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Ensaio
BS
Peter Gregson – presidente e vice-chanceler da Universidade Queen de Belfast, na Irlanda do Norte
21/11/2009
O famoso poeta irlandês William Butler Yeats (1865–1935) escreveu: “Edificarei agora minha alma / e, em douta escola / ao estudo irei aplicá-la”.2 As vicissitudes da vida são fortes ondas e os ventos da censura e do elogio sopram com toda força sobre as pessoas. Onde se encontra a chave para vencer essas ondas e vendavais da adversidade e criar uma vida de valor duradouro? A chave está em continuarmos aprendendo e nos aperfeiçoando, em interação com as outras pessoas. Está em treinar e educar os outros. Yeats, considerado como um dos escritores mais destacados do século 20, recebeu o título de doutor honorário da Universidade Queen, em Belfast, instituição pela qual ele sentia um profundo afeto.
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No dia 18 de março deste ano, rodeada por um glorioso verdor primaveril, a Torre Central da Universidade Soka estremeceu com os acordes de uma canção de graduação da Universidade Queen. Numa solene cerimônia realizada com o mesmo protocolo seguido por essa universidade na Irlanda, a instituição me conferiu o título de Doutor Honoris Causa. A cerimônia iniciou com a entrada solene dos representantes de ambas as universidades, liderada por dois estudantes da Universidade Soka. Encerrando a fila estava o presidente e vice-chanceler Peter Gregson, com um porte nobre e digno.
Essa ordem, colocando os alunos em primeiro lugar, é apreciada pela honrável tradição da Universidade Queen. O Prof. Gregson começou suas palavras citando o grande dramaturgo irlandês George Bernard Shaw (1856–1950), que disse: “A paz é melhor que a guerra, mas também é infinitamente mais árdua”. Em minha opinião, essas palavras deixam claro o total compromisso do vice-chanceler com a paz. A destruição requer apenas um instante; a construção é uma luta de vida ou morte. A Universidade Queen tem se dedicado com corajosa bravura à tarefa mais sublime de todas: a luta pela paz.
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Durante mais de trinta anos, a Irlanda do Norte viu-se arrasada por conflitos e guerras civis. Nesse “período dos distúrbios”, a Universidade Queen foi uma fortaleza de paz, empenhando-se incansavelmente para acabar com a violência e promover a paz.
Fundada em 1845 pela rainha Vitória da Grã-Bretanha (1819–1901), essa instituição tornou-se universidade no ano de 1908. Com o passar dos anos, formou dinâmicos líderes em todos os campos do empreendimento humano; entre eles, pioneiros pesquisadores na área da Medicina, líderes do governo, atores famosos, um ganhador do Prêmio Pulitzer e um atleta olímpico ganhador de medalha de ouro.
O Prof. Gregson, eminente estudioso e membro da Real Academia Britânica de Engenharia, fez com que a universidade galgasse alturas ainda maiores. Desde que foi nomeado como vice-chanceler, em agosto de 2004, com apenas 46 anos de idade, tem trabalhado na criação de uma universidade voltada para a pesquisa; nesse sentido, conseguiu que ela ingressasse (no ano de 2006) no prestigioso Grupo Russell, associação formada por mais de vinte universidades do Reino Unido. Disseram-me que um quarto dos docentes da Universidade Queen são membros da Academia Superior de Educação, entidade dedicada a garantir que os estudantes do Reino Unido recebam o melhor ensino possível. Nesse sentido, essa universidade pode sentir o orgulho legítimo de estar oferecendo uma educação do mais excelente nível.
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Um princípio essencial da Universidade Queen é contribuir positivamente para o crescimento e desenvolvimento da cultura, da comunidade e da economia locais. Com essa finalidade, a instituição realiza o famoso Festival de Belfast, que oferece uma programação internacional de arte, música e teatro e também fornece aos estudantes e artistas locais a oportunidade de divulgar seu trabalho no campo das artes. Com uma atitude de genuína perseverança, o Festival de Belfast tem sido realizado ininterruptamente, mesmo nos períodos mais violentos do conflito.
