Brasil Seikyo
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Brasil Seikyo

Editorial

Caminho da prosperidade social

A Soka Gakkai foi instituída para que as pessoas manifestem, com a prática budista, sabedoria e coragem diante dos desafios mais tempestuosos enfrentados. Ao mesmo tempo em que elas confrontam seus dramas, dedicam-se também a encorajar aqueles à sua volta para que superem seus sofrimentos, ensinando-lhes o caminho da transformação. Essa dinâmica de incentivos mútuos e genuínos resulta em uma rede extensa de pessoas valorosas que influenciam positivamente a comunidade e a sociedade. Em 3 de maio de 1951, quando Josei Toda assumiu a presidência da Soka Gakkai, declarou seu objetivo de expandir a organização de 3 mil famílias de membros praticantes para 750 mil famílias. Em um trecho do seu discurso de posse, ele exprime: Se nosso desejo é nos levantar na época atual com o mesmo espírito do buda e realmente nos devotar a melhorar o mundo, o único caminho que temos a seguir é capacitar as outras pessoas a praticar o Budismo de Daishonin. Essa é a melhor maneira para atingir a felicidade pessoal, o caminho mais direto para a paz mundial e a chave para trazer a prosperidade para a nação. Creio, portanto, que a propagação do Budismo de Daishonin é a forma mais elevada de prática budista. (...) O momento propício chegou! ¹ Um evento na história da organização reforça a asseveração de Toda sensei. No fim de 1957, a Soka Gakkai alcançou o objetivo de 750 mil famílias. Em paralelo, nessa mesmo período, o governo japonês declarou que o país havia superado a época do pós-guerra e entrado numa fase de crescimento real considerada como “milagre japonês”.² Com isso, podemos afirmar que os membros da organização daquela fase assumiram como objetivo a concretização simultânea da felicidade individual e da prosperidade social, o que resultou no expressivo progresso da nação. Atualmente, cada integrante da Soka Gakkai em diversos países também se dedica com essa intenção. Em vista disso, a BSGI iniciará, a partir de outubro, a Liga Monarca. Um movimento de expansão da organização em três frentes: Shakubuku, Periódico e Kofu. A finalidade dessa atividade é que cada membro da organização esteja ainda mais conectado ao coração do Mestre, fortaleça o precioso sentimento da doação e inspire as pessoas ao redor a praticar o budismo visando à felicidade individual e, acima de tudo, ao progresso da sociedade. Leia mais nas p. 8-11. Ótima leitura! No topo: Banner azul com a palavra "Editorial" escrita no meio, em branco. Notas: 1. Terceira Civilização, ed. 409, set. 2002, p. 4. 2. Cf. Brasil Seikyo, ed. 1.600, 21 abr. 2001, p. A7.

13/09/2024

Incentivo do líder

O movimento do humanismo Soka em prol da sociedade

Neste mês, celebramos significativas passagens do nosso movimento pela paz. Primeiro, em 8 de setembro de 1957, tivemos a histórica Declaração pela Abolição das Armas Nucleares do segundo presidente da Soka Gakkai, Josei Toda, proferida no Estádio Mitsuzawa, em Yokohama, Kanagawa, Japão. Esse brado pela paz de Toda sensei foi herdado por seu genuíno discípulo, Daisaku Ikeda. Passados 67 anos, hoje, esse legado se transformou numa grande correnteza nas mãos de jovens que difundem o humanismo Soka e estão surgindo em sucessão pelo mundo inteiro. Também, em 8 de setembro de 2018, tivemos a conclusão da Nova Revolução Humana, obra-prima da vida de Daisaku Ikeda, que, durante 25 anos se dedicou para escrever o romance. A obra se tornou o livro didático da prática da fé que transmite o humanismo soka e a essência da unicidade de mestre e discípulo para as futuras gerações. Como membros da BSGI, somos aqueles que podem contribuir efetivamente para o desenvolvimento de uma sociedade melhor, onde haja respeito pela dignidade da vida humana. Agora, de forma clara, como membros, podemos nos tornar pessoas capazes de promover uma sociedade mais justa e melhor. Vamos conferir as sábias palavras registradas por Ikeda sensei: O Nam-myoho-renge-kyo é a lei fundamental que permeia a vida e o universo. Por isso, quando recitamos Nam-myoho-renge-kyo, nossa vida se funde com essa lei universal e somos capazes de criar valor que conduz à felicidade. Conseguimos produzir esperança e realizar maravilhosas contribuições para a construção de um mundo seguro e pacífico. Tal é o poder de nossas orações como membros da Soka Gakkai.1 O local em que cultivamos os “valores humanos” em prol da sociedade são as nossas organizações de base: os blocos e as comunidades existentes em todos os recantos do país. É o local em que estudamos os ensinamentos e a filosofia do Budismo de Nichiren Daishonin para o desenvolvimento do exercício da prática da fé e da criação de seres humanos de valor. São pessoas anônimas e voluntárias reunidas com o nobre sentimento de estender o direito à felicidade de todos, sem distinção. Para conhecermos um pouco desse sentimento que nos move na sociedade, compartilho preciosas orientações do Mestre: A Soka Gakkai é uma rede compassiva dedicada à felicidade das pessoas, uma verdadeira “praça da felicidade do povo”. Esse é o nosso orgulho como praticante de uma religião autenticamente humanística. Nós, da Soka Gakkai, acalentando no coração o desejo de concretizar a felicidade genuína tanto para nós como para os outros e cultivar laços de confiança com aqueles que nos cercam, penetramos no seio da sociedade e compartilhamos com os demais nossas convicções e experiências na fé. Esforços ativos dessa natureza, sem dúvida, constituem o sangue vital de uma religião humanística.2 Com a consciência e o orgulho de nosso importante papel como bons cidadãos, vamos, mais uma vez, retornar ao nosso ponto primordial da missão como membros da BSGI, a esperança da sociedade. Miguel Shiratori Presidente da BSGI No topo: Bandeira da BSGI tremula contra céu azul. Foto: Brasil Seikyo. Notas: 1. Terceira Civilização, ed. 669, maio 2024, p. 50 . 2. IKEDA, Daisaku. Budismo de Harmonia e Esperança. São Paulo: Editora Brasil Seikyo, 2024. p. 3

13/09/2024

Editorial

Importantes aprendizados

Vinte e quatro de agosto. Há exatos 77 anos, nosso eterno mestre, Daisaku Ikeda, iniciava sua jornada como praticante do Budismo de Nichiren Daishonin. Em seu íntimo, desde o primeiro encontro com Josei Toda, dez dias antes de sua conversão, ele intentava seguir os passos dele como seu mestre da vida.1 E assim o fez. Por pouco mais de uma década, Ikeda sensei recebeu importantes ensinamentos de Toda sensei que permaneceram vivos ao longo de sua trajetória de intensa dedicação para desenvolver a Soka Gakkai pelo mundo como organização promotora de ações em prol do bem-estar da humanidade. Seja em seus encontros com grandes intelectuais, seja no estabelecimento de instituições educacionais e culturais, em todos os empreendimentos, Ikeda sensei se recordava das diretrizes recebidas do seu mestre. Fundei o Partido Komei, a Associação de Concertos Min-On, o Museu de Arte Fuji, o Instituto de Filosofia Oriental, a Universidade Soka e as escolas Soka. Tudo isso foi consolidado com base nas ideias e nos projetos que meu mestre mencionou para mim ou cogitou em diferentes ocasiões. Fazendo meu o coração dele, trabalhei para a materialização de cada um deles. Embora possam parecer realizações minhas, o verdadeiro propósito delas sempre foi provar e abrilhantar a magnitude dos presidentes Tsunesaburo Makiguchi e Josei Toda.2 E, atualmente, os discípulos de Ikeda sensei assumem genuinamente o compromisso em prol da felicidade das pessoas; da ativa contribuição social a partir das ações no local de atuação; e da difusão dos ensinamentos de Nichiren Daishonin pela sociedade brasileira. Assim como ele direcionou em sua mensagem de agosto de 2023 para as atividades comemorativas da Divisão Sênior. Por favor, haja o que houver, ressoem o daimoku do rugido do leão, e demonstrem a prova real de vitórias, à sua maneira, no trabalho e na localidade. Peço que, assim, expandam cada vez mais a rede de solidariedade da paz e da esperança no Brasil, terra do seu juramento seigan.3 Confira na edição as comemorações dos quarenta anos do Grupo Alvorada da BSGI e a 11ª Reunião Nacional de Líderes, realizadas em São Paulo. Esperamos que as próximas páginas despertem em você otimismo e coragem para seguir vitorioso no último trimestre deste ano. Excelente leitura! Notas: 1. Leia mais sobre a relação de mestre e discípulo entre Ikeda sensei e Josei Toda no Brasil Seikyo, ed. 2.664, 10 ago. 2024, p. 8-9. 2. Brasil Seikyo, ed. 2.413, 31 mar. 2018, p. B4. 3. Idem, ed. 2.640, 12 jun. 2023.

22/08/2024

Encontro com o Mestre

A viagem do juramento seigan

Em agosto de 1954, o jovem Daisaku Ikeda e o segundo presidente da Soka Gakkai, Josei Toda, visitaram juntos pela primeira vez, a Vila de Atsuta [atual distrito de Atsuta, cidade de Ishikari], em Hokkaido, terra natal de Toda sensei. Neste mês, comemoramos o 70º aniversário dessa visita. Hokkaido foi uma das localidades visitadas por ambos em uma viagem de orientação para as regiões do Japão no verão daquele ano. No avião, o mestre conversou com seu amado discípu­lo a respeito de assuntos como organização e criação de “valores humanos”. Em determi­nado momento, ele disse ao discípulo: “Vou transmitir-lhe todo o plano até a geração dos netos dos seus netos”. A “geração dos netos dos netos” seria dali a cem anos aproximadamente. Visualizando o futuro, Toda sensei estava confiando a Ikeda sensei o kosen-rufu do mundo. Durante cinco dias, Josei Toda participou de diversas visitas e atividades sempre com o jovem discípulo ao seu lado, e ambos impulsionaram o avanço do kosen-rufu na região. No dia 16, eles deixaram a hospedaria em Sapporo e partiram para Atsuta. Depois de cruzar a foz do rio Ishikari de barco e seguir de carro por quase uma hora, chegaram à Hospedaria Toda, administrada por um parente de Josei Toda. Em seguida, mestre e discípulo passearam pela praia de Atsuta. Toda sensei relembrou sua juventude e falou a Ikeda sensei enquanto fitava o mar tingido pelas cores do sol poente: “Vou construir uma sólida base do kosen-rufu do Japão. E, você, Shin’ichi, deverá abrir os caminhos do kosen-rufu do mundo inteiro”. Em 3 de maio de 1960, Ikeda sensei tomou posse como terceiro presidente da Soka Gakkai. Três meses depois, em 27 de agosto, visitou Atsuta. Cerca de quarenta pessoas, entre parentes do seu mestre e membros de Atsuta, o recepcionaram na Pousada Toda. Nessa ocasião, ele disse: “A terra natal de Toda sensei é meu segundo lar. Também é o ponto inicial de minha jornada pelo mundo. Espero que, em meu lugar, todos trabalhem juntos para construir uma comunidade feliz e próspera”. Ao todo, Ikeda sensei visitou Atsuta onze vezes e cada uma delas continuará a brilhar por toda a posteridade como uma história a preservar o sublime espírito de mestre e discípulo. Fonte:Adaptado de matéria publicada no Seikyo Shimbun de 13 de agosto de 2024.*** Depois de tomar posse como terceiro presidente da Soka Gakkai, Ikeda sensei visita Atsuta, cidade natal do seu mestre. Na imagem, ele dialoga com companheiros numa balsa sobre o rio Ishikari (ago. 1960) Trechos do romance Nova Revolução Humana DR. DAISAKU IKEDA Em agosto de 1954, levando Shin’ichi1 em sua companhia a Atsuta, Josei Toda olhou para o mar e disse: “Construirei uma base sólida para o kosen-rufu no Japão, mas você pavimentará o caminho para o kosen-rufu no mundo inteiro. (...) Do lado de lá, há um vasto continente. O mundo é amplo e exten­so. [Em muitos países] Pessoas choram de angústia e crianças se encolhem de medo no meio do fogo cruzado da guerra. Você deve iluminar a Ásia e o mundo todo com a luz da Lei Mística. Deve fazer isto em meu lugar”. As palavras do presidente Josei Toda marcaram profundamente o coração de Shin’ichi. Na manhã seguinte, Shin’ichi foi sozinho até o porto de Atsuta e, refletindo sobre as palavras do presidente Josei Toda, bradou ao oceano, como se quisesse liberar ondas de emoção que agitavam seu coração: “Sensei! Realizarei sem falta o kosen-rufu da Ásia. Construirei a ponte dourada do kosen-rufu mundial!”. Foi dessa maneira que Shin’ichi expressou sua decisão de dedicar a vida ao kosen-rufu mundial — um poderoso rugido de leão. Ao mesmo tempo, jurou em silêncio que escreve­ria a Revolução Humana, um romance biográfico que narra a nobre vida e as realizações de seu mestre, cuja longa jornada para levar felicidade a toda humanidade iniciara-se nessa pequena vila pesqueira. * * * No dia 3 de maio de 1960, Shin’ichi assumiu a liderança da Soka Gakkai como seu terceiro presidente e, em agosto, visitou Atsuta. Os membros dessa localidade expressaram imensa alegria ao vê-lo. Quando Shin’ichi chegou à Hospedaria Toda, onde os membros o aguardavam, ele disse: — Sou Shin’ichi Yamamoto, discípulo de Toda sensei, e fui nomeado como terceiro presidente da Soka Gakkai. Vim à terra natal dele para comunicar isto a todos os senhores. Os membros sentiram que ele demonstrava o comportamento de um genuíno discípulo. Shin’ichi dialogou de modo cordial e caloroso com vários membros reunidos no local; e, mais tarde, juntou-se a todos para um passeio pela praia e para tirar uma foto. Quando chegou o momento de se despedir deles, disse: — A terra natal de Toda sensei é meu segundo lar. Também é o ponto inicial de minha jornada pelo mundo. Espero que, em meu lugar, todos trabalhem juntos para construir uma comunidade feliz e próspera. * * * [Em 1973, Shin’ichi participou de uma cerimônia durante a qual fez a doação de livros para as bibliotecas de escolas de ensino fundamental em Atsuta. Como forma de incentivo e agradecimento aos alunos, declamou o poema Vila Atsuta: A Terra Natal do Meu Mestre]: A Vila de Atsuta, no frio mar do norte, entre as infindáveis tempestades de neve que prateiam a casa na beira do mar, pobre como antigamente, era o seu antigo castelo de glória. O encanto do rio Atsuta no verão e na primavera; os cardumes de arenques do mar do Japão, nesta região aberta pelos senhores de Matsumae, rochedos agudos, jardins da aldeia de pescadores. (...) “Velha casa de Atsuta, jamais te esquecerei!” Levando consigo os ventos do norte, o jovem de uma terra desconhecida parte para a longa jornada que se transmite para o bem do mundo. Fonte:IKEDA, Daisaku. Gratidão ao Mestre. Nova Revolução Humana, v. 18. São Paulo: Editora Brasil Seikyo, 2021. p. 107-114. Fotos: Seikyo Press Nota:1. Shin’ichi Yamamoto: pseudônimo do presidente Ikeda no romance Nova Revolução Humana.

