Estudo
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[6] Vida e morte - II
Departamento de Estudo do Budismo
02/12/2020
![[6] Vida e morte - II](https://storage.googleapis.com/ebs-public-images-cdn/2020-12-02_22-05-57.jpg)
Esplêndido lugar no momento da morte
Capítulo 1: Trechos do Gosho
Budismo do Sol — Iluminando o Mundo - Terceira Civilização, ed. 623, jul. 2020, p. 50-65
Explanação do presidente da SGI, Dr. Daisaku Ikeda
A religião da revolução humana — Parte 7 [de 12]
[27] Vida e morte — a jornada de mestre e discípulo para alcançar o estado de eternidade, felicidade, verdadeiro eu e pureza
Explanação
O tema “Vida e Morte” é sempre um desafio para a humanidade. O budismo ensina que a vida é eterna e que nascimento e morte originalmente são inerentes à própria vida (cf. OTT, p. 127).
Iluminadas pela Lei Mística, tanto a vida como a morte são repletas de alegria, e ambas são expressão do grande processo da eternidade da vida. Essa perspectiva é a essência do Budismo Nichiren. É a concepção de vida e morte que mestres e discípulos Soka compreenderam profundamente a partir de seus esforços abnegados em prol do kosen-rufu.
O encontro com meu mestre há sete décadas
Quando pequeno, fui uma criança às voltas com problemas de saúde. Tinha plena consciência da morte e me perguntava às vezes o que acontecia a uma pessoa quando ela morria. Na adolescência, contraí tuberculose, que na época ceifava a vida de muitos jovens. Estávamos cercados pela cruel realidade da Segunda Guerra Mundial, ameaçados por ataques aéreos cada vez mais intensos.
Uma afirmação de Nichiren Daishonin, feita séculos antes, descreve apropriadamente a situação daquele tempo: “Neste mundo, o que desperta mais temor é a dor do fogo, o brilho metálico das espadas e a sombra da morte” (CEND, v. I, p. 317).
Enquanto o Japão passava por mudanças drásticas após o fim da guerra, eu procurava o modo correto de viver. Foi em meio a essa busca que encontrei meu mestre, Josei Toda, no verão de 1947, há sete décadas [explanação feita em julho de 2017].
A primeira pergunta que fiz naquela ocasião foi “Qual é a maneira correta de se viver?”.
Toda sensei olhou nos meus olhos e me ofereceu uma resposta clara:
Muitos problemas complexos surgem durante o curso da nossa vida. Precisamos encontrar a resposta para a questão do significado da vida e da morte. Esse é o fator fundamental. A menos que descubramos a resposta correta para isso, não conseguiremos ter uma vida realmente correta.
Ele me incentivou fortemente a experimentar a prática do Budismo Nichiren, especialmente porque eu ainda era jovem.
Filosofia de vida adquirida com a superação dos obstáculos e das maldades
A partir daquele momento, sob orientação do meu mestre, comecei a buscar o caminho correto na vida, o caminho para a resolução da questão do nascimento e da morte. Mas minha saúde era tão ruim que o médico me disse que talvez eu não chegasse aos 30 anos. Tinha febre baixa contínua e sofria com dores cortantes, como se uma chapa de ferro estivesse queimando minhas costas e um graveto em chamas ardesse em meu peito. Era muito magro, e muitas vezes pensei que minha morte estivesse próxima. Por isso, para que não restasse nenhum arrependimento, mesmo que a qualquer momento viesse a tombar, assumi a liderança das atividades para alcançar conquistas inéditas em nosso movimento, de modo que pudéssemos concretizar o grande juramento de Toda sensei em relação ao kosen-rufu.
Mesmo que eu morresse cedo, queria fazer da minha vida um exemplo para outros, que observariam o que eu havia realizado e diriam: “Esse é o aspecto de um verdadeiro discípulo!”. Havia jurado secretamente a mim mesmo me tornar uma inspiração para os jovens que viriam depois de mim.
Toda sensei captou o que havia em meu coração e me disse: “Daisaku! Está tentando se matar? Decidiu dar a vida por mim, mas não admitirei uma coisa dessas! Deve viver, viva ao máximo! Darei a minha vida a você para que possa fazer isso”.
Certo dia, escrevi o seguinte em meu diário para me encorajar:
Vida e morte. Formação, continuação, declínio e desintegração. Nascimento, envelhecimento, doença e morte. Eternidade, felicidade, verdadeiro eu e pureza. A vida desde o mais remoto passado. A vida que continua eternamente. A eternidade num instante. A unicidade de vida e morte. A unicidade de corpo e mente. As três existências — passado, presente e futuro.
Sinto profundamente quão penoso seria, como seguidor de uma fé correta, morrer neste momento. Tenho de lutar! Tenho de me esforçar!1
Posso afirmar, a partir de minha própria experiência de “prolongar a vida por meio da fé”,2 que a esperança suprema para solucionar a questão da vida e da morte consiste em trilhar o caminho de mestre e discípulo consagrado ao grande juramento pelo kosen-rufu. Essa é minha firme convicção e conclusão decorrentes de setenta anos de prática, tendo servido Toda sensei e me devotado ao caminho de mestre e discípulo em prol do kosen-rufu.
Com profundo senso de gratidão a Toda sensei, gostaria de examinar nesta oportunidade o princípio da “unicidade da vida e da morte”, que aprendi com meu mestre, a começar com o escrito de Nichiren Daishonin A Grande Carruagem Puxada por um Boi Branco.
Trecho do escrito 1
A Grande Carruagem Puxada por um Boi Branco3
Essa carruagem [a grande carruagem do boi branco] que descrevi possui duas doutrinas, o ensinamento teórico e o ensinamento essencial [do Sutra do Lótus], como rodas, e é atrelada ao boi do Myoho-renge-kyo [Lei Mística]. É a carruagem que fica rodando e rodando nos repetidos ciclos de nascimento e morte na casa em chamas que é o mundo tríplice.4 Portanto, utilizando a cunha chamada fé e o lubrificante da determinação resoluta [nos eixos das rodas], a carruagem consegue conduzir a pessoa à terra pura do Pico da Águia.
