atenção, ele cita a importância de não deixar ninguém para trás, especialmente aqueles que se encontram à margem de práticas atualmente consideradas essenciais, sejam relacionadas ao uso de plataformas digitais ou aos cuidados básicos de higienização e distanciamento físico. Estabelecer uma ação global solidária Na segunda área temática, agora em âmbito mundial, o autor ressalta a necessidade dos esforços conjuntos de diferentes nações, principalmente por meio de órgãos e de plataformas internacionais, como o Covax Facility, para que a administração e futura superação da atual crise seja possível. Construir uma cultura de direitos humanos Na terceira área temática, em face da atual difusão de informações errôneas sobre o novo coronavírus e do efeito negativo que a denominada “infodemia” pode gerar na sociedade e na vida de cada indivíduo, o Dr. Ikeda explica de que forma a educação e a consciência sobre os direitos humanos, bem como a percepção da dignidade da vida de si e do outro, são antídotos essenciais para esse mal. Diretrizes internacionais para combater doenças infecciosas Na segunda parte do documento, o Dr. Ikeda expõe propostas específicas para três temas visando o futuro, sendo o primeiro o estabelecimento de diretrizes internacionais para o combate à Covid-19, colocando a ONU e, principalmente, os jovens como protagonistas de tais estabelecimentos. TPAN — ponto de virada na história da humanidade O segundo tema aborda a entrada em vigor do Tratado de Proibição de Armas Nucleares (TPAN) como ponto de partida para a necessidade urgente de países que ainda possuem ou dependem de tecnologias nucleares redirecionarem seus esforços e insumos para sistemas de saúde e demais setores da sociedade local e global afetados pela atual crise. Reconstituir a vida em um mundo pós-Covid No terceiro tema, o autor aborda exemplos concretos, do piso de proteção social da ONU à Grande Muralha Verde, da África, como caminhos possíveis e já iniciados para reconstrução não só da economia global, mas especialmente da vida de mais de um bilhão de pessoas severamente afetadas pelas consequências da pandemia. Clique aqui caso queira realizar a leitura da Proposta de Paz por artigos. Clique aqui caso queira acessar e baixar o pdf da Proposta de Paz de 2021 na íntegra.

03/05/2021

Editorial

O papel de cada um

A essência do ensinamento budista (...) Identifica nas profundezas da vida de uma pessoa mergulhada no sofrimento sua condição de buda. Buda, por sua vez, indica o caminho para despertar e manifestar o sublime bem, a criatividade e o protagonismo inerentes à vida de todas as pessoas. Chamamos esse empreendimento de transformação da vida de “revolução humana”. Os protagonistas da construção da sociedade, da nação e do mundo são os próprios seres humanos. O ódio ou a confiança, o desprezo ou o respeito, a guerra ou a paz são todos produtos da determinação em um único momento do ser humano.1 O momento em que vivemos atualmente guarda certa semelhança com o trecho do posfácio do romance Nova Revolução Humana exposto acima. Ao mesmo tempo em que cada um de nós pode se encontrar “mergulhado no sofrimento” pelo prolongado enfrentamento da pandemia da Covid-19 e as consequências derivadas dela, agora temos em mãos um documento que mostra em detalhes como podemos agir enquanto “protagonistas da construção da sociedade, da nação e do mundo”. A jornada até aqui não foi fácil. Há mais de um ano convivemos com a necessidade da constante readaptação, e para a Terceira Civilização não foi diferente: depois de mais de cinquenta anos sendo impressa, a revista teve de se adequar ao meio digital. Neste mês de maio, completa um ano desde o lançamento da primeira Proposta de Paz totalmente pelo aplicativo BS+. Diante de tudo isso, desejamos que esta edição inspire em você, leitor, a determinação de “neste momento” realizar sua revolução humana e assumir papel ativo na transformação social imprescindível aos nossos tempos, a fim de construir junto com as pessoas, que tenham o mesmo objetivo, “uma sociedade global de paz e valores humanos no século 21”, conforme o desejo do presidente da SGI, Dr. Daisaku Ikeda, exposto nesta proposta. Excelente leitura! Redação Nota: 1. IKEDA, Daisaku. Nova Revolução Humana. São Paulo: Editora Brasil Seikyo, v. 30, pt. II, p. 358, 2021.