22/08/2024

Especial

Destemido brado pela paz

Era noite de 7 de setembro de 1957 e somente Josei Toda se encontrava na sede da Soka Gakkai. O segundo presidente da organização estava mergulhado em profundos pensamentos a respeito da questão da bomba atômica e da crise entre os blocos de países capitalistas e comunistas, tendo os Estados Unidos e a União Soviética como centro. O horror da destruição e do sofrimento causados pelo lançamento das bombas atômicas sobre as cidades de Hiroshima e de Nagasaki, nos dias 6 e 9 de agosto de 1945, decretou não apenas a rendição do Japão na Segunda Guerra Mundial, mas intensificou a corrida armamentista por artefatos nucleares no mundo. Testes incessantes, com arsenais cada vez mais poderosos, eram feitos em diversos pontos do planeta. A sensação era de que uma nova guerra mundial poderia começar. E a quantidade de armamentos atômicos já era tão grande que o mundo poderia ser dizimado em questão de horas. Foi na prisão, onde Josei Toda e seu mestre, Tsunesaburo Makiguchi, permaneceram encarcerados durante dois anos por se oporem à guerra e defenderem a liberdade religiosa, que surgiu a ideia de preparar uma declaração. Com o desenvolvimento dos tristes fatos observados depois que foi libertado (em 3 de julho de 1945), Toda sensei focou sua indignação na declaração contra as armas nucleares. O jovem Daisaku Ikeda, à esq., dialoga com seu mestre durante o Encontro Esportivo dos Jovens do Leste do Japão (8 set. 1957) Testamento aos jovens O dia seguinte, 8 de setembro de 1957, seria o momento do tão aguardado Encontro Esportivo dos Jovens do Leste do Japão, o “Festival da Juventude”. O pensamento sobre as bombas atômicas lançadas sobre as cidades japonesas doze anos antes fez o sangue de Josei Toda ferver e o levou a refletir também sobre o limite da própria existência. Por várias vezes, nos anos anteriores, ele havia adoecido gravemente. Esse pressentimento do fim da própria vida só aumentou seu carinho pelas pessoas. Ele pensou: “Deixarei esta declaração como principal testamento dedicado aos jovens”.1 Em 1957, Daisaku Ikeda era um discípulo consciente, fortalecido diariamente por dez anos, do momento em que se convertera ao Budismo de Nichiren Daishonin. Ele respirava e vivia ao lado do seu mestre, Josei Toda. Havia entendido completamente o conceito de mestre e discípulo embasado na profunda filosofia budista. Exatamente às 9 da manhã daquele 8 de setembro foi iniciado o encontro esportivo. Mais de 50 mil jovens lotavam o Estádio de Desportos de Mitsuzawa. Desde muito cedo, os membros chegavam à estação de Yokohama e entravam nos ônibus que os levariam ao estádio. Um ônibus a cada quarenta segundos. Nessa média, rapidamen­te os participantes chegavam e aguardavam ansiosos o evento. A expectativa geral era sobre a possibilidade de ocorrer um tufão exatamente naquele dia. Mas Josei Toda desejava ardentemente que o clima estivesse agradável para que seus discípulos desfrutassem momentos tranquilos. E assim foi. O dia estava particularmente quente e o sol brilhava com radiância. O tufão enfraqueceu e se dissipou. O encontro iniciou com a cerimônia de abertura, que teve um desfile com representantes dos jovens sendo conduzidos pelos integrantes das bandas Ongakutai e Kotekitai. Contou também com o juramento dos atletas participantes, as palavras de líderes e as competições esportivas, que, em determinado momento, tiveram integrantes de todas as divisões. Trajado bem à vontade, com boné de beisebol, camisa esportiva e sandálias, Toda sensei, em certo momento, parou à beira do gramado para observar de perto a movimentação. Sentiu grande alegria. Depois, fitou o céu límpido. Seus olhos foram ofuscados pela luz do sol. Imediatamente, relembrou a data em que a bomba de Hiroshima fora lançada: “Naquele dia, o sol também brilhava intensamente”, pensou, mordendo os lábios com certa ira. Ações por um mundo pacífico Ao final das competições, as equipes vencedoras foram apresentadas. Após as palavras do líder da Divisão dos Jovens, chegou a vez de Josei Toda falar. Ele se declarou contra as armas nucleares, bradando ser a missão dos jovens erradicar o impulso dos seres humanos que as constroem. Em um trecho da declaração, o líder afirma: Como já venho dizendo há muito, a próxima era será sustentada pelos jovens. Não preciso salientar que a missão de nossa vida é o kosen-rufu. Esse é um empreendimento que devemos conquistar infalivelmente, mas, diante das notícias de testes da bomba atômica e de hidrogênio que têm agitado o mundo, quero deixar bem clara minha posição em relação a essas questões. Se são meus discípulos, gostaria que herdassem esta minha mensagem e que propagassem pelo mundo o significado de seu conteúdo. Mesmo que neste momento esteja sendo realizado no mundo inteiro um movimento para abolir os testes nucleares, o meu desejo é atacar o problema pela raiz, ou seja, cortar as garras ocultas exatamente na origem. (...) Digo isso porque nós, cidadãos do mundo, temos o direito inviolável à vida. Todo indivíduo que tentar colocar esse direito em perigo merece ser chamado de criatura diabólica, um ser abominável, um monstro. Mesmo que um país conquiste o mundo por meio de armas nucleares, o conquistador deverá ser considerado um demônio, a expressão suprema do mal. Creio que a missão de cada membro da Divisão dos Jovens do Japão é difundir essa ideia em todo o mundo.2 Daisaku Ikeda, como discípulo imediato de Josei Toda, sentiu o corpo estremecer ao ouvir a declaração. Dizia a si mesmo na forma de um solene juramento: “Concretizarei a todo custo o testamento de meu mestre”. A partir de então, ele começou a planejar, com toda a seriedade, como propa­gar a ideologia de Josei Toda pelo mundo. Conforme pressentira, seu mestre faleceu sete meses depois, em 2 de abril de 1958. Sua declaração foi traduzida em ações por Daisaku Ikeda e deu origem às iniciativas concretas da Soka Gakkai para exterminar a miséria do coração huma­no, não mais somente no campo religioso, mas com a promoção da cultura e da educação. Hoje, os membros da organização realizam diversas iniciativas para o fim das guerras e a eliminação das armas nucleares. Na essência desses esforços, com base nas palavras de Toda sensei, encontra-se o conceito da revolução humana, a mudança profunda na vida de cada pessoa, a única capaz de assegurar a paz genuína e duradoura. Fontes:Brasil Seikyo, ed. 2.617, 27 ago. 2022, p. 10-11.Terceira Civilização, ed. 469, set. 2007, p. 8-11. Notas:1. Terceira Civilização, ed. 292, dez. 1992, p. 11.2. Brasil Seikyo, ed. 1.906, 8 set. 2007, p. B5. *** Exposição promovida pela Soka Gakkai alerta para a ameaça das armas nucleares no mundo atual (Hiroshima, Japão, ago. 2012) Esforços pelo desarmamento A abolição das armas nucleares é um dos principais focos das atividades de promoção da paz realizadas pela Soka Gakkai no Japão e no mundo, tendo como ponto primordial a declaração proferida pelo presidente Josei Toda em 8 de setembro de 1957. O Dr. Daisaku Ikeda atendeu ao chamado do seu mestre e, desde 1983, encaminhou Propostas de Paz anualmente à Organização das Nações Unidas (ONU), apresentando sugestões concretas para várias questões que desafiam a humanidade, incluindo a eliminação das armas nucleares. Em uma delas, sugeriu quatro pontos para nortear os esforços pelo desarmamento nuclear: 1. Edificar a solidariedade na sociedade civil para a oposição às armas nucleares por meio da voz ativa; 2. Enfatizar a desumanidade das armas nucleares nas discussões pela abolição; 3. Promover a adoção de acordos internacionais no foro das Nações Unidas; 4. Garantir que as vozes das vítimas de armas nucleares (hibakusha) reflitam no espírito fundamental de tais acordos. Os integrantes da Soka Gakkai têm empreendido esforços constantes para despertar a opinião pública e criar uma rede global de pessoas dedicadas à paz por meio de iniciativas como palestras, campanhas, expo­sições, coleta de assinaturas, além de parcerias e participações em eventos promovidos pela ONU e por instituições dedicadas à abolição das armas nucleares. Saiba mais Conheça as iniciativas da Soka Gakkai pela paz e pelo desarmamento acessando: https://www.sokaglobal.org/in-society/action-on-global-issues.html. Coleção com os trinta volumes do romance Nova Revolução Humana publicados em português pela Editora Brasil Seikyo Bússola para a humanidade Ikeda sensei concluiu o romance Nova Revolução Humana em 8 de setembro de 2018 Há seis anos, em 8 de setembro de 2018, foi publicada no Seikyo Shimbun a última parte do capítulo “Juramento Seigan”, do volume 30, do romance Nova Revolução Humana (NRH), de autoria do Dr. Daisaku Ikeda. Foram mais de 6 mil partes divulgadas nas páginas do periódico, as quais foram compiladas na forma de livros em diversos idiomas e países. A data marcou também os 61 anos desde que o segundo presidente da Soka Gakkai, Josei Toda, proferiu sua Declaração pela Abolição das Armas Nucleares no Encontro Esportivo dos Jovens do Leste do Japão, em 1957. A NRH descreve o drama da própria transformação do ser humano, detalha os passos da jornada pelo kosen-rufu mundial e eterniza a profunda unicidade de mestre e discípulo, base do avanço da Soka Gakkai e do budismo. O romance narra também fatos marcantes da trajetória dos discípulos, perpetuando suas vitórias por meio da prática da fé. Na manhã de 6 de agosto de 1993, no Centro de Treinamento de Nagano, em Karuizawa, Japão, Ikeda sensei deu início à Nova Revolução Humana. Em seu prefácio, encontramos: Mestre e discípulo são inseparáveis. Assim, meu mestre segue junto comigo, em meu coração, enquanto percorro o mundo abrindo o caminho para um caudaloso rio de paz e felicidade. A grandiosidade de um rio demonstra a imponência de sua nascente. Inspirei-me para escrever a Nova Revolução Humana — como continuação da Revolução Humana — em razão de o kosen-rufu ter alcançado tamanho progresso mesmo depois do falecimento de meu mestre; e esse fato serve como prova genuína de sua grandiosidade. Além disso, para que a posteridade conheça a essência do Sr. Toda, concluí que seria preciso registrar o caminho que seus discípulos e sucessores seguiram.1 Em novembro de 2023, Ikeda sensei encerrou sua nobre existência e a Nova Revolução Humana se consolida como o guia da prática da fé para a transformação da vida e da sociedade, uma base perene para que os discípulos avancem com gratidão e confiança pela jornada da concretização do kosen-rufu com o Mestre sempre no coração. Nota:1. IKEDA, Daisaku. Prefácio. Nova Revolução Humana, v. 1. São Paulo: Editora Brasil Seikyo, 2019. p. 6. No topo: Josei Toda, segundo presidente da Soka Gakkai, profere sua histórica Declaração pela Abolição das Armas Nucleares. Fotos: Seikyo Press

22/08/2024

Incentivo do líder

Eu tenho de vencer!

Caros leitores do amado Brasil Seikyo! Entramos no mês de agosto de profundos significados. O mais importante, e o que nos reforça a praticar este budismo e a manter a relação profunda de mestre e discípulo, é o encontro ideal entre o jovem Daisaku Ikeda e Josei Toda, ocorrido em uma reunião de palestra, no dia 14 de agosto de 1947. Naquele ano, o cenário do Japão era de desesperança. O país, bombardeado pela guerra, voltava a se reerguer, mas a situação não era satisfatória. Todos viviam mergulhados no sofrimento. Entretanto, dentro de uma pequena sala, na reunião de palestra da Soka Gakkai, pulsava a chama da esperança. Uma pequena sala com muitos significados. Em dez dias, desse encontro ideal, o jovem Ikeda determina se converter ao Budismo Nichiren e, assim, Josei Toda se torna seu mestre. Juntos, com essa relação única, transcendem tempo e espaço. Como um jovem que lutava em meio ao caos do pós-guerra no Japão, eu tentava ardentemente encontrar o significado da vida. Então, conheci o Sr. Toda. Ali estava um homem que havia sido preso por se opor ao governo militar japonês [durante a Segunda Guerra Mundial]. Instintivamente, senti que podia confiar nele. Meu encontro com o Sr. Toda foi um encontro com o Sutra do Lótus. Todo o empreendimento humano inspira-se pelos esforços em responder às seguintes questões: de onde viemos, para onde vamos e por que estamos aqui?1 Completados 77 anos desse encontro ideal, estamos nós, em agosto de 2024, reconfirmando que a unicidade de mestre e discípulo ultrapassa os limites do tempo e a distância física. Essa unidade está presente no coração daqueles que se empenham para concretizar o kosen-rufu, e essas pessoas somos nós, cada qual, em nosso local de missão. Estar na órbita de mestre e discípulo possibilita o avanço ininterrupto da organização e da vida pessoal, porque a ação para eu me tornar uma pessoa melhor é o que significa revolução humana. Não podemos pensar: “Ah, este é o meu jeitinho”. Caso esse seja meu pensamento, então não estou enxergando o grande brilho da prática da fé: o de transformar nossa vida. Ao me levantar com uma postura renovada, sou capaz de identificar tudo o que impede meu avanço e crio a convicção ideal para suportar e enfrentar as questões da minha vida com a certeza da vitória. Qual é a essência da nossa vida? É a condição de Buda. Como atinjo essa condição? Levantando-me com a coragem de erradicar a miséria do meu coração, pois, ao recitar daimoku com fé no Gohonzon, em minha vida ilumina o estado de buda. Em agosto, comemoramos também o estabelecimento do Dia da Divisão Sênior, em alusão à conversão de Ikeda sensei ao budismo, em 24 de agosto de 1947. Finalizo com uma orientação do presidente Ikeda dedicada aos integrantes da Divisão Sênior. Ele diz: “A coragem e as ações dos homens criam a solidariedade que conduz a uma retumbante vitória”.2 Assim, como a decisão do jovem Ikeda, aos 19 anos, reconfirmemos a nossa decisão única de evidenciar o nosso melhor aspecto e que nossas ações estejam voltadas para a concretização do kosen-rufu, começando pelo nosso coração. Notas:1. Terceira Civilização, ed. 468, ago. 2007, p. 6. 2. IKEDA, Daisaku. Pilares de Ouro Soka. São Paulo: Editora Brasil Seikyo, 2019. p. 188.

08/08/2024

Especial

Vidas unidas por um sublime ideal

Dois anos haviam se passado após o término da Segunda Guerra Mundial e o Japão sofria com as consequências do conflito. Era 1947 e Josei Toda dedicava-se intensamente a reconstruir a Soka Gakkai e a propagar o Budismo de Nichiren Daishonin, objetivando transformar a realidade da sociedade. Em meio aos membros da organização, começaram a despontar jovens que aprendiam a alegria de realizar o shakubuku, como dois amigos, um rapaz e uma moça, que moravam no distrito Kama­ta, em Tóquio. Com pouco mais de 20 anos, eram colegas desde o ensino fundamental 1 e procuravam por conhecidos para convidá-los a participar das atividades. Dentre eles estava o jovem Daisaku Ikeda, de 19 anos. Os amigos foram várias vezes à casa dele, mas não conseguiram falar diretamente sobre a prática da fé. Para os jovens daquele perío­do, além da cultura e da política, conversas sobre religião eram distantes da realidade. Quando entravam no quarto, viam a estante repleta de obras literárias de diversas épocas e lugares. Embora conhecessem alguns títulos e nomes de autores, não sabiam muito bem sobre o conteúdo delas. Certo dia, percebendo o interesse de Daisaku Ikeda por filosofia, a jovem o convidou para uma reunião de palestra, dizendo que era uma “conversa sobre filosofia”. Ele indagou se seria uma palestra sobre Henri Bergson (1859-1941), filósofo francês pelo qual nutria admiração, e quem seria o palestrante. A amiga respondeu que seria Josei Toda e que se tratava de uma filosofia que elucidava fundamentalmente a vida. O jovem concordou e disse que levaria amigos de seu grupo de estudos também ao encontro. Encontro ideal Na noite da atividade, 14 de agosto, os amigos vieram buscar o jovem Ikeda, porém ele estava esperando por dois colegas que o acompanhariam. Enquanto aguardava, sentia o cansaço decorrente de uma febre que havia surgido desde o fim da tarde. Sua saúde se encontrava bastante debilitada nessa ocasião. Finalmente, os colegas chegaram e os cinco jovens foram caminhando pelas ruas sem iluminação até a casa da jovem onde seria realizada a reunião. Por volta das 20 horas, chegaram à residência e podia-se ouvir a voz animada, embora rouca, de um homem de meia-idade. Cerca de vinte pessoas estavam sentadas em duas salas cujas divisórias haviam sido retiradas. Na parte da frente, um senhor de óculos com lentes grossas palestrava em tom calmo, mas enérgico. Daisaku Ikeda e seus amigos achavam que seria uma reunião de jovens, no entanto, havia também donas de casa e pessoas de idade que ouviam atentamente. A explanação de Toda sensei era sobre o escrito Estabelecer o Ensinamento para a Pacificação da Terra. Uma moça lia o trecho original da obra e ele dava a explicação de forma vigorosa. À medida que ouviam, os três jovens perceberam que se tratava de uma palestra sobre o budismo. Ikeda sensei relembra esse momento: O Sr. Toda, meu mestre, aguardava-me como um pai afe­tuo­so. Foi um momento solene, eterno, que abarcou as três existências. Foi o dia do juramento de um dis­cípulo — o meu — de me tornar dis­cípulo do Sr. Toda e de devo­tar minha vida ao kosen-rufu. (...) Na explanação que ele fez nessa primeira vez que participei numa reunião, o Sr. Toda imprimiu forte paixão e determinação num alerta às pessoas. Foi um rugido do leão proclamando a essência do Budismo de Nichiren Daishonin. A explicação do Sr. Toda não era de um budismo antiquado e ultrapassado. Revelava um caminho grandioso com a promessa de um futuro brilhante, que transbordava convicção e dinamismo. (...) Após concluir sua explanação, o Sr. Toda iniciou um diálo­go in­formal. Ele mastigava pastilhas de menta e se portava com naturalidade e descontração. Não demonstrou a mínima atitude de superioridade pretensiosa e arrogante que muitos falsos líderes políticos e religiosos exibem. Estava sendo ele mesmo. Embora aquele fosse o nosso primeiro encontro, senti-me à vontade para fazer qualquer pergunta que guardava em meu jovem coração. Lembro-me de ter arriscado, com certa intensidade, esta questão: “Senhor, qual é o modo correto de vida?”. O Sr. Toda me deu uma resposta clara, com plena convicção, isenta de qualquer jogo intelec­tual ou desonestidade que obscurecesse o verdadeiro ponto de minha pergunta. Eu estava cansado de adultos que tratavam os jovens com uma superioridade paternalista, por isso, a sinceridade do Sr. Toda me tocou profundamen­te. Além disso, não suportava políticos e intelectuais que haviam cantado hinos em louvor à guerra, mas de repente se transformaram em pacifistas depois que os combates acabaram. O fato de o Sr. Toda ter sido perseguido pelas autoridades militares e passado dois anos encarcerado por sustentar suas crenças foi o fator decisivo para eu me tornar seu discípulo.1 Em determinado momento, o jovem Ikeda contempla algo, com olhares atentos, o que deixou sua face inteiramente corada. Parecia estar impaciente, desejando se pronunciar novamente. De súbito, levantou-se decidido e externou: — Sensei, muito obrigado. Há um antigo ditado que diz: “Faz bem pensar mais uma vez, mesmo que concorde. É bom pensar novamente, mesmo que discorde”. Acreditando nas palavras do senhor ao me sugerir que como jovem estudasse e colocasse em ação, gostaria de segui-lo e me empenhar nos estudos. Nesse momento, gostaria de expressar meu sentimento de gratidão com um poema, embora não tenha nenhuma habilidade e tenha sido de improviso...2 Josei Toda concordou, em silêncio. O rapaz fechou levemente os olhos e começou a declamar com sua voz sonora: Ó viajante! De onde vens? E para onde irás? A lua desce no caos da madrugada, mas vou andando antes de o Sol nascer. à procura de luz. No desejo de varrer as trevas de minh’alma, a grande árvore eu procuro que nunca se abalou na fúria da tempestade. Neste encontro ideal, sou eu quem surge da terra!3 Todos ficaram surpresos. Para Josei Toda, especialmente, a última frase soou de forma muito significativa. “Sou eu quem surge da terra!” — era a missão dos bodisatvas da terra que surgiram nos Últimos Dias da Lei para propagar o ensinamento do budismo. Naturalmente, o jovem Ikeda não conhecia esse conceito. Ele retratava no verso o sentimento que carregava no cora­ção ao observar a força vital da natureza demonstrada pelo nascimento vistoso das plantas e árvores verdejantes que, com a chegada da época certa, emergiam dos campos devastados pela guerra. Entretanto, Toda sensei pressentia que tudo aquilo havia sido místico: o encontro com aquele rapaz de 19 anos o lembrava do que tivera com seu mestre, Tsunesaburo Makiguchi. “Se o budismo é certo, deverá surgir infalivelmente uma relação de mestre e discípulo entre as duas pessoas que infalivelmente deverão realizar uma revolução religiosa sem precedentes na história da humanidade”, era o que pensava Josei Toda. Ikeda sensei recebeu o Gohonzon e se converteu ao Budismo Nichiren em 24 de agosto de 1947. Embora sua família, a princípio, não fosse a favor de sua prática, o jovem não hesitou, inspirado pela confiança que Josei Toda depositava nele, como afirma: Ele confiava em mim, e me dizia: “Vamos, não hesite! Desafie seu espírito de procura comigo! Estude e pratique com coragem, assim como cabe a um jovem!”. Minha intuição de jovem dizia-me que podia seguir com segurança aquele homem que havia sido preso durante a guerra em defesa da paz e do budismo. Nesse sentido, 24 de agosto marcou meu ingresso na “Universidade Toda”. Uma vida dedicada à verdade tem início com a relação entre mestre e discípulo.4 Em pouco mais de dez anos de convívio, mestre e discípulo tiveram uma existência em perfeita harmonia e união, conquistando grandes feitos como a concretização de 750 mil famílias ao budismo, a Declaração pela Abolição das Armas Nucleares, em 1957, e a Cerimônia do Kosen-rufu, realizada em 16 de março de 1958. Após o falecimento de Josei Toda, Ikeda sensei assumiu a terceira presidência da Soka Gakkai em 3 de maio de 1960. Em outubro daquele ano, partiu para a primeira viagem ao exterior a fim de propagar o budismo em diversos países, dentre eles o Brasil. A partir de então, veio se empenhando incansavelmente para cumprir os ideais do seu mestre e impulsionar o movimento pelo kosen-rufu. Suas numerosas realizações vão desde a criação do sistema educacional Soka e a dedicação em escrever livros até a fundação de instituições como o Museu de Arte Fuji de Tóquio e a Associação de Concertos Min-On; dos diálogos com diversas personalidades mundiais às homenagens recebidas de cidades, universidades e outras instituições, reconhecendo seus esforços pela paz, cultura e educação. A sublime relação de mestre e discípulo, eternizada em sua máxima obra literária, o romance Nova Revolução Humana, é a base do desenvolvimento da Soka Gakkai e da transformação da vida de milhões de pessoas em vários países por meio da prática do Budismo de Nichiren Daishonin. Em 15 de novembro de 2023, Ikeda sensei encerrou sua nobre existência, tendo cumprido todos os anseios do seu mestre, Josei Toda, e criado sucessivas ondas de jovens “valores humanos” que se encarregam de perpetuar seu legado e que dedicam a vida a concretizar o sublime propósito da paz e da felicidade da humanidade. Dica de leitura No livro Revolução Humana, v. 2, você conhece mais detalhes sobre o primeiro encontro do jovem Daisaku Ikeda com seu mestre, Josei Toda. Mais informações no site do Clube de Incentivo à Leitura (CILE), clicando aqui. Fontes:Brasil Seikyo, ed. 2.615, 16 jul. 2024, p. 8 e 9.Idem, ed. 2.574, 8 ago. 2021, p. 6 e 7.IKEDA, Daisaku. Emergindo da Terra. Revolução Humana. São Paulo: Editora Brasil Seikyo, v. 2, p. 187-207, 2022. Notas:1. IKEDA, Daisaku. Pilares de Ouro Soka. São Paulo: Editora Brasil Seikyo, 2019. p. 51-55.2. Idem. Emergindo da Terra. Revolução Humana. São Paulo: Editora Brasil Seikyo, v. 2, p. 205, 2022.3. Ibidem, p. 206.4. IKEDA, Daisaku. Pilares de Ouro Soka. São Paulo: Editora Brasil Seikyo, 2019. p. 63. *** Passe para o lado e veja mais fotos. Foto: BS/Colaboração local Avanço dos companheiros da DS A data que marca a conversão do presidente Ikeda ao Budismo de Nichiren Daishonin, em 1947, foi adotada como Dia da Divisão Sênior, por seu profundo significado. A oficialização ocorreu em 1976, na comemoração do décimo aniversário de fundação da divisão. Na ocasião, ficaram evidentes a base e a missão dos seus membros — caminhar ao lado de Ikeda sensei, com a responsabilidade de liderar as atividades pelo kosen-rufu, e ser exemplo para as demais divisões. Todos reconfirmaram as diretrizes eternas lançadas dez anos antes, quando da fundação da Divisão Sênior (DS) em 5 de março de 1966, reunindo 750 representantes. Então, estas três diretrizes eternas são a base de atuação dos componentes da DS: 1) Ser vitorioso no local de trabalho; 2) Ser um líder que contribui para o bem-estar da comunidade; 3) Ser um pilar de confiança na organização. Conforme consta no capítulo “Coroa de Louros” do romance Nova Revolução Humana, a fundação da Divisão Sênior teve origem em um projeto do presiden­te Ikeda de promover a sintonia entre os veteranos e os jovens no processo de desenvolvimento da Gakkai. Ele desejava que o potencial dos jovens como força propulsora das atividades fosse desenvolvido e bem direcionado por meio da experiência e da seriedade dos membros da DS. Na reunião de fundação, ele disse: O avanço da Soka Gakkai é desenvolvido com a cooperação entre as divisões. Entretanto, da mesma forma como o marido ou o pai é o pilar da família, a Divisão Sênior é a principal responsável pelo progresso da nossa organização. No distrito, é a responsável pelo distrito; na comunidade, é a responsável pela comunidade. Naturalmente, a Divisão Sênior vai se preocupar em desenvolver seus membros, mas não poderá pensar que é uma divisão como as outras. Terá a missão de manter a harmonia entre as divisões e proteger com responsabilidade a Gakkai e seus integrantes.1 A BSGI foi a primeira organização fora do Japão a ter uma Divisão Sênior. No dia 5 de março de 1982, quando se comemoravam dezesseis anos de fundação da DS da Soka Gakkai, sem que ninguém esperasse, o presidente Ikeda anunciou a possibilidade de o Brasil fundar a própria estrutura. Assim, a data de 5 de março é oficialmente considerada como a da fundação da Divisão Sênior da BSGI. No entanto, devido aos preparativos para se estabelecer uma estrutura para a nova divisão, a reunião ocorreu em 4 de abril do mesmo ano. Os integrantes da Divisão Sênior carregam a missão fun­damental de proteger a organização e proporcionar as condições necessárias para o florescer de pessoas valorosas que impulsionam o avanço do kosen-rufu, enquanto se desenvolvem como verdadeiros pilares de ouro que comprovam os ideais do Mestre. Dica de leitura No livro Pilares de Ouro Soka, escrito por Ikeda sensei, você encontra uma coletânea de suas orientações dirigidas aos integrantes da Divisão Sênior. Mais informações no site do Clube de Incentivo à Leitura (CILE), clicando aqui. Fonte:Brasil Seikyo, ed. 2.640, 12 ago. 2023, p. 7. Nota:1. IKEDA, Daisaku. Coroa de Louros. Revolução Humana. São Paulo: Editora Brasil Seikyo, v. 10, p. 258, 2019. No topo: Ilustração mostra Daisaku Ikeda, em pé, em sua primeira reunião de palestra, com a participação do seu futuro mestre, Josei Toda, de costas. Foto: Kenichiro Uchida