Ou ainda, poderíamos dizer que a mente soberana5 atua como o boi [da grande carruagem do boi branco], ao passo que nascimento e morte são como as rodas. O grande mestre Dengyo afirma: “As duas fases da vida e da morte são funções místicas de uma mente única. Os dois caminhos da existência e da não existência são a verdadeira virtude da mente iluminada inerente”.6(WND, v. II, p. 723)
Um estado de total liberdade que perdura pelas “três existências”
Nesse trecho, Daishonin ensina que aqueles que abraçam a Lei Mística possuem uma condição de vida vasta e ilimitada, que lhes permite desfrutar livremente as “três existências” — passado, presente e futuro.
“Essa carruagem” indica a grande carruagem do boi branco7 descrita no Sutra do Lótus, uma analogia para o veículo único do buda, o ensinamento que habilita todos os seres vivos a atingir o estado de buda.
“Essa carruagem”, explica Daishonin, “fica rodando e rodando nos repetidos ciclos de nascimento e morte na casa em chamas que é o mundo tríplice” (WND, v. II, p. 723). Nesse caso, “nascimento e morte” referem-se a: “nascimento e morte como ‘funções do Myoho-renge-kyo’”; “nascimento e morte como partes intrínsecas da própria vida”; e “nascimento e morte no mundo do estado de buda”.8
As rodas da vida não giram do nascimento para a morte e param aí. As rodas giram imediatamente para uma nova existência. A vida continua repetindo um ciclo de fases alternantes de vida e morte.
Além disso, afirma a passagem, essa carruagem fica rodando e rodando nos repetidos ciclos de nascimento e morte “na casa em chama que é o mundo tríplice” (Ibidem). Não vai a algum outro mundo, mas permanece sempre no mundo saha,9 que é envolto nas chamas do sofrimento resultante dos desejos mundanos. Este mundo real é o “local da prática” (Ibidem), em que os mortais comuns se tornam budas, e esse próprio local se transforma na terra pura do Pico da Águia.
Em Registro dos Ensinamentos Transmitidos Oralmente, Nichiren Daishonin declara: “Passando pelos ciclos de nascimento e morte, a pessoa trilha seu caminho na terra da natureza do Darma, ou iluminação, que é inerente ao seu próprio ser” (OTT, p. 52). Esse não é um ciclo de nascimento e morte pessimista, que implica transmigrar de uma existência sombria e desesperadora para outra, como às vezes é caracterizada a teoria da reencarnação. Em vez disso, o Budismo Nichiren ensina que podemos alcançar a mesma condição de total liberdade por todas as três existências, desfrutando paz e serenidade absolutas, que não são destruídas por nada.
O espírito de “este é o último momento de sua vida”
Nichiren Daishonin cita as palavras do grande mestre Dengyo: “As duas fases da vida e da morte são funções místicas de uma mente única. Os dois caminhos da existência e da não existência são a verdadeira virtude da mente iluminada inerente da iluminação intrínseca da mente” (WND, v. II, p. 723). Essa passagem retrata um ciclo contínuo, no qual a vida e sua existência são comparáveis à nossa condição ativa desde a manhã até a noite. Por sua vez, a morte e a inexistência são comparáveis a uma boa noite de sono, para despertarmos novamente na manhã seguinte e começarmos um novo dia com energia e vigor renovados.
O nascimento e a morte não são algo a relutar nem a ser evitados. São o nascimento e a morte de natureza originalmente intrínseca e o fluxo e refluxo de natureza originalmente intrínseca. Nascimento e morte são “funções de natureza originalmente intrínseca, eterna e perene” (OTT, p. 128).
Essa concepção da vida e da morte derruba duas formas de pensar às quais as pessoas há muito tendem a se agarrar — ou seja, as visões opostas de aniquilação e permanência. A ideia de aniquilação pressupõe que a vida se limite à presente existência, e que ela termine com a morte. A ideia de permanência sugere que a vida continue na forma de alma eterna depois da morte. As duas visões surgem da ignorância sobre a verdadeira natureza da vida e da morte. No entanto, é difícil superar o apego a elas.
Como seres humanos comuns, nossa mente se abala facilmente quando a maldade da doença e da morte ataca. Por essa razão, Daishonin afirma que devemos “utilizar a cunha chamada fé e o lubrificante da determinação resoluta [nos eixos das rodas]” (cf. WND, v. II, 723). Com a sólida “cunha chamada fé”, podemos trilhar o caminho da vida e da morte, iluminados pelo Myoho-renge-kyo.
Por isso, devemos vencer a fraqueza da nossa própria mente, orando com afinco para superarmos nosso destino e realizarmos nossa revolução humana, e empenhando-nos na prática budista com desafio e luta. Para mim, a força motriz para isso foi lutar com o espírito de unicidade de mestre e discípulo. O ato de viver pelo caminho de mestre e discípulo dedicado ao kosen-rufuenche nosso coração de coragem para subjugar as funções da maldade e nos inspira a praticar com a decisão de “este é o último momento de sua vida”10 (CEND, v. I, p. 225). Com meu desafio de lutar em prol do kosen-rufu, agindo com coragem e triunfando em todas as batalhas, com o sentimento de corresponder ao mestre, e junto com o mestre, construí uma inabalável base de fé. Isso me permitiu aprofundar a convicção nas “funções místicas de uma mente única” que transcendem as fronteiras da vida e da morte.
