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A transformação de uma vida sem esperança

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01/06/2007

A transformação de uma vida sem esperança
Tive uma infância sem conhecer o que era amor e carinho, pois minha família era numerosa. Éramos em vinte filhos e minha mãe trabalhava em vários empregos para ajudar no sustento da casa. Ela era uma pessoa sofrida e severa. Assim, nunca pôde dar muita atenção aos filhos. Meu pai, por sua vez, apesar de nunca ter faltado com suas responsabilidades dentro de casa, mantinha relacionamentos extraconjugais, chegando a ficar noivo cinco vezes.

Cresci sem esperança na vida; não acreditava na felicidade e nas outras pessoas. Em um momento de minha juventude, meus pais resolveram abrir uma loja de tecidos em Mato Grosso do Sul e foram para lá com quatro dos meus irmãos. Alguns de meus irmãos mais velhos já estavam casados e devido a isso eu e mais outros sete tivemos de morar juntos e nos virar sozinhos. Não tinha perspectivas; não sabia qual seria o rumo de minha vida.

Nova vida

Em meio a essas circunstâncias, no meu trabalho, conheci um rapaz chamado José. Ele estava sempre sorrindo. Perguntei a ele por que era daquela forma. Imediatamente, José me respondeu: “Porque pratico uma religião que me faz sentir uma imensa felicidade.” Não acreditei no que ele me disse, pois para mim a felicidade pertencia apenas a quem merecesse. Então, José acrescentou que a lei do Universo não fazia distinções entre as pessoas e que os efeitos positivos ou negativos da vida de cada um eram frutos de causas criadas por si próprio. Para ser feliz, portanto, era preciso criar causas positivas no presente para obter os resultados almejados no futuro.

Interessei-me muito pelo assunto e participei de uma reunião em sua casa. Confesso que me assustei quando vi as velas acesas no oratório, pois aprendera que velas em uma religião eram sinônimo de coisa ruim. Fiquei com tanto medo que pensei em desistir. Mas sua mãe explicou-me tudo sobre a prática e, então, compreendi o significado dos acessórios e, mais que isso, a razão de ter de passar por tantas dificuldades em minha vida, principalmente em casa, pois ainda tínhamos muita desarmonia familiar, o que gerava miséria e doença.

Passados alguns dias, eu e José começamos a namorar e, tão logo, ele quis conhecer minha família. Eu tinha muito medo, pois todos em casa eram crentes e, provavelmente, não aceitariam nosso relacionamento. Apesar disso, com o tempo, criei coragem e decidi levá-lo em casa. De fato, não foi fácil. Meus familiares me diziam que eu era louca, que estava desafiando as forças de Deus e que tinha cometido um grande pecado e, por isso, sofreria as conseqüências. Não desisti; comecei a praticar o budismo firmemente.

O casamento

Eu e José decidimos nos casar em 22 de maio de 1982 e, como era de se esperar, meus familiares foram contra, dizendo que não participariam na cerimônia budista. Chorei muito, mas decidi mudar aquela circunstância. Assim, com base na sincera recitação de Daimoku, transformei a situação: no dia, todos estiveram presentes no meu casamento.

Logo que nos casamos, consagramos o Gohonzon em nosso lar. Sentia-me muito feliz; nada me faltava, tinha uma vida maravilhosa. Porém, após três meses de casada, novas dificuldades começaram a surgir. Eu não queria mais praticar o budismo. Então, quando meu marido saía para trabalhar, eu acendia as velas e as deixava queimando enquanto realizava meus afazeres domésticos. Quando ele chegava, ficava muito contente e me parabenizava pela minha “prática”.

Eu já não participava das atividades também; dava desculpas para não ir. Além disso, comecei a impedir a participação do meu marido, chegando a esconder as chaves da casa e do carro para que ele não saísse. Pensava que era perda de tempo rezar, ficar olhando para um pedaço de papel. O pior de tudo é que comecei a falar mal do Gohonzon para minha família. Agi assim durante um ano.

Ser mãe

Foi por acalentar o grande sonho de ser mãe que voltei a praticar e a participar das atividades da organização. Já grávida, eu orava para que tivesse um filho saudável e que fosse cantor.

Nessa época, toda a organização estava empenhada nos preparativos para a terceira visita do presidente Ikeda ao Brasil, ensaiando para o festival a ser realizado em 1984. Porém, eu ainda não sentia a importância do mestre em minha vida; faltava algo dentro de mim.

