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Reflexão Sobre o Gosho do Mês
A prática do Sutra de Lótus é o Chakubuku, a refutação das doutrinas provisórias
Experiência & Comportamento
BS
Escrevendo as páginas da minha história
Da ilusão do menino que soltava balões coloridos no centro do estádio do Pacaembu, durante o Curso de Verão em 1973, ao empresário respeitado nacionalmente que oferece novas alternativas contra o desemprego. O sonho do menino que imaginava que os balões coloridos chegariam até as mãos do mestre, realmente eles voaram alto e ultrapassaram os limites, permitindo que realizasse seus sonhos e ideais. Marcelo Cypriano, membro do Departamento de Executivos da BSGI, emocionou cerca de quatrocentas pessoas no V Fórum da Coordenadoria Cultural, realizado no dia 1o de fevereiro no Centro Cultural Campestre, com seu relato de vitórias. Comoveu os presentes com simpatia e despojamento provando que no budismo só existem dois termos: vitória ou derrota. Ele escolheu a vitória. Enfrentou diversos obstáculos, desanimou em alguns momentos, como todo ser humano que se questiona, mas observou que todos os seus passos estavam embasados em uma escola que ele conheceu ainda menino: a escola de criação de valores. Hoje, Cypriano é o principal executivo de duas cooperativas que trabalham em todo o país: uma voltada para a área de saúde e outra de prestação de serviços. Uma iniciativa que vem auxiliando muitos profissionais brasileiros a recuperar a sua dignidade.
14/02/2004
Conheci o budismo de Nitiren Daishonin em Franco da Rocha, cidade localizada próximo à capital de São Paulo, por volta do ano de 1972, com meus avós e meus pais que foram os pioneiros na prática budista naquela região. Lembro-me que participava de todas as reuniões. Tinha apenas quatro anos de idade, mas já fazia Daimoku e ouvia atentamente as orientações dos veteranos. Esse período me marcou muito. Nos fins de semana, quando estava livre das aulas, acordávamos muito cedo para pegar o trem e ir para aos ensaios do Curso de Verão de 1973, que seria realizado no estádio do Pacaembu. Outro fato marcante dessa época foi saborear a culinária japonesa. Eu provei aquele bolinho japonês... bonitinho... que vontade!.... “éééca”. Que gosto estranho!
Lembro-me dos meus sete anos de idade, do meu irmão mais novo e muitos amigos reunidos no centro do gramado, todos com roupas e calçados brancos, boné amarelo, balões coloridos nas mãos, aguardando o momento para soltá-los. Que dó! Tão lindas as bexigas, mas não ficaria com uma para mim, pensei eu! Elas foram para o mestre junto com meus sonhos. Como será que ele vai pegar estas bexigas? Eu perguntava à minha mãe. Ah! Elas vão cair lá no Japão quando o gás acabar. É só direcionar com determinação, respondia ela com convicção.
E lá foram elas, voando alto! Aquele colorido dos balões fazem parte de momentos inesquecíveis da minha vida. Todos da minha família estavam presentes. Meus avós e meus pais faziam parte do painel de letras humanas. Que coisa linda! Minha mãe, mesmo grávida da minha irmã Renata, foi a todos os ensaios e à apresentação. Estávamos todos lá.
Neste clima harmônico e maravilhoso, fui crescendo com a BSGI e me educando. Participei ativamente do grupo 2001.
Foi no final da década de 1970, exatamente no dia 9 de janeiro de 1979, que senti o grande choque da minha vida. Senti a mais horrível das sensações de perda com o falecimento repentino do meu avô. A família perdera um grande homem, aquele que havia ajudado na construção dos nossos sonhos e possibilitado a muitas outras famílias buscarem a felicidade ensinando-lhes a filosofia budista. Ele possuía uma imensa alegria em ceder e arrumar toda a nossa casa para a realização das reuniões. Lá, inúmeras pessoas ouviram, aprenderam e recitaram pela primeira vez o Nam-myoho-rengue-kyo. Com seu falecimento encerra-se uma etapa em nossa vida.
Desencontros
Após o falecimento do meu avô a situação começou a ficar muito delicada em casa. Aconteciam muitas brigas! Meu pai ficou desempregado, maltratava todos nós. Esse período durou cerca de cinco anos. Eu era adolescente e já participava da Divisão Masculina de Jovens onde recebi muitas orientações e direcionamentos para enfrentar as crises familiares. Com 14 anos comecei a estudar mecânica geral no Senai (escola profissionalizante). Foi quando a minha vida começou a ter uma rotina árdua. Levantava às 5 horas todos os dias, pegava o trem, ia para o curso, voltava por volta das 19 horas, ia para a escola e voltava só depois das 23 horas. Era a marmita na mochila, muito sono, clima pesadíssimo dentro de casa e lá ia eu pegar o trem lotado de novo.
