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Estudo

[52] Os Dois Tipos de Fé

A importância de avançar sem jamais retroceder na fé

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16/09/2017

[52] Os Dois Tipos de Fé

A importância de avançar sem jamais retroceder na fé

Explanação do presidente da SGI, Dr. Daisaku Ikeda

Entramos numa época em que nossa rede de jovens bodisatvas da terra envolve todo o mundo.

Hoje, a filosofia repleta de esperança da revolução humana é fonte de sabedoria e coragem para as pessoas em todos os lugares.

Nosso movimento popular para promover o diálogo entre pessoas comuns que compartilham o desejo de paz está rompendo o ciclo de violência e promovendo e criando novas amizades que abrirão o caminho para um futuro melhor para a humanidade.

Essa grande conquista e empreendimento começaram com o incentivo a cada pessoa que, de fato, é uma das características mais distintivas do budismo.

A futurista americana Hazel Hen­derson certa vez me perguntou por que o movimento da SGI se propagou para uma escala global. Eu disse a ela que era porque sempre valorizamos e respeitamos cada indivíduo.1

O incentivo acende a chama da esperança no coração das pessoas. Ele desperta coragem e extrai força para superar as limitações.

Além disso, o incentivo é fonte de revitalização. É a porta da transformação e o grande caminho para a vitória. É a luz da esperança, a voz da coragem e a forma de construir o futuro.

Avançar com espírito forte, inabalável e perseverante

O caminho para alcançar o kosen-rufu é longo — incessante pelo distante futuro. A chave para progredir nesse caminho sempre será o incentivo individual.

Com base no espírito budista do incentivo, nós da SGI geramos um fluxo eterno de pessoas autoconfiantes, conscientes da missão e que se esforçam para conquistar a felicidade para si e para os outros — pessoas que estão se dedicando a criar valor e contribuir para paz mundial.

Naturalmente, nossos membros pioneiros, bodisatvas da terra, suportaram inúmeras dificuldades indescritíveis antes que a SGI alcançasse o desenvolvimento global que tem hoje. Mantendo-se imunes ao preconceito e à crítica e triunfando diante da oposição e do assédio, eles acumularam boa sorte e benefícios eternos que definitivamente abarcarão todos com quem têm ligação e iluminarão sua comunidade pelo futuro.

Declarando que o kosen-rufu é uma luta crucial, meu mestre, segundo presidente da Soka Gakkai, Josei Toda, nos convidou a avançar com o espírito forte, inabalável e perseverante de campeões invencíveis.

O Budismo Nichiren enfatiza o avanço contínuo. Neste estudo, ao aprofundar no escrito de Nichiren Daishonin Os Dois Tipos de Fé, endereçado a Nanjo Tokimitsu,2 gostaria de reafirmar que a essência da fé é continuar avançando sem retroceder.

Recebi seus oferecimentos de inhames,3 de caquis secos em espetos, arroz tostado,4 castanhas, brotos de bambu e vinagre conservado em recipientes de bambu.

Há muitos e muitos anos, existiu na Índia um soberano chamado Ashoka, o Grande.5 Seu reinado abarcava um quarto das terras de Jambudvipa e, assistido por reis dragões, controlava a chuva à sua vontade.6 Valia-se até da ação dos demônios malignos para conseguir o que desejava. No início, ele foi um rei impiedoso, mais tarde, porém, converteu-se ao budismo. Ashoka então fez oferecimentos diários a sessenta mil monges e erigiu oitenta e quatro mil estupas de pedra. Quando indagamos a respeito da existência passada desse grande soberano, vemos que, na época do buda Shakyamuni, viveram dois meninos chamados Virtude Triunfal e Invencível, que, certa vez, ofereceram um bolo de lama ao Buda. Por causa desse gesto sincero, o menino Virtude Triunfal renasceu cem anos depois como o rei Ashoka. (CEND, v. II, p. 163)

Louvar um discípulo que manteve a fé pura

“Jamais retroceder” expressa o espírito fundamental do Budismo de Nichiren Daishonin. É manter-se uno e com forte fé no Gohonzon.