08/08/2024

Especial

Mestre e discípulo unidos pela justiça

Durante a Segunda Guerra Mundial, em 1940, passou a vigorar a Lei dos Grupos Religiosos em todo o Japão. E, no ano seguinte, houve a revisão da Lei de Manutenção da Ordem Pública, a qual tinha como objetivo principal a opressão do pensamento e da religião. Sendo assim, ser contra o talismã xintoísta se tornou motivo de prisão, pois o xintoísmo era a base espiritual do Japão militarista. Os detetives da polícia especial começaram a vigiar a Soka Gakkai em 1942 e, no ano seguinte, todas as reuniões estavam sob os olhares atentos deles. Além disso, o clero estava envolvido, e se uniu aos militares para implantar a unificação dos grupos religiosos. Em junho de 1943, o clero aceitou passivamente o talismã xintoís­ta e, no mesmo mês, Tsunesaburo Makiguchi e Josei Toda foram chamados ao templo principal, sendo orientados a seguir as ordens do governo. O presidente Makiguchi então declarou: “Nunca nos inclinaremos ante a Deusa do Sol”. Com essas palavras, ele e Josei Toda saíram do templo. Na volta, bastante indignado com o comportamento do clero, Makiguchi sensei disse: “Não temo a queda de uma religião tanto quanto temo a destruição de toda a nação. Temo a tristeza que isso causaria a Nichiren Daishonin. Não está na hora de admoestar o governo? Do que o clero tem medo? O que acha disso?”.1 Toda sensei ficou em silêncio, não sabia o que responder. Mais calmo, seu mestre perguntou novamente: “O que acha disso?”. Com a voz baixa, mas forte, Josei Toda fez seu juramento ao mestre: “Enquanto eu viver, seguirei o senhor fielmen­te. Estou pronto para morrer por nossa fé”.2 Na manhã do dia 6 de julho de 1943, o presidente Makiguchi foi detido em Shizuoka, onde realizava shakubuku. Ao se despedir da senhora que o acompanhava, confiou-lhe uma mensagem: “Transmita minhas recomendações a Josei Toda”. Porém, Toda sensei também havia sido preso no mesmo dia, em Tóquio. As acusações que caíram sobre eles foram: violação da Lei da Manutenção da Ordem Pública e suspeita de desrespeito ao santuário xintoísta. No dia 11 de outubro de 1943, cerca de duas semanas após o presidente Tsunesaburo Makiguchi ser transferido para o Centro de Detenção de Tóquio, Josei Toda também foi levado para a solitária desse local. Em 18 de novembro de 1944, Makiguchi sensei falece na prisão. Toda sensei só soube do falecimento do seu mestre em 8 de janeiro do ano seguinte. Posteriormente, Josei Toda foi transferido do Centro de Detenção de Tóquio para o Presídio de Toyotama. Dali, foi libertado às 19 horas do dia 3 de julho do mesmo ano. O recomeço da Soka Gakkai Após a sua libertação da prisão e com o objetivo de honrar a vida do seu mestre, Josei Toda deu início à reconstrução da Soka Gakkai. Em 3 de maio de 1951, assume como segundo presidente da organização e sua liderança é marcada pelo esforço da reconstrução e pelo fortalecimento da Soka Gakkai. No ano seguinte, a denominação Soka Kyoiku Gakkai [Sociedade Educacional de Criação de Valor] foi alterada para Soka Gakkai [Sociedade de Criação de Valor]. Toda sensei dizia: “A Soka Gakkai é mais preciosa do que minha própria vida”. Nesse ínterim, em 24 de agosto de 1947, o jovem Daisaku Ikeda converte-se ao Budismo Nichiren e decide ser treinado por Josei Toda, fazendo assim o juramento de acompanhar seu mestre por toda a vida. Sobre a relação de mestre e discípulo, o presidente Ikeda frisa: Agi totalmente de acordo com a intenção do Buda. Nunca tive a ambição de me tornar isto ou aquilo nem de receber nenhum tipo de tratamento especial. Tudo o que queria era proteger Toda sensei e lhe devotar minha vida. Esta era minha oração. Ficaria satisfeito se pudesse deixar um exemplo para as gerações futuras de como um verdadeiro discípulo de Josei Toda, um mestre sem igual, deveria conduzir sua vida.3 Comprovar a verdade e a justiça Com a grande expansão das conversões no Distrito Osaka e em todo o Japão, muitos inimigos se levantaram contra a Soka Gakkai. Em 1957, Daisaku Ikeda foi para Hokkaido a fim de solucionar o incidente com o Sindicato dos Mineradores de Yubari, que promovia uma perseguição discriminatória contra os membros da organização. O fato culminou com o Incidente de Osaka, quando, em 3 de julho de 1957, Ikeda sensei, com menos de 30 anos, foi preso injustamente sob a falsa acusação de fraude eleitoral. Ao ser recepcionado no aeroporto, o presidente Ikeda disse para uma senhora que estava no local: “Está tudo bem. Como a senhora sabe, eu não fiz nada de errado. Não há com o que se preocupar”.4 Ele também comenta: “Doze anos mais tarde, em 3 de julho de 1957, eu, seu discípulo, segui orgulhosamente seus passos: fui preso por um crime que não cometi — uma perseguição enfrentada por propagar a Lei Mística”.5 Interrogatórios do jovem Ikeda Durante a prisão, o presidente Ikeda passou por diversos interrogatórios. Em 9 de julho de 1957, por exemplo, a promotoria o pressionou ainda mais para que admitisse a culpa. Repetidas intimidações foram feitas durante os intermináveis interrogatórios. A promotoria exigia que Ikeda sensei admitisse a culpa, recorrendo-se a chantagens como “Faça logo com que o secretário Ikeda admita, senão faremos uma diligência nas empresas de Josei Toda e na sede da Soka Gakkai. E, conforme a situação, prenderemos o presiden­te Josei Toda”. Essa exigência foi apresentada a Daisaku Ikeda pelo advogado de defesa na manhã do dia 10 de julho. Na mesma noite, ele pensou: A saúde do mestre é frágil. Não posso deixar Toda sensei morrer na prisão como aconteceu ao presidente Makiguchi. Não permitirei que ele seja preso! Devo minha vida a ele. Não importa o que aconteça, vou protegê-lo! Isso significaria descartar a verdade e mentir conforme o desejo do promotor. Não estaria desonrando conscientemente a estimada Soka Gakkai?6 O presidente Ikeda saiu da prisão no dia 17 de julho de 1957. Foram catorze dias em que sofreu pesados interrogatórios e, ao afirmarem que prenderiam o presidente Josei Toda, caso ele não confessasse o crime eleitoral, assinou uma confissão porque jamais deixaria seu mestre retornar injustamente para a prisão. Porém, determinou que faria justiça e provaria a verdade. Naquela tarde, os membros de Kansai fizeram uma grande manifestação com protestos contra a polícia e a promotoria de Osaka. Apesar do temporal que caía sem tréguas, milhares de membros se reuniram no Centro Cívico de Nakanoshima e no entorno, no centro de Osaka. Na ocasião, o presidente Ikeda bradou corajosamen­te: “Vamos lutar com a convicção de que a justiça do budismo prevalecerá no final!”. “Daisaku, você tem uma longa batalha” A primeira audiência no Tribunal de Osaka ocorreu em 8 de outubro de 1957. No total, 64 pessoas foram indiciadas no caso, formando dois grupos: um acusado de compra de votos, e o outro, de solicitação de votos de porta em porta. Dos dez artigos de acusação apresentados no julgamento, Daisaku Ikeda foi acusado por todos os relacionados à solicitação de votos de porta em porta, e o diretor-geral da Soka Gakkai, Tadashi Koizumi, à compra de votos. Em 5 de março de 1958, Ikeda sensei foi ao encontro do presiden­te Josei Toda, para lhe informar sobre a viagem para Osaka, a fim de se apresentar ao julgamento. Acamado, Toda sensei descobriu o cobertor e lhe disse: Daisaku, você está exausto, não está? Como está sua saúde? Você tem uma longa batalha pela frente. Gostaria de tomar seu lugar se pudesse. Você arcou com toda a culpa. É realmente uma pessoa de bom coração. (...) Este julgamento não será uma batalha fácil. Poderá perturbá-lo por mais algum tempo pela frente. Porém, você vencerá no final. Pelo fato de o ouro ser ouro, jamais perde seu brilho, não importa quão enlameado possa estar. Definitivamente, a verdade aparecerá. Apenas lute como homem — com dignidade e coragem.7 Em 2 de abril daquele ano, o presidente Josei Toda falece e, em meio a esse turbilhão, as audiências prosseguiram. Mais que nunca, o juramento do presidente Ikeda permanecia intacto. “Toda sensei, vencemos” Depois de 1.670 dias após a prisão, em 25 de janeiro de 1962, o juiz proferiu sua decisão: “A corte declara o réu, Daisaku Ikeda, inocente”. Em uma viagem ao Egito, o presidente Ikeda recebe um telegrama da sede da Soka Gakkai informando que não houve apelação dos promotores, indicando finalmente a finalização do processo e assinalando a vitória da luta pela justiça. Durante um evento comemorativo do trigésimo aniversário de libertação de Josei Toda, o presidente Ikeda afirmou em seu discurso: Pulsa na Soka Gakkai o indomável espírito de avançar com renovada esperança. À luz das escrituras de Nichiren Daishonin, sabemos que enfrentaremos duras tempestades de perseguições e furiosas ondas de ataques. Contudo, para proteger a liberdade de crença, os direitos humanos e a paz e felicidade do povo, devemos perseverar em nossos esforços. A Soka Gakkai é a fortaleza da paz e dos direitos humanos. É o jardim florido da revitalização das pessoas. É um microcosmo da comunidade humana ideal. Para alcançarmos nossos objetivos, devotarei a vida a proteger e a cuidar da Soka Gakkai com todas as minhas forças. Acredito que este seja o caminho para corresponder ao juramento a Toda sensei.8 A luta incondicional para proteger a Soka Gakkai e os companheiros com base na unicidade de mestre e discípulo marca a trajetória dos Três Mestres Soka e permanece eternamente como modelo de coragem e determinação diante das maldades que tentam impedir o avanço do movimento pelo kosen-rufu e pela felicidade da humanidade. o jovem Daisaku Ikeda é recebido por vários membros de Kansai na saída da Casa de Detenção de Osaka (jul. 1957) Josei Toda, em pé, e Tsunesaburo Makiguchi, sentado; ambos protegeram a legitimidade do budismo perante as imposições do governo militarista japonês durante a Segunda Guerra Mundial Dica de leitura Na série “A Luta dos Três Mestres na Prisão”, publicada na revista Terceira Civilização em suas edições 527 a 531, de julho a novembro de 2012. Notas: 1. Terceira Civilização, ed. 527, jul. 2012, p. 30. 2. Ibidem. 3. Brasil Seikyo, ed. 1.947, 12 jul. 2008, p. A2. 4. Terceira Civilização, ed. 529, set. 2012, p. 36. 5. RDez, ed. 79, jul. 2008, p. 19. 6. Terceira Civilização, ed. 530, out. 2012, p. 30. 7. O julgamento. Revolução Humana. In: Terceira Civilização, ed. 289, set. 1992, p. 2 e ed. 531, nov. 2012, p. 32. 8. IKEDA, Daisaku. Novo Século. Nova Revolução Humana, v. 22. São Paulo: Editora Brasil Seikyo, 2019. p. 24. Ilustrações: Kenichiro Uchida Fotos: Seikyo Press