03/05/2021

Humanismo/sociedade

Redirecionar o curso da história

Trecho retirado da Proposta de Paz da edição de maio de 2020 da revista Terceira Civilização, com foco no primeiro compromisso exposto pelo Dr. Daisaku Ikeda: “não deixar ninguém para trás”. Em seus primeiros anos, a Soka Gakkai era mencionada de forma depreciativa como organização de pobres e doentes. Por meio do encorajamento mútuo, essas pessoas comuns, descartadas pela sociedade, conseguiram se reerguer das profundezas da infelicidade, história da qual temos muito orgulho. (...) Quando me tornei terceiro presidente da Soka Gakkai, há sessenta anos, iniciei minhas ações concretas pela paz mundial viajando aos Estados Unidos, onde visitei a sede das Nações Unidas em Nova York. Assim estava agindo como herdeiro da visão do meu mestre. A partir de então, o apoio à ONU tornou-se o pilar central do nosso engajamento social, fortalecendo nossas relações colaborativas com indivíduos de mesma visão e organizações civis, enquanto continuamos a desenvolver iniciativas para encontrar soluções para os desafios globais. Logo depois da minha visita a Nova York, em 1960, a Nona Sinfonia, de Beethoven, foi apresentada na sede da ONU como parte das celebrações do Dia da ONU (24 de outubro). O concerto foi realizado por sugestão do secretário-geral da época, Dag Hammarskjöld (1905–1961). Até então, apenas a parte final da Nona Sinfonia, o quarto movimento com o comovente coro Ode à Alegria, era executado, mas no aniversário de quinze anos de fundação da ONU, a obra foi apresentada na íntegra. Hammarskjöld disse ao público: “Quando a Nona Sinfonia se inicia, entramos em um drama repleto de conflito extremo e de ameaças sombrias. Mas o compositor nos leva adiante e, no começo do último movimento, nós ouvimos novamente os vários temas, agora como uma ponte em direção à síntese final”. Ao comparar o andamento da Nona Sinfonia com a história humana, Hammarskjöld expressou sua esperança de “nunca perder a fé em que os primeiros movimentos um dia serão seguidos pelo quarto movimento”. A convicção de Hammarskjöld ressoa com a progressão de eras históricas apresentadas por Makiguchi em Geografia da Vida Humana. As formas de competição militar, política e econômica pelas quais pessoas e sociedades buscam sua própria segurança e prosperidade à custa de outros preocupavam muito Makiguchi no começo do século 20. Infelizmente essas ideias ainda fazem parte do nosso mundo. Mas, assim como a sessão coral do quarto movimento da Nona Sinfonia começa com a frase O Freunde, nicht diese Töne! [Oh, amigo, esses tons não!], seremos capazes de criar novas abordagens para transformar formas enraizadas de competição. Makiguchi propôs que a essência dessa transformação deve surgir do que ele chamava de “competição humanitária” ou “formas de competição humana”, nas quais um lado se beneficia ao mesmo tempo em que trabalha pelo bem dos outros. Ao gerar uma solidária ação global para confrontar o desafio das mudanças climáticas, podemos e devemos produzir esse tipo de mudança de paradigma, abrindo novos horizontes na história humana. Acredito que o centro desse desafio é o compromisso de nunca abandonar aqueles em circunstâncias difíceis e alarmantes. Ao agirmos com base nesse compromisso, onde quer que estejamos, podemos transformar a crise sem precedentes das mudanças climáticas em oportunidade de redirecionar o curso da história. Para ler a Proposta de Paz 2020 na íntegra, acesse: https://app.brasilseikyo.com.br/conteudo/999556569/rumo-ao-futuro-compartilhado-construindo-uma-era-de-solidariedade-humana