Trecho do escrito 2
As Quatorze Calúnias
Persista em sua prática até o último momento da vida; e quando este momento chegar, observe com atenção! Quando escalar [rapidamente ascenderem a] a montanha da perfeita iluminação11 e contemplar ao redor em todas as direções, verá com grande surpresa que o mundo dos fenômenos é a Terra da Luz Tranquila.12O chão será de lápis-lazúli, e os oito caminhos13estarão delimitados por cordões de ouro. Quatro tipos de flores14 cairão dos céus e música ecoará no ar. Todos os budas e bodisatvas estarão presentes, expressando a mais perfeita alegria, acariciados pelas brisas da eternidade, felicidade, verdadeiro eu e pureza.15 Aproxima-se o momento em que nós também nos juntaremos a eles [e nos deleitaremos em total liberdade e tranquilidade]. No entanto, se tivermos uma fé fraca, jamais chegaremos a esse esplêndido lugar.16 (CEND, v. II, p. 18)
Uma sublime condição em que se sente alegria na vida e na morte
Como será o momento da morte para aqueles que perseveram na prática budista com sólida fé até o último instante? No escrito As Quatorze Calúnias, Nichiren Daishonin explica que eles serão saudados por um mundo de indestrutível felicidade e tranquilidade, o qual se desenrola em sintonia com o ritmo da infalível lei da vida.
Como expõe Daishonin ao afirmar “Quando escalar a montanha da perfeita iluminação” (CEND, v. II, p. 18), aqueles que recitam Nam-myoho-renge-kyo e dedicam a vida ao kosen-rufu alcançarão imediatamente um maravilhoso estado de paz total e tranquilidade que permeará as “três existências” — passado, presente e futuro.
Olhando para as quatro direções, veremos “com grande surpresa”, diz ele, que o universo inteiro é a Terra da Luz Tranquila, onde o chão é pavimentado com pedras preciosas, chovem flores do céu, e melodias fascinantes ressoam pelo ar. É um mundo em que podemos nos deleitar à vontade, com todos os budas e bodisatvas, afirma ele, acrescentando que se aproxima o momento em que vivenciaremos essa feliz experiência (cf. CEND, v. II, p. 18).
No ciclo da vida e da morte no mundo do estado de buda, esse é o aspecto da morte, também descrito como a terra pura do Pico da Águia.
Se estabelecermos solidamente o mundo do estado de buda em nossa presente existência, a morte não mais será assustadora. Nossa próxima existência também será de felicidade e de liberdade. Nas asas da fé, podemos voar serenamente para aquele “esplêndido lugar” (Ibidem), o mundo da felicidade perene, a Terra da Luz Eternamente Tranquila que sempre existiu.
Daishonin reitera isso várias vezes em seus escritos, por exemplo:
Se [seu marido] tivesse que partir neste exato momento para [a terra pura] o Pico da Águia, iria se sentir tão feliz como se o Sol tivesse surgido e ele pudesse ver em todas as dez direções. Cheio de júbilo, perguntaria a si mesmo como uma morte prematura poderia ser algo tão feliz. (CEND, v. II, p. 203)
Quando estava vivo, ele [seu finado marido] era um buda em vida, e agora é um buda em morte. Ele é um buda tanto em vida como em morte. (CEND, v. I, p. 477)
Ao nos alinharmos com a Lei Mística, experimentaremos tanto a vida como a morte com plena alegria. A passagem de As Quatorze Calúnias que estamos estudando menciona as “brisas da eternidade, felicidade, verdadeiro eu e pureza” (CEND, v. II, p. 18). Não se referem aos tristes ventos da impermanência de todos os fenômenos, mas dos perfumados ventos da felicidade indestrutível.
O Buda primeiro ensinou que a vida é marcada pelo sofrimento, pelo vazio, pela impermanência e pelo não eu (cf. CEND, v. I, p. 767), instigando as pessoas a extirpar os apegos em relação a este mundo transitório e a se libertar dos sofrimentos de nascimento e morte. Mas se tratava apenas de um meio apropriado. Nos ensinamentos do Mahayana, o Buda revela a verdade essencial da vida como algo caracterizado pela eternidade, felicidade, verdadeiro eu e pureza.
Vidas imbuídas de alegria pelas três existências emergirão novamente depois da morte e retomarão suas atividades num novo palco, na próxima existência. Renascerão “muito rápido (...) para conceder livremente os benefícios aos seres vivos em toda a parte” (WND, v. II, p. 860), e poderão “escolher livremente onde renascerão” (LSOC, cap. 10, p. 202).
Essa é a condição de vida do estado de buda, originalmente intrínseca, eterna e perene, que exala a fragrância das “quatro nobres virtudes” — eternidade, felicidade, verdadeiro eu e pureza.
O laço cármico compartilhado por mestre e discípulo é a base do budismo
Certo vez, em meio aos nossos intensos esforços para propagar a Lei Mística e concretizar o ideal de Nichiren Daishonin de “estabelecer o ensinamento para a pacificação da terra”, Toda sensei me disse com profundo sentimento: “Lutamos corajosamente diante de tudo, você e eu, não é mesmo?”.
Foi um momento forte do qual jamais esquecerei. Devotei toda a minha juventude ao “laço místico” que compartilhava com meu mestre.17 Essa tem sido a maior honra da minha vida.
Neste segmento final, gostaria de me ater à questão da vida e da morte da perspectiva do vínculo cármico que liga mestre e discípulo.