Na explanação anterior [em Encorajamento a uma Pessoa Doente],7 falei como o pai de Tokimitsu, Nanjo Hyoe Shichiro, conduziu uma vida vitoriosa, tendo perseverado na fé na Lei Mística com firme compromisso de lutar ao lado de Daishonin. Nanjo Tokimitsu herdou o compromisso e a fé sincera do seu pai.

Em Os Dois Tipos de Fé — assim como na carta endereçada a Hyoe Shichiro — Nichiren Daishonin enfatiza a importância de manter uma fé inabalável.

A era Kenji [entre os anos de 1275 a 1278 e correspondente ao período inicial após Daishonin se mudar para Minobu], quando Nanjo Tokimitsu recebeu esta carta, era um momento de grande turbulência. As pessoas no Japão viviam com medo de uma segunda invasão pelas forças mongóis, e as epidemias assolavam o país. A província de Suruga (atual centro de Shizuoka), onde Tokimitsu vivia, também era o local de muitas propriedades do clã Hojo [que era seguidor da escola Terra Pura (Nembutsu)], e os seguidores de Daishonin da região enfrentavam crescente assédio e perseguição.

Após a morte do seu pai, Nanjo Tokimitsu assumiu o cargo de administrador da vila, mas a vida não era fácil para ele e para a família Nanjo, que agora o apoiava. No entanto, mesmo em meio às privações causadas pela constante falta de alimento, ele desejava auxiliar Daishonin e, reunindo uma quantidade de alimentos preservados, enviou-os a ele como oferecimento. Tokimitsu era um discípulo dedicado que manteve a fé pura.

Nichiren Daishonin elogiou sinceramente a fé inabalável de Tokimitsu e o encorajou afetuosamente. Nesta carta, ele assegura de todo o coração ao jovem discípulo que, mesmo que a situação atual esteja repleta de dificuldades, ele poderá vencê-las por meio da fé na Lei Mística e transformar seu carma.

Oferecimento do bolo de lama de Virtude Triunfal

Daishonin começa sua carta relatando uma história sobre a existência passada do rei indiano Ashoka como exemplo do benefício a ser obtido ao fazer oferecimentos ao Buda.

“No início, ele foi um rei impiedoso, mais tarde, porém, converteu-se ao budismo [e] Ashoka então fez oferecimentos [aos seus praticantes e erigiu estupas de pedra]” (CEND, v. II, p. 163), escreve Daishonin. O rei Ashoka começou como um tirano brutal que lançava medo no coração das pessoas. Quando conquistou o reino de Kalinga, ele teria executado 100 mil e aprisionado 150 mil. Mas horrorizado com a extensão da destruição que causou, mudou drasticamente sua atitude e se afastou da conquista pela força. A partir daquele momento se tornou um devoto budista e realizou muitas de suas ações baseado no Darma, a Lei budista.

Mais especificamente, renunciou à guerra, instituiu programas governamentais para assistência social, conduziu a diplomacia da paz e adotou uma política de tolerância religiosa. Ele ficou conhecido como defensor e protetor do budismo e acredita-se que tenha patrocinado um Concílio Budista para compilar os ensinamentos do Buda. Muitos estudiosos e pensadores com quem dialoguei citam a Ashoka como um dos maiores governantes da história.

