Relato
BS
Todo sonho é possível
Persistência e coragem são palavras-chave para Naylah, que, em busca dos objetivos, construiu uma história para lá de inspiradora
01/07/2021
Um dos objetivos dos meus pais era que minhas duas irmãs e eu estudássemos em escolas com boa qualidade de ensino. Porém, com os custos exorbitantes dos colégios particulares, estudei em escolas públicas até o sexto ano do ensino fundamental, sempre atrás de bolsas de estudo para ter acesso a uma boa educação. Essa persistência, somada à prática budista, que me acompanha desde que nasci, e ao apoio da minha família, me possibilitou romper os limites e conquistar os sonhos, como o de me tornar aluna da Universidade Soka da América.
Grande sonho
Em 2016, meu pai soube que o Colégio Soka do Brasil, em São Paulo, abriria vagas para a primeira turma do ensino médio e, sem perder tempo, fiz a inscrição para a prova de bolsas de estudo. Era um sonho do meu pai e do meu avô ter uma filha ou um neto no Colégio Soka. Mais que isso, era também meu desejo estudar nessa instituição.
Minha aprovação para a primeira turma, sendo a única representante de Brasília, DF, foi uma festa! E com o início das aulas, eu me mudei para São Paulo como aluna Homestay — programa que permite aos alunos morarem com famílias conveniadas enquanto estudam. Tive a boa sorte de residir na casa de pessoas acolhedoras que me ajudaram muito em meu desenvolvimento. E quando sentia saudade da família e da cidade natal, recitava daimoku, lembrando-me dos incentivos do meu pai e da postura do meu avô. Contudo, em 2018, minha família se mudou para São Paulo a fim de me apoiar na conclusão do ensino médio, e por conta dessa decisão, enfrentamos dificuldades financeiras e também desarmonia. Nesses momentos, recitava ainda mais daimoku e me dedicava ao estudo do budismo para encontrarmos uma solução.
Em paralelo, sentia a responsabilidade de me tornar uma estudante da qual minha família se orgulharia. Mas não era tarefa fácil. Passava horas e horas estudando, mesmo durante feriados ou fins de semana. Sabia que poderia dar o meu melhor e me empenhava muito. Não perdi nenhuma oportunidade que me ofereciam, especialmente quando viajei pela primeira vez para a Universidade Soka da América (SUA), num intercâmbio em 2018. Decidi que estudaria lá e segui me aprimorando até chegar ao último ano do ensino médio.
Sem recuar
Nessa fase, eu me vi ansiosa com a aproximação das provas finais e dos processos seletivos das universidades, sendo a principal delas, a SUA. Durante o processo de aplicação para a SUA e à espera do resultado, recitava até duas horas de daimoku diariamente com a determinação de que seria aceita. Quando o resultado saiu, foi um choque, pois havia sido aceita, mas a condição para que prosseguisse com meus estudos na instituição seria cursar um ano do Bridge Program — programa intensivo de aprimoramento de inglês acadêmico para alunos cuja língua nativa não é esse idioma.
A princípio, o resultado foi para mim como uma carta de rejeição, porque o Bridge Program não oferece bolsas de estudo. Ciente das condições financeiras da minha família, assumi uma posição de derrotada. A orientadora do Colégio Soka, que me auxiliou nessa aplicação, encorajou-me e a uma amiga na mesma situação, dizendo que, como pioneiras, estávamos abrindo as portas para os próximos alunos. Naquele momento, não assimilei o que ela quis dizer. No entanto, ao conversar com minha mãe, compreendi verdadeiramente aquele incentivo quando ela compartilhou comigo as palavras de Ikeda sensei dirigindo-se aos primeiros alunos da Universidade Soka:
Por serem da primeira turma [...] creio que vivenciarão dificuldades enormes nessa empreitada da criação de uma nova tradição universitária, mas é sua a missão de abrir esse caminho espinhoso em prol dos estudantes que virão. Por mais árdua que possa ser a marcha neste exato momento, um caminho que exige trabalho duro para ser construído perdura. Como integrantes da primeira turma, o nome de vocês entrará para a história da escola. Vocês são os fundadores da Universidade Soka juntamente comigo.1
Com energia renovada e com base na “fé, prática e estudo”, iniciei um novo desafio com minha amiga. Tínhamos menos de um mês para arrecadar o dinheiro, mas não me afligi e recitava mais daimoku a cada dia. Perto da data-limite do pagamento, recebi uma ligação da coordenadora do Bridge Program informando que haviam facilitado o processo de comprovação do valor do curso. Isso foi uma vitória, porém não era o fim dos desafios.
Ainda sem a quantia necessária, minha amiga e eu fizemos vaquinha, trabalho, espetáculo de dança e bazares para arcar com os custos. Juntamos todo o dinheiro e dividimos igualmente entre nós duas. Assim, conseguimos pagar os dois semestres do curso sem atrasos. Nem acreditei! Transformamos o veneno em remédio, e não seríamos mais derrotadas. Em particular, comprovei novamente que, para um praticante do Sutra do Lótus, não há oração sem resposta e que “o inverno nunca falha em se tornar primavera”.2
Em abril de 2021, concluí o Bridge Program com sucesso, recebendo um certificado de excelência acadêmica. Durante o curso, eu me desenvolvi muito e me apaixonei ainda mais pela universidade, mesmo sendo temporariamente on-line. Agora, estou de férias, esperando ansiosamente para estar no campus. Estou muito feliz por mais essa conquista e profundamente grata à minha família, ao Colégio Soka do Brasil, aos Três Mestres [Tsunesaburo Makiguchi, Josei Toda e Daisaku Ikeda] e também a todos os que me incentivaram a continuar persistindo.
Naylah Noemy Oliveira Santos, 19 anos. Estudante. Resp. pela DFJ do Bloco Mirandópolis, CNSP, CGESP.
com a família
Naylah na formatura do Colégio Soka do Brasil. As fotos foram tiradas antes da pandemia do coronavírus
Notas:
1. IKEDA, Daisaku. Nova Revolução Humana. São Paulo: Editora Brasil Seikyo, v. 15, p. 107, 2019.
2. Coletânea dos Escritos de Nichiren Daishonin. São Paulo: Editora Brasil Seikyo Ltda. v. I, p. 560, 2020.
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