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“Embaixador Universal da Paz e da Música”

Amaral Vieira é, inegavelmente, um dos mais bem-sucedidos e versáteis músicos brasileiros. As composições deste pianista mundialmente aclamado, dono de um vasto repertório, com ênfase especial para Liszt, ultrapassam quinhentas obras, dentre as quais aproximadamente quinze foram dedicadas ao presidente da Soka Gakkai Internacional (SGI), Daisaku Ikeda. Nesta entrevista, Amaral Vieira fala sobre duas de suas composições mais recentes inspiradas nas obras do líder da SGI, Nouvelle Revolution Humaine — Mouvements Concertants e Concerto Breve — Levantai, Sol do Século, e a amizade que os une há quinze anos.

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01/06/2007

“Embaixador Universal da Paz e da Música”
Terceira Civilização: O que o motivou a compor as obras Nouvelle Revolution Humaine — Mouvements Concertants e Concerto Breve — Levantai, Sol do Século?

Amaral Vieira: Minha motivação mais forte foi a de dar continuidade à criação de obras musicais de expressão humanística. Em 2006, recebi duas importantes encomendas para escrever novas composições. Uma delas veio da Prefeitura da cidade francesa de Épinal, por meio do Conjunto Vocal Poly-sons, que já havia apresentado em 1999 uma obra coral de minha autoria. A proposta era muito original: eu deveria compor um concerto para piano solista com acompanhamento de coro, com a duração aproximada de trinta minutos. O interessante é que as vozes do coro deveriam atuar como se fossem instrumentos da orquestra e, preferencialmente, sem utilizar palavras, valendo-se de efeitos sonoros, como onomatopéias, sílabas e vocalises. Confesso que foi um enorme desafio. Quando comecei a esboçar o primeiro movimento da composição, lembrei-me imediatamente do magnífico romance do presidente Ikeda, Nova Revolução Humana, que narra a empolgante história da Soka Gakkai. Os dois primeiros capítulos do romance foram a grande fonte de inspiração para a composição do meu novo concerto, que recebeu o título de Nouvelle Revolution Humaine – Mouvements Concertants e que dediquei ao presidente Ikeda. Esta obra foi estreada no dia 21 de março deste ano no Teatro Municipal de Épinal, e fui informado que desde 1932, quando lá se apresentou o célebre pianista Alfred Cortot, nenhum outro concerto foi tão concorrido. Eu próprio toquei a parte de piano solista, e o Coro Poly-sons foi dirigido por sua regente titular Viviane Clasquin. O sucesso dessa apresentação foi estrondoso, e os aplausos não queriam terminar. No dia seguinte, o jornal La Liberté de L’Est publicou uma crítica muito positiva, enaltecendo o caráter inovador da composição e destacando a importância de Daisaku Ikeda como grande filósofo de nosso tempo. Fiquei imensamente feliz pela calorosa acolhida que teve essa composição em sua primeira apresentação e, em pensamentos, dediquei esse maravilhoso resultado ao presidente Ikeda.

Já Concerto Breve — Levantai, Sol do Século foi uma encomenda do Governo do Estado de São Paulo, sendo executado pela Orquestra do Projeto Guri para celebrar o 10º aniversário da criação da entidade. Quando li pela primeira vez o luminoso poema do presidente Ikeda — Levantai, Sol do Século —, anotei uma melodia de caráter afirmativo que me veio à mente durante a leitura. Ao começar a escrever o concerto, utilizei aquele tema como motivo principal e, após alguns meses de árduo trabalho, a obra estava finalizada. A pré-estréia ocorreu em dezembro de 2006 na Sala São Paulo, completamente lotada, com a Orquestra do Projeto Guri, e o jovem pianista Fausto Ito como solista, tendo à frente o maestro John Neschling. Uma vez mais, a reação da platéia não poderia ter sido mais positiva, e faço questão de creditar esse sucesso ao presidente Ikeda, pois foram os seus maravilhosos versos que me inspiraram a escrever esta composição.

TC: Poderia falar um pouco sobre o significado das obras?