03/06/2020

Humanismo/sociedade

Local de vidas compartilhadas

Trecho extraído da Proposta de Paz da edição de maio de 2020 da revista Terceira Civilização, com foco no primeiro compromisso exposto pelo Dr. Daisaku Ikeda: “não deixar ninguém para trás”. O primeiro compromisso deve ser nunca deixar para trás os que lutam para sobreviver em situações adversas. Em anos recentes, a dimensão dos danos causados por desastres naturais se expandiu, devido a eventos climáticos extremos. Tais impactos afetam tanto os países desenvolvidos como os em desenvolvimento. No ano passado, os tufões Faxai e Hagibis atingiram diversas regiões no Japão, sendo a causa de vendavais, chuvas intensas e inundações a deixar vastas regiões do país sem água e energia elétrica, destruindo o tecido da vida diária. (...) Tanto o clima como o comércio afetam de forma profunda a economia e a sociedade. Nesse sentido, acredito que a visão do presidente fundador da Soka Gakkai, Tsunesaburo Makiguchi (1871–1944), estabelecida em seu trabalho Jinsei Chirigaku [Geografia da Vida Humana], de 1903, merece nossa atenção. Makiguchi comparou a natureza limitada no tempo do conflito militar com a natureza constante e duradoura nos tempos da competição econômica. A primeira, disse ele, acontece subitamente e produz um terrível sofrimento do qual estamos conscientes, enquanto a última ocorre gradualmente e sem drama, de forma a não chamar a atenção. Makiguchi buscou ressaltar que, por conta da crueldade da guerra ser bem visível, as pessoas têm consciência clara dela e criam oportunidades para evitar um mal maior por meio de negociações ou mediações. Não é o caso da competição econômica, conduzida de forma contínua e em parte inconsciente, cujos efeitos são vistos como determinados por meio de um processo de “seleção natural”. Dessa forma, eles desaparecem no cenário da vida social, tornando-nos suscetíveis a ignorar as condições desumanas e o sofrimento que resultam deles. Na época de Makiguchi, o mundo era assolado pelas forças do imperialismo e do colonialismo, e se considerava natural buscar prosperidade à custa de outras sociedades. Essa visão do mundo implicava aceitar que certos setores ou grupos seriam sacrificados e que a privação deles não nos afetaria. Ideia essa construída nas profundezas da sociedade como uma camada de sedimentos ou de lodo. Dessa forma, a competição econômica da “sobrevivência do mais forte” tende a acelerar sem trégua a previsão de Makiguchi de que “em última instância, o sofrimento que ela causa é muito mais devastador (que o da guerra)”. No século 21, quando globalização e integração econômica avançaram muito além do tempo de Makiguchi, tais riscos são maiores que nunca. Makiguchi jamais negou o valor da competição no funcionamento da sociedade, considerando que o empenho mútuo pela excelência é fonte de energia enriquecedora e de criatividade. Mas ele considerava problemática a tendência de ver o mundo exclusivamente como um local de competição pela sobrevivência, ao alicerçarmos nosso comportamento no pressuposto de que nossa vida é independente de todas as demais e na contínua negação dos efeitos de tal comportamento. A base do pensamento de Makiguchi era a consciência de que este mundo é, acima de tudo, um local de vidas compartilhadas. Para ler a Proposta de Paz 2020 na íntegra, acesse: https://app.brasilseikyo.com.br/conteudo/999556569/rumo-ao-futuro-compartilhado-construindo-uma-era-de-solidariedade-humana

