Tendência & Opinião
BS
Os Dez Estados da Vida
24/07/1999
A manifestação de cada estado da vida se expressa no próprio ambiente onde vive o indivíduo, ou seja, acontece em razão de fatores externos que propiciam essa manifestação ou é um efeito manifesto a partir da própria tendência básica de vida desse indivíduo.
Curiosamente, podemos imaginar que em certas circunstâncias os estados mais elevados de Alegria, Erudição e Absorção, que se manifestam com freqüência na vida das pessoas, podem deixá-las até mesmo mais distantes do estado de Buda, comparativamente às pessoas que vivem com mais freqüência nos baixos estados de Inferno, Fome e Animalidade. Uma possível explicação é que, quando alguém encontra-se vivendo num desses estados inferiores, o sofrimento e as circunstâncias negativas são tais que ela decide praticar o Nam-myoho-rengue-kyo com o poder da fé de igual proporção ao seu sofrimento, obtendo benefícios e fortalecendo a fé, enquanto aqueles que vivem nos estados superiores têm a tendência de se acomodar, na prática, com a conseqüente redução da energia vital e tornando-se assim presa fácil do que o budismo denomina “Demônio do Sexto Céu”, que tem a função de afastar os praticantes do Gohonzon e da organização.
Conforme podemos observar, a distância relativa que se tem do estado de Bodhisattva para o estado de Buda é a mesma que a do estado de Inferno e quaisquer outros estados para o estado de Buda, já que as possibilidades de se alcançar esse supremo estado não dependem de intelectualidade ou nível social, mas exclusivamente da prática da fé.
Por outro lado, aprendemos com o nosso mestre, o presidente da SGI Daisaku Ikeda, por meio de suas explanações das escrituras do Buda Original Nitiren Daishonin, que cada estado da vida contém os outros nove, e portanto, a vida de uma pessoa pode estar no estado de Alegria e, de repente, passar para o estado de Inferno (e vice-versa), sem que se perceba a sutileza da mudança.
Imaginem que alguém passa toda a sua vida dedicando seu tempo e esforço ao seu trabalho e, com a idade avançada, recebe a notícia de sua demissão. Ou alguém que investe todo seu dinheiro de muitos anos de trabalho na Bolsa ou num projeto agrícola e de uma hora para outra perde tudo. Ou outra pessoa, uma senhora talvez, que dedicou todos os seus anos de vida à família, cuidando dos filhos com amor, já com certa idade, sem sustento próprio e que perde o marido por algum motivo. Ou uma família que tem jovens dependentes químicos, viciados em maconha, cocaína, ou álcool. Ou alguém que vive doente num hospital e dependendo de aparelhos para se manter vivo. Em suma, todas essas situações representam o estado de Inferno na vida de alguém, que somente poderá transformá-lo por meio da recitação do Gongyo e do Daimoku ao Gohonzon e da dedicação em prol da felicidade das pessoas. Quem vive no mundo de Inferno geralmente não reconhece que se encontra vivendo em tal estado e muito menos compreende as razões.
Quem vive nesse estado apenas sente a dor do sofrimento, espelhado na desgraça física e mental que o atormenta a todo instante. Se permitem, gostaria de contar uma história que ilustra bem o conceito de que cada estado contém os outros nove, tomando como exemplo o estado de Inferno:
Certo dia uma pessoa acordou num local estranho, onde tudo era muito bonito, o ambiente muito tranqüilo, havendo paz em tudo ao redor. De repente, surge um senhor alto e forte que diz ser o atendente e apresentando-se com ótimo aspecto. Ele dirige-se ao visitante e fala: “Bom dia, meu amigo. Que bom recebê-lo aqui. Já o estávamos aguardando. Aqui é um ótimo lugar. É onde todos os desejos de todos os seres humanos que aqui chegam são satisfeitos. Fique à vontade para satisfazer todos os desejos no momento que melhor lhe aprouver.”
O visitante ficou atônito, sem saber ao certo em que tipo de situação se encontrava, se estava sonhando ou delirando. Pensando que ali era um lugar onde todos os desejos eram satisfeitos, tratou logo de procurar o atendente e disse-lhe: “Bem meu amigo, quero realizar meus desejos e, em primeiro lugar, quero estar num grande iate com muitas mulheres bonitas e toda a mordomia.”
Imediatamente, num toque de dedos, o atendente concedeu ao visitante os desejos solicitados, o qual passou meses desfrutando aquela situação. Ao retornar, disse que gostaria de conhecer todos os países do mundo, com dinheiro, mulheres bonitas e muita mordomia. Imediatamente o atendente pôs o visitante a viajar pelo mundo, nas condições solicitadas.
Muitos e muitos outros pedidos foram feitos pelo visitante na ânsia de realizar seus desejos, sendo todos atendidos. Depois de um longo tempo de mordomia, já cansado de ser “feliz”, o visitante procurou o atendente para conversar e disse-lhe o seguinte: “Atendente, fiquei muito feliz em realizar todos os meus desejos exatamente como gostaria, mas nada para mim tem mais graça. Tudo se tornou uma rotina terrível. Tudo ao meu redor me incomoda. As pessoas são chatas, não vejo mais beleza em nada. Tudo agora é muito cinza para mim. Não aguento mais o sofrimento da mesmice. Por favor, gostaria que o senhor me conseguisse um emprego para que possa dar um outro sentido em minha vida, colaborar com a sociedade e ser útil.”
O atendente olhou atentamente para o visitante e falou: “Infelizmente, aqui não existe emprego nem trabalho. Aqui somente é o lugar de mordomias para as pessoas, logo, não tenho a menor condição de atender a este pedido.”
O visitante, com a negativa, ficou furioso e esbravejou dizendo: “Senhor atendente, se eu soubesse que era assim, teria preferido ir para o Inferno!”
Ao que o atendente respondeu: “E onde o senhor pensa que estamos?”
(Essa história foi extraída do conto “Onde o senhor pensa que está?” publicado na revista Qualidade Nova Meta, edição no 11, de novembro de 1994, da empresa Furnas do Rio de Janeiro.)
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