O conto budista do menino Virtude Triunfal mostra as ações de Ashoka em uma existência passada que o levaram a nascer como rei. Essa história é basicamente a seguinte: há muito tempo, quando Shakyamuni estava em Rajagriha, encontrou dois meninos que estavam brincando na lama. Um foi denominado Virtude Triunfal e o outro Invencível. Quando eles viram o buda Shakyamuni, a alegria preencheu o coração deles. Virtude Triunfal fez um bolo de lama e o ofereceu ao Buda, e Invencível olhou para o Buda e posicionou as palmas das mãos em um gesto de reverência. Shakyamuni disse a um de seus discípulos: “Você viu esses dois meninos? Cem anos depois da minha morte, aquele que fez o oferecimento nascerá como um grande rei que governará o mundo com a Lei correta”.8

Nichiren Daishonin relata a história do menino Virtude Triunfal em muitos outros escritos também. Por exemplo [em A Duração de Um Kalpa], ele escreve: “Há muito tempo, o menino chamado Virtude Triunfal fez um bolo de lama e ofereceu isso como donativo para o buda Shakyamuni e, mais tarde, ele renasceu como o rei Ashoka, governante de Jambudvipa [o mundo inteiro], e no final se tornou Buda” (WND, v. II, p 653).

Naturalmente, não se pode comer um bolo de lama, mas o espírito puro e sincero de fazer um oferecimento foi uma causa que concedeu boa sorte e benefício na vida de Virtude Triunfal e o levou a renascer como grande governante que enriqueceu o mundo e trouxe a paz.

O Buda é certamente digno de respeito, porém, quando comparado com o Sutra do Lótus, ele é como um vaga-lume ao lado do Sol ou da Lua. A superioridade do Sutra do Lótus em relação a Shakyamuni é tão grande quanto a distância que há entre o céu e a terra. O ato de fazer oferecimentos ao Buda gera benefícios como esse. Quão mais certo será no caso do Sutra do Lótus! Se o simples oferecimento de um bolo de lama gerou uma retribuição tão maravilhosa, quão maior será o resultado de suas inúmeras doações! Ele não teve de sofrer por causa da escassez de alimentos, mas nós vivemos hoje numa terra onde a fome prevalece. Portanto, como poderiam o buda Shakyamuni, o buda Muitos Tesouros9 e as dez filhas demônios10 deixar de protegê-lo? (CEND, v. II, p. 163)

O espírito budista de considerar a máxima importância do “coração”

Nesse trecho, Daishonin emprega três comparações: 1) entre o Buda e o Sutra do Lótus; 2) entre um bolo de lama e vários oferecimentos de Tokimitsu; e 3) entre uma época de abundância e de escassez. Ele faz isso para ressaltar o imensurável benefício que Tokimitsu certamente receberá como resultado dos oferecimentos que enviou [ao devoto do Sutra do Lótus].

Destaca-se aqui a afirmação de Daishonin de que se recebe maior benefício ao fazer um oferecimento ao Sutra do Lótus (isto é, Nam-myoho-renge-kyo) do que ao buda Shakyamuni. Para salientar a diferença de benefício, chega a dizer que, “quando comparado com o Sutra do Lótus, ele [Shakyamuni] é como um vaga-lume ao lado do Sol ou da Lua” e “A superioridade do Sutra do Lótus em relação a Shakyamuni é tão grande quanto a distância que há entre o céu e a terra” (CEND, v. II, p. 163).

A magnitude dos benefícios acumulados ao fazer oferecimentos ao Buda é ilustrada na história do menino Virtude Triunfal. No entanto, esses benefícios não são mais que a luz de um vaga-lume em comparação com os benefícios alcançados ao fazer oferecimentos ao Sutra do Lótus, que em contraste são tão vastos e imensuráveis quanto a luz do Sol ou da Lua.

Por quê? Porque Shakyamuni e todos os outros budas alcançaram a iluminação por meio da Lei revelada no Sutra do Lótus.

O Sutra do Lótus — especificamente, sua essência, Nam-myoho-renge-kyo — é a base e a fonte dos benefícios de todos os budas. É por isso que os benefícios obtidos ao fazer oferecimentos ao Sutra do Lótus são superiores ao fazer oferecimentos ao Buda.