29/05/2020

Humanismo/sociedade

Por dentro da Proposta de Paz 2020

Artigo elaborado com base na seção Proposta de Paz: Principais Ideias da edição de maio de 2020 da revista Terceira Civilização, com o objetivo de que você, leitor, possa “dar a largada” em sua leitura da Proposta de Paz deste ano do Dr. Daisaku Ikeda. Desde 1983, sempre em 26 de janeiro, dia da fundação da Soka Gakkai Internacional (SGI), o presidente da SGI, Dr. Daisaku Ikeda, envia à Organização das Nações Unidas (ONU) sua Proposta de Paz. Nela, o Dr. Ikeda relaciona acontecimentos, cenários políticos, econômicos e sociais recentes, com experiências, teorias e propostas práticas para que cada leitor, seja ele líder ou cidadão comum, possa se empoderar e agir positivamente a fim de construir um futuro melhor para todos. Em 2020, ano icônico em que a SGI completa 45 anos e a Soka Gakkai noventa anos, o Dr. Ikeda — que também comemora sessenta anos de sua posse como terceiro presidente da Soka Gakkai — apresentou a 37a proposta à ONU, intitulada Rumo ao Futuro Compartilhado: Construindo uma Era de Solidariedade Humana. Nela, discute temas atuais com foco nas mudanças climáticas e seus impactos no ambiente, na sociedade e na economia globais. Paralelamente, ele ressalta a importância de considerar a proporção de tais efeitos nas parcelas mais vulneráveis da população, como mulheres, idosos, crianças e pessoas com deficiência. E dá um passo além, ao analisar essas questões de uma perspectiva otimista, encarando-as como oportunidades de fazer as vozes de todos serem ouvidas e iniciar uma “era de solidariedade humana”. Para isso, ele propõe três compromissos: 1. “Não deixar ninguém para trás”: lembrar que por trás dos números existem histórias e pessoas, e quanto mais vulneráveis elas são, mais expostas estão às mudanças climáticas e aos demais perigos e tragédias atuais. 2. “O desafio da construção”: em vez de focar apenas nos problemas e na crise, construir modelos possíveis de um futuro melhor e planejar caminhos práticos de ação conjunta para se chegar a tal futuro. 3. “Ação pelo clima liderada pelos jovens”: ao apresentar os jovens como força propulsora da época e do futuro, é reforçada a importância não só de incluí-los em todos os processos de diálogo nas Nações Unidas, mas como permitir que eles tomem a dianteira na proposição e realização de projetos locais e globais. Além dos compromissos, o Dr. Ikeda indica quatro propostas concretas para a criação de uma sociedade global sustentável: 1. “Construir apoio para o TPAN”, com foco na ratificação do tratado por parte tanto dos países signatários como dos que ainda não o assinaram, para finalmente pôr um fim à era nuclear. 2. “Negociações multilaterais pelo desarmamento nuclear”, considerando a ameaça apresentada pela atual situação dos tratados em vigor e o perigo cada vez maior do uso de novas tecnologias, incluindo a inteligência artificial (IA) aliada aos arsenais nucleares. 3. “Tornando visível o invisível”, a partir da realização de fóruns que deem visibilidade a ações e vozes locais, e que levem ao estabelecimento de medidas práticas para combater cada um dos desafios atuais. Aqui, o Dr. Ikeda ressalta com ênfase ainda maior o papel crucial das mulheres, das situações normais às épocas de grandes calamidades. 4. “Educação para crianças em situação de crise”, retomando a importância de olhar para cada história por trás dos números, e assegurar, com isso, o futuro da própria humanidade. Para ler a Proposta de Paz 2020 na íntegra, acesse: https://app.brasilseikyo.com.br/conteudo/999556569/rumo-ao-futuro-compartilhado-construindo-uma-era-de-solidariedade-humana

15/05/2020

RDez

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Mês de setembro

Saiba, em um minuto, o que você encontrará na edição de setembro: Do Mestre para você Construindo um Futuro Brilhante Baseado no Juramento Na última parte desta série, o Mestre nos ensina a superar os medos. Corredores da Justiça Descubra o que a lua e o aprofundamento da fé têm em comum. Faróis da Esperança Desperte o poder do leão dentro de você. Matérias dos níveis DE-Futuro Você sabe o que é cultura de paz? Leia aqui. DE-Esperança Veja como aplicar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) no dia a dia. DE-Herdeiro Aprenda de quantas maneiras a solidariedade pode contribuir para a paz. Quentinhas O que Rolou Se liga no que as localidades organizaram pela DE. Trending Topics A primavera chegou! Saiba quais flores brasileiras desabrocham nesta época. Mural de Vitórias Pedro Henrique conta, em vídeo, como venceu no estudo, na prática esportiva e na criação de um livro. Matéria do mês Minhas ações pela paz Construa um futuro melhor a partir de agora com a RDez! Aprenda mais sobre o budismo Cápsula do Tempo Teste seus conhecimentos sobre os cinco anos da conclusão da Nova Revolução Humana. ABC do Budismo Entenda o que existe em comum entre uma orquestra sinfônica e o princípio itai doshin. Diversão Passatempo Venha brincar com os jogos deste mês!

30/08/2023

Matéria da Divisão do Futuro

Você sabe o que é cultura de paz?