20/06/2024

Especial

Três de maio de ardente esperança

“Cada passagem dessa data é um momento para mestre e discípulos prometerem, juntos, realizar a ampla propagação da Lei Mística. É o dia para iniciarem uma nova luta em prol da paz mundial e da felicidade da humanidade. Assim será, eternamente!”1 As palavras do presidente Ikeda expressas nessa abertura nos conduzem ao espírito das comemorações dos significativos marcos do 3 de Maio na Soka Gakkai. Ainda mais neste ano (2024), o primeiro após a partida do Mestre, que encerrou serenamente sua existência em 15 de novembro de 2023, aos 95 anos — uma jornada de dedicação abnegada pela causa da paz. Neste especial, trazemos alguns contextos históricos e compartilhamos as expectativas para o 3 de Maio entre nós, brasileiros. O levantar dos genuínos discípulos em assumir o legado de Ikeda sensei, aqui e agora. Profunda relação de juramento Sete anos após a morte do fundador da Soka Gakkai, Tsunesaburo Makiguchi, que ocorreu no cárcere por defender suas crenças, Josei Toda, seu fiel discípulo, assume a presidência da Soka Gakkai. Ele, que também havia sido preso, determinou reconstruir a organização e honrar a existência do seu mestre, abrindo a correnteza do espírito Soka. No dia 3 de maio de 1951, em seu discurso de posse, Toda sensei fez uma apaixonada declaração: “Juro converter, por meus próprios esforços, 750 mil famílias enquanto eu viver”. Este foi o imponente juramento de concretizar o kosen-rufu, o movimento para a consecução de uma sociedade de paz. Na época, a Soka Gakkai tinha apenas 3 mil membros. Toda sensei toma posse da segunda presidência (3 maio 1951) O jovem Daisaku Ikeda, que da plateia ouviu aquele brado e abraçou essa causa, acompanhou seu mestre em todas as iniciativas até o falecimento dele, em 2 de abril de 1958. Sobre o período em que compartilharam juntos desafios e vitórias, Ikeda sensei deixou gravado: Ele [Toda sensei] encontrou-me; elevou-me; dele aprendi o correto significado da fé e os verdadeiros ensinamentos do budismo. Além disso, ele me ensinou como alguém pode viver e como os esforços de um ser humano florescem na sociedade. Para mim, sua orientação foi o hino da minha juventude, minha realidade, o mais nobre drama da vida neste mundo.2 3 de maio de 1960 — o levantar do discípulo Com a morte de Josei Toda, muitos na sociedade acreditavam que a Soka Gakkai deixaria de existir. No entanto, ardia no peito do jovem Daisaku Ikeda o juramento de cumprir o legado do seu mestre. Dessa maneira, em 3 de maio de 1960, aos 32 anos, ele assume a terceira presidência da organização. Sra. Kaneko Ikeda ajeita o oribon (enfeite comemorativo) no traje de Ikeda sensei momentos antes da cerimônia de posse (3 maio 1960) Diante de 20 mil membros reunidos no auditório da Universidade do Japão, ele se manifestou com vigorosa energia: “Apesar de jovem, a partir deste dia, assumirei a liderança como representante dos discípulos do presidente Josei Toda e avançarei com vocês rumo à substancial concretização do kosen-rufu”.3 Foi também nesse dia, em 1952, que Daisaku e Kaneko se casaram numa cerimônia simples, mas repleta de inspiração e significados. Presidente Ikeda é carregado pelos participantes celebrando sua posse (3 maio de 1960) O presidente Ikeda rompeu os limites do país, partindo do Japão cinco meses depois, em 2 de outubro de 1960, levando a filosofia da esperança para o mundo, inclusive para o Brasil. Com a fundação do Distrito Brasil, inaugurou-se a fase de desenvolvimento da organização, edificada pelos veteranos que jamais perderam os laços da profunda relação de mestre e discípulo. Ao se levantar para cumprir o juramento de posse de concretizar o objetivo de 3 milhões de famílias prometido ao mestre, não houve um dia sequer de descanso. Na Nova Revolução Humana, obra em trinta volumes escrita pelo Dr. Daisaku Ikeda ao longo de 25 anos ininterruptos, encontramos os bastidores da inigualável luta e vitória conquistada por Ikeda sensei e pelos membros em união plena. Um triunfo do humanismo Soka. No livro consta que, na reunião de líderes realizada em maio de 1965, os resultados foram apresentados ao calor da sincera gratidão. O número de famílias havia saltado de 1,4 milhão para 5,4 milhões, equivalente a um crescimento de 3,8 vezes. A Divisão dos Jovens (DJ) expandiu-se de maneira extraordinária. Os 61 distritos por ocasião da posse agora eram mais de mil. E no exterior houve um aumento de 441 famílias para 50 mil, ou seja, um crescimento de mais de cem vezes. Referindo-se a esse dinâmico progresso, lemos esta afirmação do Mestre: — A Soka Gakkai que realizou esse trabalho sagrado é a verdadeira incorporação viva do Buda. É uma grandiosa Ordem budista harmoniosa de praticantes que têm a fé como espinha dorsal e a compaixão como veia sanguínea, e atua em exato acordo com os ditos dourados do Buda. Nós avançamos com férrea união, empenhando-nos incansavelmente pela felicidade de todas as pessoas. Esse aspecto e força fazem com que nossa organização seja comparável a um sólido encouraçado, maior do mundo, em prol da paz. Quero aqui, chamar esse poderoso navio de “diferentes em corpo, unos em mente”. Tenho a plena convicção de que esta correnteza do kosen-rufu haverá de se expandir do Japão para o mundo inteiro, superando as fronteiras de raças e de nações. A Soka Gakkai não será somente o pilar do Japão, mas a esperança e a luz que orientarão a humanidade no século 21. Esta é a minha convicção.4 A sublime e inédita jornada do kosen-rufu empreendida por Ikeda sensei comprova essa convicção. Empenhando-se na arte do incentivo, ultrapassando as diferenças do idioma e de crenças, a Soka Gakkai avançou. Atualmente, são mais de 12 milhões de membros, espalhados em 192 países e territórios, trilhando o caminho da prática da fé do Budismo Nichiren propagado pela organização, unidos pelo ideal do kosen-rufu. No marco do 3 de maio que se avizinha, nós nos encorajamos com as palavras do Mestre, que contextualiza: O espírito do Dia 3 de Maio é o juramento compartilhado por mestre e discípulo. Esse juramento pessoal de cada um e as ações que cada um realiza para cumpri-lo são, por excelência, a postura que caracteriza um buda. Enquanto essa data de eterno juramento permanecer como sua base, a Soka Gakkai brilhará com uma inesgotável e infatigável força vital do Buda e continuará a desbravar para sempre o caminho da vitória, livre de quaisquer obstáculos.8 E para encerrarmos este especial, em que celebramos os 73 anos da posse do segundo presidente Josei Toda; os 64 anos da posse do presidente Ikeda à frente da Soka Gakkai e os 36 anos de estabelecimento do Dia das Mães da Soka Gakkai, oferecemos um estímulo singular. Trata-se de um poema composto por Ikeda sensei aos 19 anos, poucos dias depois de sua conversão ao budismo, que se deu em 24 de agosto de 1947. A seguir alguns trechos do conjunto intitulado Ardente de Esperança, dedicado por ele especialmente aos jovens que lutam contra as adversidades: Ardente de esperança Avanço em direção às ondas bravias. Mesmo humilde e desprovido de posses, mesmo sendo alvo de zombarias e desprezo, suportarei a tudo com perseverança. Um dia, as pessoas haverão de ver! Mantendo a chama ardente no coração, avance pelo seu caminho com força e justiça. Na trilha das adversidades, ao fitar o grandioso céu e sorrir radiantemente, com serenidade posso avistar o futuro de esperança no topo da montanha. Hoje também hei de avançar!9 *** Mães Soka — sóis da esperança “Mesmo que a chuva caia e o vento sopre, o Sol sempre se levanta. As mulheres Soka, os sóis do kosen-rufu, nunca deixam de progredir.”5 Essa é a confiança depositada nas mulheres pelo presidente Ikeda, que, em 1988, elevou a data comemorativa mais importante da nossa organização, isto é, o dia 3 de maio, ao status de “Dia das Mães da Soka Gakkai”, louvando ao máximo os esforços das integrantes da Divisão Feminina (DF). A frase inspiradora apresentada pelo Mestre encontra-se em um de seus livros dedicados às mulheres, intitulado Flores da Felicidade, volume 3, no qual ele defende que: As ações das mulheres Soka, que encorajam os outros constantemente com seu sorriso inabalável e genuíno, são sem dúvida ações do Buda. Por existirem os membros da Divisão Feminina, a família Soka é brilhante e acolhedora, o kosen-rufu avança sem limites e a prosperidade eterna da Lei Mística é assegurada.6 Ikeda sensei enfatiza uma das principais características das mães Soka, as quais não se abalam pelas tormentas do carma e mantêm o sorriso constante. Ele eterniza essa data no seguinte poema: Que todo dia seja o Dia das Mães da Soka Gakkai! O sorriso das nossas compassivas mães do kosen-rufu, que juraram jamais ser derrotadas, faz com que o sol da felicidade e da vitória surja no coração de todos ao seu redor. 7 No topo: Jovem Daisaku Ikeda observa o retrato de seu mestre, Josei Toda, ao se aproximar do palco da cerimônia de posse como terceiro presidente da Soka Gakkai (3 maio 1960). Fotos: Seikyo PressNotas: 1. Brasil Seikyo, ed. 2.033, 1º maio 2010, p. B6. 2. Idem, ed 2.557, 27 mar. 2021, p. 6-7. 3. Idem, ed 2.413, 31 mar. 2018, p. B1. 4. IKEDA, Daisaku. Nova Revolução Humana. São Paulo: Editora Brasil Seikyo, v. 10, 2019, p. 31. 5. Idem. Flores da Felicidade. v. 3. São Paulo: Editora Brasil Seikyo, 2024. p. 47. 6. Ibidem, p. 48. 7. Ibidem, p. 47. 8. Brasil Seikyo, ed. 2.081, 30 abr. 2011, p. A14. 9. Idem, ed. 2.034, 8 maio 2010, p. A2.

25/04/2024

Especial

Vida grandiosa dedicada à paz

Josei Toda nasceu no dia 11 de fevereiro de 1900, na cidade de Kaga, província de Ishikawa, Japão. Quando criança, recebeu o nome de Jin’ichi. Em 1902, sua família numerosa, que vivia basicamente da pesca e do transporte, se muda para Hokkaido. Ele era o sétimo filho e foi uma criança muito empenhada nos estudos. Aos 17 anos, inspirado por seu falecido irmão, Sotokichi, Josei Toda decide abraçar a carreira educacional. Ele conheceu seu mestre, Tsunesaburo Makiguchi, primeiro presidente da Soka Gakkai, em 1920. Em 1928, Tsunesaburo Makiguchi abraça o Budismo de Nichiren Daishonin e começa a seguir esse ensinamento. Ao tomar conhecimento dessa filosofia, Josei Toda acompanha seu mestre e inicia a prática budista. Makiguchi percebe proximidade entre sua forma de pensar e o Budismo Nichiren e fortalece a teoria pedagógica à qual vinha se dedicando havia anos. Em 18 de novembro de 1930, Toda sensei lança o primeiro volume da obra Soka Kyoikugaku Taikei [Sistema Pedagógico de Criação de Valor], de autoria de Makiguchi, fato que marca a fundação da Soka Kyoiku Gakkai [Sociedade Educacional de Criação de Valor]. Com a eclosão da Segunda Guerra Mundial, Toda sensei e Makiguchi sensei foram presos. O governo militar japonês havia imposto como religião oficial o xintoísmo e, após negar veementemente a sua adoção, os líderes da Soka Gakkai foram detidos em julho de 1943. Devido aos maus-tratos e severa desnutrição, Tsunesaburo Makiguchi faleceu na prisão. Um mês antes do cessar-fogo, em 3 de julho de 1945, Josei Toda foi solto e encontrou um Japão devastado pela guerra. Mesmo com o estado de saúde precário, ele decidiu se levantar sozinho para reconstruir a organização, que passa a ser denominada Soka Gakkai [Sociedade de Criação de Valor]. Encontro com seu fiel discípulo Em meio à reconstrução da organização, Josei Toda conheceu um jovem que se tornaria seu fiel discípulo e mudaria a história do kosen-rufu mundial: Daisaku Ikeda. O rapaz sofreu com os males da guerra, perdendo o irmão mais velho durante o combate e resolveu buscar uma visão correta da vida. Então, participou de uma palestra da Soka Gakkai em 14 de agosto de 1947, seu primeiro encontro com Toda sensei. Naquele dia, Josei Toda explanou o escrito Estabelecer o Ensinamento para a Pacificação da Terra. Ao término da explanação, o jovem fez uma série de perguntas e, diante das respostas claras e coerentes de Toda sensei, sentiu que poderia confiar nele. Dez dias depois, em 24 de agosto, Daisaku Ikeda se converteu ao Budismo de Nichiren Daishonin. Josei Toda viveu de forma grandiosa e seus feitos ainda impactam as atividades da Soka Gakkai em todo o mundo. Em sua posse como segundo presidente da organização, em 3 de maio de 1951, determinou a expansão da Soka Gakkai e lançou o ousado objetivo de concretizar 750 mil famílias. Na época, a organização possuía pouco mais de 3 mil membros. Caminhando com o jovem discípulo Daisaku Ikeda no Festival dos Jovens, realizado no campo de atletismo da Universidade Nihon (Tóquio, set. 1956) Grandioso legado Entre as ações para alcançar sua meta, iniciou a publicação do jornal Seikyo Shimbun, em 20 de abril de 1951, no qual começou a escrever em série o romance Revolução Humana e lançou a Coletânea dos Escritos de Nichiren Daishonin (Nichiren Daishonin Gosho Zenshu), em 28 de abril de 1952, em comemoração dos setecentos anos de fundação do Budismo de Nichiren Daishonin. Em 8 de setembro de 1957, Josei Toda proferiu a Declaração pela Abolição das Armas Nucleares, que se tornou uma diretriz do movimento da Soka Gakkai em prol da paz. Na declaração, ele condena o uso das armas nucleares, considerando-as um “grande mal” que tira da humanidade o direito à vida. Em dezembro daquele ano, Toda sensei concluiu a maior realização de sua existência, concretizando mais de 750 mil shakubuku. No dia 16 de março de 1958, percebendo seu frágil estado de saúde, decidiu realizar uma cerimônia de transmissão do bastão espiritual do kosen-rufu para 6 mil membros da Divisão dos Jovens. Após alcançar suas metas de vida, faleceu serenamente no dia 2 de abril de 1958, em meio às cerejeiras em flor que permeavam o país nessa época. Daisaku Ikeda descreve os sentimentos que se passavam em seu coração no dia da morte do seu mestre: A vida de um grande herói da Lei Mística, uma figura monumental do kosen-rufu, chegou ao fim. Mas sensei deixou uma extensão de sua vida, e está para começar o segundo ato da batalha decisiva para tornar realidade os princípios budistas na sociedade. Eu me levantarei!1 Em outra ocasião, o presidente Ikeda salienta: Ele [Josei Toda] confiava sinceramente em mim, embora eu fosse 28 anos mais novo que ele. “Não posso confiar em ninguém mais a não ser em você”, ele dizia. (...) Sinto profunda e eterna gratidão por meu mestre. Este é o caminho de mestre e discípulo na Soka Gakkai — um belo laço espiritual. Desejo agora transmitir esse espírito aos jovens em quem deposito máxima confiança.2 Ikeda sensei encerrou sua nobre existência em 15 de novembro de 2023 e, conforme ele expressa nessas palavras, assim como se levantou desde a juventude para tornar realidade cada um dos sonhos do seu mestre, Josei Toda, é chegado o momento de os discípulos assumirem a missão pela concretização do kosen-rufu mundial, herdando o legado dos Três Mestres Soka. No topo: Josei Toda em pé ao lado do seu mestre, Tsunesaburo Makiguchi. Fontes: Brasil Seikyo, eds. 2.502 a 2.505, 1o, 8, 15 e 29 fev. 2020, p. 10-13. Notas: 1. IKEDA, Daisaku. Diário da Juventude: A Jornada de um Homem Dedicado a um Nobre Ideal. São Paulo: Editora Brasil Seikyo, 2019. p. 459.2. Brasil Seikyo, ed. 1.934, 5 abr. 2008, p. A3. Fotos: Seikyo Press

23/03/2024

Livros

Crença no valor das pessoas

Uma religião verdadeira é aquela que está a serviço das pessoas. Essa é a ponderação do filósofo e humanista Dr. Daisaku Ikeda a respeito do tema, detalhado no livro Revolução Humana, volume 7, de sua autoria, publicado pela Editora Brasil Seikyo (EBS). Com o pseudônimo de Shin’ichi Yamamoto, ele relata o que ocorreu no Japão em 1953, ano de intenso desenvolvimento da Soka Gakkai com o aumento de 50 mil novos membros na organização, quando assumiu a liderança da Divisão Masculina de Jovens (DMJ), sob orientação e treinamento do seu venerado mestre, Josei Toda. A obra está disponível aos participantes do Clube de Incentivo à Leitura (CILE) da EBS nas versões impressa e digital, e para quem desejar adquiri-la. Guiados pela narração de Shin’ichi, os leitores terão uma compreensão aprofundada sobre o fundamento de uma filosofia de vida correta, a qual deve priorizar cada ser humano acima de tudo e assim gerar a força propulsora responsável pela transformação dos problemas da sociedade. Seguindo o exemplo de Josei Toda, que oferecia incentivos a todos que estivessem sofrendo diante da crise financeira japonesa daquele ano, o jovem Yamamoto relata o empenho de seu mestre no aprimoramento de jovens dos grupos Suikokai (DMJ) e Kayokai (DFJ), expoentes formadores de grandiosos líderes da sociedade e da Soka Gakkai do futuro. Neste momento oportuno, no qual os discípulos Ikeda dão continuidade ao legado do kosen-rufu, esse volume da Revolução Humana revela, por meio da história da organização, que o caminho para edificar um mundo de esperança é acreditar no potencial das pessoas e desenvolvê-las. A obra serve de grande incentivo e motivação para os eternos jovens herdeiros da missão do Mestre visando construir um mundo humanístico de acordo com a filosofia de vida do budismo. O livro integra a série de publicações Revolução Humana, também disponível no CILE, que retrata a história da luta de Josei Toda para reerguer e fortalecer a Soka Gakkai, com Shin’ichi Yamamoto ao seu lado. Os esforços do segundo presidente empreendidos nessa época constituem as bases da organização que viria a se expandir para o mundo e se tornar a Soka Gakkai Internacional (SGI). Veja aqui os kits de abril para cada plano do CILE PLANO DIAMANTE Livros são joias preciosas. O Diamante é o plano de assinatura do CILE perfeito para você que gosta de uma experiência completa de leitura no formato físico. Nele você recebe mensalmente: 1 livro lançamento 1 card colecionável 1 brinde especial 1 marcador de página Resenha digital e conteúdos extras 52,00/mês + Taxa de entrega PLANO OURO O Ouro é o plano de assinatura do CILE ideal para os leitores que estão iniciando a jornada de incentivo à leitura. Nele você recebe mensalmente: 1 livro lançamento 1 marcador de página 32,00/mês + Taxa de entrega Vídeo sobre o livro Revolução Humana, volume 7. Confira o vídeo spoiler sobre o lançamento de abril. Quer fazer parte do CILE? Para garantir a sua leitura e receber esta obra no mês de março, assine o CILE até 31/03/2024. Acesse o site: www.cile.com.br Para os assinantes do CILE Digital, a obra ficará disponível a partir do dia 01/04/2024 em www.ciledigital.com.br Foto: BS Ilustração: Reprodução

07/03/2024

Terceira Civilização

Na prática

Vamos “emergir das profundezas da terra”, onde nos encontramos neste momento!

