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Uma grande história na China

Em entrevista ao BS, Tulio Maximo conta sobre os desafios e a alegria de se desenvolver profissionalmente na China

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18/06/2020

Uma grande história na China

Quando retornou para Minas Gerais, aos 35 anos, com a esposa, Priscilla, e o filho, Dom, após fazer doutorado na Inglaterra, Tulio não imaginava que estava iniciando uma nova etapa profissional, que seria vivida do outro lado do mundo, na China. “Havia me submetido a mais de quarenta vagas em diferentes países e, após quatro meses de processo seletivo, fui aceito para lecionar na Universidade Politécnica de Hong Kong.”

Brasil Seikyo: Como é seu trabalho nessa instituição?

Tulio Maximo: É extremamente desafiador, pelo nível de excelência exigido. Além de dar aulas, tenho de produzir artigos científicos e angariar fundos de pesquisa. Mas é gratificante. Leciono ergonomia, pesquisa em design e uma matéria que criei sobre design inclusivo e de tecnologias assistivas para pessoas com deficiência e outras minorias. Também sou tutor de um projeto cooperativo desenvolvendo projetos para empresas, governos e organizações não governamentais (ONGs). No primeiro deles, trabalhamos numa campanha para um serviço de transporte voltado para pessoas com deficiência. Em outra iniciativa, atuamos em um setor da maior ONG de Hong Kong [Hong Kong Society for Reabilitation], no projeto de um playground intergeracional [Kowloon Park Intergeneration], de compartilhamento de espaço entre pessoas de diferentes gerações e habilidades diversas.

Em paralelo, sou responsável por conceder bolsas de estudo, atuando como diretor executivo de um programa de intercâmbio da universidade. Com isso, sinto pulsar meu senso de missão e muita gratidão por ajudar os estudantes a ter uma experiência fora do seu país, como eu tive, porém, depois de catorze anos de muito esforço e tentativas.

BS: O que mudou no trabalho por conta da pandemia?

TM: O trabalho intensificou bastante. Adap­tamos as aulas para o modo on-line e passamos por treinamentos-padrão. Mas, com base na estratégia do Sutra do Lótus, de tirar o melhor da situação, repensei minhas matérias. Criei uma série de exercícios para trabalhar a empatia em casa e um projeto para que os alunos desenvolvessem soluções para os idosos trabalhando junto com seus avós. Para outra turma, solicitei que refletissem sobre como a pandemia do Covid-19 afetou sua comunidade e como o design pode colaborar para modificar esse cenário. Lendo o diário de reflexão dos alunos, tive a sensação de missão cumprida.

BS: Após dois anos e meio morando na China, você criou um ritmo de trabalho neste país e se adaptou. Como foi esse processo no início?

TM: Difícil no começo, mas aos poucos aprendemos a abraçar as diferenças e passamos a admirar a efetividade dos chineses em tudo. Pouco antes do nascimento do nosso segundo filho, Nino, nós nos mudamos para um bairro onde poucos falam inglês, o que me encorajou a aprender o idioma cantonês. Outro desafio foi conciliar o tempo entre a vida profissional, a família, o lazer e as atividades da Gakkai.

Aqui, a organização é dinâmica e equilibrada no tocante a fé, prática e estudo. Outra curiosidade é que muitos já se encontraram com Ikeda sensei, o qual já visitou Hong Kong vinte vezes. Ouvir os relatos dessas pessoas é sempre revigorante, em especial para essa fase de isolamento social. Estamos retomando as atividades, realizando reuniões on-line semanalmente, o que nos permite participar de encontros na Inglaterra e no Brasil também, revendo pessoas queridas e com o sentimento de que o kosen-rufu mundial está a todo vapor.

BS: Por falar em retomar a vida, o que você planeja?

TM: Quero contribuir mais para o meio acadêmico com publicações e pesquisas aplicadas, a fim de encontrar soluções para problemas sociais, focando nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) das Nações Unidas. Também estou terminando um artigo científico sobre uma tecnologia social brasileira e tenho novos projetos criados durante a pandemia. Enfim, no budismo, aprendemos que não há dificuldade que impeça o desenvolvimento do kosen-rufu; pelo contrário, são combustíveis para o dinâmico avanço.

 

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