Na Declaração sobre uma Cultura de Paz,1 a Organização das Nações Unidas (ONU) estabeleceu que “a cultura de paz é um conjunto de valores, atitudes, tradições, comportamentos e estilos de vida baseados no respeito à vida, no fim da violência e na promoção e na prática da não violência por meio da educação, do diálogo e da cooperação”. A partir disso, podemos entender que a paz se inicia dentro de nós e é determinada pela relação entre o ambiente e nossas ações positivas no dia a dia, como ser atencioso e empático, cuidar do meio ambiente e ser respeitoso com todas as pessoas. A Soka Gakkai, organização baseada na filosofia humanista do Budismo de Nichiren Daishonin, tem como um de seus pilares a cultura de paz. À frente da organização está o presidente da SGI, Dr. Daisaku Ikeda, que tem dedicado sua vida para propagar a paz para diversos países e territórios. Como Sucessores Ikeda 2030, temos a missão de expandir a paz e a esperança para mais e mais pessoas, tal qual o nosso mestre. Foto: Divulgação Dica de filme Toy StoryProdutora: DisneyClassificação: Livre Uma sugestão de filme para ilustrar o que aprendemos nesta matéria é o filme Toy Story, que conta a história do boneco Wood, que fica com ciúme do astronauta Buzz Lightyear, o novo brinquedo do Andy. Conforme os desafios vão surgindo, Wood aprende sobre a importância de respeitar os demais e viver em harmonia. *** Presidente Ikeda incentiva alunos da Escola Soka (Japão, jul. 1990). Foto: Seikyo Press Frase do sensei: A paz se inicia com o cuidado com a pessoa que está à nossa frente. Algumas vezes, existirão pessoas de quem não gostamos ou com quem temos pouca afinidade, entretanto, quanto mais diferentes essas pessoas forem de nós, mais aprenderemos com elas. O importante é ter coragem, conversar e realizar sábios esforços para construir amizades. Esse é o primeiro passo para se tornarem cidadãos globais admiráveis que podem se conectar com a humanidade pelo mundo todo. (RDez, ed. 199, jul. 2018, p. 6-10) *** Quiz 1. De acordo com a ONU, o que é cultura de paz? a. Não pensar no próximo b. Ações que desrespeitam a vida do outro c. Conjunto de atitudes baseadas no respeito à vida de todos 2. Conforme o texto, a paz é a relação entre nossas atitudes no dia a dia e... a. o ambiente em que vivemos b. a falta de responsabilidade para com os outros c. Nenhuma das anteriores 3. Quais atitudes ajudam a expandir a cultura de paz? a. Jogar lixo no chão b. Ser respeitoso, atencioso e empático com todos c. Brigar com os amigos da escola Respostas 1. C 2. A 3. B Nota:1. http://www.comitepaz.org.br/download/Declara%C3%A7%C3%A3o%20e%20Programa%20de%20A%C3%A7%C3%A3o%20sobre%20uma%20Cultura%20de%20Paz%20-%20ONU.pdf. Acesso em: jul. 2023.

30/08/2023

Matéria da Divisão da Esperança

O futuro está em nossas mãos!

Os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) fazem parte da Agenda 2030, que tem como plano de ação global eliminar a pobreza e a fome, proteger o meio ambiente e o clima e garantir que todas as pessoas possam desfrutar de paz e de prosperidade.1 Na Proposta de Paz de 2017, o presidente da Soka Gakkai Internacional, Dr. Daisaku Ikeda, afirmou: [Na Agenda 2030], os jovens são identificados como “agentes fundamentais de mudança”, convicção que compartilho totalmente. Os jovens e seu vívido engajamento representam a solução para os desafios globais que enfrentamos; eles têm a chave para alcançar as metas da ONU para 2030. (Terceira Civilização, ed. 585, maio 2017, p. 16) Portanto, nós, membros da DE-Esperança, temos a missão de criar um mundo melhor por meio de atitudes positivas em nossa família, na escola, com os amigos, na organização e onde mais atuarmos. Devemos entrar em ação tendo em mente os ODS e o desejo de transmitir esperança e alegria às pessoas. Foto: Getty Images Começa comigo, começa agora Para fazer com que o mundo se torne um lugar melhor, devemos observar e analisar a realidade, planejar e, com muito daimoku, entrar em ação com criatividade e sabedoria. Para contribuirmos para a paz, selecionamos os ODS que podem ser colocados em prática a partir de hoje e no dia a dia: ODS 2 – Fome zero e agricultura sustentável Ter uma nutrição adequada traz benefícios para a saúde e para o desenvolvimento da população. Daí a importância de incentivar os produtores locais, reduzir o desperdício de comida, consumir frutas, legumes e hortaliças da estação e conversar sobre o assunto com outras pessoas. ODS 6 – Água potável e saneamento básico A água nutre nosso corpo enquanto o saneamento básico (serviços que envolvem abastecimento de água, esgoto sanitário, limpeza urbana e manuseio de resíduos sólidos e de águas pluviais) contribui para a qualidade de vida. Para que todas as pessoas tenham acesso a esses benefícios, a dica é evitar desperdício de água no banho e descartar o lixo corretamente. ODS 16 – Paz, justiça e instituições eficazes Foi criado para promover uma sociedade mais pacífica e inclusiva e proporcionar acesso à justiça e à construção de instituições eficazes e responsáveis. Um dos meios para você contribuir com esse ODS é praticando a tolerância, o respeito e a empatia com todos ao seu redor. Saiba mais Aprenda sobre os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável clicando aqui ou assistindo ao vídeo: Na sua rotina diária, que tal colocar em prática três ações que estejam alinhadas com os ODS 2, 6 e 16? Se precisar, peça ajuda para seus familiares e amigos. Nota:1. https://brasil.un.org/pt-br/sdgs. Acesso em: ago. 2023.

