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Relato

Construí o Castelo de Tesouro de gratidão

“O que importa é o coração”1 — ações sinceras pelo Kossen-rufu se transformam em benefícios inimagináveis

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08/09/2012

Construí o Castelo de Tesouro de gratidão

MINHA HISTÓRIA

“Posso lhe dar um abraço e um beijo?” — dizendo assim, Maria Antonia afaga as pessoas com um caloroso sorriso. O gesto é seu incentivo: “Meu coração está batendo junto ao seu. Você não está sozinha.” Não importando quem seja, ao perceber uma ponta de tristeza no olhar, Maria Antonia se aproxima. Mesmo que a pessoa se sinta a mais infeliz de todas, ao mesmo tempo em que “recebe”, ela “doa” um abraço e um beijo. Isso aquece os corações, cria vínculos, encoraja e fortalece. Com humildade e simplicidade, ela fala sobre o budismo para quem ainda não conhece. Movida pelo desejo maior de ver todas as pessoas felizes, não escolhe palavras, mas emociona. Sem lamentar dos desafios constantes de uma saúde frágil, sua decisão é de viver ao máximo e encerrar cada dia com a sensação de missão cumprida expressando sempre a sua incondicional gratidão ao Gohonzon e ao mestre.

PACOTE DE SAL

Maria Antonia: “Nasci prematura. Quando meu pai voltou da roça e me viu, disse que era como um pacote de sal (da época). Achou que eu não sobreviveria. Tenho problemas respiratórios até hoje e outras complicações, mas farei 62 anos em breve. Acho que é missão, né? ”

Única branca, loira e de olhos azuis dentre dez filhos, ela cresceu se sentindo feia. Em meio às dificuldades de uma família numerosa sem muitos recursos, aos quatorze anos, Maria Antonia pede para namorar um rapaz que depois se tornaria seu marido. Casada aos dezoito, acreditou numa vida melhor, já que o rapaz tinha casa própria e era filho único, apesar da mãe ser viúva e ter perdido três filhos.

Essa união evidenciou um carma de sofrimentos: morte do primeiro filho, dificuldades financeiras e sérios problemas de saúde. E uma questão maior intrigante: por nove vezes, perderam tudo o que construíram. Em 31 de julho de 1987, o marido, Luís Carlos, declara a ela e aos dois filhos mais velhos de que teriam de se separar. Ele não pagava a casa há muitos meses, porque tudo que ganhava era levado pelos agiotas como juros de empréstimos: eles seriam despejados.

GONGYO DA “VIRADA”

Maria Antonia: “Durante dez anos, eu achava que meu marido me traía. Fumava muito, dia e noite, sempre nervoso. Ele disse que a dívida era tanta que nunca teve coragem de me contar. Meu filho disse: ‘Pai, se o senhor vai perder, vamos perder todos juntos. Vamos morar na rua, fazer qualquer coisa, mas juntos’. Fiquei com ódio do meu marido. Tinha casado com ele, por ele. Não tinha nada, nem amor, antes de conhecê-lo. O fato de ele não ter contado antes para mim me doeu muito, me senti um nada.”

No início de agosto, uma amiga da igreja a visita em casa. Conta que há dois anos luta contra um câncer linfático e tinha se tornado budista. Ouvindo a história de Maria, ensina-lhe o Nam-myoho-rengue-kyo. Sem nada a perder, Maria deixa de ir à igreja e passa a orar Daimoku todas as manhãs. Em dezembro, vai com os filhos menores para uma cidade litorânea pensando em viver separada do marido. Mas ao vê-lo chegar com os outros dois filhos no último dia do ano, percebe que aquela é sua família, sente gratidão por tê-la e decide transformar sua vida. Realiza seu Gongyo de Ano-novo determinada a ser feliz.

