Cidadania Global
BS
Replantar a vida
Do sofrimento à oportunidade, Claudia vence semeando esperança
17/03/2022
Claudia Belchior vive em Milão, Itália, há 29 anos, numa rua projetada por Leonardo da Vinci, chamada Naviglio. Sua jornada de cidadã global começou em 1992, quando deixou sua rotina no Rio de Janeiro, RJ, para estudar. Na época, com 25 anos, a proposta de formação universitária se abria como oportunidade de melhorar a qualidade de vida e abrir horizontes. Sonhos que traziam em si riscos e desafios inimagináveis.
“No início, foi muito difícil me adaptar por causa dos obstáculos. Fiquei grávida e o pai do meu filho não quis assumir a responsabilidade, então decidi ter o bebê sozinha. Meu irmão Alex veio morar comigo, ficando com a gente por dez anos e, após, retornou para o Brasil. Quanta gratidão!”, enfatiza Claudia.
Os rumos mudaram quando ela conheceu o budismo, anos depois, por meio da Soka Gakkai italiana, sendo acolhida pelos membros locais. “Meu objetivo, desde o início da prática, era a harmonia familiar e assim continua até hoje. Por intermédio de um veterano no Brasil, apresentei o budismo para meu irmão mais velho e minha cunhada, que sofriam por conta da doença do meu sobrinho, Matheus, que nasceu com um tumor. Hoje, ele tem 23 anos e é muito saudável.
Claudia nos conta um de seus desafios mais sofridos, quando, em 2002, o pai do seu filho quase conseguiu tirá-lo dela. “Foram dez anos fazendo daimoku, a recitação do Nam-myoho-renge-kyo, e muita luta no tribunal. Eu me empenhei e, no final, venci!”, relembra aqueles dias, mas feliz sempre ao lado de Raffaele, filho amado, companheiro de todas as horas. Ela relata ainda que, naquele período de luta intensa, participou de mostras e foi até a cidade de Trets, no sul da França, onde se localiza o Centro Cultural Soka. “Conheci jovens budistas e criamos uma relação muito forte na fé e se tornaram literalmente meus filhos. Cada um me ensina algo todo dia.”
Renovada força
A grandiosidade da prática, oração e ação, se manifestou no seu benefício de “transformar o veneno em remédio”. Nos últimos dez anos, teve uma doença reumática por causa de tantos traumas e sofrimentos. Além de pedagoga, Claudia estava se formando em dançaterapia e, dessa especialização, criou seu método de trabalho, a sambaterapia. “É um método que ajuda as pessoas a obter melhoras tanto psicológica como fisicamente. Com dores nas articulações, descobri um novo modo de dançar, beneficiando a tudo”, celebra. Atualmente, ela trabalha on-line em um projeto para um hospital especializado em reumatologia em Milão, com grupos e aulas ministradas em português e italiano. Nesse período, conheceu o marido, Davide, reconhecendo-se agora, aos 55 anos, uma mulher plenamente realizada.
Claudia avançou no sonho profissional. Seu projeto chamou a atenção de instituições internacionais renomadas, como o Centro Internacional de Dança da Unesco Paris, que lhe concedeu uma certificação da sambaterapia como um novo método de dança para a saúde do corpo. Em 2019, por meio desse centro, apresentou seu método em um evento em Tóquio, Japão, país que visitou por três vezes.
Com a chegada da pandemia da Covid-19, empenhou-se ainda mais nas atividades da organização, tornando-se responsável por um bloco. “Passei a recitar daimoku para entrar em contato com os membros, motivar as mulheres a crescer fazendo causas positivas. Budismo é ter experiências! Só assim venci vários medos, dúvidas, construí e multipliquei felicidades”, reforça Claudia, relatando que faz parte do grupo de atividades do Kofu e integra também o grupo das mulheres Shinjukai (dedicado a fazer daimoku para a proteção de todos).
Decidiu ainda se comprometer, de forma prática, com o planeta, ao tomar conhecimento do Instituto Soka Amazônia (ISA), em Manaus, AM, idealizado pelo presidente da Soka Gakkai Internacional (SGI), Dr. Daisaku Ikeda. Ela acompanha todas as notícias pelo BS+ ou pelo site da BSGI. Em contato com o ISA, com apoio de seu veterano brasileiro, iniciou um diálogo sobre as propostas de parceria de seu projeto, o Replantar a Vida. Em 2021, pôde vir ao Brasil conhecer o ISA e participar de alguns projetos. “Fiquei encantada! E diante da beleza do encontro dos rios Negro e Solimões, naquele maravilhoso instituto, selamos um acordo.” E, neste mês, inicia projeto da sambaterapia para os professores da rede pública de Manaus.
“Reflorestar a Amazônia é uma responsabilidade de cada um de nós”, enfatiza Claudia, falando de sua alegria em aprender com as práticas do Instituto Soka Amazônia, mesmo distante fisicamente. “É uma forma de estar próxima da Amazônia, criando projetos sustentáveis e desenvolver plantios nas nossas comunidades.”
Ao completar 23 anos de atividades na Soka Gakkai, conhecendo membros de vários lugares do mundo, enaltece o sentimento em relação ao presidente Ikeda, pelos incentivos e pela sua visão de futuro. “É um profundo educador da vida, por meio de uma reeducação humana para a paz. Procuro sempre fazer daimoku como se ele estivesse sentado próximo, incentivando-me.” Claudia destaca uma das orientações do Mestre, que a encoraja desde sempre: “Os resultados do amanhã serão visíveis nas causas que fazemos hoje. Vamos semear as sementes uma a uma, e vencer no presente pelo bem do futuro”.1 E como essas palavras preenchem seu coração de esperança infinita, e no local em que se encontra, pode “colaborar para um crescimento responsável, consciente e duradouro”.
O futuro da humanidade agradece!
em companhia do marido Davide
durante sua visita a Manaus
com o presidente do Instituto Soka Amazônia, Akira Sato
no Centro Cultural de Milão.
No topo: Claudia com o filho Raffaele.
Nota:
1. Brasil Seikyo, ed. 2.406, 3 fev. 2018, p. A5.
Compartilhar nas