Por que nascemos? Por que passamos por diversas questões neste mundo cheio de dificuldades? Esses são questionamentos comuns, principalmente entre aqueles que mais sofrem. Em uma de suas explanações para os jovens, Josei Toda, segundo presidente da Soka Gakkai, reflete sobre essas perguntas e responde que “Nascemos neste mundo para realizar o trabalho do Buda”.1 Ele esclarece que enfrentamos duras circunstâncias para conduzir à iluminação aqueles que estão sofrendo e que essa é a missão escolhida pelos bodisatvas da terra. Nesta edição, vamos fazer uma profunda reflexão sobre como podemos desfrutar a vida com alegria e esperança, mesmo diante de dificuldades, e ainda conduzir as pessoas à plena felicidade e à transformação da sociedade. Inquietação do jovem Ikeda Após a derrota do Japão na guerra, os mais velhos passaram a viver em letargia, totalmente perdidos em meio à verdadeira miséria que as famílias enfrentavam. Já a maioria dos jovens tinha vitalidade e ansiava por um novo caminho. Em busca de conhecimento, reuniam-se em grupos com interesses comuns para ler e debater sobre livros, e outros se encontravam para ouvir música. “Eles começavam a se movimentar espontaneamente como se fossem as ervas daninhas que no solo congelado do inverno são as primeiras a germinar”.2 Daisaku Ikeda era um desses jovens e fazia parte de um grupo de aproximadamente vinte pessoas entre 20 e 30 anos. Eles estavam ávidos por assuntos relacionados às ciências humanas, que estudavam áreas como cultura, arte, política, economia e filosofia. Ikeda sensei detalhou as circunstâncias da sociedade e de sua vida naquela época: A pobreza das pessoas só piorava com a inflação desenfreada, e o peso da derrota na guerra pesava forte sobre os ombros de cada cidadão. Por exemplo, em relação ao preço oficial do arroz distribuído, a situação era tal que, no final desse ano, ele estava 25 vezes mais caro do que o valor aplicado em dezembro do ano em que a guerra encerrara e, no ano seguinte, subiria abruptamente para 60 vezes. A minha vida também não estava fácil. Contudo, não sei se era minha natureza inata, ou se eu tinha agregado uma vitalidade em meio à multidão; de qualquer forma, as dificuldades da vida não me incomodavam.3 Quem são os bodisatvas da terra “Bodi” significa “sabedoria do Buda”, e “satva”, “seres sensíveis” e “valor”. A palavra “bodisatva” quer dizer “Ser que aspira ao estado de buda e realiza ações altruísticas visando atingir esse objetivo. A característica predominante dos bodisatvas é a compaixão, visto que postergam a própria entrada no nirvana para conduzir os outros à iluminação”.4 Os bodisatvas da terra literalmente surgem no capítulo 15, “Emergindo da Terra”, do Sutra do Lótus. Esse capítulo separa o ensinamento teórico, que são os primeiros catorze capítulos, do ensinamento essencial, que corresponde aos últimos catorze. Um dos aspectos que representa essa diferenciação é o juramento dos bodisatvas, discípulos do Buda, de se esforçarem eternamente para conduzir as pessoas à iluminação neste mundo repleto de sofrimentos. O Sutra do Lótus descreve que a terra de todos os bilhões de terras do mundo saha tremeu e se abriu, e dela emergiram milhares, dezenas de milhares, milhões de bodisatvas. Assim, a “terra” representa a condição de vida inerente a todas as pessoas, sem discriminação. Essa chegada deles foi tão impressionante que surpreendeu os bodisatvas do ensinamento teórico, incluindo Maitreya, que pergunta quem eles são e por que surgiram. Shakyamuni responde que são seus discípulos a quem ele tem ensinado e convertido desde o passado distante. “Sou eu quem surge da terra” Também causou furor entre os participantes o “surgimento” de Ikeda sensei em seu primeiro encontro com Josei Toda. Naquela conjuntura da vida do jovem Ikeda, descrita no início desta seção, vendo quão interessado ele era por filosofia e pelas questões humanas, dois amigos o convidaram para a ir a uma reunião na qual Toda sensei faria uma explanação. Em 14 de agosto de 1947, ele participa de sua primeira reunião na Soka Gakkai. O jovem Ikeda não conhecia essa história sobre o surgimento dos bodisatvas da terra ou mesmo a expressão “bodisatvas da terra”, mas recitou um poema que finalizou com os seguintes versos: Neste encontro ideal, sou eu quem surge da terra! Os participantes da reunião aplaudiram, porém, no íntimo, estavam boquiabertos, exclamando “Que jovem diferente!”. Josei Toda ficou radiante quando ouviu esse último verso.5 O jovem Daisaku Ikeda foi embora naquele dia e, em meio às questões da própria vida, ele descreve o que realmente o preocupava: Vendo as pessoas sofrendo e se lamentando diante daquela situação calamitosa eu não podia permanecer em um estado de dormência espiritual sem manifestar compaixão e simplesmente ignorar. Foi justamente no momento crucial, quando eu estava avançando do estado de dormência ideológica para o estado de insônia espiritual, que eu pude encontrar o meu mestre da vida.6 “Vendo as pessoas sofrendo e se lamentando diante daquela situação calamitosa eu não podia permanecer em um estado de dormência espiritual sem manifestar compaixão e simplesmente ignorar.” — na prática, isso é o que significa ser bodisatva da terra. Naturalmente, passar a ensinar o budismo Todas as pessoas transpõem montanhas e vales no decorrer da vida. O que as diferenciam são seu comportamento e sua reação ao longo da jornada. No início da organização, os veteranos ensinavam os fundamentos da prática do Budismo de Nichiren Daishonin para os novos membros e os apoiavam enquanto eles mesmos enfrentavam dificuldades, como dívidas, doenças, desarmonia familiar. Aqueles que estavam dando os primeiros passos na prática da fé não conseguiam ainda apresentar o budismo para as pessoas e apenas concordavam com os mais experientes. No entanto, ao continuarem participando das atividades da Soka Gakkai, a vida de cada um deles se enchia de energia vital e esperança. Seguindo o exemplo daqueles que os acompanhavam, estudavam o budismo, aprofundavam a fé e, naturalmente, passavam a falar sobre a alegria e a convicção na prática da fé. Assim, espontaneamente, começavam a ensinar o budismo para os amigos. Dessa forma, eles despertavam para a condição de bodisatva da terra, que cumpre a nobre missão de propagar os ensinamentos de Nichiren Daishonin. O presidente Ikeda conta que essas pessoas estavam mais preocupadas com os sofrimentos dos amigos e com o futuro do país do que com as próprias doenças ou problemas financeiros. Por isso, eles oravam de coração pela felicidade do outro e pela paz mundial. “No íntimo já haviam atingido um vasto e indestrutível estado da vida. Essa transformação fundamental mudou drasticamente a realidade da vida diária e lhes trouxe grande benefício e felicidade”.7 O destino é a missão A vida de Ikeda sensei e dos membros da Soka Gakkai é a representação do que é ser um bodisatva da terra — pessoas encarregadas da missão pelo kosen-rufu. A partir desses exemplos, percebemos que a nossa vida, assim como a de pessoas comuns com sofrimentos e frustrações, também pode manifestar o comportamento de bodisatva da terra. De que maneira? Enquanto nos dedicamos aos fundamentos do exercício budista — fé, prática e estudo —, não nos deixamos vencer pelas dificuldades, como Ikeda sensei explica: Pode-se dizer que os sofrimentos são condições indispensáveis para cumprir a missão dos emergidos da terra. Por isso, o destino é, em si, a missão. Por piores que sejam as tempestades do destino, não há absolutamente nada que não possa ser superado.8 Mas não devemos parar por aí! Ao vermos as pessoas sofrendo e se lamentando, precisamos lhes apresentar esse caminho. O bodisatva da terra aflige-se com o problema do outro e do mundo, sente profunda compaixão e, então, propaga os ensinamentos de Nichiren Daishonin. Essa é a sua missão. Encontro dos bodisatvas da terra Hoje, a Soka Gakkai, presente em 192 países e territórios, vive a verdadeira expressão de encontro dos bodisatvas da terra. Seus membros dialogam, acreditando na própria identidade de bodisatva da terra e na de todos os outros, com a consciência de que as pessoas merecem o mais profundo respeito. Em meio às questões que a sociedade enfrenta, os jovens brotam do rico solo dos nossos blocos e nossas comunidades e, tal qual Ikeda sensei na tenra idade, buscam se conectar a um ideal em prol da paz do mundo. De agora em diante, cultivando esses jovens valores, vamos decidir, uma vez mais, viver com a postura de um verdadeiro bodisatva da terra, como Ikeda sensei incentiva: Quando o sol nasce, a escuridão se dissipa. A vida dos bodisatvas da terra é como o sol. O surgimento de um único bodisatva da terra ilumina e revitaliza a localidade. A partir daí é que a luz da expansão se propaga. Agora é hora de recitar Nam-myoho-renge-kyo para romper a estagnação e a resignação. Vamos demonstrar um renovado “emergir das profundezas da terra”, onde nos encontramos neste momento! Construam um palácio de felicidade e uma rede de bodisatvas da terra. Estabeleçam a cidade eterna em sua nobre e valiosa terra.9 Notas:1. Terceira Civilização, ed. 576, ago. 2016, p. 6.2. IKEDA, Daisaku. Revolução Humana. São Paulo: Editora Brasil Seikyo, v. 2, p. 186-187, 2022.3. Idem. Minhas Recordações. São Paulo: Editora Brasil Seikyo, 2022, p. 98.4. Coletânea dos Escritos de Nichiren Daishonin. São Paulo: Editora Brasil Seikyo, v. I, p. 896, 2020.5. Cf. IKEDA, Daisaku. Revolução Humana. São Paulo: Editora Brasil Seikyo, v. 2, p. 206-207, 2022.6. IKEDA, Daisaku. Minhas Recordações. São Paulo: Editora Brasil Seikyo, 2022, p. 98.7. Idem. Nova Revolução Humana. São Paulo: Editora Brasil Seikyo, v. 13, p. 87-88, 2019.8. Idem. Nova Revolução Humana. São Paulo: Editora Brasil Seikyo, v. 30-I, p. 345, 2022.9. Terceira Civilização, ed. 576, ago. 2016, p. 6. Fotos: Brasil Seikyo Ilustrações: Getty Images

01/08/2024

Série

Os livros da minha juventude

Tradução dos extratos do livro The Books of My Youth [Os Livros da Minha Juventude] A AMIZADE ENTRE ROSSI E BRUNO Aprendi algumas lições importantes com Rossi e Bruno e com o estilo de vida deles. Se os jovens da minha época enfrentassem o mesmo destino dos dois, quantos poderiam suportar uma opressão tão severa? Embora a revolução política a qual Rossi e Bruno dedicaram a vida fosse muito diferente da revolução religiosa que pretendíamos, aplaudi a esplêndida devoção ao povo. Ao lermos essa obra, meus treze amigos e eu confirmamos a decisão de viver como Rossi e Bruno. É realmente maravilhoso que, ao lermos um livro juntos, possamos unir nosso coração e criar laços de camaradagem mais fortes que os laços de sangue. Após todos nós lermos o livro, encontramo-nos com Toda sensei para compartilhar nossas impressões. De acordo com meu diário, fez um tempo bom naquele dia: quinta-feira, 8 de fevereiro de 1951. Naquela noite, fiz a seguinte anotação: Às 19 horas, quatorze jovens revolucionários da religião reuniram-se, audazes, sob a liderança do nosso mestre, Toda sensei. O encontro de hoje, solene e vibrante, durou mais de três horas. Havia uma profunda seriedade em todos os participantes. [...] Em seguida, os participantes dialogaram sobre o livro Cidade Eterna. Eu disse que as revoluções podem ser divididas em três grandes categorias: política, econômica e religiosa. Comentei que esse livro descreve uma revolução política semelhante à Restauração Meiji do Japão. As revoluções comunistas são de natureza econômica. A revolução que nós estamos tentando realizar é mais fundamental: uma revolução religiosa. Em outras palavras, uma revolução verdadeiramente pacífica e sem derramamento de sangue.1 Minha anotação no diário era simples: breve nota para meu registro pessoal, escrita quando eu tinha apenas 23 anos. Não consegui expressar tudo o que eu queria dizer, pois o encontro daquela noite foi verdadeiramente memorável. Toda sensei deu palestras sobre o escrito Recebimento das Três Grandes Leis Secretas,2 de Nichiren Daishonin. Embora seu público fosse um pouco mais de uma dúzia de jovens, ele falou apaixonadamente sobre a jornada para a propagação do Budismo Nichiren, e suas palavras penetraram fundo no nosso coração. Toda sensei provavelmente sentiu a profundidade da nossa decisão de dedicar a vida a essa revolução religiosa da era moderna. Naquela noite, apenas três meses antes de tomar posse como segundo presidente da Soka Gakkai, ele devia estar seriamente determinado a assumir essa responsabilidade. Ikeda sensei na juventude LAÇO ETERNO ENTRE MESTRE E DISCÍPULO A edição japonesa de Cidade Eterna que Toda sensei me deu foi traduzida por Shukotsu Togawa. Segundo o exemplar, foi publicado em 20 de julho de 1930, pela editora Kaizosha. Togawa, nascido em Kumamoto3 em dezembro de 1870, foi um estudioso da literatura inglesa. Ainda jovem, apaixonado por literatura, tornou-se um dos editores de uma conhecida revista literária chamada Bungakukai, lançada em janeiro de 1893. Foi colega de Toson Shimazaki e Kocho Baba, importantes figuras literárias japonesas da época. Após se formar no departamento de inglês da Universidade de Tóquio, lecionou no ensino médio antes de se tornar professor na Universidade Keio. Hall Caine, romancista britânico, escreveu e publicou Cidade Eterna em 1901 com base em suas observações e experiências enquanto vivia na Itália. Togawa leu o romance logo depois de publicado e o achou tão cativante que, com a ajuda de um amigo, começou a traduzi-lo. Devido às condições do mercado editorial do Japão naquela época, parece que ele não conseguiu publicar o livro inteiro, apenas uma versão resumida com metade ou até um terço do tamanho do original. Caine foi autor de best-sellers na Europa e nos Estados Unidos, mas não era muito conhecido no Japão, possivelmente em razão de sua perspectiva socialista e cristã. A decisão de Togawa de publicar apenas uma versão resumida também pode ter sido por cautela em querer evitar a censura ideológica do governo. No prefácio da edição de 1930, Togawa escreveu: “Os últimos trinta anos mudaram tudo. O que eu considerava raro e progressista no livro quando foi publicado pela primeira vez é agora muito comum e normal. Muitos dos assuntos e eventos sugeridos no livro já são a nossa realidade. Hoje em dia, inclusive, são frequentemente expressas opiniões muito mais radicais. Deve-se notar, entretanto, que este livro é uma obra de ficção. Não afirma uma opinião. Ao mesmo tempo, é totalmente diferente das ficções atuais que enfatizam a consciência de classe. O objetivo principal deste romance, porém, é sempre entreter”. Claramente, o tradutor não via Cidade Eterna como uma obra de ideias revolucionárias perigosas. Roma, a capital italiana, com seus monumentos e ruínas é testemunha do passado da cidade e é chamada carinhosamente de Cidade Eterna — La Città Eterna, em italiano Quando Toda sensei leu a obra pela primeira vez, ele tinha acabado de completar 30 anos. Eu me pergunto o que ele pensou sobre o romance então. Como meu mestre estava se dedicando a uma revolução religiosa, havia uma chance de ser preso no futuro. Ele tinha de estar preparado para enfrentar a perseguição. Suspeito que, à medida que sua determinação se fortaleceu, pensamentos sobre Rossi e Bruno passaram pela sua cabeça. Mais tarde, Toda sensei e seu mestre, Tsunesaburo Makiguchi, foram presos pelo governo militarista do Japão. A vida na prisão foi tão severa que ainda é muito comentada na Soka Gakkai. Os que foram presos naquela época renunciaram às suas convicções e abraçaram o dogma militarista ou foram submetidos a duros interrogatórios e tortura e enfrentaram a morte por desnutrição. Os companheiros de Toda sensei, com quem ele conversava todos os dias sobre o budismo, desistiram da fé e o abandonaram um por um. Isso deve tê-lo feito se sentir incrivelmente sozinho. Na época de sua libertação, quase dois anos depois, a Soka Gakkai estava destroçada. Mesmo agora, quando penso no meu mestre sozinho, corajoso entre as ruínas do Japão pós-guerra, acalentando a promessa de realizar uma revolução sem derramamento de sangue para a felicidade do povo, lembro-me de Rossi e Bruno e do amor que partilhavam como companheiros revolucionários. Notas:1. IKEDA, Daisaku. Diário da Juventude: A Jornada de um Homem Dedicado a um Nobre Ideal. São Paulo: Editora Brasil Seikyo, 2019, p. 102.2. The Writings of Nichiren Daishonin [Os Escritos de Nichiren Daishonin]. Tóquio: Soka Gakkai, v. II, p. 988. 3. O distrito de Kumamoto fica em Kyushu, a maior ilha da região sudoeste do Japão. No topo: Ikeda sensei no Coliseu (Roma, Itália, jan. 1963) Fotos: Getty Images/ Seikyo Shimbun