Lembro-me de um fato triste e marcante de um final de noite quando cheguei da escola. Não tinha comida pronta, abri a geladeira e vi duas coisas: a luz acesa e um ovo. Tive uma séria discussão com meu pai e ficamos muito tempo sem conversar. Logo em seguida meus pais se separaram. Ele foi morar em uma outra cidade, e minha mãe, com os meus três irmãos menores, foi morar em outra mais distante ainda. Contra a vontade de todos, minha avó vendeu a casa para dividir o dinheiro com a família e morar de aluguel. Como foi difícil sair da casa onde nasci, cresci e tinha amigos. Quando minha avó estava para entregar as chaves para os novos proprietários, eu disse a ela: “Um dia eu irei comprar essa casa de novo.”
Mudamos, fomos morar com a minha avó em um apartamento de aluguel no centro da cidade, onde realizávamos as reuniões. O dinheiro foi acabando, minha avó teve que entregar o apartamento e fomos lançados ao fundo do poço. Foi quando arrumamos uma casa simples e tentamos conduzir nossa vida em meio a tantas turbulências. Nessa época abandonei a organização. Nem que Sensei viesse a Franco da Rocha eu voltaria a praticar. Para quê? Meus avós oravam todos os dias, de manhã e a noite. Meus pais também. Gastaram dinheiro para ampliar a nossa casa para trazer mais conforto para as reuniões. Minha avó costurou muitas almofadas para as pessoas pouparem seus joelhos durante as reuniões. Eu também orei muito, estudei, deixei muitos momentos de lazer para ouvir “blá-blá-blá” em reuniões. Tudo para acumular boa sorte. E que boa sorte era aquela? Não queria mais conversa com ninguém da organização e Nam-myoho-rengue-kyo... nunca mais!!! Minha avó foi morar no porão da casa de uma amiga, era um cômodo só. Muitas vezes fiquei sozinho em casa, sem dinheiro e sem ter o que e onde comer. Mas eu nunca desanimei, continuei a estudar, terminei o Senai, mas não queria ser mecânico. Arrumei trabalho e procurei me dedicar a vencer na vida. Em seguida tive que me casar, pois minha namorada ficou grávida e tinha a obrigação de dar o melhor para o meu filho. Me separei algum tempo depois e decidi definitivamente cuidar da minha vida. Ia para o serviço em meio a chuvas, trem lotado, falta de dinheiro, fome, preguiça e dificuldades de todos os tipos, mais eu me dedicava. Era como se fosse uma “birra”, pois eu me recusava a ter aquele destino.
A volta por cima
Com apenas 23 anos de idade foi me confiado chefiar o departamento pessoal de uma divisão de laboratórios de uma importante empresa do setor da saúde. Sofri com o ciúmes por ser jovem e não ter curso superior completo. De auxiliar fui promovido direto para o cargo de chefia. Fui desenvolvendo meu trabalho, cresci, aprendi, aprimorei-me. Pedi para fazer um acordo trabalhista e, com o dinheiro que receberia, queria tentar a sorte nos Estados Unidos. Tive o visto negado duas vezes. Fiquei desempregado novamente. Após um ano parado, acumulando dívidas, consegui uma nova colocação. Passado um mês de trabalho, recebi o convite de amigos da antiga empresa em que trabalhara para desenvolver um projeto com cooperativas de trabalho. Desafiei e recomeçei a vida como auxiliar. Mas resolvi investir em um novo projeto.
Em abril de 1994 passei a administrar cooperativas de trabalho. Novamente comecei a obter sucesso profissional. Em dezembro de 1996, com 29 anos, comprei meu apartamento, pois havia conquistado uma boa situação financeira. Estava super-feliz! Nessa época, trouxe minha avó para morar em um apartamento totalmente novo. Foi como se eu tivesse comprado aquela nossa velha casa. É impossível descrever a emoção de pegar as chaves do meu apartamento e trazer a minha avó para um lar digno novamente.
O retorno à BSGI
Foi nessa época que me conscientizei. Percebi que a minha determinação, vontade, ousadia, capacidade de visualizar, planejar, realizar, enfim, todo o sucesso que eu estava conquistando era porque eu tinha cursado uma escola maravilhosa que nos direcionava na vida. Estava claro que tudo que eu fizera e que estava fazendo era reflexo de tudo que eu havia ouvido, lido, visualizado, mentalizado e determinado no tempo em que eu freqüentava a organização. Determinei retornar, não porque estava precisando de ajuda, mas sim por reconhecimento e agradecimento a tudo que estava conquistando.