Fazer oferecimentos ao Sutra do Lótus significa viver com base na Lei Mística. Nós praticamos e incentivamos os outros a praticar a Lei Mística, que nutre a tudo e faz brilhar seu estado de buda inerente. Os benefícios decorrentes são como a luz do Sol e da Lua, dando origem a um valor insuperável e inesgotável.

É por isso que os benefícios alcançados pelos membros da SGI — que se esforçam incansavelmente em prol do kosen-rufu e do bem-estar da sociedade, dia após dia, com inabalável fé na Lei Mística — são imensuráveis. À luz da rigorosa lei de causa e efeito na vida, todas as suas ações se tornarão boa sorte futura e florescerão infalivelmente como recompensa visível decorrente de virtudes invisíveis. Nenhum esforço que fazemos na nossa prática budista jamais é desperdiçado.

O budismo ensina que “o que importa é o coração” (CEND, v. II, p. 267). Enquanto nosso coração for puro e verdadeiro, tomando para si o grande juramento do Buda pela felicidade das pessoas, todos os esforços pelo kosen-rufu se transformarão em benefícios. Tudo é determinado pelo nosso coração, nosso espírito de fé.

Nichiren Daishonin sempre apreciou profundamente a sinceridade de seus discípulos. Expressou sua profunda gratidão a eles muitas vezes dizendo que foi levado às lágrimas.

Responder à sinceridade com sinceridade — é assim que se formam os verdadeiros laços entre as pessoas. Este é o espírito de Daishonin e também o espírito Soka de valorizar cada pessoa. Os líderes jamais devem se esquecer, nem por um instante, das palavras douradas de Daishonin: “O que importa é o coração”.

Atualmente, existem pessoas que creem no Sutra do Lótus. Algumas têm fé como o fogo; outras, fé como a água. Quando as primeiras ouvem os ensinamentos, sua paixão se inflama como o fogo, mas, à medida que o tempo passa, tendem a abandonar a fé. Possuir uma fé como a água significa crer continuamente, sem jamais retroceder. Como o senhor me visita sempre, apesar das dificuldades, sua fé é comparável à água corrente. É uma fé digna de máximo respeito! (CEND, v. II, p. 163)

Fé como o fogo versus fé como a água

Toda sensei disse: “Tenha fé como água fluindo incessantemente. A água estagnada se torna pútrida porque fica parada. O mesmo é verdadeiro em nossa vida: não avançar é o mesmo que retroceder”.

Não se pode atingir o estado de buda se, embora pratique com entusiasmo por um tempo, mais tarde cede diante da dúvida e se afasta do caminho da fé. Nesse trecho, Daishonin fala que a fé que não retrocede jamais hesita, independentemente dos obstáculos que encontre.

Dirigindo-se a Tokimitsu, que mes­mo em meio às dificuldades continuou a lutar com firme fé, Daishonin descreve dois tipos de fé: uma como o fogo e outra como a água. Vamos novamente rever esses conceitos bem conhecidos.

“Fé como o fogo” corresponde à fé daqueles que, quando ouvem os ensinamentos, são inspirados a lutar ativamente em sua prática budista, como um fogo queima mais inflamado ao se adicionar madeira, mas perdem o entusiasmo por sua prática com o passar do tempo, como um fogo que se apaga. Esse tipo de fé não é automotivada, mas estimulada por influências externas. É por isso que, quando o combustível ou a inspiração acabam, sua paixão se extingue. Como resultado, eles são suscetíveis de serem influenciados por outras interferências externas e “tendem a abandonar a fé” (CEND, v. II, p. 163), como Daishonin escreve.

“Fé como a água”, por outro lado, corresponde à fé daqueles que têm um espírito de procura gerado internamente para atingir o caminho do buda. Essas pessoas continuam a avançar sem arrependimento, permanecendo firmes em sua prática budista, recusando-se a serem impedidas por qualquer influência externa.

