Colunista
BS
Senhores da própria mente
Segunda onda da pandemia do coronavírus requer ainda mais cuidados com o psicológico
Maria Rosa Carbone
28/01/2021

Se olharmos para a história do mundo, veremos que esta não é a primeira vez que a humanidade vive uma pandemia. Em todas essas ocasiões, o medo e a incerteza assolaram a população. A falta de conhecimento sobre ciência, física, química e a escassez de equipamentos e de tecnologia permitiram que muitas delas se alastrassem e causassem muitas mortes. Gostaria de convidar você, leitor, a pensar sobre alguns aspectos atuais.
O uso da tecnologia nos dias de hoje é um fato irrefutável; ela é necessária e muito nos ajuda; porém, também é fato que ela invade a nossa casa através de computadores, celulares, tablets etc. Somos bombardeados por informações de todo tipo oriundas da TV aberta e da fechada, das redes sociais, dos vídeos amadores, entre outros — todos com potencial de afetar nosso emocional/psicológico. Em relação à pandemia, são tantas informações sobre contágio, riscos, repercussões, que nos levam a preocupações com nossos familiares, nosso trabalho, nossa saúde, nossa situação financeira e com o estudo dos nossos filhos.
A ciência e suas descobertas nos mostram que, quando uma pessoa se depara com uma situação ameaçadora, real ou imaginária, seu sistema nervoso é acionado e ativa o sistema nervoso simpático e, devido a isso, as glândulas suprarrenais liberam cortisol1 e adrenalina.2 Nossa frequência cardíaca aumenta, a respiração se altera e os músculos ficam mais tensos, preparando-nos para nos defender.
Do ponto de vista da teoria cognitiva (ou do emocional/psicológico), quando essa situação acontece com muita frequência, pode gerar problemas em nossa saúde. Sendo assim, quando uma pessoa é invadida por notícias ruins, isso causa preocupações, cria ansiedade e dúvidas quanto ao futuro. A ativação frequente do sistema nervoso simpático altera o estado emocional e físico, e baixa a imunidade, facilitando, por exemplo, que a pessoa seja infectada por algum vírus.
Diante do novo cenário que se apresenta com a segunda onda da Covid-19, devemos nos prevenir não só adotando medidas básicas de higiene, usando álcool gel e máscara, lavando as mãos com água e sabão, e mantendo o distanciamento físico e o isolamento social, mas também cuidando do nosso emocional/psicológico.
Precisamos estar atentos ao fluxo de informações que recebemos — contendo o impulso de checar as redes sociais e os noticiários a todo momento —, obviamente, sem negligenciá-las, mas dosá-las. Ouvir um noticiário de manhã ou na hora do almoço ou do jantar é suficiente, diminuindo assim as chances de que pensamentos negativos invadam nossa mente.
É importante também melhorar a capacidade do nosso cérebro, pois ele não funciona bem quando não sabe o dia de amanhã — podemos não saber o que acontecerá com a pandemia e seus riscos, mas precisamos manter o mínimo de previsibilidade, ou seja, criar e manter rotinas diárias para que o cérebro entenda que naquele local e hora está tudo tranquilo.
E por último, mas não menos importante, é aconselhável fazer exercícios físicos para manter a boa saúde, bem como a prática de meditação e o relaxamento, que afastam pensamentos ansiosos e intrusivos e nos permite sermos senhores da nossa mente, além de nos ajudar a restabelecer nossa imunidade.
Resumindo, estamos diante de uma nova onda da pandemia da Covid-19, entretanto, como budistas, sabemos que uma adversidade é também ótima oportunidade para nos desenvolver e nos empenhar no daimoku. Vamos encarar as informações e o conhecimento, mas sem pânico — esse momento pode ser a causa para fazermos o efeito modificador em nossa vida.

Maria Rosa Carbone
Psicoterapeuta, especialista em terapia cognitiva comportamental, supervisora do Curso de Pós-Graduação ITC, professora de comunicação e hipnoterapeuta. É vice-responsável pela Divisão Feminina da Comunidade Vila Mariana, SP.
Notas:
1. Cortisol: Substância produzida pelo organismo humano, responsável pelo controle do estresse.
2. Adrenalina: Substância produzida pelo organismo humano, responsável por nos preparar para determinadas situações, colocando-nos em estado de alerta para algo.
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