Viver bem para viver mais

Com base nessa perspectiva, o corpo humano não é apenas matéria. É por meio dele que as pessoas criam as causas para sua felicidade ou infelicidade para esta e as demais existências, manifestando os Dez Mundos ou Dez Estados da Vida.1 O corpo é considerado o “palácio da nona consciência”2 por “abrigar” o estado de Buda. Dessa forma, desrespeitá-lo ou agredi-lo seria o mesmo que desrespeitar ou agredir o próprio Buda. Portanto, a fim de cumprir perfeitamente as funções do Buda, torna-se fundamental ter boa saúde.

Não foi por acaso que o presidente da SGI, Daisaku Ikeda, incluiu entre as diretrizes eternas da prática da fé o tópico “manter a boa saúde e obter longevidade”. No discurso proferido no dia 11 de dezembro de 2003, ele explicou essa diretriz e abordou as seis causas da doença, embasado na obra Grande Concentração e Discernimento, de Tient’ai. Em síntese, as seis causas da doença são:

1) Desarmonia entre os quatro elementos. Conforme o antigo pensamento asiático, tanto o corpo humano como o mundo natural compõem-se dos quatro elementos: terra, água, fogo e ar. Assim, no que diz respeito ao corpo humano, o esqueleto, os músculos e os órgãos correspondem à terra; o sangue e os fluidos corporais, à água; a temperatura, ao fogo; e a respiração, ao ar. Acreditava-se que quando a harmonia entre os quatro elementos era rompida pelo clima fora de estação ou por outras influências, as pessoas adoeciam. Por essa razão, considerava-se importante viver de forma sábia e em sintonia com o ambiente.

2) Comer e beber imoderadamente. Refere-se ao consumo excessivo de alimentos ou bebidas alcoólicas ou a fazer refeições irregulares.

3) Prática imprópria de meditação sentada. Em termos gerais, pode ser interpretada como um estilo de vida insalubre e desequilibrado.

As primeiras três causas salientam a importância de uma dieta sensata e saudável, sono suficiente, exercícios regulares e estilo de vida equilibrado. Prosseguindo:

4) Ataque das maldades. Em termos contemporâneos, pode-se interpretá-la como os ataques ao corpo por causas exteriores, tais como germes e vírus, e também o estresse.

5) Trabalho das maldades. Maldades referem-se às funções negativas que atuam na vida e são ativadas pelo estresse mental e psicológico, e que fazem surgir os desejos ilusórios tais como os três venenos (avareza, ira e estupidez). Essas funções negativas penetram profundamente na vida da pessoa, destruindo seu equilíbrio espiritual e o funcionamento apropriado do corpo e da mente.

6) Efeitos do carma. Doenças ou indisposições resultantes do carma negativo criado tanto nesta existência como em passadas.

Apesar de as seis causas da doença terem sido apresentadas em separado, em muitos casos, na verdade, a doença é causada pelas diferentes combinações das seis. As quatro primeiras causas podem ser evitadas com algumas considerações e cuidados por parte da própria pessoa, como procurar manter o equilíbrio, dormindo o suficiente e evitando o acúmulo de fadiga. Já as duas últimas necessitam ser combatidas com uma forte fé, que capacita o indivíduo a extrair uma forte energia vital, triunfar sobre as forças negativas e prejudiciais e transformar o carma.3

O conceito budista de boa saúde não se limita à questão da ausência de doenças. Ele também está relacionado com a presença de uma enorme benevolência por todos os seres vivos. O ser humano de infinita energia vital desenvolve a capacidade de enfrentar e ultrapassar qualquer tipo de dificuldade e, além disso, manifesta grande benevolência. O estado de Bodhisattva, portanto, significa a incorporação da força interior, que, na visão budista, é o auge da boa saúde.

A recitação do Nam-myoho-rengue-kyo é o que nutre essa extraordinária força interior e possibilita manifestar uma poderosa energia vital. Porém, isto não quer dizer que recitar o Nam-myoho-rengue-kyo é o suficiente para ter boa saúde e não adoecer. O budismo caminha junto com a ciência. Sendo assim, procurar um bom médico quando necessário é a manifestação da sabedoria adquirida com a prática, pois, conforme diz Ikeda, “é tolice ignorar ou negar a contribuição da Medicina. Caso contrário, a fé decai no fanatismo. Precisamos usar os recursos médicos de forma sábia no combate à doença. O budismo oferece-nos a sabedoria para utilizarmos a Medicina adequadamente”.4

O próprio Buda Nitiren Daishonin, ao enfrentar a doença, recorria à ajuda de um de seus principais discípulos, Shijo Kingo, que tinha conhecimentos médicos.

Os três venenos que destroem a vida

O Budismo de Nitiren Daishonin expõe também o conceito dos “três venenos”, considerados como males fundamentais inerentes na vida e que originam o sofrimento humano. Eles são a avareza, a ira e a estupidez. As pessoas dominadas por esses três venenos perdem a energia vital e têm seu equilíbrio físico e mental abalado, gerando o estresse e podendo até mesmo encurtar a vida. Sobre isso, Ikeda afirma: “Podemos pensar nos três venenos como vilões manipuladores, um ‘matador silencioso’ por trás das cenas! Aprender a controlar a avareza e os demais venenos de uma forma construtiva e a redirecionar sabiamente os fortes desejos advindos dos três venenos para a iluminação, eis o desafio. Este é o princípio budista de transformar os desejos mundanos em iluminação. Por meio da benevolência, sabedoria, coragem e esperança, que enfileiramos para esse fim, podemos criar uma saudável e forte energia vital e manter um perfeito equilíbrio físico e mental.”5 Para isso, além da prática budista, alguns cuidados como sono adequado, exercício constante, atitude mental positiva e, principalmente, alimentação correta são fundamentais.