30/08/2023

Matéria da Divisão dos Herdeiros

Solidariedade em prol da paz

Solidariedade é muito mais do que possuir o espírito de apoiar as pessoas. A verdadeira solidariedade implica em ajudar quem está passando por dificuldade a criar condições para encarar os desafios e vencê-los. A solidariedade é facilmente observada dentro do âmbito familiar, com nossos amigos e, principalmente, na Soka Gakkai. Um bom exemplo são as visitas feitas aos companheiros da organização. Nesses momentos, escutamos as dificuldades, oferecemos incentivos e orientações do Mestre e damos suporte para que a pessoa se levante e vença as adversidades. Em uma de suas cartas, o buda Nichiren Daishonin afirmou: “Ao acender uma chama para os outros, a pessoa iluminará seu próprio caminho”.1 Ou seja, quando nos preocupamos com o bem-estar do outro e estendemos uma mão amiga de coração aberto, estamos criando boa sorte e causas positivas para nós mesmos. Na Proposta de Paz de 2017, o presidente da SGI, Dr. Daisaku Ikeda, citou a missão dos jovens em estabelecer uma coexistência pacífica por meio da solidariedade: Tenho fé nos jovens do mundo todo, que personificam, cada um deles, a esperança e a possibilidade de um futuro melhor. (Terceira Civilização, ed. 585, maio 2017, p. 21) Correspondendo ao sentimento do sensei, vamos juntos aplicar a solidariedade no nosso dia a dia e construir um futuro de esperança para toda a humanidade! Foto: Getty Images Conheça os ODS Os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) foram lançados em setembro de 2015 durante a Cúpula das Nações Unidas. Compostos por 17 objetivos a serem alcançados até 2030, eles representam prioridades globais para construir um futuro melhor para todos, inclusive você! Este futuro busca um equilíbrio sustentável nas dimensões econômica, social e ambiental. A visão dos ODS de solidariedade é a de não deixar ninguém para trás. Esses objetivos refletem a necessidade de vivermos de forma harmoniosa com nossos semelhantes. É um modo de vida que exige esforço diário para construir uma sociedade unida pela alegria de viver. Como citado anteriormente, o Mestre confia em nós, jovens: Os jovens são agraciados com uma renovada sensibilidade e a procura apaixonada por ideais. Sua energia estimula uma mudança positiva em cadeia enquanto criam laços de confiança entre as pessoas. (Ibidem) Por meio de uma renovada sensibilidade e energia positiva, vamos nos esforçar para aplicar os 17 ODS e criar uma rede de confiança e solidariedade entre as pessoas. Você sabia? Nosso mestre é um grande exemplo de pessoa solidária. Ele doa a sua vida para levar felicidade e esperança a todos com quem se encontra. Desde 1983, ele envia Propostas de Paz à Organização das Nações Unidas (ONU) com o objetivo de convocar a todos, especialmente os jovens, para enfrentar o desafio de eliminar a maldade e a destruição presentes nas justificativas das armas nucleares. Recentemente, sensei enviou a proposta emergencial para a crise da Ucrânia e a proposta para a Conferência de Cúpula do G7, que aconteceu em Hiroshima, no Japão, com sugestões para encerrar a guerra e acabar com a ameaça e o uso de armas nucleares. Para saber mais sobre as Propostas de Paz, clique aqui. Nota:1. WND, v. II, p. 1.060.