Trecho do escrito 3
Pontos Essenciais para Atingir o Estado de Buda
O sutra [do Lótus] afirma: “As pessoas que ouviram a Lei habitaram aqui e ali, em várias terras do buda, e constantemente renasceram em companhia de seus mestres” [LSOC, cap. 7, p. 178; capítulo “Parábola da Cidade Imaginária”], e “Se as pessoas permanecerem ao lado dos mestres da Lei, elas entrarão rapidamente no caminho do bodisatva. Quem segue esses mestres e aprende com eles verá budas tão numerosos quanto os grãos de areia do Ganges” [cf. LSOC, cap. 10, p. 208; capítulo “O Mestre da Lei”]. Em um comentário [Profundo Significado do Sutra do Lótus, de Tiantai] consta: “No início, uma pessoa seguiu esse buda e, pela primeira vez, manifestou o desejo de buscar o caminho. E, ao seguir este buda novamente, essa pessoa alcançará o estágio da não regressão”. Outro comentário [Anotações sobre “Palavras e Frases do Sutra do Lótus”, de Miaole] expõe: “No início, uma pessoa seguiu esse buda ou bodisatva e criou um vínculo com ele; por isso, será mediante este buda ou bodisatva que ela atingirá o objetivo”. Antes de tudo, assegure-se de seguir seu mestre original para que possa atingir o estado de buda. 18 (CEND, v. II, p. 5)
Laço de missão conjunta do passado, presente e futuro
Em várias ocasiões, Nichiren Daishonin discorreu sobre o laço de mestre e discípulo que persiste pelas “três existências” — passado, presente e futuro. Em cartas enviadas para Soya Kyoshin, Akimoto Taro e Sairen-bo, por exemplo, ele cita uma passagem do capítulo 7, “Parábola da Cidade Imaginária”, do Sutra do Lótus, para elucidar a natureza eterna da relação de mestre e discípulo.
Os destinatários dessas cartas pressupunham ter ouvido sobre os ensinamentos do Sutra do Lótus e se tornado discípulos de Daishonin pela primeira vez naquela existência. Era muito razoável e natural que pensassem que sua ligação com Daishonin houvesse se iniciado naquela existência; e eles haviam expressado apreço por poderem se tornar discípulos dele naquela vida.
Contudo, Nichiren Daishonin lhes explica que a ligação cármica que une mestre e discípulo não se limita a esta existência. Ele declara que se trata de “um laço que se estende pelas três existências” (WND, v. II, p. 375), e diz que “Prometemos um ao outro nos tornarmos mestre e discípulo desde incontáveis kalpa no passado” (CEND, v. I, p. 326). Ambas são passagens que o presidente fundador da Soka Gakkai, Tsunesaburo Makiguchi, gravou profundamente em sua vida.
Mestre e discípulo não encontram um ao outro por obra da coincidência. São ligados por um vínculo cármico que se estende pelo passado, presente e futuro, assegura-nos Daishonin.
Juramento compartilhado desde o remoto passado
No trecho do escrito Pontos Essenciais para Atingir o Estado de Buda que estamos estudando, Nichiren Daishonin apresenta a base para essa asserção. Tendo em vista a relação entre o Buda e aqueles que foram instruídos por ele em existências passadas, o laço de mestre e discípulo é eterno e não se limita meramente a esta existência. Como prova documental, Daishonin apresenta duas passagens do Sutra do Lótus:
As pessoas que ouviram a Lei habitaram aqui e ali, em várias terras do buda, e constantemente renasceram em companhia de seus mestres. (LSOC, cap. 7, p. 178)19
Se as pessoas permanecerem ao lado dos mestres da Lei, elas entrarão rapidamente no caminho do bodisatva. Quem segue esses mestres e aprende com eles verá budas tão numerosos quanto os grãos de areia do Ganges. (LSOC, cap. 10, p. 208)
As duas passagens se baseiam no pressuposto de que o vínculo entre mestre e discípulo é eterno, estendendo-se pelas três existências.
Os comentários de Tiantai e de Miaole que Daishonin introduz explicam que há uma profunda conexão entre atingir o estado de buda e o laço de mestre e discípulo.
Pode-se dizer que a emocionante epopeia de mestre e discípulo — lutando juntos eternamente para propagar a Lei Mística pelo juramento seigan e ligação cármica que se estendem pelas três existências — compõe o tema principal do Sutra do Lótus.
É uma relação na qual mestre e discípulo compartilham o juramento do remoto passado de propagar a Lei Mística. Com base nesse juramento, mestre e discípulo mergulham corajosamente em meio às desafiadoras realidades sociais do nosso mundo. Por seus incansáveis esforços para ensinar o budismo aos outros e encorajar a pessoa que se encontra bem diante deles, criam uma rede de cidadãos comuns pautada pelo respeito a todas as pessoas.
A relação de mestre e discípulo é formada por um dinâmico vínculo de coração a coração, um laço de vida unida pelo mesmo espírito e dedicada ao mesmo objetivo.
Vida interligada pela consciência de ser bodisatvas da terra
Em novembro de 1946, na terceira cerimônia (segundo aniversário de morte) em memória de Tsunesaburo Makiguchi, Toda sensei expressou sua imensa gratidão ao seu mestre que morrera na prisão em defesa de suas crenças, e em seguida compartilhou parte do profundo despertar que vivenciou em sua própria cela na prisão:
Com sua vasta e ilimitada benevolência, o senhor permitiu-me acompanhá-lo até mesmo na prisão. Graças a isso, li com minha própria vida a passagem do Sutra do Lótus: “...habitaram aqui e ali, em várias terras do buda, e constantemente renasceram em companhia de seus mestres” (LSOC, cap. 7, p. 178). Como resultado desse benefício, entendi o verdadeiro significado do ensinamento dos bodisatvas da terra e, ainda que fosse uma pequena parte, compreendi o significado do Sutra do Lótus com minha vida. Poderia existir felicidade maior que esta?20
A passagem “entendi o verdadeiro significado do ensinamento dos bodisatvas da terra” refere-se ao laço de mestre e discípulo do remoto passado. A relação de mestre e discípulo depende do discípulo; consiste num vínculo espiritual profundo que só ganha vida por meio do reconhecimento ou da consciência do próprio discípulo.
No âmago dessa filosofia de vida que Toda sensei enunciou após a guerra repousava o fato de que ele e os membros da Soka Gakkai — companheiros que se dedicavam ao kosen-rufucom a consciência de serem bodisatvas da terra — compartilhavam laços de mestre e discípulo desde o remoto passado.
A percepção de Toda senseide que “Buda é a própria vida” também provinha do seu discernimento, como discípulo uno em espírito com Makiguchi sensei, de que Myoho-renge-kyo é a lei eterna da vida.