Vieira: Sabemos que ao longo da história os textos poéticos foram freqüentemente fonte de inspiração para os compositores no processo de criação musical e foi no século XIX que surgiram algumas das mais significativas obras de arte resultantes da fascinante associação entre literatura e música. O contato que tive com o pensamento humanístico de Daisaku Ikeda despertou em mim uma nova consciência artística, e determinou novos rumos e objetivos para minha carreira musical. Meu primeiro trabalho inspirado em texto do presidente Ikeda foi O Alvorecer do Século da Humanidade, que escrevi em 1991 para a cerimônia de inauguração do piano Yamaha, doado ao Museu de Arte de São Paulo pelo Museu de Arte Fuji de Tóquio. Seguiram-se ao longo dos anos diversos trabalhos inspirados em textos do presidente Ikeda, entre os quais os poemas sinfônicos Sons Inovadores e Canção da Juventude, o ciclo de canções Palavras de Encorajamento, A Alvorada de Esperança da Civilização Universal, o ciclo de dezenove peças para piano O Príncipe no País das Neves, o quinteto para piano e cordas Fronteiras, a abertura The Joy of Living, entre várias outras composições, sem contar algumas adaptações para piano de importantes melodias da Soka Gakkai, como Haha (Mãe), Praia de Morigasaki, Canção da Revolução Humana e Canção para a Paz Mundial. Para minha grande alegria, essas composições têm sido apresentadas tanto no Brasil como também em quase quarenta países de todos os continentes, levando, por meio da música humanística, a mensagem profunda de fé, esperança e paz do grande mestre que é Daisaku Ikeda a milhares de pessoas. As duas mais recentes composições Nouvelle Revolution Humaine e Levantai, Sol do Século têm como principal objetivo sensibilizar os ouvintes por meio da música de inspiração humanística, despertando no coração de cada um sentimentos de harmonia, fraternidade e renovada convicção na inesgotável capacidade do ser humano em superar todos os obstáculos. Estou convencido de que a música, por ser a mais universal das linguagens, tem efetivamente esse poder. E muito particularmente, a música de expressão humanística.

TC: Quando começou sua amizade com o presidente Ikeda? Como se conheceram?

Vieira: Tive o privilégio de conhecer pessoalmente o presidente Ikeda em 1992, por ocasião de minha primeira viagem ao Japão. Não há palavras que possam descrever a forte emoção que senti naquela ocasião. Tivemos um longo diálogo sobre a importância da música na vida do ser humano e fiquei muito impressionado com a profundidade de suas reflexões. Seu olhar, inquiridor e benevolente, parecia mergulhar fundo em meu espírito, perscrutando os meus mais secretos pensamentos e anseios. Eu estava diante de um homem sábio, de raríssima erudição e espantosamente adiantado em relação ao nosso tempo. Recebi do presidente Ikeda as mais importantes orientações de minha vida, juntamente com a missão de levar a mensagem da música humanística a todas as pessoas do mundo, na função de “Embaixador Universal da Paz e da Música”. Prometi a mim mesmo naquele solene momento que me entregaria de corpo e alma a esse enorme desafio e que jamais decepcionaria o mestre Ikeda. Quinze anos se passaram desde então, e, nesse meio tempo, tive a imensa boa sorte de ter me encontrado com ele diversas vezes, tanto no Brasil como no Japão. Considero a maior das alegrias ser contemporâneo do presidente Ikeda e poder tê-lo como amigo e exemplo de vida. Por meio da música humanística, espero contribuir, do melhor modo possível, para o desenvolvimento da Soka Gakkai e, conseqüentemente, para o bem-estar e felicidade de toda a humanidade. Estarei sempre orando pela longevidade e ótima saúde do presidente Ikeda, para que ele possa vivenciar em toda plenitude a grande vitória de sua esplêndida missão.

TC: A convite da Associação de Concertos Min-On, o senhor esteve no Japão para realizar uma extensa turnê. Quais suas impressões sobre a viagem?