É importante lembrarmos constantemente da alegria e da gratidão que sentimos na primeira vez ao encontrarmos o ensinamento correto do budismo e o mestre correto da vida, e retornar a essa fonte, esse ponto de partida, sempre que enfrentarmos alguma dificuldade ou adversidade. Mesmo quando o “navio” da nossa vida está navegando suavemente, devemos manter os olhos em nossa bússola, assumir corajosamen­te o leme e controlar com atenção nosso curso. Devemos sempre renovar nossa determinação na fé, nos desafiar e vencer todos os obstáculos, continuar a crescer e avançar. Isso é fé como a água.

Uma única gota de água se torna um fluxo, então um grande rio e, finalmente, flui para o vasto oceano. Do mesmo modo, precisamos expandir continuamen­te nosso estado de vida à medida que avançamos em nossos esforços em prol do kosen-rufu, nos dedicando para beneficiar e fazer prosperar a vida das pessoas e da sociedade.

A fé como a água significa fé contínua e perseverante que flui incessantemente e tem o poder de atravessar obstáculos mesmo os parecidos com rochas pelo nosso caminho.

A importância dos “bons amigos” no budismo

Nichiren Daishonin afirma: “Um praticante que é como a água é aquele que acredita no Sutra do Lótus [Nam-myoho-renge-kyo] com a constância da água que flui incessantemente dia e noite, sem parar nem por um momento” (GZ, p. 841).11

Mas não é fácil ser “um praticante que é como a água”, levantar-se só e se esforçar constantemente com “fé como a água”. Como Daishonin observa: “Há muitos praticantes que são como o fogo, mas poucos praticantes que são como a água” (Ibidem).

“Bons amigos”,12 aqueles que nos apoiam na nossa prática budista, desempenham papel crucial nisso. “Bons amigos” são nossos veteranos e companheiros de fé. É muito importante ter um grupo de apoio de companheiros com quem podemos estudar os ensinamentos do nosso mestre, cada um se lembrando do seu ponto primordial na fé e se esforçando juntos para aprofundar a fé por meio das atividades diárias pelo kosen-rufu.

Em contrapartida, nosso crescimento pessoal cessará e nossa fé começará a se deteriorar se cairmos na ilusão de que somos de alguma forma “especiais” ou melhores que outros e evitamos participar das atividades com os companheiros que permitem nos polir e nos desenvolver. Até hoje, todos aqueles que pararam de praticar e se voltaram contra a SGI compartilham as características comuns de se tornarem arrogantes e egoístas e olham do alto para seus amigos que lutam continuamente pelo kosen-rufu. Em última análise, eles provocam algum tipo de questão e se sentem incapazes de permanecer dentro do genuíno reino da organização.

Se perdemos o espírito de lutar junto com a SGI e com nossos companheiros — com os “bons amigos” — não podemos manter a correta fé.

Fortalecer nossa fé dia após dia e mês após mês

“(...) O senhor me visita sempre, apesar das dificuldades” (CEND, v. II, p. 163), escreve Daishonin. Aqui, ele elogia a fé inabalável de Tokimitsu, que continuou a buscar seus ensinamentos, independentemente das circunstâncias.

Toda sensei disse: “Não seja um jovem que se isola das pessoas. Nós falamos de ter fé como a água, mas essa água, dependendo das circunstâncias e da época, também pode ferver. Os jovens revolucionários param de crescer se tudo o que fazem é sonhar com uma vida tranquila e relaxante”.

A “fé como a água fervente” pode, de fato, ser a fé ideal — fé que arde com a paixão e, ao mesmo tempo, é tão constante como a água corrente.

Kosen-rufu é uma luta sem precedentes para transformar o destino da humanidade. Precisamos manter firmemente uma poderosa e eterna paixão para nos dedicar a cumprir o grande juramento pelo kosen-rufu. Caso contrário, nossa fé será corroída e destruída por funções malignas que buscam obstruir nosso progresso na prática budista.

