Crônica
TC
Ser e não ter, eis a questão
11/10/2014
Pesquisas científicas recentes têm derrubado certas ideias distorcidas e esclarecido sobre a autonomia do ser humano como protagonista do próprio bem-estar.
Uma das interpretações contestadas é o que chamo de “consórcio da felicidade”. Você compra a sua pagando parcelado com boas ações. Mas só receberá no futuro e se for sorteado pelo destino.
Acredito que não seja uma boa ideia porque o resultado é incerto e a participação do indivíduo, passiva.
O professor de psicologia de Harvard e especialista em felicidade, Dr. Dan Gilbert, explica que a felicidade natural é obtida quando se tem aquilo que deseja e a felicidade sintética é criada quando não se tem.
Sintética porque é uma felicidade sintetizada ou feita pela própria pessoa em meio a adversidades.
Segundo o psicólogo, a felicidade que não depende das circunstâncias, tem a mesma qualidade da natural e, o melhor, ela está totalmente nas mãos do ser humano.
Nenhuma situação difícil pode impedir o indivíduo de ser feliz. O Dr. Gilbert afirma: “Um estudo recente mostrando o quanto grandes traumas da vida afetam as pessoas sugere que se aconteceu há mais de três meses, com poucas exceções, não tem nenhum impacto na sua felicidade”.
Se você ficou ofendido e jurou que “jamais esquecerá” que, há muitos anos naquele ensolarado domingo no parque, sua irmã não lhe deu sorvete e continua a se vingar dela nos almoços em família servindo-lhe o menor pedaço de bife, saiba que estes são sintomas de quem não desenvolveu a habilidade de ser feliz e fez da própria vida uma tragédia shakespeariana.
Ser feliz e não ter o que se deseja, isto não é conformismo. Ao contrário, a felicidade sentida nas adversidades nos leva a reagir aos acontecimentos e nos dá força para transformar as circunstâncias.
Da vingança do bife ao castelo de Hamlet. Se o tema da peça fosse a felicidade sintética, talvez o ex-atormentado e agora convicto príncipe da Dinamarca diria: “Ser e não ter, eis a questão”.
Astolfo Valentim Vieira Martins
Redação
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