Em 16 de janeiro de 1984, comecei a sentir fortes dores. Era o momento de meu filho nascer. Os médicos me deixaram em observação, pois ainda não tinha completado os nove meses de gestação. Sofri por dezesseis horas e, ao mesmo tempo, orava para ter proteção, pois em muitos momentos pensava que iria morrer. No dia seguinte, nascia meu filho Adriano. Os médicos o mostraram rapidamente para mim. Tive a sensação de que algo não estava bem.

Após dois dias, senti uma dor de cabeça insuportável e ainda não havia tido a oportunidade de amamentar o bebê, que precisou ficar numa estufa por ter nascido prematuro e com peso abaixo do normal.

No dia em que tive alta, soube que meu filho teria de permanecer por mais um mês no hospital para observação; os médicos suspeitavam que ele não era uma criança normal. Quando perguntei ao meu marido o que estava acontecendo, ele me disse calmamente: “Nada que não possamos resolver com uma forte fé no Gohonzon e a firme ação de nossa parte. Agora é o momento de orarmos e comprovarmos a força do Nam-myoho-rengue-kyo”. Decidimos, então, levá-lo conosco para casa e fazer o acompanhamento uma vez por semana no hospital.

Chorei muito e recitava Daimoku a todo instante. Comecei uma luta intensa, com a determinação de ter uma prática digna para transformar minha vida e a de minha família. Recitava todos os dias três horas de Daimoku, lia muitas orientações do presidente Ikeda e estudava os escritos de Nitiren Daishonin com afinco. Uma das frases dos escritos tocou-me profundamente:

“Mesmo um pequeno erro conduzirá a pessoa aos maus caminhos se ela não se arrepender disso. Contudo, mesmo uma grave ofensa pode ser erradicada se a pessoa se arrepender sinceramente”. (The Writings of Nichiren Daishonin [WND], págs. 662-663.)

Determinação de vencer

Após três semanas, a pediatra explicou que meu filho tinha hidrocefalia, doença caracterizada pelo acúmulo anormal de líquido cefalorraquidiano no crânio que acarreta, geralmente, aumento da cabeça, proeminência da fronte, deficiência mental e convulsões. Sendo assim, ela disse que seria necessário colocar uma válvula em sua cabeça, por meio da qual ele poderia viver até os 7 anos de idade. Mas se o organismo rejeitasse a operação, com certeza, ele viria a falecer. Quanta dor em meu coração! Eu não entendia sobre o meu carma e o de meu marido e sempre culpava outras pessoas por estar naquela situação.

Na quarta semana, ainda sem evolução no quadro clínico de meu filho, determinei que eu transformaria aquela circunstância por praticar o Budismo de Nitiren Daishonin. Quando retornei ao consultório, a médica me disse que meu filho precisaria ser atendido em outro hospital e ficar sob observação de um especialista. Naquele momento eu lhe implorei que me desse mais uma semana para retornar. Ela consentiu, mesmo dizendo que o estado não se alteraria.

Voltei para casa e determinei mais uma vez que mudaria a vida de meu filho. Naquela semana participei de uma reunião de Daimoku, realizada na sala Shitei (Mestre e Discípulo) do antigo Centro Cultural da BSGI para o sucesso da visita do presidente Ikeda. Lá, recebi a orientação de uma veterana de como eu deveria orar. Ela me disse para colocar meu filho do meu lado e realizar dez horas de Daimoku diárias.

Orei seguindo os incentivos dessa veterana com a determinação de que meu filho seria um grande valor para o Kossen-rufu. Nas primeiras dez horas determinadas, já podia ver a diferença no aspecto do meu bebê. Jurei jamais me afastar da prática budista e determinei que, a partir daquele momento, minha missão seria prezar essa maravilhosa Lei, comprovando-a em minha vida.

Chegado o dia da consulta, orei com base na seguinte frase dos escritos de Daishonin: “O Nam-myoho-rengue-kyo é como o rugido de um leão. Que doença pode, portanto, ser um obstáculo?” (WND, vol. I, pág. 412.)

Fomos à consulta e o Adriano mexia as mãos como nunca. A médica pegou a fita para medir a cabeça dele. Enquanto isso, eu e meu marido recitávamos Daimoku com a certeza da vitória. A pediatra levou um susto e, imediatamente, chamou outro médico para compartilhar o acontecido. A cabeça de Adriano havia diminuído e atingido o tamanho normal, segundo a constatação dos médicos.

Após o término da análise, a pediatra me disse: “Mãe, o que aconteceu foi um milagre! O Adriano está com as medidas normais, e no exame não consta nenhum resquício da doença. Como pode?” Chorei como nunca e disse a ela que praticava o Budismo de Nitiren Daishonin. Ela então me deu os parabéns e disse estar impressionada com o ocorrido. Fiquei muito emocionada e agradeci ao Gohonzon mais uma vez.