Os “três obstáculos e quatro maldades”13 e os “três poderosos inimigos”14 certamente atacam os praticantes do Sutra do Lótus. Daishonin enfatiza repetidamente que não devemos ficar intimidados e retroceder por causa de obstáculos e dificuldades.

Em Abertura dos Olhos, ele escreve: “Os tolos tendem a esquecer o que prometeram quando chega o momento crucial” (CEND, v. I, p 296).

Em outros escritos, ele também nos lembra: “Fortaleçam sua fé dia após dia e mês após mês. Se enfraquecerem em sua determinação, por pouco que seja, os demônios se aproveitarão” (CEND, v. II, p. 263 — As Perseguições ao Venerável); e “Muitos ouvem sobre esse sutra [o Sutra do Lótus] e o aceitam, mas quando grandes obstáculos surgem, exatamente como lhes foi dito que ocorreria, são raras as pessoas que mantêm firme esse pensamento sem esquecê-lo. Aceitar é fácil; manter é difícil. Porém, para se atingir o estado de buda é necessário manter a fé” (CEND, v. I, p. 492 — A Dificuldade de Manter a Fé).

A fé é uma luta constante, momento a momento, contra as funções malignas. Espero que cada um de vocês triunfe diante de todos esses obstáculos e, com inesgotável espírito de procura, decidam crescer e melhorar um pouco mais a cada dia.

É verdade que em sua família há alguém enfermo? Se houver, não se deve às ações dos demônios. É mais provável que as dez filhas demônios15 estão testando a força de sua fé. Nenhum demônio que se preze ousaria atormentar um devoto do sutra e ter a cabeça partida.16 Persevere em sua fé com a firme convicção de que tanto o buda Shakyamuni como o Sutra do Lótus são livres de toda falsidade. (CEND, v. II, p. 163-164)

Os obstáculos testam a força da nossa fé

Nessa parte final de Os Dois Tipos de Fé, Daishonin expressa sua preocupação de que haja alguém doente na família de Tokimitsu. Ele diz a Tokimitsu que as dez filhas demônios provavelmente estão testando a força de sua fé e o encoraja a perseverar com uma fé ainda mais forte.

Em outro escrito, Nichiren Daishonin diz que existem dois tipos de demônios — benéficos e malignos — e descreve seu funcionamento: “Os demônios do bem se alimentam dos inimigos do Sutra do Lótus, enquanto os demônios do mal se alimentam dos devotos desse sutra” (CEND, v. II, p. 176 — Uma Síntese de “Transferência” e de Outros Capítulos). Por “se alimentam”, ele quis dizer que os demônios malignos minam a energia vital das pessoas, obstruindo-as e enfraquecendo-as.

O grande mestre Tiantai da China indicou seis causas da doença, a quarta das quais é o “ataque dos demônios”.17 Mas, nesta carta, Daishonin diz que a doença na família de Tokimitsu provavelmente não é causada por demônios; se os demônios prejudicassem um praticante do Sutra do Lótus, estariam agindo como inimigos do Buda e, no final, eles mesmos seriam destruídos (cf. CEND, v. II, p. 163).

As dez filhas demônios, no entanto, prometem ao Buda no (26o) capítulo “Dharani” do Sutra do Lótus proteger aqueles que defendem esse sutra. Daishonin diz que a doença na família de Tokimitsu no momento é sem dúvida a ação das dez filhas demônios, que estão testando a força da fé de Tokimitsu.