01/08/2024

Especial

Jornada de mestre e discípulo — os 95 anos da vida de Ikeda sensei

Vínculos de luta conjunta com os companheiros, sempre pelo bem de uma única pessoa. Mergulhar no “mar de pessoas comuns”. Nesta segunda parte da série, são apresentados os esforços do Mestre para encorajar os membros em todos os cantos do Japão, desde Wakkanai, em Hokkaido, ao norte, até a ilha Ishigaki, em Okinawa, ao sul. Surgimento do jovem presidente Na manhã do dia 3 de maio de 1960, pouco depois das 10h30, Ikeda sensei descia do carro e se dirigia ao auditório da Universidade Nihon (na época) em Ryogoku, Tóquio. O fraque preto que utilizava era uma lembrança herdada do seu mestre, Josei Toda. A cerimônia de posse como terceiro presidente teve início ao meio-dia. Ikeda sensei entrou no recinto enquanto a banda masculina Ongakutai tocava canções da Soka Gakkai. No percurso, o Mestre fez uma pausa e fixou o olhar na foto de Toda sensei colocada no alto da parte frontal do palco. Após subir nele, em suas palavras, Ikeda sensei posicionou-se no púlpito e declarou vigorosamente: “Apesar de jovem, a partir de hoje assumirei a liderança como representante dos discípulos do presidente Josei Toda e avançarei com os senhores, um passo após outro, rumo à concretização do kosen-rufu”.1 O evento reuniu mais de 20 mil participantes, espalhados no recinto e nas áreas externas. Uma estrondosa salva de palmas envolveu o espaço. Era o surgimento do jovem presidente de 32 anos aguardado ansiosamente por todos os membros. Na ocasião, Ikeda sensei determinou com todos a concretização de 3 milhões de famílias, isto é, o testamento de Toda sensei, até a cerimônia de sétimo ano de falecimento de seu mestre, que seria realizada dali a quatro anos. Esse se tornou o objetivo concreto para o quinto período do ciclo de “Sete Sinos”. O conceito de “Sete Sinos” Para estabelecer o ritmo de avanço do kosen-rufu a cada sete anos, Ikeda sensei anunciou a concepção do conceito de “Sete Sinos” no dia 3 de maio de 1958, um mês após o falecimento de Toda sensei. Na época, uma parte da imprensa alardeava que a Soka Gakkai estaria à beira do colapso. Em meio a tais circunstâncias, como dar esperança aos membros mergulhados na tristeza? Ikeda sensei ponderava sobre essa questão em seu íntimo. Na época, ele registrou em seu diário: “Imaginei como a organização estará daqui a vinte anos. Estou preocupado e angustiado”.2 Assim, no dia 3 de maio, foram apresentados os ciclos dos “Sete Sinos”. Ikeda sensei concebeu essa ideia a partir de uma declaração de Toda sensei: “Vamos estabelecer cada período de sete anos como uma etapa e badalar o sino do kosen-rufu. Então, vamos tocar sete sinos!”. O “primeiro sino” é o período de sete anos desde a fundação da Soka Kyoiku Gakkai, em 1930, até a partida oficial da organização, em 1937. O “segundo sino” segue até o falecimento do presidente Tsunesaburo Makiguchi, em 1944. O “terceiro sino” vai até a posse de Toda sensei como segundo presidente, em 1951. O “quarto sino” se encerra com a concretização de 750 mil famílias, o empreendimento da vida de Toda sensei, e seu falecimento. Ikeda sensei fez essa declaração, clamando a todos para avançar com coragem e convicção em ciclos de sete em sete anos, visualizando o futuro de vitórias com a concretização do “quinto sino”, do “sexto sino” e, finalmente, do encerramento do ciclo com o “sétimo sino”, 21 anos a partir daquele momento. Esse majestoso objetivo criou a força para que os membros avançassem, vislumbrando tal futuro. Dessa forma, a Soka Gakkai concretizou o objetivo de 3 milhões de famílias, do “quinto sino”, no ano 1962. No período do “sexto sino”, ultrapassou 7,5 milhões de famílias; e, em 1979, ano do término do “sétimo sino”, estava concluído o alicerce do kosen-rufu do Japão. “Príncipes e princesas da Lei Mística, cresçam como extraordinários sucessores.” Ikeda sensei engaja-se em um cabo de guerra com um menino participante do Encontro da Divisão dos Estudantes Futuro. Ele se dedica a incentivar incessantemente os companheiros que se encarregarão do futuro da região de Hokuriku (Centro Cultural de Ishikawa, nov. 1976) Encorajamento a uma única vida “Por que a Soka Gakkai se desenvolveu até esse ponto?” Diante dessa pergunta de um intelectual, sensei respondeu: “É porque sempre valorizamos uma única pessoa”. Essa é a essência da própria existência de Ikeda sensei. Sensei não se limitou a estabelecer apenas um objetivo. Dedicou incentivos e encorajamento, com toda a sua força, para que os membros trilhassem uma existência vitoriosa e feliz. Criou vínculos de luta conjunta com cada pessoa a fim de desbravar a época da canção triunfal do povo. Em 22 de março de 1965, na cidade de Sendai, em Miyagi, ocorreu um episódio após o término de uma reunião de líderes de comunidade. Naquele dia, por duas horas consecutivas, sensei trocou cumprimentos com cerca de seiscentos participantes. Suas mãos ficaram vermelhas, inchadas e doloridas. Ele mal conseguia segurar uma caneta. Oito dias depois, estava prevista a realização da Reunião de Líderes de Comunidade da província de Nagano. “Quero criar um encontro que possa se tornar o ponto primordial da vida dos membros”, afirmou o Mestre. Com isso em mente, como forma de encorajamento, em vez dos cumprimentos, ele pensou em tirar uma foto comemorativa com eles. Mais tarde, sensei escreveu: “Se fosse possível, queria encorajar os líderes centrais da Divisão Sênior, da Divisão Feminina, da Divisão Masculina de Jovens, da Divisão Feminina de Jovens e da Divisão dos Estudantes, que se levantam como os pilares das comunidades de todo o Japão. Contudo, isso se tornava extremamente difícil, inclusive em termos de disponibilidade de tempo. Então, extraindo toda a sabedoria, surgiu essa ideia da foto, movida com o sentimento de ‘ao menos isso’”. Pesquisa feita pelo Seikyo Shimbun ao longo de oito anos e três meses, a partir de 1965, revela que sensei tirou fotos comemorativas com pelo menos 718.550 pessoas. Não eram simples poses para a câmera. Eram capturadas com o sentimento de que talvez fosse uma oportunidade única na vida, de que “nunca mais conseguiria encontrar” essas pessoas, dedicando-lhes sinceros incentivos nos intervalos entre as fotos. Além disso, sensei ouvia atentamente cada pessoa que lhe falava sobre suas dificuldades, mesmo nas ocasiões em que ele estava com febre alta. É provável que, em alguns momentos, os incessantes flashes da câmera fotográfica incomodassem seus olhos. Eram realmente ações de encorajamento sem poupar a própria vida. Em 14 de julho de 1972, num ginásio da província de Iwate, sensei participou de fotos comemorativas com 3.600 pessoas, que foram divididas em doze grupos. Com extrema exaustão, nem conseguia engolir a comida servida. Mesmo assim, quando chegava a hora, levantava-se com todo o vigor e se dirigia para perto dos membros. Naquele dia, após o término das fotos comemorativas, sensei foi até a sede regional de Morioka, cumprindo uma promessa feita no passado aos estudantes do ensino fundamental. O compromisso originou-se de uma carta enviada pelas crianças a Ikeda sensei na qual narravam seus sonhos para o futuro. Na ocasião, ele dedicou a elas a seguinte mensagem: “Vamos nos encontrar quando eu for para Iwate”. Sensei recebeu as crianças na sede dando-lhes boas-vindas e ofereceu livros nos quais dedicou palavras de incentivo na contracapa. Ao cair da neve, brado de vitória ecoa pelo céu. Membros de Tohoku não se esquecem da sinceridade do Mestre, que visita a região de Akita no inverno com o sentimento de incentivar os amigos em meio às circunstâncias adversas. O “tesouro do coração” é eternamente indestrutível (cidade de Akita, jan. 1982) “Não precisam mais se preocupar” No dia 24 de abril de 1979, em meio às tempestades da primeira problemática do clero, Ikeda sensei renunciou ao cargo de terceiro presidente, assumindo total responsabilidade para proteger os membros e para pôr fim aos ataques irracionais dos clérigos. Os maus clérigos e os traidores, que conspiraram para separar o mestre de seus discípulos, pressionaram sensei, obrigando-o a “não transmitir orientações em reuniões” e a “não aparecer no Seikyo Shimbun”. Ao mesmo tempo, eles atacavam a organização e atormentavam os membros. Certo dia, em 1979, realizava-se uma reunião no Centro Cultural de Kanagawa. Sensei, que ouvia a atividade do lado de fora, entrou silenciosamente por uma porta na parte da frente do salão para não atrapalhar o andamento do evento. Um companheiro, ao notar sua presença, levantou sua voz de júbilo. Sensei colocou o dedo indicador nos lábios dele, pedindo para ficar quieto, dizendo: “Está definido que eu não posso falar”. Então, ele se dirigiu ao piano colocado no salão. Depois de tocar algumas músicas, tais como Atsuhara no Sanresshi [Os Três Mártires de Atsuhara] e Atsutamura [Vila de Atsuta], deixou o local em silêncio. Esse fato ocorreu diversas vezes naquele centro cultural durante esse período. Na primeira problemática do clero, Oita foi uma das localidades que mais sofreram com a opressão dos clérigos. Sempre que os membros iam ao templo, eram obrigados a ouvir somente difamações em relação a Ikeda sensei e à Soka Gakkai. Cerrando os dentes, eles suportaram a irracionalidade. A partir do outono [japonês] de 1981, sensei iniciou plenamente a contraofensiva. No dia 12 de dezembro, visitou Okajoshi, cidade de Taketa, em Oita, com o sentimento de que era em prol dos membros que mais sofreram. “Não precisam mais se preocupar!”, afirmou o Mestre. Os membros se aproximaram de Ikeda sensei no momento em que ele descia do carro no estacionamento com fisionomia de alívio e até com lágrimas nos olhos. Estava presente ali um homem que ainda não havia se tornado membro da Soka Gakkai. Na época, ele tinha aversão pela organização. Mas acabou participando a contragosto, atendendo ao pedido de sua esposa, que lhe disse: “Só hoje!”. Ele havia pensado que, certamente, um líder religioso era alguém de extrema arrogância. No entanto, ao observar o comportamento de sensei de perto, iniciou a prática budista três meses depois. Esse companheiro relembra o aspecto de Ikeda sensei: “Parecia alguém mergulhando no mar de pessoas comuns”. Após esse encontro, sensei disse: “A pessoa com quem me encontrei é importante. Porém, ainda mais importante são as pessoas com quem não me encontrei. (...) São pessoas que continuaram recitando daimoku com seriedade, orando pela segurança da viagem. Eu me encontrei no coração com essas pessoas. Graças a elas, a Soka Gakkai venceu”. O coração do mestre voava sempre junto com os amigos que estavam sofrendo. Em 29 de fevereiro de 2000, ele visitou o Centro Cultural de Nagata, na província de Hyogo. Recitou gongyo com os companheiros que ali se reuniam. No local, encontrava-se também um companheiro que havia perdido os amados pai e filho no Grande Terremoto de Hanshin-Awaji (Terremoto de Kobe). Havia pessoas que escaparam por pouco da morte debaixo dos escombros. Nessa ocasião, sensei ofereceu um vigoroso encorajamento: “A vida é uma batalha. É a batalha para conquistar a felicidade. (...) Por favor, sejam alegres! Ninguém se compara a uma pessoa alegre. Gostaria que sobrevivessem persistentemente”. Até hoje, essas palavras são a força para o avanço dos membros e se tornaram o juramento ao mestre. O grande épico do kosen-rufu Ikeda sensei, que continuou acendendo a chama da esperança nos companheiros de todo o Japão, expressou, do fundo do coração, seu desejo de que fizessem badalar juntos o segundo ciclo dos “Sete Sinos” a partir do dia 3 de maio de 2001, que descortinou o século 21. Em maio de 1997, em Kansai, ele indicou o majestoso plano do novo ciclo dos “Sete Sinos” até meados do século 23: A primeira metade do século 21 irá marcar o segundo ciclo dos “Sete Sinos”. Acredito que essa será uma época em que deveremos nos dedicar à consolidação da base para a paz na Ásia e em todo o mundo. Olhando mais adiante, para a última metade do próximo século — o “século da vida” — minha esperança é de que o princípio da dignidade da vida se estabeleça como o espírito fundamental da era e do mundo. Oro para que, durante a primeira metade do século 22, seja construída uma base indestrutível para a paz mundial. E sobre essa base, na última metade do século 22, imagino o brilhante florescimento de uma era de humanismo. (...) Na metade do século 23, em 2253, alcançaremos o milênio do estabelecimento dos ensinamentos de Nichiren Daishonin. Creio que será o início de uma brilhante nova fase do nosso movimento.3 Atualmente, está em andamento o segundo ciclo dos “Sete Sinos”. Visualizando o 120o aniversário de fundação da Soka Gakkai (em 2050), quando termina esse ciclo, sensei escreveu: “Nessa ocasião, quanto a filosofia humanística do budismo brilhará como o sol que ilumina o mundo e quanto nossa grande rede solidária Soka será considerada o pilar da paz para a humanidade? Meu coração se aquece”. O grande épico do kosen-rufu só pode ser concretizado por ações contínuas de “encorajamento a uma única pessoa”, como demonstrado inteiramente por Ikeda sensei com suas próprias ações. Foto: Seikyo Press Notas: 1. Brasil Seikyo, ed. 2.609, 30 abr. 2022, p. 16. 2. IKEDA, Daisaku. Diário da Juventude: A Jornada de um Homem Dedicado a um Nobre Ideal. São Paulo: Editora Brasil Seikyo, 2019. p. 462. 3. Brasil Seikyo, ed. 1.456, 11 abr. 1998, p. 3.

01/02/2024

Reflexões Sobre a NRH

[109] A história da Perseguição de Atsuhara (Parte 2)