Sentimento de gratidão

Agradeci à médica por mais aquela consulta e fui imediatamente ao encontro de meu marido, que estava na sala de espera. Juntos, agradecemos por essa vitória em nossa vida e por termos encontrado essa maravilhosa Lei, o Nam-myoho-rengue-kyo.

Adriano tem hoje 23 anos, é um rapaz saudável e possui uma voz maravilhosa. Atua como responsável da Divisão Masculina de Jovens de comunidade, e pertence ao grupo Sonoplastia da BSGI. Além disso, trabalha como analista de cobrança em um grande banco, como eu mesma havia determinado. Ele participou de programas de televisão, dos 5 aos 13 anos de idade, apresentando-se como cantor e músico.

Tenho mais uma filha, Camila, de 21 anos. Ela atua como responsável da Divisão Feminina de Jovens de comunidade, é saudável e linda. Meu marido é uma pessoa maravilhosa e me proporciona todas as condições para me dedicar ao Kossen-rufu.

Irradiando vitória

Em 1996, sofri um acidente doméstico e fiquei com um sério problema no ombro direito. Como tratamento, precisei realizar sessões de fisioterapia semanalmente por quase dois anos.

Dias antes da primeira sessão, recebi um telefonema da coordenadora da DF da CCSP, Silvia Shinjo, convidando-me para ingressar no Mamorukai. Na entrevista, sua primeira pergunta foi se eu estava bem de saúde. Prontamente respondi que sim, e passei então a ser membro do Mamorukai da BSGI.

Os dias de atuação no grupo coincidiam com as sessões de fisioterapia. Recitava intenso Daimoku pelo meu restabelecimento, pois não podia voltar atrás e desistir. Lancei um grande objetivo para poder atuar no Mamorukai, ou seja, cuidar dos maravilhosos “Castelos de Valores Humanos”.

Em dois meses, não sentia mais dor e consegui me recuperar por completo. Agradeço imensamente às responsáveis da época pela confiança em mim depositada e pela oportunidade de me dedicar intensamente em prol do Kossen-rufu.

Meu marido foi demitido em 1996, após ter sido submetido a uma cirurgia de hérnia inguinal. Ficou desempregado por três anos e, nesse período, cheguei a receber algumas propostas de emprego. Mas, para aceitá-las, precisaria deixar o Mamorukai. Após conversar com minhas veteranas, decidi não deixar o grupo. Recitava Daimoku com a determinação de que meu marido obteria condições financeiras suficientes para que eu pudesse dar prosseguimento em minha atuação no Mamorukai. E assim aconteceu: José arrumou um bom emprego.

Em 2003, fui nomeada coordenadora do Mamorukai da CCSP. Quanta alegria e responsabilidade! Nesse mesmo ano minha irmã, que morava na cidade de Dourados, Mato Grosso do Sul, descobriu que estava com câncer no colo do útero em estágio avançado.

Ela era responsável da DF de comunidade em sua cidade e desafiou a recitação de intenso Daimoku para se recuperar e para o sucesso da Reunião Comemorativa da Divisão Feminina. Após um período de melhora em sua condição, por não ter seguido as orientações médicas quanto à rotina de acompanhamento, o câncer se alojou em seu intestino. Minha irmã veio a falecer em outubro de 2004. Apesar de todo o sofrimento causado pela doença, evidenciava um aspecto sereno.

Em abril do mesmo ano, meu pai começou a ter problemas no coração e, após alguns meses desenvolveu uma insuficiência renal e veio a falecer em julho de 2005. Fiquei um bom tempo sem participar das atividades do Mamorukai para cuidar de minha irmã e depois de meu pai.

Percebo hoje que, se estivesse trabalhando, não poderia cuidar deles, e sentiria um grande arrependimento por isso. A atuação no Mamorukai e o encorajamento que obtive do grupo possibilitaram-me vencer cada adversidade.

Atualmente, as integrantes do grupo estão tendo a oportunidade de apoiar a realização das Reuniões Comemorativas de Inauguração do Centro Cultural Dr. Daisaku Ikeda. É uma grande chance de rompermos nossos limites e desafiarmos todas as circunstâncias de nossa vida.

Agradeço de coração, a todos aqueles que me apoiaram e confiaram em mim, em especial, ao presidente Ikeda por tantas oportunidades que tem me proporcionado para transformar a minha vida.

Nesses meus 25 anos de prática budista, posso dizer que sou feliz, pois toda minha família é simpatizante do budismo. Não temo as adversidades, porque tenho a solução para superá-las — o Nam-myoho-rengue-kyo.

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