Em Carta para os Irmãos, Nichiren Daishonin também escreve:

Esta provação, mais do que qualquer outra coisa, comprovará a fé genuína de vocês, e as dez filhas demônios do Sutra do Lótus com certeza os protegerão. O demônio que apareceu diante do garoto Montanhas de Neve18 para testá-lo era, na verdade, Shakra.19 A pomba que foi salva pelo rei Shibi era o rei celestial Vaishravana.20 Pode até ser que as dez filhas demônios tenham possuído os pais de vocês e os estejam atormentando a fim de testar sua fé. Qualquer fraqueza na fé será a causa para o arrependimento. (CEND, v. I, p. 520)

Dessa forma, Daishonin ensina a seus seguidores que as dez filhas demônios, que juraram proteger os praticantes do Sutra do Lótus, às vezes assumem o papel de testar a fé desses mesmos praticantes. Isso nos oferece uma lição muito importante. Ele ressalta que não ganhamos a proteção das divindades celestiais — as funções positivas do universo — apenas esperando passivamente por ela e sem fazer nenhum esforço para aprofundar a própria fé. “Enquanto a pessoa mantiver uma forte fé, certamente receberá grande proteção dos deuses”21 (CEND, v. I, p. 642), cita Daishonin. Portanto, ao nos levantarmos com forte fé quando nos deparamos com doenças ou outros obstáculos cármicos, fortalecemos as ações protetoras das divindades celestiais e das divindades benevolentes.

O Budismo Nichiren nos ensina a manifestar nossa energia vital e, com nosso desejo e esforço, baseados em um alicerce de fé forte e automotivada, a desafiar resolutamente para transformar a realidade.

Tudo é determinado pela nossa fé. Quando enfrentamos doenças ou alguma outra adversidade, deixamos nossa fé enfraquecer ou avançamos sem recuar um único passo? Nossa determinação ou nosso compromisso de permanecer firmes na fé são postos à prova.

As dificuldades são oportunidades para transformar nosso destino

Nichiren Daishonin conclui sua carta para Tokimitsu: “Persevere em sua fé com a firme convicção de que tanto o buda Shakyamuni como o Sutra do Lótus são livres de toda falsidade” (CEND, v. II, p. 163-164). Ele enfatiza a importância de ter absoluta fé no Gohonzon [que incorpora o Nam-myoho-renge-kyo, a própria essência do Sutra do Lótus]. Daishonin assegura a Tokimitsu que a doença em sua família, sem dúvida, tem um profundo significado e que definitivamente pode ser superada com forte fé no Gohonzon.

Todas as adversidades e dificuldades que ocorrem no curso da nossa prática budista têm significado. Mais tarde, quando olhamos para trás, mesmo as situações aparentemente insuperáveis nos revelam seu verdadeiro significado. Não é necessário, portanto, ficar balançado em cada situação passageira. Assim como nenhuma tempestade dura para sempre, não há dificuldade sem fim.

Podemos transformar positivamente todas as dificuldades com o grande poder da Lei Mística, amenizando os efeitos cármicos22 e transformando o veneno em remédio.23

Fé como o fluxo de um rio

Hoje, a SGI abrange 192 países e territórios.

Em 1964, os membros surgiram pela primeira vez na Malásia, um país conhecido por sua diversidade. Este ano (2014) marca o 50o aniversário do movimento em prol do kosen-rufu no país. Os associados da SGI-Malásia difundiram amplamente os ideais do humanismo budista na sociedade, que é singular pelo pluralismo étnico, cultural e religioso.

Na minha primeira visita à Malásia em 1988, eu disse aos associados: “Os rios estão sempre avançando, quer as pessoas notem ou não. Espero que vocês, nossos membros na Malásia, avancem sempre serena e continuamente, como o fluxo de um rio (...). Os esforços para promover o diálogo e a amizade serão cada vez mais importantes a partir de agora”.

A partir de então, os membros da SGI-Malásia ganharam confiança e com­preensão constante sobre o nosso movimento. Como bons cidadãos de sua localidade, eles estão contribuindo para o desenvolvimento da sociedade da Malásia e dialogando para servir como ponte entre as diversas culturas do país.