Acreditar e se juntar ou não a essa luta eterna de unicidade de mestre e discípulo. Esse era o ponto mais salientado por Toda sensei ao ensinar a concepção de vida aos seus discípulos.
Permanecer fiel ao caminho do discípulo
No dia 3 de julho de 1957, após resolver a questão do Incidente do Sindicato de Mineradores de Yubari,21 parti de Hokkaido com destino a Osaka [para o interrogatório policial referente ao Incidente de Osaka22]. O avião fez uma escala no Aeroporto de Haneda, em Tóquio, onde Toda sensei estava me aguardando. Ele me abraçou e disse com muita emoção na voz: “Daisaku, não deve morrer. Se a morte o surpreender, correrei ao seu encontro e me atirarei sobre você e o acompanharei na morte”.
Quando cheguei a Osaka, fui preso sob acusações completamente falsas. Durante a minha detenção, fui submetido ao que só poderia ser classificado como intimidação e ameaças pelo promotor, o qual me disse que a menos que eu confessasse a culpa fariam uma sindicância na sede da Soka Gakkai e prenderiam Toda sensei. Foi um momento no qual a natureza diabólica do poder se revelou.
Josei Toda estava enfrentando problemas de saúde, e outra temporada na prisão poderia equivaler a uma sentença de morte para ele. Para proteger meu mestre, não tinha alternativa a não ser confessar por um tempo um crime que não havia cometido. Mas isso também não seria distorcer a verdade que prejudicaria a Soka Gakkai? Sozinho em minha cela eu me atormentava com a situação.
Depois de muito me afligir em total solidão, um raio de luz subitamente iluminou meu coração. Não tinha medo de nada, estava pronto a assumir qualquer adversidade por Toda sensei. Simplesmente permaneceria fiel ao caminho do discípulo.
Assim como meu mestre, sofri perseguições em benefício da Lei correta do budismo, e pude cumprir, à minha modesta maneira, as palavras de Daishonin: “Se sentissem e compreendessem suas dívidas de gratidão, então, de dois golpes que desferissem em mim, receberiam um em meu lugar” (CEND, v. II, p. 88). Estou certo de que por isso tive a boa sorte de dedicar a vida ao caminho de mestre e discípulo, que transcende a vida e a morte.
Além disso, venci a batalha judicial referente ao Incidente de Osaka. A justiça prevaleceu ao provar minha inocência ao mundo.
A “batalha para propagar a Lei, transcendendo a vida e a morte”
Agora e no futuro também,
juntos, compartilhando
alegrias e sofrimentos —
que insondável é nosso elo!
Meu mestre me dedicou esse poema no dia de sua posse como segundo presidente da Soka Gakkai (em 3 de maio de 1951).
Fazendo meu o espírito do meu mestre e lutando de corpo e alma pelo kosen-rufu, registrei em meu diário: “Jamais vou me separar deste mestre, existência após existência”.23 Esse juramento de luta conjunta se mantém inalterado até hoje e será assim eternamente. Toda senseiestá sempre comigo.
No dia 3 de maio de 1960, um dia glorioso e ensolarado, assumi como o terceiro presidente da Soka Gakkai. Naquele ensejo, escrevi em meu diário: “Devo iniciar a batalha de toda a minha existência pela propagação da Lei, transcendendo a vida e a morte”.24
“Transcendendo a vida e a morte” é persistir avançando com dedicação inabalável pelo caminho do kosen-rufu com meu mestre por toda a eternidade. Continuo lutando e seguindo em frente até hoje, dialogando em meu íntimo com meu mestre todas as manhãs, todos os dias.
No escrito A Herança da Suprema Lei da Vida, Nichiren Daishonin aponta:
Devem ter sido os laços cármicos do distante passado que o levaram a se tornar meu discípulo numa época como esta. Shakyamuni, Muitos Tesouros, com certeza, compreenderam esta verdade. A declaração do sutra de que “As pessoas que ouviram a Lei habitaram aqui e ali, em várias terras do buda, e constantemente renasceram em companhia de seus mestres” [LSOC, cap. 7, p. 178], não pode, de maneira alguma, ser falsa. (CEND, v. I, p. 226)
É por nossa relação de mestre e discípulo do remoto passado que podemos despertar para a “natureza originalmente inerente ao nascimento e à morte”. Conseguimos reconhecer a eternidade da vida buscando nosso mestre com sinceridade e tomando parte na luta de mestre e discípulo consagrada à concretização do kosen-rufu. Essa é a profunda compreensão alcançada nas profundezas do seu ser pelos membros da Soka Gakkai do mundo todo que dedicam a vida ao kosen-rufu.
A auspiciosa jornada de mestre e discípulo para construir uma era de paz
Hoje, membros da SGI espalhados por todos os cantos do mundo têm gravadas em seu coração as palavras: “As pessoas que ouviram a Lei habitaram aqui e ali, em várias terras do buda, e constantemente renasceram em companhia de seus mestres” (LSOC, cap. 7, p. 178). Eles anseiam intensamente prosseguir na jornada de mestre e discípulo, existência após existência, neste mundo sahapara cumprir a grande missão pelo kosen-rufu.
Ingressamos numa era em que se disseminou por todo o globo uma sólida compreensão do princípio “constantemente renasceram em companhia de seus mestres”. Não há dúvida de que nosso movimento, dedicado a auxiliar as pessoas a obter a venturosa condição de vida de eternidade, felicidade, verdadeiro eu e pureza, continuará a crescer e a se expandir.
Compartilhando profundamente esse espírito da Soka Gakkai com nossos amigos, bodisatvas da terra de todas as partes, trabalhemos juntos em união de “diferentes em corpo, unos em mente” e sigamos em frente em nossa jornada de mestre e discípulo, que incorpora a unicidade da vida e da morte, rumo à construção da era de paz pela qual tanto anseia a humanidade!
Vamos lutar juntos por toda a eternidade!