A violência separa e divide as pessoas, ao passo que as artes as unem. O Festival teve um papel importante na aproximação das duas partes do conflito e ofereceu um caminho para a paz e a solidariedade. A Universidade Queen também realizou uma notável contribuição para o novo desabrochar da cultura, o qual ficou conhecido como o “Renascimento de Ulster”, um movimento de recitais de poesia e de iniciativas editoriais ocorrido entre as décadas de 1960 e 1970, dando voz a vários poetas jovens da Irlanda do Norte. Entre eles, Seamus Heaney, ex-aluno da Universidade Queen que recebeu, no ano de 1995, o Prêmio Nobel de Literatura.
Seja qual for o estado em que a sociedade e a época se encontrem, cada um de nós pode contribuir para a paz no local onde nos encontramos. Por exemplo, incentivando um jovem e permitindo que ele conheça seu potencial.
Em nosso diálogo, realizado antes da cerimônia de concessão do título, o Prof. Gregson disse que a arte e a cultura são elementos importantes na construção da paz, e comentou que o coração e a alma da Irlanda do Norte e da Universidade Queen estavam em sua cultura. Devido ao seu interesse cultural, durante sua permanência no Japão o Prof. Gregson visitou o Museu da Música da Associação de Concertos Min-On, que fundei anos atrás, e me contou o quanto havia sido inspiradora essa visita.
A Universidade Queen demonstrou para o mundo, com suas decididas respostas aos muitos desafios da história, em que consiste a missão de uma universidade: merecer a confiança da comunidade e fazer com que os cidadãos pensem que “Enquanto existirem a universidade e os estudantes, haverá esperanças”.
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Neste verão, a Universidade Soka voltou a realizar uma série de conferências abertas ao público para compartilhar com a comunidade a alegria do estudo. Além disso, o Departamento de Engenharia Ambiental para a Simbiose, pertencente à Universidade Soka, desenvolveu uma nova variedade de amoreira.3 Dessa forma, está contribuindo para revitalizar a economia de Hatioji, uma localidade tradicionalmente famosa pela produção de amoras. Os estudantes, que sentem uma grande afeição pela comunidade, participam de programas de vigilância da vizinhança para promover a segurança e a tranquilidade dos moradores. Eles contribuem também com a realização de atividades anuais, tais como o Festival da Floração da Cerejeira Chu Enlai. Este tipo de iniciativas, que contam com a presença de um grande número de representantes locais, têm servido para estender pontes entre os moradores e amigos de outros países.
Um outro evento que se tornou tradição local é o Festival Internacional da Universidade Soka dos Estados Unidos (SUA). Este ano, em maio, participaram mais de dez mil cidadãos moradores na localidade. O Festival foi incluído na programação cultural do Conselho para as Artes do Distrito de Orange e do Departamento de Educação do Distrito de Orange. Essa é uma atividade esperada todos os anos pelos moradores, a qual conta ainda com ampla cobertura jornalística dos meios de comunicação locais.
O Prof. Gregson considera, assim como nós, que não há sentido em adquirir conhecimento se não houver uma contribuição positiva para a sociedade.
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O avô do Prof. Gregson foi um intelectual que presidiu a Associação de Engenheiros Mecânicos da Grã-Bretanha. Desde a infância interessado na profissão do avô, o Prof. Gregson decidiu ainda criança ser engenheiro. Um de seus professores, Harvey Flower (1945–2003), teve influência essencial em sua vida, ajudando-o a manifestar seu potencial. O vice-chanceler recorda que o que esse professor lhe ensinou a respeito da pesquisa é que os novos horizontes se abrem por força de ideias respaldadas em provas firmes. Também aprendeu com esse professor a motivar os jovens estudantes. Tanto em seu trabalho de pesquisa como na docência, o Prof. Gregson tem colocado em prática essas palavras de seu professor.
Às vésperas da cerimônia na Universidade Soka, o vice-chanceler da Universidade Queen visitou a Escola Soka de Ensino Médio de Tóquio. Comovido com as calorosas boas-vindas que recebeu, ele transmitiu aos alunos a importância de ter bons professores e disse-lhes que não sabia como expressar em palavras a enorme gratidão que sentia pelos professores que teve ao longo da vida. A sinceridade do Prof. Gregson fez-me pensar no lema da cidade de Belfast: Pro Tanto Quid Retribuamus, que significa: “Como retribuiremos por tudo o que recebemos?” A atitude mais nobre e pura que podemos adotar está em ter gratidão aos nossos professores pela inspiração que nos deram.