30/08/2023

Matéria de Capa

Daisaku Ikeda – construção de pontes da paz no mundo

Ao dialogar sobre direitos humanos, meio ambiente, cultura de paz e não violência, o presidente Ikeda cria pontes de amizade por meio de suas propostas de paz e ações na sociedade. Saiba mais! Faz 37 anos que nosso mestre, Daisaku Ikeda, profere sua Proposta de Paz em 26 de janeiro, Dia da Soka Gakkai Internacional (SGI), e a envia anualmente à Organização das Nações Unidas (ONU). A ONU tem como base os seguintes objetivos: a manutenção da paz e segurança, a proteção e o respeito aos direitos humanos, a ajuda humanitária e o desenvolvimento sustentável e o fim da discriminação e da opressão. ¹Esse compromisso abraça os ideais da SGI, que defende a paz, a cultura e a educação embasadas na dignidade da vida do ser humano. A Soka Gakkai Internacional iniciou suas atividades como organização não governamental (ONG), de status consultivo no Departamento de Informação Pública das Nações Unidas (DIP), em 1981, e foi registrada no Conselho Econômico e Social (Ecosoc) em 1983,² ano em que Ikeda sensei publicou sua primeira Proposta de Paz. Desde essa época, as atividades da organização cresceram a serviço da paz, cultura, ajuda humanitária, desenvolvimento sustentável e educação em direitos humanos. Refletir e aplicar na vida diária Em suas propostas, Ikeda sensei procura oferecer reflexões sobre o papel da sociedade diante dos problemas sociais e expõe suas ideias com base na filosofia budista, propondo alternativas que solucionem esses problemas, não somente no âmbito governamental, mas também no individual, ou seja, destacando de que forma o ser humano, como cidadão, pode contribuir para a paz. Neste ano, a Proposta de Paz tem como enfoque as mudanças climáticas e seus impactos no ambiente, na sociedade e na economia global. Ao analisar tais questões, visualizamos uma perspectiva otimista encarando-as como oportunidade de fazer a voz de todos ser ouvida e iniciar uma “era de solidariedade humana”. E propõe três compromissos, sendo o primeiro deles “não deixar ninguém para trás”, ou seja, construir uma sociedade que se baseie na abordagem de “esforçar-se para proteger não só a própria vida, mas também a vida dos outros”. Por suas ações, Daisaku Ikeda tem recebido inúmeros prêmios, inclusive lhe foi concedida a Medalha da Paz da ONU.³ Dados sobre a Proposta de Paz Edições O presidente Ikeda enviou anualmente para a ONU 37 Propostas de Paz, sendo a primeira proferida em 1983. Processos A Proposta de Paz enviada em janeiro à ONU é também encaminhada para as editoras da SGI de vários países. Assim que a Editora Brasil Seikyo (EBS) a recebe, inicia-se o processo de tradução pela revista Terceira Civilização. Ao final de fevereiro, o texto é passado por três revisões e em abril é diagramado e fica pronto para ser publicado em maio. Revisão De 1996 a 2017, o poeta amazonense Thiago de Mello foi o responsável pela revisão da Proposta de Paz. Atualmente, a revisão da proposta é realizada pelo escritor e acadêmico Cícero Sandroni, genro de Austregésilo de Athayde, que foi presidente da Academia Brasileira de Letras (ABL) em 2008 e 2009. Sandroni é o sexto ocupante da cadeira de número 6 da academia. Onde achar Desde 2013, impreterivelmente no mês de maio, a revista Terceira Civilização publica em português a Proposta de Paz. A mais atual você encontra no app BS+. NRH na vida O budismo é uma filosofia que defende a dignidade absoluta da vida; e nosso movimento de revolução humana consiste num processo de transformação no qual, por meio de nossos próprios esforços, desenvolvemos o universo interior — as forças criativas inerentes à nossa vida. Trata-se de um movimento para visualizar e edificar um século 21 no qual as pessoas sustentem novos ideais de afirmação da vida. (Nova Revolução Humana, v. 24, p. 12)

01/09/2020

Matéria da Divisão da Esperança

A paz começa comigo!