(Daibyakurenge, edição de julho de 2017)
Com a colaboração/revisão do Departamento de Estudo do Budismo (DEB) da BSGI
Capítulo 2: Trechos da Nova Revolução Humana
NRH, cap. “Retorno do Budismo para o Oeste”, v. 3, p. 45, 46 e 47
— Se tiverem algo que desejam ouvir, perguntemme sem acanhamentos — sugeriu Shin’ichi.
Tão logo ele terminou de falar, uma senhora se manifestou:
— Quando eu comecei a praticar o budismo, ouvi dizer que a vida é eterna, mas o que realmente acontece com as pessoas após a morte?
(...)
— É uma questão de suprema importância. Desvendar os mistérios da morte é fundamental para todas as pessoas e religiões. Como é um assunto bastante extenso, irei expor só pontos essenciais. Muitos acreditam que a vida se limita à existência atual. Se não for eterna, surge a questão da desigualdade das condições entre as pessoas desde o nascimento. Algumas crianças nascem no Japão, em Hong Kong ou na América, em países em guerra ou assolados pela fome e miséria. Umas nascem em famílias ricas, outras em condições paupérrimas, com doenças incuráveis ou sofrendo de deficiências físicas e mentais. As circunstâncias em que nascemos e nossa aparência são muito diversificadas. A única explicação é que todos os seres humanos são portadores de um destino inato na vida. Se um deus onipotente os tivesse criado, então todos seriam iguais. Se a vida fosse restrita a uma única existência, quem nasceu sob a estrela do infortúnio não conseguiria evitar o ódio pelos pais, e os culpariam, assim como não teriam ânimo para viver. E outros, nascidos em boas condições, chegariam à conclusão de que deveriam simplesmente aproveitar a vida e seguiriam por um caminho inconsequente e superficial. Se limitarmos a tentativa de investigar a fundo a origem desses destinos a uma única existência, isso não nos levará a lugar algum. A única maneira de explicar esta questão é com a visão de que a vida é eterna, com infindáveis ciclos de nascimento e morte.
(...)
Com relação à questão da vida após a morte, a resposta é que a vida se funde com o universo. O presidente Josei Toda comparou esse estado com o ato de dormir no final do dia. Despertar do sono para um novo dia equivale à existência futura. A vida é, portanto, uma sucessão desses atos. O importante aqui é que o carma não desaparece com a morte e continuará pela próxima existência. Se morrer em meio a um extremo sofrimento e infortúnio, na existência seguinte enfrentará as mesmas dificuldades. Se morrer odiando os outros, nascerá num ambiente em que terá de viver detestando as pessoas. Não há como fugir do destino mesmo com a morte. Não é possível libertar-se dos sofrimentos mesmo que se cometa suicídio. Por outro lado, se estabelecer um estado de felicidade e encerrar a vida com plena satisfação, nascerá num bom lugar na próxima existência e poderá novamente seguir pelo curso da felicidade. Poderá surgir quem prefira não nascer mais e ficar dormindo eternamente para não ter de suportar sofrimento na próxima existência. Contudo, isso é impossível. Mesmo que a vida se encontre no estado de fusão com o universo antes do nascimento, sentirá seus sofrimentos, semelhante aos pesadelos que nos afligem quando estamos com um grande problema ou preocupação.
Shin’ichi foi explicando a questão da vida e da morte de maneira simples e compreensível.
As filosofias e pensamentos da atualidade estão muito focadas no presente. Isso equivale a ver uma planta brotando no solo e ignorar sua raiz. Por essa razão, elas não conseguem visualizar o caminho que oferece soluções básicas para os sofrimentos do ser humano.
NRH, cap. “A Dança da Vida”, v. 12, p. 197
O marido era para Takako um companheiro nessa batalha que ambos empreendiam e um parceiro com o qual ela havia percorrido, um ao lado do outro, o caminho do kosen-rufu. Mas agora ele se fora. Num dia de neve em fevereiro daquele mesmo ano, ele falecera devido aos ferimentos sofridos num acidente de carro. Seu semblante na morte era o de uma pessoa que estava dormindo tranquilamente. Ele havia deixado quatro filhos; o mais velho estava com 18 anos de idade.
Quando Takako Kubokawa perdeu o marido, perdeu também o principal pilar de apoio emocional. Mas ela saiu das profundezas do sofrimento dizendo para si mesma: “Se eu ficar triste, ele também ficará. Mesmo com fé, a vida é cheia de dificuldades e de momentos de tristeza. O ponto principal desta prática é não sermos derrotados por eles. A partir de agora, vou me empenhar em prol do kosen-rufu por nós dois. E criarei nossos quatro filhos para que se tornem excelentes adultos e conquistem a genuína felicidade”.
A fé nos proporciona a energia vital para vencer os sofrimentos e as dificuldades.
NRH, cap. “Luz do Sol”, v. 19, p. 165
Shin’ichi aprofundou-se sobre a importantíssima questão da vida e da morte, na perspectiva do “eu maior”. Explanando que o budismo ensina a unicidade da vida e da morte, disse que ambas são manifestações eternas e imutáveis da própria vida, sem que nenhuma delas seja subordinada à outra. Por exemplo, passamos por enormes mudanças físicas e mentais a partir do nascimento. Entretanto, do começo ao fim, existe um eu interior que se mantém inalterado. O budismo expõe que esse eu intrínseco incorpora uma vida tão vasta como o universo — em outras palavras o “eu maior”. E esse “eu maior” opera eterna e imutavelmente, algumas vezes na fase ou no aspecto da vida, e em outras, na fase ou no aspecto da morte. Esse é o significado do princípio da unicidade da vida e da morte. Todas as pessoas possuem esse “eu maior” dentro da própria vida, asseverou Shin’ichi.
Tanto o modo de vida individual como o rumo de toda a civilização são determinados pela visão de vida e morte que eles professam.