O Centro Cultural Geral da SGI-Malásia em Kuala Lumpur foi concluído em 2001 e tem sido o local que apresenta mais de quatrocentas exposições, seminários e outros eventos. Além disso, vem ganhando grande renome entre o público em geral como um centro de cultura e artes.

A Escola Soka de Educação Infantil da Malásia (Tadika Seri Soka), que abriu as portas há dezenove anos (em 1995), também desenvolveu uma reputação exemplar para a educação infantil. Todos os anos, a escola de educação infantil tem um grande número de candidatos a uma vaga, provenientes de diversas origens culturais e religiosas, e as aulas são realizadas em inglês, malaio e chinês.

Com base nos princípios e ideais do Budismo de Nichiren Daishonin, a SGI-Malásia criou uma magnífica história de vitória como um grandioso e inspirador rio de paz, cultura e educação, cultivando muitos “valores humanos” que estão contribuindo positivamente para a sociedade. Sua rede humanística de amizade continua a se expandir. Também construiu bons centros comunitários — preciosos castelos do povo — em cada região.

Essas conquistas são a cristalização da sincera fé dos membros da SGI-Malásia — fé como um incessante rio.

Escalar o crescente caminho da revolução humana

O kosen-rufu está avançando em todo o mundo. O grande rio do kosen-rufu passou a fluir majestosamente em todos os países.

A concretização da paz mundial, que é a essência do kosen-rufu, é um elevado ideal pelo qual toda a humanidade anseia. Somente nós da SGI podemos conquistar o kosen-rufu, e temos uma missão infinitamente profunda de fazê-lo como bodisatvas da terra.

Toda sensei disse: “Kosen-rufu é uma luta pelos direitos humanos em prol da felicidade de todas as pessoas. É uma luta pela justiça. Essa é a missão dos jovens da Soka Gakkai!”.

Justamente porque nossa missão é tão grandiosa, precisamos lutar com fé como a água corrente todos os dias para alcançá-la.

Mesmo que sejamos assolados pelas tempestades do destino ou por terríveis obstáculos, ou se os dez tipos de exército [das funções malignas]24 tentarem abalar nossa fé, precisamos avançar incansavelmente em nossa prática budista diária. Aqueles que acreditam decididamente na Lei Mística e exercem-se firmemente na fé, na prática e no estudo — isto é, recitando o gongyo da manhã e da noite, participando das reuniões de palestra, conversando com amigos sobre o Budismo Nichiren, estudando os escritos de Nichiren Daishonin, criando “valores humanos” e assim por diante — são monarcas da fé e verdadeiros discípulos do Buda.

Por meio de esforços constantes, acumulamos tesouros eternamente indestrutíveis do coração e cultivamos o estado de buda dentro de nós.

Ninguém pode competir com aqueles que continuaram a escalar tenazmente o caminho ascendente da revolução humana, um passo após o outro, por dez ou vinte anos, com sua vida resplandecendo com a luz dos nobres esforços que fizeram para cumprir sua missão.

Jamais retroceder é a mais alta glória na fé.

Os membros da SGI criam as pessoas na rica terra do povo. Eles ajudam os outros a se tornarem felizes; e encorajam e apoiam a todos. Muitos desses associados se esforçaram há décadas e continuam se empenhando. Todos são homens e mulheres comuns que despertaram para sua missão como bodisatvas da terra. São verdadeiros heróis da humanidade e vencedores da vida.

O ano que vem (2015) é o Ano do Dinâmico Avanço da Nova Era do Kosen-rufu Mundial. Tomando para si as palavras de Daishonin: “Possuir uma fé como a água significa crer continuamente, sem jamais retroceder” (CEND, v. II, p. 163), vamos nos esforçar para conquistar um grandioso dinâmico avanço, junto com nossos companheiros em todo o mundo, para que Nichiren Daishonin nos louve, dizendo: “Sua fé é comparável à água corrente. É uma fé digna de máximo respeito!” (Ibidem, p. 163).

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