“Se mestre e discípulo possuem pensamentos diferentes, jamais conseguirão realizar algo.”1 Durante a Perseguição de Atsuhara, Nikko Shonin enviou relatórios detalhados sobre o desenrolar dos acontecimentos a Nichiren Daishonin, que, na ocasião, se encontrava no Monte Minobu, e recebeu dele orientações e instruções práticas. Nikko Shonin enfrentou essa perseguição em total união com seu mestre, Daishonin. Em 1278, Gyochi, assistente do reverendo prior do templo Ryusen-ji, na vila de Atsuhara, e seus aliados falsificaram uma diretiva do governo, declarando ilegal a prática do Sutra do Lótus, numa tentativa ardilosa de impedir a propagação dos ensinamentos do budismo. Daishonin declarou que nem sequer precisava ler a diretiva para perceber que era falsa. E, como previsto, em pouco tempo, revelou-se que era uma invenção. Os conspiradores, entretanto, persistiram com suas trapaças. Eles planejaram destruir a união entre os adeptos de Daishonin, semeando a dúvida e a discórdia entre aqueles que nutriam hostilidade e inveja em relação aos seguidores, e astutamente os persuadiram a abandonar a fé e a trair seus companheiros. Seguidores como Ota Tikamasa e Nagasaki Tokitsuna [que abandonaram a fé durante a Perseguição de Atsuhara] guardavam rancor contra Takahashi Rokuro Hyoe, figura-chave entre os seguidores na área de Fuji. Sammi-bo [outro seguidor que abandonou a fé durante essa perseguição] tinha inveja de Nikko Shonin. Por ser veterano dele e por ter estudado no Monte Hiei [onde estava localizado o templo principal da escola Tendai, importante centro budista daqueles dias], ele era muito arrogante e vangloriava-se de seu limitado conhecimento. Sammi-bo não demonstrava nenhum entusiasmo em trabalhar com as pessoas. Apesar de Daishonin tê-lo enviado para a área de Fuji, ele se recusou a servir o novato, Nikko Shonin. Os praticantes podem claramente ser divididos em duas categorias: aqueles que colocam o budismo acima de tudo e os que colocam a si próprios em primeiro lugar. Em todas as épocas, encontramos aqueles que abandonam a fé colocando seus sentimentos e interesses acima do ensinamento budista. Agindo assim, esses indivíduos abrem uma brecha para que as funções da maldade invadam seu coração e sua mente. Daishonin percebia a natureza vil desses indivíduos, descrevendo-os como “covardes, irracionais, gananciosos e incrédulos”.2 Uns após os outros, esses traidores e ingratos, que apareceram entre os seguidores de Daishonin, morreram prematuramente — vários deles foram atirados de seus cavalos. No Gosho, Nichiren Daishonin declara que o destino desses indivíduos era de “punição por sua traição ao Sutra do Lótus”, a qual ele a identifica tanto uma “punição perceptível como individual”.3 Conforme muitos de vocês devem saber, aqueles que abandonam a fé e se esquecem da gratidão em relação à Soka Gakkai — organização que atua em exato acordo com o desejo e a ordem do Buda — encontram o fim mais lamentável. Vinte e um de setembro de 1279 — Gyochi escolheu esse dia porque sabia que muitos camponeses de Atsuhara, seguidores de Nichiren Daishonin, estavam reunidos para ajudar na colheita de arroz nos campos pertencentes a Nisshu (um dos sacerdotes do templo Ryusen-ji, que havia se convertido ao budismo por meio dos esforços de propagação de Nikko Shonin). Gyochi reuniu um grande número de homens, incluindo oficiais do gabinete administrativo do feudo Shimogata, e lançou um ataque surpresa quando todos estavam em plena colheita. Vinte camponeses seguidores de Daishonin foram presos injustamente no gabinete administrativo local. Além disso, ele também preparou uma lista com falsas acusações e a apresentou ao governo militar. E acusou Nisshu de liderar um grupo armado de camponeses, num ataque aos alojamentos dos reverendos priores no templo Ryusen-ji, e de roubar arroz dos campos pertencentes ao templo. Essas acusações não passavam de “um processo forjado designado a ocultar suas próprias ofensas”.4 Instaurar um processo judicial fraudulento contra inocentes a fim de encobrir os próprios crimes constitui um “abuso do direito de mover uma ação judicial”. Os planos malévolos contra a Soka Gakkai em anos recentes seguem esse exemplo. Assim que soube do teor do processo instaurado por Gyochi, Nikko Shonin rascunhou uma carta de petição para as autoridades e a enviou a Nichiren Daishonin. A carta de Nikko Shonin explicava claramente o que havia acontecido e revelava as ações perversas de Gyochi e seus cúmplices. Daishonin acrescentou à primeira metade da petição o fato de que as predições do seu tratado Estabelecer o Ensinamento para a Pacificação da Terra haviam se concretizado, junto com a refutação dos ensinamentos errôneos de Gyochi e de outros clérigos de Ryusen-ji. Com a primeira metade escrita por Nichiren Daishonin e a segunda por Nikko Shonin, esse documento, intitulado Ryusen-ji Moshijo [Petição de Ryusen-ji],5 era uma clara evidência da luta compartilhada por mestre e discípulo. Os vinte camponeses detidos foram imediatamente enviados para Kamakura, sede do governo militar, onde foram submetidos a um interrogatório pelo poderoso Hei no Saemon, subchefe do Posto de Comando Militar. Nenhum deles sucumbiu ao interrogatório desumano ao qual foram submetidos, e nenhum deles cedeu às ameaças, à intimidação e à tortura das autoridades. Por fim, Jinshiro e seus dois irmãos [Yagoro e Yarokuro] — os Três Mártires — deram a vida por sua crença. Esse foi um momento de profundo significado na história dos direitos humanos que jamais poderá ser apagado. Eles morreram como verdadeiros heróis. Como consta no Gosho A Prática dos Ensinamentos do Buda, mesmo que tenhamos de ser decapitados: Shakyamuni, Muitos Tesouros e os budas das dez direções virão imediatamente ao nosso encontro. (...) e as divindades celestiais e as divindades benevolentes erguerão um dossel sobre nossa cabeça e desfraldarão estandartes, elevando-os bem alto. Eles nos conduzirão em segurança até a preciosa Terra da Luz Tranquila.6 Certa ocasião, perguntei ao meu mestre e segundo presidente da Soka Gakkai, Josei Toda, sobre a morte dos Três Mártires de Atsuhara. Sua resposta foi clara e inequívoca: “Mesmo que sejamos mortos, se nossa morte foi em prol da Lei Mística, então atingiremos infalivelmente o estado de buda. Será como se estivéssemos tendo um sonho breve após nos deitar para dormir, e então caímos num sono profundo e tranquilo”. Não importa a forma como aqueles que dedicam a vida ao kosen-rufu venham a morrer, jamais será uma morte miserável ou infeliz. Conta-se também que, entre os camponeses presos, havia uma mulher, a qual declarou bravamente: “Não se neguem a executar-me só porque sou mulher. Matem-me agora!”. Assim que soube da morte dos Três Mártires, Nichiren Daishonin escreveu a carta Resposta aos Veneráveis (Shonin-to Gohenji), na qual ele clama aos seus seguidores: “Vocês não devem se amedrontar. Tenho certeza de que, se continuarem avançando firmemente, tudo será esclarecido”.7 Essa declaração foi seu rugido de leão. Nanjo Tokimitsu, jovem administrador da região de apenas 20 e poucos anos e um dos seguidores de Nichiren Daishonin, executou essa injunção à carta, unindo-se bravamente na luta por seus companheiros. Ele se tornou alvo da opressão do governo por defender e dar cobertura aos seguidores na região de Atsuhara. Porém, mesmo na pior das circunstâncias, defendeu resolutamente Daishonin e liderou o contra-ataque às autoridades pela causa da justiça. O fato de os seguidores locais terem emergido triunfantes da Perseguição de Atsuhara deveu-se aos esforços intrépidos e tenazes desse jovem que dedicou a vida ao caminho de mestre e discípulo. Durante a Perseguição de Atsuhara, Nichiren Daishonin observou: “No passado e na era atual dos Últimos Dias da Lei, os governantes, os altos ministros e as pessoas que desprezaram os devotos do Sutra do Lótus pareceram estar livres de punição no início, mas, no fim, todos se condenarão à queda”.8 Catorze anos depois, em abril de 1293, sob ordem do governo, guardas cercaram a residência de Hei no Saemon e a incendiaram. O próprio filho mais velho, Munetsuna, tinha denunciado secretamente o pai de conspirar contra o governo. Cercado pelas chamas e pelos guardas, Hei no Saemon não teve outra escolha senão tirar a própria vida, atormentado pela agonia do inferno de incessante sofrimento, na mesma casa onde havia torturado e matado os Três Mártires de Atsuhara. Ao seu lado estava o segundo filho, Sukemune, que havia torturado os camponeses de Atsuhara, alvejando-os com flechas com pontas cegas. Todos os membros da família, outrora tão ilustres e poderosos, pereceram nas chamas. O filho mais velho, que havia traído o pai, foi exilado na Ilha de Sado, e a linhagem de Hei no Saemon foi completamente extinta. O 26o sumo prelado Nichikan Shonin registrou em seu Comentário sobre “A Seleção do Tempo”: “A causa remota [da extinção de Hei no Saemon e sua família] é a ofensa de ter atacado Nichiren Daishonin, enquanto a causa próxima é a ofensa da execução dos Três Mártires na Perseguição de Atsuhara”.9 Em um dos versos da canção da Soka Gakkai Os Três Mártires de Atsuhara consta: Jinshiro, partindo de uma vida para a próxima, Como cerejeiras em flor dispersas pela brisa, Tornou-se célebre como um exemplo de devoção ao kosen-rufu — Como é nobre a vida Deste honrado mártir de Atsuhara. O fundador da Soka Gakkai, Tsunesaburo Makiguchi, morreu na prisão com o mesmo espírito dos Três Mártires de Atsuhara. Toda sensei e eu também sustentamos esse espírito. Seguindo os passos do meu mestre, suportei todas as formas de perseguição. Lutar em meio às perseguições e dar a própria vida pela causa que defendemos é nossa fonte de maior orgulho. Os obstáculos conduzem à iluminação. A “devoção abnegada pela propagação da Lei Mística” para a realização do kosen-rufu mundial é a honra eterna dos três primeiros presidentes da Soka Gakkai [Tsunesaburo Makiguchi, Josei Toda e Daisaku Ikeda]. No topo: Tsunesaburo Makiguchi (na foto, sentado) e Josei Toda (em pé) publicaram o livro Soka Kyoikugaku Taikei [Sistema Pedagógico de Criação de Valor], em 18 de novembro de 1930. A data desse lançamento é considerada o dia da fundação da Soka Kyoiku Gakkai [Sociedade Educacional de Criação de Valor], que mais tarde se tornou Soka Gakkai [Sociedade de Criação de Valor] Foto: Seikyo Press Notas: 1. Coletânea dos Escritos de Nichiren Daishonin. São Paulo: Editora Brasil Seikyo, v. II, p. 173, 2017. 2. Ibidem, p. 264. 3. Ibidem, p. 263. 4. Nichiren Daishonin Gosho Zenshu [Coletânea dos Escritos de Nichiren Daishonin]. Tóquio: Soka Gakkai, p. 850. 5. Ibidem, p. 849-853. 6. Coletânea dos Escritos de Nichiren Daishonin. São Paulo: Editora Brasil Seikyo, v. I, p. 415, 2020. 7. The Writings of Nichiren Daishonin [Os Escritos de Nichiren Daishonin]. v. II, p. 831. 8. Coletânea dos Escritos de Nichiren Daishonin. São Paulo: Editora Brasil Seikyo, v. II, p. 263, 2017. 9. Nichikan Shonin Mondanshu (Comentários de Nichikan Shonin). Tóquio, Seikyo Shimbunsha, 1980. p. 306.

08/01/2024

Especial

Jornada de mestre e discípulo — os 95 anos da vida de Ikeda sensei

Parte 1: A honra dos discípulos de Josei Toda A vida de Ikeda sensei se encerrou aos 95 anos. Ela foi uma prova incontestável de quão grandiosa pode ser uma jornada quando se abraça com a vida o caminho de mestre e discípulo da Lei Mística. A esplêndida trajetória dele será narrada em partes neste especial intitulado Jornada de Mestre e Discípulo — Os 95 Anos da Vida de Ikeda Sensei. Esta primeira parte tem como tema “A Honra dos Discípulos de Josei Toda”. Descreve a juventude resiliente e a devoção abnegada pela propagação da Lei de Ikeda sensei desde o encontro com seu venerado mestre, Josei Toda, até a sua posse como terceiro presidente da Soka Gakkai. Em busca da grande árvore Naquele instante, iniciou-se um movimento popular sem precedentes, o qual tinha como base a revolução humana de um único indivíduo que contribui para a construção da paz mundial. Em 14 de agosto de 1947, o jovem Ikeda se encontrou pela primeira vez com Josei Toda, e esse episódio foi determinante para a vida dele. Nesse dia, a convite de uma colega da época do ensino fundamental, Ikeda sensei participou de uma reunião de palestra no bairro de Ota, Tóquio. Ao chegar ao local, Toda sensei explanava o escrito Estabelecer o Ensinamento para a Pacificação da Terra. Em meio à sociedade devastada do pós-guerra, Ikeda sensei, com 19 anos e em busca de um “modo de vida correto”, foi tocado pela personalidade de Josei Toda. Naquele momento, ele decidiu dedicar a vida para seguir Toda sensei em seu coração: “Eu seguirei este mestre. Eu trilharei este caminho”. O que comoveu Ikeda sensei em particular foi o fato do seu mestre ter enfrentado e resistido ao militarismo japonês, inclusive ficando preso. Durante a reunião, Ikeda sensei expressou sua gratidão por meio de um poema que acabara de criar: “Ó viajante! / De onde vens? / e para onde irás? / (...) A grande árvore / eu procuro / que nunca se abalou / na fúria da tempestade. / Neste encontro ideal, / sou eu quem / surge da terra!”. Ao ouvir esse poema, que tinha relação com o “bodisatva da terra” mencionado no Sutra do Lótus, seu mestre sorriu gentilmente. Dez dias depois, em 24 de agosto, Ikeda sensei se converteu ao budismo. Assim foi descortinado o início do drama “revolução humana é a própria paz mundial”. O ideal em meio à adversidade Em 3 de janeiro de 1949, Ikeda sensei ingressou na editora Nihon Shogakkan, dirigida por Toda sensei. Ele começou a trabalhar na edição da revista juvenil Boken Shonen [Aventura dos Meninos] (depois renomeada Shonen Nippon [O Japão dos Meninos]) e, em maio, tornou-se editor-chefe. No entanto, devido aos impactos da recessão econômica pós-guerra, em outubro do mesmo ano, anunciou-se o encerramento da publicação de Shonen Nippon. Em busca da recuperação, seu mestre fundou uma cooperativa de crédito. Contudo, em agosto do ano seguinte (1950), decidiu-se pela paralisação das operações. Ikeda sensei registrou em seu diário: “Mais uma vez, avançarei junto com (Toda) sensei para a próxima construção. Somente isso. Sempre adiante, eternamente em frente”. Em 24 de agosto do mesmo ano, coincidindo com o terceiro aniversário de sua conversão ao budismo, seu mestre anunciou a intenção de renunciar ao cargo de presidente da Soka Gakkai. Enquanto algumas pessoas simplesmente viravam as costas, insultando-o e deixando-o, Ikeda sensei foi o único a apoiá-lo firmemente e a permanecer ao seu lado. No auge da crise, Toda sensei compartilhou com Ikeda sensei suas ideias sobre o lançamento do jornal Seikyo Shimbun e a fundação de uma universidade. A partir do outono de 1950, Toda sensei iniciou a explanação e o estudo dos escritos de Nichiren Daishonin para alguns representantes, em especial, para Ikeda sensei. Em fevereiro do ano seguinte, passou a explanar também obras clássicas de várias épocas e origens. Os estudos de domingo se transformaram em aulas particulares para Ikeda sensei que abrangiam ampla gama de disciplinas acadêmicas. Essas explanações e esses estudos na “Universidade Toda” continuaram até 1957. Anos mais tarde, Ikeda sensei passou a ser agraciado com inúmeras honrarias acadêmicas de diversas universidades e instituições de ensino. Ele sempre expressou sua profunda gratidão ao seu mestre, afirmando que “Tudo é resultado da instrução inspiradora que recebi na Universidade Toda”. A relação que compartilha sofrimentos e alegrias Os desafios da reorganização da cooperativa de crédito eram imensos. Toda sensei estava em uma situação na qual poderia ser processado por alguns credores ou até ir para a prisão. No entanto, em fevereiro de 1951, houve uma reviravolta nos acontecimentos. Um comunicado do Ministério das Finanças indicava que, mediante consenso entre os membros, a cooperativa poderia ser dissolvida. Em 11 de março desse mesmo ano, a cooperativa foi dissolvida e, durante uma assembleia extraordinária da Soka Gakkai, seu mestre fez a seguinte declaração: “Agora é o outono da ampla propagação da nação. Já se vislumbram os sinais da propagação na Ásia Oriental. Finalmente chegou o momento para os guerreiros da Soka Gakkai, que abraçaram a missão budista, avançarem na vanguarda”. Ikeda sensei, jubilante com o rugido do leão do seu mestre, lançou-se ao desafio de promover diálogos junto com seus companheiros. E, liderando o movimento vanguardista da expansão do budismo, solenemente celebrou a posse de Toda sensei como segundo presidente da Soka Gakkai, em 3 de maio desse ano. Toda sensei compôs um poema e registrou-o no verso de uma das fotos comemorativas de sua posse, e presenteou seu jovem discípulo: Como é mística essa relação cármica em que, juntos, compartilhamos sofrimentos e alegrias no presente e também no futuro. A prova do discípulo Durante a cerimônia de posse como segundo presidente da Soka Gakkai, Josei Toda proclamou que faria a propagação do budismo para 750 mil novas famílias. A quantidade de membros da organização na época era de cerca de 3 mil. Todos consideraram a declaração de Josei Toda uma fábula, tanto que alguns líderes até pensaram: “Toda sensei com certeza pretende viver muito”. A expansão avançava a passos lentos. Em dezembro de 1951, o movimento de propagação tinha atingido 466 famílias em todo o país. A meta de 750 mil famílias parecia um futuro muito distante. Quem quebrou essa “barreira” foi Ikeda sensei. No ano seguinte, em janeiro de 1952, ao ser nomea­do secretário do Distrito Kamata, ele concretizou a expansão do budismo para 201 famílias em apenas um mês, em fevereiro. A partir daí, a Soka Gakkai ganhou ímpeto e avançou. O ano 1953 foi um período em que a campanha de propagação acelerou consideravelmente dentro da história da Soka Gakkai. Foi lançado o objetivo de realizar shakubuku em 50 mil famílias durante o ano, e este foi alcançado. A força motriz desse espantoso crescimento foi a luta incansável empreendida por Ikeda sensei. Em janeiro desse mesmo ano, ele tinha sido nomeado líder da primeira legião da Divisão Masculina de Jovens e alcançou uma expansão de três vezes do número de “valores humanos” em seu grupo ao longo do ano. Em abril, foi nomeado responsável interino pelo Distrito Bunkyo, transformando-o de um distrito decadente em distrito de primeira classe. Sensei continuou a conquistar “provas incontestáveis da vitória como discípulo” em várias localidades. Em agosto de 1955, tendo como palco Sapporo, ele concretizou uma expansão recorde de 388 famílias em apenas dez dias. E em maio do ano seguinte, em Osaka, ele estabeleceu um marco dourado indestrutível da propagação de 11.111 novas famílias. No mês de julho, surpreendeu o mundo com uma virada espetacular no resultado das eleições, algo considerado inimaginável. De outubro em diante, ele liderou a campanha de propagação em Yamaguchi durante 22 dias, conseguindo expandir a quantidade de famílias da localidade na época em cerca de dez vezes. O juramento pela luta dos direitos humanos O novo movimento humanístico da Soka Gakkai, que constrói a felicidade das pessoas comuns e a paz mundial, agora envolve o mundo inteiro. A fonte que alimenta essa grande corrente é o forte juramento de Ikeda sensei de lutar pelos direitos humanos durante o Incidente de Osaka, ocorrido em 1957, bem como a luta dos presidentes Tsunesaburo Makiguchi e Josei Toda na prisão, na época da guerra. Foi em 3 de julho de 1957 que sensei foi detido injustamente e preso sob a falsa acusação de violação das leis eleitorais. A justiça somente foi comprovada, após extensa batalha judicial que durou quatro anos e meio, em 25 de janeiro de 1962. Ikeda sensei detalhou as tramas, o contexto e o significado do Incidente de Osaka em relação à história da Soka Gakkai no volume 11 do romance Revolução Humana. A serialização do volume 11 da Revolução Humana no Seikyo Shimbun se encerrou em outubro de 1991. No mês seguinte, a Soka Gakkai conquistou a “independência espiritual” da Nichiren Shoshu. Em seguida, 1992 foi designado “Ano da Renascença Soka”, marcando o alçar voo da Soka Gakkai como religião mundial. Ikeda sensei compartilhou sua reflexão, dizendo: “Tenho a profunda sensação de que a jornada do kosen-rufu registrada no volume 11 foi uma época de torrentes turbulentas percorrendo os vales que, no fim, moldaram a grande correnteza da ‘Renascença Soka’”. Os eventos de 1957, especialmente o Incidente de Osaka, determinaram o curso do movimento pelo kosen-rufu mundial no “Ano da Renascença Soka” de 35 anos depois, e ainda até os dias de hoje. Uma batalha para acabar com a natureza do mal Toda sensei e Ikeda sensei participam do Festival da Juventude, realizado no estádio de atletismo de Mitsuzawa, em Yokohama (8 set. 1957) "Embora tenha surgido em todo o mundo um movimento reivindicando a proibição dos testes com armas nucleares, meu desejo é ir além e atacar o problema pela raiz. Quero exibi-las e arrancar as garras escondidas na parte mais profunda dessas armas.” Em 8 de setembro de 1957, durante o Festival da Juventude, realizado no estádio Mitsuzawa, em Yokohama, ressoou o vigoroso rugido do leão do segundo presiden­te da Soka Gakkai, Josei Toda. “Proponho que a humanidade aplique, em cada caso, a pena de morte a toda pessoa responsável pelo emprego de armas nucleares, independentemente de qual país for, seja vencedor, seja perdedor”, declarou. O mundo estava em meio à Guerra Fria, na época, e havia uma escalada na corrida armamentista com base na lógica da “dissuasão nuclear”. Testes nucleares estavam ocorrendo de forma repetida. Pelo fim das armas nucleares, capazes de destruir a humanidade num instante, Toda sensei proferiu a Declaração pela Abolição das Armas Nucleares como primeiro testamento aos jovens. Como praticante do budismo que considera a dignidade da vida como a mais sublime que existe, seu mestre era contra a pena de morte. No entanto, ele enfatizou a condenação à pena de morte para categorizar como mal absoluto a mente demoníaca daqueles que desejavam possuir e utilizar as armas nucleares. Em novembro do mesmo ano, dois meses após o anúncio de sua declaração, Toda sensei planejava visitar Hiroshima. Contudo, sua saúde já estava muito debilitada e, na manhã da partida, ele desmaiou em sua casa. Ikeda sensei se recorda dos fatos dessa época: “Quão profundos eram os sentimentos de (Toda) sensei em relação à terra arrasada de Hiroshima! Ele estava determinado a ir a Hiroshima, destruída pelas garras da função demoníaca, que são as armas nucleares, mesmo que isso custasse a sua vida”. “O espírito do meu mestre, que desejou ir a Hiroshima, mesmo pondo em risco a própria vida, jamais se apagará do meu peito por toda a minha existência. Não, na verdade, isso se tornou o ponto primordial das minhas ações.” Toda sensei planejava participar da convenção da Divisão Feminina de Jovens cujo tema era a Declara­ção pela Abolição das Armas Nuclea­res. Nessa atividade, Ikeda sensei participou como representante do mestre e conclamou a todas as integrantes da divisão que sucedessem o espírito da declaração. Ao longo de sua vida, Ikeda sensei defendeu o espírito da declaração por meio de diálogos com líderes e pensadores do mundo e em suas Propostas de Paz, e se dedicou de corpo e alma a tornar realidade a abolição das armas nucleares. Em 2017, passados sessenta anos da declaração, o Tratado de Proibição de Armas Nucleares (TPAN) foi adotado pela Organização das Nações Unidas (ONU) com o apoio de 122 países. Em 2021, ele entrou em vigor com a ratificação de cinquenta países. A monarca do mundo religioso Em março de 1958, Toda sensei disse a Ikeda sensei: “Vamos realizar uma cerimônia que servirá de ensaio geral para o kosen-rufu, um preparativo”. A evento foi realizado em 16 de março, reunindo 6 mil jovens vindos de todos os cantos do país. Estava prevista a participação do primeiro-ministro japonês da época, mas isso não se concretizou devido a interferências escusas. Toda sensei ficou muito indignado por essa quebra de compromisso com os jovens, mas decidiu promover uma “grande solenidade junto com os jovens”. Em dezembro do ano anterior, Toda sensei, que havia concretizado o grande desejo e a missão de sua vida — a propagação do budismo para 750 mil famílias —, já se encontrava numa condição em que não conseguia mais calçar sapatos de couro. Mesmo assim, ele declarou que a Soka Gakkai era a monarca do mundo religioso e delegou o futuro aos jovens. Após o 16 de Março, Toda sensei enfatizou a Ikeda sensei: “Jamais recue na luta contra a maldade”. Ele instruiu rigorosamente que lutasse até o fim contra as forças que tentavam perturbar e impedir o avanço da Soka Gakkai. Ikeda sensei repetiu reiteradamente esse testamento como firme diretriz para a Divisão dos Jovens e para toda a Soka Gakkai. No dia 2 de abril de 1958, Toda sensei encerrou sua nobre vida de abnegada devoção pela propagação da Lei, aos 58 anos. Em 29 de abril do mesmo ano, Ikeda sensei correu a caneta sobre o papel: “Vamos lutar, para provar ao mundo a grandiosidade do mestre. Vou lutar e avançar em linha reta. Lutarei resolutamente. Superarei as ondas furiosas dos obstáculos. Entrarei na juventude do ensino essencial”. Com o coração da unicidade Após o término da solenidade de posse transbordante de alegria do terceiro presidente, jovens congratulam Ikeda sensei, lançando-o ao alto (auditório da Universidade do Japão, em Tóquio, 3 maio 1960) Após a morte de Toda sensei, espalharam-se calúnias, tais como “A Soka Gakkai irá se desintegrar no ar”. Quanto mais as tempestades de críticas se intensificavam, mais inflamava o espírito de luta de Ikeda sensei. Ele escreveu em seu diário: “Decidi dedicar minha vida inteira a declarar para o mundo o ideal do presidente Toda, seu último desejo, e a me empenhar para torná-lo realidade. Esta é minha única missão neste mundo”.1 Após a morte de Josei Toda, com o espírito de unicidade com o venerado mestre, Ikeda sensei assumiu toda a responsabilidade pelo kosen-rufu e continuou a enviar incentivos aos amigos. No dia 3 de maio de 1960, sensei assumiu como terceiro presidente da Soka Gakkai. E para tornar realidade o ideal do kosen-rufu do seu mestre, ele parte em sua viagem para o mundo. Ikeda sensei disse: “Se vocês protegerem o espírito de ‘mestre e discípulo’, sem falta despontarão líderes maravilhosos”. “Eu tenho certeza desse futuro”. Fotos: Seikyo Press Nota: 1. IKEDA, Daisaku. Diário da Juventude: A Jornada de um Homem Dedicado a um Nobre Ideal. São Paulo: Editora Brasil Seikyo, 2019. p. 478.