Vieira: Nos meses de março e abril de 2005, realizei minha sétima viagem de concertos ao Japão, a convite da Associação de Concertos Min-On, entidade cultural fundada em 1963 pelo presidente Ikeda. Foram doze recitais e três concertos com orquestra, realizados em várias cidades japonesas, de Kyushu a Hokkaido. Cada apresentação foi uma grande emoção, pois o público dos concertos organizados pela Min-On é sempre muito caloroso (apesar de exigente). Os teatros do Japão são magníficos, com excelente acústica, ótimas instalações e dispondo de pianos da mais alta qualidade. Um momento especialmente emocionante da turnê de 2005 foi a visita que fiz, juntamente com minha esposa Yara, ao Jardim-de-Infância Soka de Sapporo, na manhã do dia 9 de março (à noite, eu toquei um recital no belo teatro Sapporo Culture Hall). As crianças aguardavam nossa chegada com visível curiosidade e alegria e, após termos visitado as instalações da escola, fomos conduzidos ao auditório. Sentei-me ao piano e toquei para aquela platéia infantil um recital de meia hora de duração. Foi impressionante! As crianças permaneceram no mais completo silêncio, ouvindo tudo com grande atenção e de modo muito respeitoso, aplaudindo calorosamente ao final de cada obra. Foi um momento inesquecível e único. Quando nos despedimos, estávamos todos muito emocionados e prometi visitá-los novamente quando voltasse à cidade de Sapporo. Com a turnê de 2005, cheguei à marca de 223 concertos realizados no Japão, em mais de 180 cidades, desde minha primeira turnê de 1994. Graças à brilhante iniciativa do presidente Ikeda de criar a Associação de Concertos Min-On, milhares de pessoas de todas as regiões do Japão puderam ter acesso às manifestações musicais de várias partes do mundo, estreitando as relações internacionais no campo da cultura e enriquecendo significativamente a visão de mundo de todos os participantes desse processo verdadeiramente revolucionário.

TC: Outra bela amizade, a que existe entre o senhor e os integrantes da Orquestra Filarmônica Brasileira do Humanismo Ikeda (OFBHI), completou recentemente 14 anos. Quais suas expectativas em relação a esses jovens músicos?

Vieira: É com alegria e entusiasmo que acompanho desde 1993 o trabalho artístico desenvolvido pela OFBHI, conjunto do qual sou o orientador artístico. Os 14 anos de existência da OFBHI representam uma parte importante da história da Soka Gakkai. A orquestra foi fundada pessoalmente pelo presidente Ikeda, por ocasião da memorável visita que fez ao Brasil em 1993. A OFBHI recebeu do mestre Ikeda, no auditório do Centro Cultural Campestre da BSGI, importantes orientações: fazer da música um verdadeiro instrumento de união entre as culturas e o de levar a mensagem de paz e esperança da música humanística às pessoas de todas as nações. Nesse sentido, os jovens músicos integrantes da OFBHI vêm trabalhando com rara dedicação, superando brilhantemente os muitos obstáculos inerentes a um propósito tão grandioso. Considero os membros da OFBHI como grandes amigos pessoais, nos quais deposito minha máxima confiança. A luta pelo bem-estar da humanidade é um exercício diário, constante, e a música reflete esse princípio de modo muito claro. Um músico precisa superar a si mesmo todos os dias, praticando seu instrumento, aperfeiçoando-se e ampliando seus horizontes culturais. Somente assim ele poderá compreender de modo ainda mais profundo a mensagem contida nas grandes composições, procurando o melhor meio de transmitir esse sentimento às platéias com suas interpretações. Quando uma orquestra é capaz de passar às pessoas a verdadeira essência de uma Sinfonia de Beethoven, por exemplo, e não somente as muitas notas musicais constantes da partitura, é porque atingiu um grau de compreensão muito próximo ao pensamento original do compositor. Quando isso ocorre, a música toca diretamente o coração das pessoas e a obra de arte consegue elevar o estado de consciência do ser humano, tornando-o mais harmônico, feliz, pleno e confiante. A minha expectativa é que a OFBHI desenvolva-se cada vez mais e possa atingir, num futuro próximo, o nível técnico e artístico de um conjunto que carrega honrosamente o nome do presidente Ikeda.

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