Fui ao Centro Cultural da BSGI procurar informações sobre um local para participar das reuniões próximo de casa. Chegando lá, entrei em umas das salas. Havia algumas pessoas recitando Daimoku e, tomado de lágrimas e emoção, sentei-me, uni minhas mãos e recitei um sonoro Daimoku, como há muito não fazia. Durante aquela meia hora, revi minha vida como se fosse um filme. Contive-me para pedir as informações, mas no exato momento que perguntei se conheciam um telefone ou endereço de um local próximo ao Belenzinho, as lágrimas começaram a cair de novo, sem parar...
Voltei a conduzir minha vida novamente com base na filosofia de Nitiren Daishonin. Espelhava-me na vida do mestre. O homem para quem eu entreguei todos os meus e sonhos na infância. Pois se o presidente Ikeda era um exemplo em encontrar-se com os principais líderes mundiais com o intuito de propagar a paz mundial e a felicidade das pessoas, eu tinha o desafio de realizar reuniões com grandes empresários para apresentar a minha empresa. Se Sensei era um exemplo em levar esta maravilhosa organização para inúmeros países, mobilizando milhares de pessoas para um só objetivo, eu tinha o desafio de levar minha empresa para várias regiões do país.
Se ele fazia palestras para centenas de pessoas e redigia matérias maravilhosas para incentivar e motivar pessoas para a busca da felicidade, eu tinha o desafio de falar sem medo e fazer propostas de trabalho fantásticas para colocar meus projetos em prática. Foi com Daisaku Ikeda, meu mestre, que entendi que tudo na vida tem um significado. Conforme ele diz: “Quando um jovem tem uma grande perda na juventude, como o falecimento do pai ou da mãe, ele tende a se desenvolver como um grande valor no futuro.” Em outra ele afirma: “É ainda jovem que devemos fortalecer o alicerce da nossa vida.”
Na BSGI aprendi que não devemos estudar para ganhar um bom salário, ser promovido na empresa ou sermos bons funcionários, mas sim para pagarmos bons salários, sermos empreendedores e gerar oportunidades de trabalho, contribuindo para a erradicação do desemprego que assola nosso país.
Os dias atuais
Para finalizar, quero dizer que minha avó faleceu em dezembro de 2000, mas muito feliz, pois viu suas orações surtirem efeito com a guinada que conseguimos dar em nossa vida. Hoje eu sou um pai de família, conduzindo um lar harmonioso com a minha esposa Daniela. Tenho três filhos maravilhosos: o Rodrigo, que está com 15 anos, maior e mais forte do que eu. Foi um desafio mais que válido. A Mayra com 8 anos e o Pedrinho com apenas 4 meses. Já fiz mais de vinte viagens para o exterior, conhecendo os EUA, a Europa e o Japão. Viajo pelo país a trabalho. Conheci outras sedes da SGI no Brasil e fora dele. Na companhia de meu filho Rodrigo e de meu pai, fomos recebidos como “chefes de estado” na sede da SGI na cidade de Atlanta, capital da Geórgia (EUA).
Sou o principal executivo de duas cooperativas de trabalho, com 3,8 mil profissionais em atividade. Temos 240 empresas clientes e filiais em cinco capitais do país. Edito a única revista segmentada para o cooperativismo brasileiro, e dentro de alguns dias estarei inaugurando um projeto junto a diversos segmentos da comunidade visando à preservação do meio ambiente e à coleta e processamento de recicláveis na região de Franco da Rocha. A casa que tivemos de vender há 18 anos: sempre evitava passar na frente, pois queria comprá-la novamente, mas não tinha coragem de perguntar se queriam vendê-la. Tinha medo de levar um não e sair derrotado mais uma vez daquele lugar. Mas como eu já havia comprado meu apartamento e voltado a ter uma vida digna novamente, resolvi comprar um terreno. Chamei meu pai e disse: “Decidi construir uma sede particular e devolver um lar que foi tirado da organização.”
No dia 17 de agosto do ano passado, com a ilustre presença do presidente da BSGI, Eduardo Taguchi, e demais dirigentes e membros locais, inauguramos a Sede Regional Geraldo Alves da Silva, com a sala Sebastiana Maria da Conceição, uma singela homenagem a meus avós.
Eu sou mais um dos milhares de membros que comprovaram que não há oração sem resposta; que já provou diversos dissabores da vida, mas que, com as orientações dessa maravilhosa organização, conseguiu superar todos os obstáculos. Costumo dizer que não tenho medo de problemas, os problemas é que têm medo de mim. Ah! Aquela casa dos meus sonhos, das lembranças mais lúdicas e coloridas da minha vida: estou com as chaves na mão! O que fazer com ela? Deixarei isso para os próximos capítulos do livro da minha vida... Um detalhe! Hoje sou um apaixonado pela culinária japonesa e adoro os bolinhos de arroz recheados e que chamamos de sushis.
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