08/01/2024

Artigos

Ser o grande raio de esperança do mundo

Em dezembro de 1955, o segundo presidente da Soka Gakkai, Josei Toda, manifestou a decisão de se empenhar dando máximo de si no ano vindouro, para assegurar que nem um único membro deixasse de receber benefícios e ele pudesse declarar ao mundo: “Vejam o que conseguimos realizar!”.1 Fazendo nosso o ardente juramento do mestre, em 1956, os membros de Kansai e eu, ligados por profundos laços cármicos, desencadeamos um alegre e colossal impulso para a “prosperidade da grande Lei”2 e para a concretização do ideal de “estabelecer o ensinamento para a pacificação da terra”. Transformando carma em missão, todos fizeram os maravilhosos benefícios da revolução humana florescer em sua vida e, juntos, alcançaram uma vitória impressionante em prol do povo, numa façanha antes considerada praticamente impossível.3 Naquela luta para tornar possível o impossível, empregando a “estratégia do Sutra do Lótus”,4 nossos preciosos membros de Kansai e eu acatamos no fundo do coração, com total seriedade, uma passagem dos escritos de Nichiren Daishonin em especial. Eram palavras dirigidas a Shijo Kingo, que acompanhou Daishonin durante a Perseguição de Tatsunokuchi, disposto a morrer ao lado dele: O senhor foi abandonado por seus irmãos, desprezado por seus colegas samurais, (...) e odiado pelo povo de todo o Japão. (...) Assim, o senhor demonstrou ser o supremo aliado do Sutra do Lótus em todo o Jambudvipa [o mundo inteiro] e por isso, sem dúvida, as divindades celestiais Brahma e Shakra não encontram forma de abandoná-lo. O mesmo se aplica à sua consecução do estado de buda.5 Nichiren Daishonin, Buda dos Últimos Dias da Lei, está ciente de todos os nossos esforços. Nossa família Soka avança incansavelmente rumo ao kosen-rufu sem se deixar abater pelos ventos da opinião pública. Sem dúvida, ele enalteceria imensamente cada um de nós como “o supremo aliado do Sutra do Lótus no mundo inteiro”. Não importando que obstáculos possamos enfrentar, sigamos sempre em frente com bravura, orgulho e convicção. As divindades celestiais, lideradas por Brahma e Shakra, jamais deixarão de nos proteger. De fato, devemos ter a determinação de acioná-las de modo que sejam impelidas por um desejo irreprimível de defender nossa coletividade de budas. E demonstremos, em nossa vida e na sociedade, provas reais do ensinamento de Nichiren Daishonin de que “budismo consiste em vencer”, por meio da nossa fé invencível e da nossa conduta humanística, assim como fez Shijo Kingo. Nossa juventude Soka do mundo todo se prepara para dar uma nova partida [com início no ano novo], enquanto pomos em prática a suprema filosofia de respeito à vida e trabalhamos para consolidar e expandir o supremo movimento do povo. Com a energia vital sempre jovem dos bodisatvas da terra, sejamos o grande raio de esperança do mundo! Assim como entoam os membros da organização na Europa no coro de sua nova canção: “O Sol desponta em meu coração / Conquistaremos esta vitória / A paz perene na Terra / Para toda a humanidade”.6 Brahma e Shakra — conclamo-os a proteger reverentemente os nobres jovens que se empenham de corpo e alma pelo kosen-rufu! No topo: Presidente da SGI, Dr. Daisaku Ikeda, cumprimenta alunos das escolas secundárias Soka de Kansai no festival de esportes (1990) Foto: Seikyo Press Notas: 1. Consulte TODA, Josei. Toda Josei Zenshu [Obras Completas de Josei Toda]. v. 4. Tóquio: Seikyo Shimbunsha, 1984. p. 405. 2. Parte da dedicatória inscrita no Joju Gohonzon de Kansai, consagrado na Sede Regional da Soka Gakkai de Kansai. Na íntegra, a dedicatória diz: “Pela prosperidade da Grande Lei e concretização de todas as orações”. 3. Referência à Campanha de Osaka. Em maio de 1956, os membros de Kansai, unindo-se em torno do jovem Daisaku Ikeda, que havia sido enviado pelo segundo presidente da Soka Gakkai, Josei Toda, para apoiá-los, obtiveram a adesão de 11.111 famílias à prática do Budismo de Daishonin. Nos pleitos eleitorais realizados dois meses depois, o candidato apoiado pela Soka Gakkai conquistou uma cadeira na Câmara Alta, um feito considerado impossível na época. 4. Coletânea dos Escritos de Nichiren Daishonin. São Paulo: Editora Brasil Seikyo, v. II, p. 267, 2017. 5. Ibidem, p. 211. 6. Letra da canção Sun Rises in My Heart [O Sol Desponta em Meu Coração].

01/12/2023

RDez

Corredores da Justiça

Meus jovens amigos, tornem-se pessoas verdadeiramente grandiosas

Aperte o play e acompanhe a leitura do texto escrito por Ikeda sensei em inglês O dia 5 de maio é o Dia das Crianças no Japão. Há muitos anos, sugeri que designássemos esse dia como o Dia dos Sucessores da Soka Gakkai.1 Isso foi inspirado no respeito que tenho pelos membros da Divisão dos Estudantes, como pessoas excelentes, e pela minha crença de que cada um tem a importante missão de levar adiante o espírito da Soka Gakkai. Meu mestre, o segundo presidente da Soka Gakkai, Josei Toda, gostava destas palavras de Os Analectos, de Confúcio: “Deve-se admirar os jovens”.2 Referindo-se a eles, Toda sensei disse-lhes: “Estou observando com admiração para ver que grandes indivíduos, vocês, que nasceram depois de mim, se tornarão”. O que determina a verdadeira grandeza de uma pessoa? Não é fama, riqueza ou títulos. Uma pessoa verdadeiramente grandiosa é alguém que luta pela felicidade dos outros. Defendendo a filosofia de afirmação da vida do Budismo Nichiren, muitos de seus pais e familiares estão trabalhando com sinceridade e coragem pelo bem de outros e da sociedade. Eles são ótimos além da medida. Oro para que cada um de vocês, como jovens sucessores, também se tornem pessoas verdadeiramente grandiosas e contribuam para o bem-estar da humanidade. E declaro com orgulho: “Deve-se considerar a Divisão dos Estudantes com admiração!” Fonte: Traduzido da série “Rumo a 2030: Dedico aos Meus Jovens Sucessores Corredores da Justiça” da edição de maio de 2023 do jornal Mirai (Futuro), publicação mensal da Soka Gakkai voltada para a Divisão dos Estudantes Esperança e Herdeiro. Notas:1. O Dia dos Sucessores da Soka Gakkai foi definido em 5 de maio de 1976 durante uma reunião da Divisão dos Estudantes realizada em Kansai.2. CONFÚCIO. Os Analectos. Traduzido por Simon Leys. Nova York: W. W. Norton and Company, 1997, p. 42.

01/05/2024

Corredores da Justiça

Expanda seu mundo interior por meio da literatura

Aperte o play e acompanhe a leitura do texto escrito por Ikeda sensei em inglês As folhas das árvores estão começando a mudar de cor com a aproximação do outono. Essa estação é uma época maravilhosa para a leitura! Meu mestre Josei Toda encorajava fortemente os jovens a lerem. Sempre que nos encontrávamos, ele intencionalmente me perguntava: “Daisaku, que livro leu hoje?”.1 Eu tinha que ler e estudar seriamente o tempo todo para estar preparado para meus encontros com ele. Desafiar-me dessa maneira na juventude me deu habilidade para, mais tarde, dialogar e forjar sinceras conexões com importantes pensadores do mundo inteiro. Em sua obra Os Miseráveis, o autor francês Victor Hugo (1802-1885) escreveu: “Há um espetáculo mais maravilhoso do que o céu: a alma humana.”2 Vocês podem fortalecer, ampliar e elevar seu jovem coração e sua mente de maneira ilimitada. Ler obras literárias é uma jornada que expande o mundo interior. A Lei Mística lhes possibilita usar tudo de forma positiva. Portanto, tudo o que aprenderem agora com os livros os ajudará a criar um futuro brilhante! Hoje, novamente, virem mais uma emocionante página. Fonte: Traduzido da série “Rumo a 2030: Dedico aos meus Jovens Sucessores Corredores da Justiça” da edição de outubro de 2021 do jornal Mirai (Futuro), publicação mensal da Soka Gakkai voltada para a Divisão dos Estudantes Esperança e Herdeiro. Notas:1. Brasil Seikyo, ed. 2.278, 6 jun. 2015, p. A3.2. HUGO, Victor. Les Misérables (Os Miseráveis). Tradução: Julie Rose. Nova York: Random House, p. 184, 2008.

01/04/2024

ABC do Budismo

A vida dos Três Mestres – parte 2

No mês de fevereiro, conhecemos algumas curiosidades sobre a vida do primeiro presidente da Soka Gakkai, Tsunesaburo Makiguchi. Este mês, veremos a jornada de seu discípulo e segundo presidente da Soka Gakkai, Josei Toda. Ele nasceu no dia 11 de fevereiro de 1900, na província de Ishikawa, no Japão. Assim como seu mestre, seguiu a carreira de professor. Ao mudar-se para Tóquio, conheceu Makiguchi sensei, que já atuava como diretor em uma escola do ensino fundamental. O jovem Toda simpatizou-se com as ideias de Makiguchi e passou a apoiá-lo em tudo. Josei Toda se converteu ao budismo em 1928, junto com seu mestre. Eles criaram a Soka Kyoiku Gakkai (predecessora da Soka Gakkai) e atuaram embasados na filosofia do Budismo de Nichiren Daishonin. Em 6 de julho de 1943, por não aceitarem o ensinamento religioso imposto pelo governo japonês, foram presos injustamente. Apenas em 3 de julho de 1945, Josei Toda foi libertado da prisão e se levantou como um leão para concretizar os sonhos de Makiguchi sensei. Josei Toda e Daisaku Ikeda assistem ao evento dos jovens (Japão, set. 1957). Foto: Seikyo Press Veja abaixo algumas curiosidades sobre Toda sensei retiradas da coleção Revolução Humana: Ele era um ótimo professor. Ao entrar na sala de aula, cumprimentava a todos com um sorriso. Em suas aulas, utilizava fatos do cotidiano e diversos raciocínios até que as crianças entendessem os conceitos matemáticos com naturalidade. Esse processo era interessante e não forçava ninguém. Assim, os alunos sentiam prazer em estudar.1 Mesmo com a qualificação de professor, Josei Toda buscou um maior crescimento, que o fez partir para Tóquio e iniciar o curso ginasial noturno. Foi nessa época que começou a estudar inglês. Sempre que se deparava com uma dúvida em qualquer matéria, ele buscava esclarecê-la com outros estudantes ou perguntava ao professor ao término da aula.2 Antes de se encontrar com Makiguchi e mesmo após segui-lo como Mestre da vida, Josei Toda utilizava o nome Jogai (fora do castelo) como pseudônimo com a decisão de proteger seu mestre lutando como um guerreiro oculto no lado de fora do castelo. Após o falecimento do Mestre, ele alterou seu nome para Josei (sagrado castelo) consciente de que ele era o único discípulo que se levantou e herdou o ideal de Makiguchi.3 Josei Toda era um pai acolhedor e disciplinar. Enquanto esteve aprisionado injustamente [durante a Segunda Guerra Mundial], ele incentivou seu filho Kyoichi, que precisou se deslocar devido aos intensos ataques aéreos, com uma carta. Nela, eles firmaram a decisão de realizar cem vezes daimoku para unir os corações.4 “Eliminar a miséria da face da Terra” Esse foi o brado de Josei Toda ao assumir como segundo presidente da Soka Gakkai. Seu maior desejo era que a sociedade japonesa se reerguesse após a destruição causada pela guerra. Foi com esse sentimento que ele reconstruiu a organização. O período era bastante desafiador, mesmo assim, Toda sensei realizou visitas e reuniões de palestras em várias localidades do Japão e fundou as divisões Feminina (DF), Feminina de Jovens (DFJ) e Masculina de Jovens (DMJ), todas em 1951. Em 8 de setembro de 1957, Josei Toda proferiu um discurso para mais de 50 mil pessoas no Estádio de Mitsuzawa, em Yokohama. Em suas palavras, enfatizou a necessidade do povo, especialmente os jovens, de assumir o desafio de transformar as garras da maldade. Falando em jovens, outra data importante na história da Soka Gakkai é o dia 16 de março de 1958, Dia do Kosen-rufu, que ficou marcado com a transmissão do bastão da concretização do kosen-rufu de Josei Toda para os discípulos. Toda sensei encerrou sua nobre existência aos 58 anos, no dia 2 de abril de 1958, em Tóquio, e seu fiel discípulo Daisaku Ikeda foi quem herdou seu sentimento de “eliminar a miséria da face da Terra” e propagar a luz do Budismo Nichiren pela paz em todo o mundo. No próximo mês, vamos conhecer um pouco mais sobre a vida e as histórias do presidente Ikeda, nosso eterno mestre. Notas:1. IKEDA, Daisaku. Revolução Humana. São Paulo: Editora Brasil Seikyo, v. 1, p. 37-38, 2022.2. Ibidem, p. 67-68.3. Ibidem, p. 115-116.4. Ibidem, p. 46-47.

01/03/2024

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