NRH, cap. “Brisa Suave’, v. 25, p. 200-201
Depois da recitação, Shin’ichi discorreu sobre a clareza do Budismo Nichiren ao explanar a realidade da vida e da morte, da perspectiva budista da eternidade da vida, que se estende pelas “três existências” — passado, presente e futuro.
— Nossa vida é eterna, prosseguindo desta existência para a próxima e a seguinte. Nossas ações nesta existência determinam nossa recompensa ou punição cármica nas outras que se seguirão. Ou seja, a continuidade da vida, sem início nem fim, é governada pela lei de causa e efeito.
— Aqueles que abraçam o Gohonzon e praticam com forte fé na presente existência criam uma causa para atingir o estado de buda novamente nas existências subsequentes. Se, por outro lado, caluniarem a Lei nesta existência, então, como ensinou Daishonin, estarão criando uma causa para a miséria futura. Se a pessoa se dedicar à felicidade dos outros nesta vida e se mantiver fiel à sua missão em relação ao kosen-rufu, não obstante quanto sofrimento possa experimentar, ou mesmo que perca sua vida no decorrer de alguma grande perseguição, ela infalivelmente atingirá o estado de buda nas existências futuras.
Compreender que a vida persiste pelas “três existências” — passado, presente e futuro — possibilita que estabeleçamos valores verdadeiros, uma sólida visão da vida e ética genuína.
NRH, cap. “Origem”, v. 29, p. 326-327
Nesse diálogo, Shin’ichi sentiu que grande parte das pessoas havia iniciado a prática budista desejando transformar o destino delas. Na Índia, o conceito de carma é bem arraigado nas pessoas. Trata-se do pensamento de que todas as formas de vida repetem eternamente o ciclo de vida e morte, ao longo do qual o carma é formado por ações do corpo, da boca e da mente. E o resultado disso determina a felicidade ou a infelicidade do presente.
É o pensamento de que o acúmulo de ações maléficas desde a existência passada se torna a causa negativa que produz resultados negativos na vida presente. Em contrapartida, ao realizar ações do bem, obtém-se resultados positivos. Além disso, o mau carma da presente existência gera resultados negativos na próxima, enquanto o bom carma produz resultados positivos. Esse princípio de “causa e efeito” da vida é a base dos ensinamentos do budismo. Porém, a questão é como transformar o carma que produz resultados negativos na presente existência.
Somente com a explicação embasada no ciclo de vida e morte, por mais que se acumule bom carma, não é possível erradicar as faltas graves do mau carma. Isso porque o mau carma, que é a causa dos sofrimentos, veio sendo acumulado continuamente desde a longínqua existência passada. As faltas graves cometidas só poderiam ser erradicadas por meio do acúmulo de bom carma não só nesta existência, mas pelas eternas vidas futuras. Portanto, na presente existência não haveria alternativa a não ser aceitar seus sofrimentos e sua infelicidade.
Se não houver a libertação dos sofrimentos nesta existência, a vida acaba sendo envolvida por nuvens de desesperança.
O Budismo de Nichiren Daishonin prega o princípio de “atingir o estado de buda nesta existência”. Ensina o caminho para manifestar o estado de buda inerente à própria vida nesta existência, e romper os grilhões do carma. A prática da fé abre o caminho da revolução humana da pessoa, criando-lhe uma vida invencível perante quaisquer adversidades, e possibilitando-lhe superar todos os sofrimentos.
Nós provamos a veracidade do Budismo Nichiren por meio da comprovação em superar nossos sofrimentos, e promovemos o kosen-rufu. Portanto, os sofrimentos são condições indispensáveis para mostrar os poderes benéficos da Lei correta, fazendo com que o destino se torne a própria missão.
Notas:
1. IKEDA, Daisaku. Diário da Juventude: A Jornada de um Homem Dedicado a um Nobre Ideal. São Paulo: Editora Brasil Seikyo, 2015. p. 277.
2. “Prolongar a vida por meio da fé”: Baseia-se na passagem do capítulo 16, “A Extensão da Vida”, do Sutra do Lótus, que diz: “Imploramos-lhe que nos cure e nos permita continuar vivendo!” (LSOC, cap. 16, p. 269). Consta no trecho que explica a parábola do excelente médico, que oferece o “bom remédio” aos seus filhos, que “ingeriram veneno” (isto é, sucumbiram à ilusão) e imploram-lhe que os curem. Ao tomarem esse bom remédio (ou seja, abraçarem a fé na Lei maravilhosa do Sutra do Lótus), eles são curados e podem desfrutar muito mais anos de vida.
3. Acredita-se que A Grande Carruagem Puxada por um Boi Branco tenha sido escrita em 1277 e endereçada a Nanjo Tokimitsu. Pela analogia da grande carruagem do boi branco, que aparece no capítulo 3, “Analogia e Parábola”, do Sutra do Lótus, Daishonin salienta a importância de se manter forte fé na Lei Mística por toda a vida.
4. Mundo tríplice indica o mundo dos seres não iluminados que transmigram dentro dos seis caminhos (do inferno ao mundo dos seres celestiais). Em ordem crescente, são o mundo do desejo, o mundo da forma e o mundo da ausência de forma. No sentido geral, refere-se ao mundo saha em que vivemos. O capítulo 3, “Analogia e Parábola”, do Sutra do Lótus, compara esse mundo a uma casa em chamas: “Não há segurança no mundo tríplice; / é como uma casa em chamas, / repleta de inúmeros sofrimentos, / realmente temíveis, / constantemente cercada de tristezas e dores / do nascimento, envelhecimento, doença e morte, / que são como chamas ardendo violentamente sem parar” (LSOC, cap. 3, p. 105).
5. A “mente soberana” indica o cerne da mente que controla as diversas funções mentais. Nesse caso, a mente soberana corresponde à “mente única” da citação de Dengyo.