Maria Antonia: “Em meio a nossas dificuldades, quando comprávamos seis pães sem que ninguém pudesse repetir, trouxeram uma criança para adoção. Eu pensei: ‘E agora?’ Comentei a respeito da nossa situação com uma vizinha e ela contou para sua mãe, que veio até mim e perguntou: ‘Quanto o seu marido deve? Vou lhe emprestar para saldar a dívida com os agiotas. Devolva quando puder’. Era algo que parecia inacreditável, mas aconteceu. Conseguimos saldar tudo em um ano. Meu marido ganhou um processo trabalhista que estava parado há vinte anos. Recebemos o Gohonzon em junho de 1988. Naquela época, só pude lhe oferecer uma parede da casa .”

Da janela, via-se um terreno baldio. Maria sentiu o desejo de comprá-lo e lá construir um kaikan2. Três janelas, cortinas esvoaçantes e uma grande porta, assim ela o imaginou, sem comentar com ninguém. Foi durante uma atividade do Mamorukai, em 1990, que revelou pela primeira vez esse objetivo. Rosa Werneck, por quem Maria possui infinita gratidão, disse-lhe imediatamente: “Então, eu ajudo!” A convicção com que Rosa acreditou em Maria a fez sentir que não podia mais recuar. O sonho passou a ser compartilhado pelos companheiros da organização que se uniram numa grande corrente de Daimoku e fez o universo conspirar a seu favor: o Kaikan “Andreo dos Santos” foi inaugurado em 27 de setembro de 1992.

TESOURO INDESTRUTÍVEL

Maria Antonia: “O terreno foi comprado pelo meu marido com sua aposentadoria. E no ano seguinte, inauguramos o nosso Kaikan. Todo mundo ajudou e isso trouxe muitos benefícios a todos da família, à organização e à localidade. Superamos muitas questões de saúde também. Quando o meu marido ficou doente, fiquei sem chão, mas a família Soka e os incentivos do presidente Ikeda me deram forças para vencermos juntos. Porém, de todos os benefícios, o maior foi eu aprender a amar a minha mãe. Nossa relação sempre foi muito conturbada, mas fiz Chakubuku nela e ela praticou por treze anos antes de falecer serenamente. Cuidei dela até o último instante e oro para nascer novamente como sua filha na próxima existência.”

Maria ensinou o budismo para seus cinco filhos e muitos familiares. Em cada aniversário do Kaikan, a família decide junto como presenteá-lo. No último, deram um home theater, que sequer têm em suas residências. Toda a vizinhança comparece à festa e a organização comemora com muita alegria. Desde sua inauguração, nesse local se desenvolvem inúmeros “valores humanos”, principalmente jovens, que atuam na linha de frente do Kossen-rufu do Brasil.

Com a sinceridade da prática da família, Luís Carlos recebeu diversas indenizações trabalhistas, que o possibilitaram construir uma casa para os filhos e ainda para a sogra. Um dos filhos pretende oferecer um kaikan em Boituva, local onde mora. É o legado do sentimento de contribuir para o Kossen-rufu no lugar em que se encontra aprendido com os pais.

Em sua oração diária de gratidão, Maria Antonia deseja saúde e longevidade para o mestre e à Sra. Kaneko e felicidade a todas as pessoas. Ora também para que seus filhos, netos e os demais que virão nunca, jamais, interrompam essa correnteza do Kossen-rufu, honrando para sempre o nome do presidente Ikeda. Para ela, esse é o seu maior Castelo de Tesouro que construiu, e nele, ela é a Rainha da Felicidade.

Minha frase do Gosho

“Não duvidem dos benefícios do Sutra de Lótus mesmo que não haja proteção dos céus. Não lamentem a ausência de segurança e tranquilidade na vida presente. Embora tenha ensinado dia e noite a meus discípulos, todos, criando a dúvida, abandonaram a fé. O que é costumeiro no tolo é esquecer nas horas cruciais o que prometera nas horas normais.”

(Os Escritos de Nitiren Daishonin, v. 4, p. 209-210.)

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