Já ouviu falar sobre direitos humanos? O que são e por que existem? Prepare-se, pois nesta matéria vamos aprender a importância deles em nossa vida. Então, vamos nessa! Os direitos humanos em prol da paz A Organização das Nações Unidas (ONU) é uma organização internacional formada por vários países que voluntariamente se empenham pelo bem-estar de cada vida humana e pela paz entre os povos através de ações humanísticas, assim como as ações do nosso mestre, presidente Ikeda. A ONU afirma que os direitos humanos são aqueles que todas as pessoas têm, independentemente de raça, gênero, nacionalidade, etnia, idioma, religião ou qualquer outra condição. Esses direitos incluem, por exemplo, o direito à vida, à liberdade de opinião e de expressão, ao trabalho e à educação. Isso significa que você, sua família, todas as pessoas do mundo e eu têm o direito de viver bem e ser feliz. Quando conseguimos pôr em prática o respeito pelas pessoas, mesmo por aquelas que não são tão próximas, estamos respeitando os direitos humanos que temos em comum de vivermos em harmonia. Esse respeito significa dar valor à dignidade da vida que cada um tem, é sinônimo de paz. Cilindro de Ciro Feito de barro e datado de 539 a.C (mais de 2.550 anos atrás!), é considerado por muitos historiadores como o primeiro tratado de direitos do homem, um precursor da Carta de Direitos Humanos. Foi descoberto em 1879 e a ONU traduziu, em 1971, a todos os idiomas oficiais. O texto gravado nele foi escrito pelo rei da Pérsia Ciro II, e possui um caráter humanitário, pois ele é considerado responsável pela repatriação de povos que foram deslocados de seus lares de origem. Fonte: https://www.dhnet.org.br/direitos/anthist/marcos/cilindro/ As propostas de paz do Mestre Você sabia que Ikeda sensei se relaciona com a ONU em prol da paz? Desde 1983, Daisaku Ikeda escreve todos os anos sua proposta de paz e a envia à ONU. Nelas nosso mestre sugere soluções concretas para que a humanidade possa resolver os principais problemas globais que vem enfrentando nos últimos anos como aquecimento global, desigualdade de gênero, armas nucleares, refugiados, entre outros. O presidente Ikeda orienta que o propósito dessas propostas é provocar uma nova onda de paz, pois nossa “voz possui o poder de mover o coração das pessoas e de mudar a sociedade e o mundo. Um novo passo se inicia a partir da nossa fala” (Brasil Seikyo, ed. 2.418, 5 maio 2018, p. D1-D4). Apesar de as propostas abordarem temas globais, não podemos pensar que estão distantes de nossa realidade como membros da Divisão dos Estudantes. Assim como Ikeda sensei incentivou, nossa voz, postura e coração são capazes de transformar a sociedade para melhor e isso inclui sala de aula, lar, bairro e todos os locais que frequentamos. Mas como fazer isto? Nossas ações pela paz A paz não é para ser deixada a cargo de outros em locais distantes. É para ser criada dia a dia, em nosso esforço para cultivar a preocupação e a consideração pelos outros, fortalecendo os laços de amizade e confiança em nossas respectivas comunidades com nossas ações e exemplos. (Brasil Seikyo, ed. 1.635, 12 jan. 2002, p. C1) Temos a boa sorte de fazer parte de uma organização que preza pela dignidade da vida de todas as pessoas e um mestre que nos orienta e incentiva a sermos este Estudante que promove a paz e inspira aqueles ao redor a fazer o mesmo. Fazemos isso acontecer quando conversamos com aquele amigo que está passando por algum problema, ajudando nossos pais em casa, estudando com um colega que tem dificuldades naquela matéria, brincando com alguém que está um pouco isolado, dando um alegre “bom-dia!” a todos que encontrar pela manhã... Basicamente quando agimos de forma sincera, nos preocupando com os outros — sabendo que somos mais felizes quando somos felizes juntos! Poema¹ do presidente da SGI, Daisaku Ikeda Paz – A Base para a Eterna Felicidade da Humanidade Há um caminho Que os pássaros seguem Quando voam pelo céu. Há um caminho Que os peixes também seguem Quando nadam pelo mar. Há um caminho Que as estrelas seguem Quando viajam pelos céus. E há o caminho do princípio Que os seres humanos Devem seguir. E esse caminho Não é nenhum outro Que o caminho da paz. Vamos começar com O que podemos fazer. Vamos avançar, Mesmo que seja um milímetro. Vamos escalar essa montanha E atravessar esse rio! Vamos nos lançar Sobre esses campos E cruzar aquela colina! Vamos correr para aquela cidade E conversar com nossos amigos! [Box] #SeiganGeneration Cultura de Paz Confira a Proposta de Paz 2019 na revista Terceira Civilização, ed. 609, maio 2019 e fale dela no Seigan Generation ou na reunião de palestra. Conte com seus responsáveis da de ou da Duni!

08/06/2019

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