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Caderno Soka

Design Inteligente

uma teoria de inteligência questionável

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07/07/2007

Design Inteligente
Ao considerar o raciocínio do DI, perde-se a Teoria da Evolução defendida por Charles Darwin, porque ela não explicaria a existência das estruturas complexas, por crer num elemento superior a elas mesmas. Contudo, os seguidores do DI não se consideram criacionistas nem opositores ao Darwinismo, uma vez que têm como objetivo propor outra abordagem teórica que aponte as supostas falhas da Teoria da Evolução.

O Cultura Soka conversou com Flavio Kulevicz Bartoszeck, filósofo e consultor acadêmico do Instituto de Neurociência e Educação (INE), em Curitiba.

Flavio Kulevicz Bartoszeck é autor de artigos relacionados a neurociência e filosofia da mente para a Revista Internacional de filosofia Clínica; Revista cientifica Intersaberes e Jornal de Ciências Cognitivas da Sociedade Portuguesa de Ciências Cognitiva

Cultura Soka: Qual o seu ponto de vista sobre o DI?

Flávio Kulevicz: Para mim é uma opinião religiosa travestida de ciência. Tentam usar o jargão e as pseudo-evidências para apoiar suas crenças, não fatos. Na ciência, as evidências apóiam as teorias. As teorias não são leis. São enunciados que nos fornecem capacidade de predição além da chance.

As crenças nos ajudam todo dia, porém podem nublar nosso julgamento. Como já observou o famoso filósofo David Hume, temos 50 % de chance do Sol aparecer no horizonte, porém nossa crença de que ele vá aparecer é maior, então o Sol nascer não é nenhum milagre.

CS: Então, se alguém se basear na própria fé, pode acreditar que o Sol nasceu por isso?

FK: Na verdade, nosso sistema cognitivo é o dos mais supersticiosos, antes de termos um método, os fenômenos da natureza eram realmente deuses, e o pensamento mágico imperava. Ou seja, o que diz é correto, pessoas que ainda propagam o “pensamento mágico” podem acreditar em tal coisa, pois por pensamento mágico temos como a crença que nossas vontades podem mudar a matéria, o tempo, e os acontecimentos a nossa volta, como é o caso recente do Doutor Alegria, um japonês que achava que por meio de palavras alegres em água faria com que seus cristais ficassem mais simétricos e bonitos. Um patente exemplo de pensamento mágico. O método veio em socorro desta nossa atribuição natural, mas nem porque é natural pode ser considerada boa.

CS: O senhor acredita que exista alguma tendência positiva de concepção do DI?

FK: De forma nenhuma. É como defender mitologia para explicar as ações humanas. Algo que a psicanálise faz. O que é controverso é o design inteligente querer se passar por ciência. No âmbito técnico, o design inteligente tem peso zero.

CS: De qualquer forma, trata-se de um assunto polêmico, sendo levado a diante. Você não considera como uma forma de progresso?

FK: Que grande vantagem alguém teria em seguir essas idéias? Elas não são subsídios na aquisição de tecnologia (Obs. já foi testada a evolução genética como procedimento da aquisição aerodinâmica de asas de aviões, ou seja, FUNCIONA) Essas idéias não fazem a vida da posterioridade melhor. Não acrescenta nada do nosso desconhecimento do passado.

CS: Por que não?

FK: Porque tapar os buracos das faltas de registros paleológicos com suposições bíblicas é pior que anedótico, chega a ser lúdico e cômico. Como a função áurea, ou seja, o Pi. Ele é encontrado nas conchas de moluscos, nas pirâmides e nas pinturas. Será que o Pi é o código inteligente de Deus?

Será que para testar isso temos de olhar o gênese e ignorar milhares de outras evidências e conjecturas? Apenas para que nossas crenças pessoais tenham algum tipo de tipóia do mundo natural? Isso também é danoso para as novas gerações.

Como é sabido nossa mente é construída a partir de sensações e percepções e, a partir delas tiramos os nossos conceitos, crenças. Se a partir da tenra idade você for construído com conceitos de como o mundo funciona, a partir da ótica criacionista, você terá muitos problemas no futuro para desclassificar essas idéias deturpadas do seu arsenal teórico.

Polêmica concepção

Design inteligente (DI) é a teoria que procura provar a existência de um tipo de inteligência responsável pela vida, ou seja, o design surgiria a partir do designer, um feitor consciente. O responsável pela idéia inicial do DI foi o teólogo Wilian Paley. Em 1831, ele concluiu que seres e estruturas biológicas organizadas estariam ligadas à idéia de uma figura superior. O DI então poderia ser qualquer representação inteligente, chegando a se pensar na possibilidade de um controle alienígena.

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