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Na cerimônia, o Prof. Gregson disse que os valores da Universidade Soka muito têm em comum com os da Universidade Queen. Quanto mais conversávamos, mais descobríamos pontos em comum entre essas duas instituições educacionais. Uma delas é a prioridade que ambas dão aos alunos. O Prof. Gregson sustentou a importância de uma gestão educativa centralizada nos alunos.
Cada estudante deve ser tratado com total respeito como indivíduo; para que os jovens possam desenvolver seu potencial ao máximo, não devem poupar esforços. O Prof. Gregson assumiu essa tarefa como uma responsabilidade pessoal.
Como falamos sobre o novo intercâmbio educacional firmado por essas duas universidades, o Prof. Gregson disse que, em sua opinião, não se tratava de um simples documento escrito, mas, sim, de um compromisso ativo para dar oportunidades de transformação vital a todas as pessoas envolvidas. Em seu discurso proferido na cerimônia de outorga do título, ele citou as palavras do ex-presidente da África do Sul, Nelson Mandela, a quem muito admiro: “A educação é a grande libertadora das pessoas”. Mandela também recebeu um título honorifico da Universidade Queen. O Prof. Gregson manifestou sua esperança de que todo educador deve se lembrar dessas palavras de Mandela.
No dia seguinte ao da cerimônia, a Universidade Queen e a Universidade Soka realizaram um simpósio. Todos os presentes ficaram impressionados com a enérgica decisão do Prof. Gregson de colocar em prática nosso programa de intercâmbio educacional.
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O segundo ponto que as duas universidades têm em comum é o interesse em formar cidadãos do mundo. Na Universidade Queen há 24 mil alunos estrangeiros provenientes de noventa países. Atualmente, há mais de cem mil graduados — que se denominam afetuosamente de a “família da Queen” — espalhados pelo mundo inteiro. Sinto-me profundamente grato pela calorosa recepção oferecida aos alunos que foram estudar na Universidade Queen.
O poeta Heaney expressou seu orgulho por ser ex-aluno de uma instituição tão aberta como a Universidade Queen. Fazendo uma reflexão sobre sua experiência como estudante, ele declarou que nessa universidade os alunos chegavam falando em seu próprio idioma, mas tinham a oportunidade de conhecer e dominar uma ou mais línguas francas ou idiomas comuns.3 Dizem que graças aos seus estudos na Universidade Queen, Heaney é um poeta que vive localmente, mas pensa globalmente.
Dentro em breve começará na Universidade Soka uma nova iniciativa: o Programa Soka de Cidadania Global. O Prof. Gregson disse justamente que o entorno educacional da Universidade Soka era propício para treinar cidadãos globais. Com relação aos alunos das Escolas Soka que ele conheceu, ficou admirado com seu entusiasmo pelo conhecimento e elogiou sua firme determinação de se tornarem valores humanos dispostos a trabalhar em prol do mundo. Esta é a avaliação perspicaz de um educador genuinamente comprometido, uma pessoa cujo amor pelos jovens não tem fronteiras.
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O Prof. Gregson expressou sua nobre decisão de continuar trabalhando pelo crescimento e desenvolvimento da Universidade Queen, percorrendo junto com ela sua longa jornada.
No dia da cerimônia de outorga do título podia ser vista a distância a majestosa silhueta do Monte Fuji. Muito contente, o vice-chanceler comentou que, finalmente naquele dia, em sua quarta viagem ao país, estava tendo a primeira oportunidade de ver a montanha mais famosa do Japão. Nosso objetivo em comum na educação é treinar indivíduos de excelente personalidade que diante de qualquer tempestade se levantem corajosamente, tal como o Monte Fuji.
Brancas nuvens,
o Monte Fuji
se eleva majestoso
a distância,
como um intrépido gladiador.
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