6. Extraído de As Doutrinas Essenciais Transmitidas na Escola Tendai Lótus.
7. Grande carruagem do boi branco: Uma carruagem adornada de joias, puxada por um imenso boi branco. Aparece na parábola das três carruagens e a casa em chamas do capítulo 3, “Analogia e Parábola”, do Sutra do Lótus, em que representa o veículo único do buda ou o veículo supremo do estado de buda. Nichiren Daishonin escreve: “Essas enormes carruagens puxadas por bois brancos podem voar à vontade pelo céu da natureza essencial dos fenômenos” (WND, v. II, p. 976).
8. A expressão “nascimento e morte no mundo do estado de buda” indica passar pelo ciclo de nascimento e morte livremente, com base na compreensão de que nossa vida é a entidade da Lei Mística, e que vida e morte são funções intrínsecas dessa lei universal. Além disso, incorpora a imensa compaixão e energia vital inerente ao universo e à prática do caminho de vida existência após existência para conduzir todos os seres vivos à iluminação.
9. Mundo saha: Este mundo, que é repleto de sofrimento. Também traduzido como mundo da paciência. Em sânscrito, saha significa terra; deriva-se de um radical que indica “suportar”. Por essa razão, nas versões chinesas das escrituras budistas, saha é interpretado como paciência. Nesse contexto, mundo saha indica um mundo no qual as pessoas devem suportar sofrimentos.
10. Significa manter fé inabalável na Lei Mística até o último momento da vida. Se continuarmos seguindo o caminho do buda, convictos de que atingiremos o estado de buda nesta existência, conseguiremos saudar a morte com profunda realização.
11. A perfeita iluminação constitui o último e mais elevado dos 52 estágios da prática do bodisatva, ou o estado de buda. É o estágio no qual se erradica a escuridão fundamental.
12. Terra da Luz Tranquila: Também conhecida como Terra da Luz Eternamente Tranquila. Terra do buda, livre da impermanência e impureza. Em muitos sutras, o mundo real saha onde vivem os seres humanos também é descrito como terra impura repleta de ilusões e sofrimentos, ao passo que a terra do buda é retratada como um lugar puro livre desses fatores e muito distante deste mundo saha. Em contraste, o Sutra do Lótus revela que o mundo saha é a terra do buda, ou a Terra da Luz Eternamente Tranquila, e explica que a natureza de uma terra é determinada pela mente daqueles que o habitam.
13. Os oito caminhos levam a oito direções, ou seja, aos oito pontos da bússola.
14. Quatro tipos de flores: Mandarava, grande mandarava, manjushaka, grande manjushaka. Perfumadas flores vermelhas e brancas que, de acordo com a tradição indiana, florescem no céu.
15. Eternidade, felicidade, verdadeiro eu e pureza são conhecidos como as “quatro virtudes”. Descrevem as nobres qualidades da vida do buda. “Eternidade” significa imutável e eterno; “felicidade” indica tranquilidade que transcende todos os sofrimentos; “verdadeiro eu” refere-se à natureza verdadeira e intrínseca; e “pureza” quer dizer livre de ilusões ou condutas errôneas.
16. As Quatorze Calúnias: Escrito datado do décimo segundo mês de 1276, endereçado ao sacerdote leigo Matsuno Rokuro Saemon. Nele, Nichiren Daishonin afirma que o benefício da recitação do Nam-myoho-renge-kyo com fé na Lei Mística é o mesmo, independentemente do fato de se tratar de um sábio ou um mortal comum não iluminado. Além disso, ele observa que caluniar os praticantes do Sutra do Lótus constitui uma ofensa grave. Por intermédio da história do menino Montanhas de Neve, Daishonin incentiva seus discípulos a recitar Nam-myoho-renge-kyo com total dedicação e a propagar a Lei Mística.
17. Em setembro de 1950, quando os negócios do presidente Josei Toda atravessavam sérias dificuldades financeiras, o jovem Daisaku Ikeda ofereceu ao seu mestre o poema: “Servirei ao mestre / como servi no passado / por uma mística relação. / Ainda que os outros mudem, / jamais mudarei”.
18. Redigida em 1276, esta carta (Pontos Essenciais para Atingir o Estado de Buda) é endereçada ao sacerdote leigo Soya Kyoshin, que vivia na Vila Soya, província de Shimosa (parte da atual província de Chiba). Daishonin salienta que o Nam-myoho-renge-kyo é a semente do estado de buda, e sugere que ele é o mestre que conduzirá todas as pessoas à iluminação.
19. No capítulo 7, “Parábola da Cidade Imaginária”, do Sutra do Lótus, Shakyamuni explica que os seres convertidos pelos dezesseis filhos de um buda chamado Excelência da Grande Sabedoria Universal sempre renascem junto com seus mestres em várias terras do buda. Desse modo, revela que o laço entre ele e seus discípulos ouvintes da voz existia desde o remoto passado.
20. Traduzido do japonês. TODA, Josei. Makiguchi Sensei Sankaiki ni [Cerimônia de Terceiro Ano em Memória do Presidente Makiguchi]. Toda Josei Zenshu [Obras Completas de Josei Toda]. Tóquio: Seikyo Shimbunsha, v. 3, p. 386, 1983.
21. Incidente do Sindicato de Mineradores de Yubari: Caso de flagrante discriminação religiosa que ocorreu em 1957, no qual mineradores de Yubari, em Hokkaido, foram ameaçados de perder o emprego por pertencerem à Soka Gakkai.
22. Ocasião em que o presidente da SGI, Dr. Daisaku Ikeda, na época coordenador da secretaria da Divisão dos Jovens, foi preso e indevidamente acusado de violação da lei eleitoral num pleito complementar da Câmara Alta em Osaka em 1957. Ao final do processo judicial, que se arrastou por mais de quatro anos, ele foi totalmente isentado de culpas em 25 de janeiro de 1962.
23. IKEDA, Daisaku. Diário da Juventude: A Jornada de um Homem Dedicado a um Nobre Ideal. São Paulo: Editora Brasil Seikyo, 2015. p. 354.
24. Ibidem, p. 585.
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