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Vença com um sorriso

O princípio budista de “transformação de veneno em remédio” (hendoku iyaku) elucida que podemos fazer dos sofrimentos e das adversidades trampolins para construir a verdadeira felicidade

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09/12/2021

Vença com um sorriso

REDAÇÃO


Dificilmente encontraremos alguém que nunca tenha visto um filme, uma imagem ou alguma referência a Carlitos, o genial personagem criado pelo ator inglês Charles Chaplin (1880–1977). Embora tenha sido aclamado no mundo inteiro por seus filmes, nem sempre a vida de Chaplin foi de sucesso. Ele teve uma infância difícil e, mesmo depois de se tornar um ator conhecido, sofreu diversas perseguições.

Os pais eram atores e cantores, mas se separaram quando ele estava com 3 anos de idade e então ficou sob os cuidados da mãe. Com muitas dificuldades econômicas para sustentar Charles e seu irmão, a mãe tinha a saúde comprometida pela desnutrição, a ponto de perder a voz antes de uma apresentação. Naquele dia, aos 5 anos, Charles a substituiu, cantando, dançando e fazendo mímicas. Arrancou risos, simpatia e moedas da plateia.

O jovem Chaplin ainda teve de trabalhar em diversos serviços temporários como entregador de mercearia e soprador de vidro, até conseguir passar em um teste para uma peça teatral. Nessa ocasião, viajou para os Estados Unidos e lá ficou mundialmente conhecido. Aos 27 anos já era famoso, com dezenas de filmes feitos, como os clássicos O Vagabundo, Rua da Paz e O Imigrante. Em seu trabalho, ele sempre se dedicava ao máximo, sendo detalhista e buscando sempre o melhor resultado. Quando questionado sobre sua melhor atuação, respondia que seria a próxima.

Mas Chaplin foi perseguido pelo governo dos Estados Unidos por causa de seus filmes, que traziam críticas sociais às questões da época. Ele voltou para a Europa, onde viveu com a esposa, criando oito filhos.

Quando estava com 82 anos, os norte-americanos, admitindo o grande erro no passado, pediram-lhe desculpas. Ele aceitou o convite e recebeu o Oscar que lhe fora negado durante a sua carreira. No entanto, a maior prova de reconhecimento, que alegrou o grande Chaplin, foi a condecoração oferecida pela rainha Elizabeth II da Inglaterra, seu país de origem, em 1975. Nascido na periferia de Londres, proveniente das classes mais baixas da sociedade, Chaplin chegava ao grau de Cavaleiro. A partir de então, passou a ser chamado de Sir Charles Chaplin.

Sorria!
Comentando sobre a vida de Charles Chaplin, o presidente da Soka Gakkai Internacional (SGI), Dr. Daisaku Ikeda, declara:

O comediante do cinema mudo, Charles Chaplin, disse: “Que nossos esforços desafiem o impossível. Lembrem-se de que as grandes proezas da história foram conquistadas do que parecia impossível”. Ele está dizendo que as grandes realizações são alcançadas quando desafiamos o que é considerado impossível, absurdo ou muito difícil. (...)
Gostaria que todos os senhores fossem como o pequeno Carlitos, o famoso personagem criado por Charles Chaplin, que sempre tinha um sorriso na face não importasse o que acontecesse. Gostaria que os senhores fossem capazes de saudar as dificuldades com um sorriso, transformando os sofrimentos em felicidade e tivessem vidas felizes e com ânimo.1

“Saudar as dificuldades com um sorriso, transformando os sofrimentos em felicidade” — essa frase traz o aspecto real de uma existência baseada na mais suprema condição de vida, o estado de buda. Mas como transformar sofrimentos em felicidade?

Quatro poderes

O budismo ensina que os efeitos das nossas ações, boas ou más, são sentidos na nossa própria vida. Essa é a lei infalível de causa e efeito. Assim sendo, todos os nossos sofrimentos derivam das más causas que cometemos. Porém, o Gohonzon possui os poderes da Lei e do Buda, e nós, os poderes da fé e da prática. Quando esses quatro poderes se unem, todo sofrimento pode ser transformado em alegria. Esse é o princípio de “transformação de veneno em remédio” (hendoku iyaku).

A expressão “transformação de veneno em remédio” apareceu pela primeira vez no Tratado sobre Grande Perfeição da Sabedoria (Daichido-ron) atribuído a Nagarjuna, estudioso do budismo Mahayana que viveu na Índia entre o segundo e o terceiro séculos. Nichiren Daishonin interpreta esse princípio num sentido mais amplo e universal. Ele nos ensina que podemos transformar os três caminhos — dos desejos mundanos, do carma e do sofrimento — nas três virtudes do Buda — as propriedades do corpo do Darma, da sabedoria e da emancipação.

Revolução humana

O presidente Ikeda também declarou certa vez:

A prática da fé, o daimoku, é a força que realiza infalivelmente o princípio de “transformação de veneno em remédio” (hendoku iyaku). O sofrimento do “veneno” transforma-se no remédio chamado “felicidade”. Por meio do princípio de “desejos mundanos são iluminação” (bonno soku bodai), os problemas transformam-se em fonte de iluminação e felicidade. Quanto maiores forem os problemas e sofrimentos, maior será a felicidade a ser alcançada. Essa é a força do daimoku e, por essa razão, aquele que recita a Lei Mística não teme a nada, pois não há o que temer.2

Nossa vida está repleta de desejos mundanos. Mesmo sem eliminá-los, podemos purificá-la e atingir a iluminação. Desejos mundanos indicam ilusão, ao passo que a iluminação é o despertar para a verdade, ou seja, o reconhecimento do potencial do estado de buda inerente a nós. Quando elevamos nossa condição de vida ao estado de buda, lançamos luz sobre os desejos mundanos ou ilusões. Assim, o que era sofrimento dá lugar à alegria e os problemas se transformam em oportunidades para nosso crescimento. Essa é uma forma de descrever o processo da revolução humana. Os relatos de experiência apresentados nas reuniões elucidam perfeitamente o princípio de “transformação de veneno em remédio”. As pessoas não poderiam relatar sobre os benefícios da prática sem antes ter enfrentado obstáculos. Tampouco poderiam falar com convicção de sua alegria sem ter vencido os sofrimentos.

Oração e ação

Na vida, podemos enfrentar adversidades como falência, desemprego, doença, acidentes ou até o falecimento de entes queridos. A questão é como não nos deixar abater por elas e sermos felizes e vitoriosos no final. Com base na recitação do daimoku e no estudo do budismo, podemos direcionar a vida para realizarmos ações positivas que contribuam não somente para nossa felicidade indi­vidual, mas também para a felicidade de outros e da própria humanidade. Assim, enfrentar dificuldades ganha ampla perspectiva e significado, como parte do nosso crescimento pessoal rumo à revolução humana. Vencer nossos sofrimentos nos prepara para conseguir incentivar outros a fazer o mesmo.

Ikeda sensei conclui:

Para obter o remédio do estado de buda, da felicidade absoluta, temos de triunfar sobre o veneno do sofrimento. Em outras palavras, o sofrimento é a semente que possibilita que a flor da felicidade desabroche. Como tal, não devemos temer as adversidades. Em vez disso, devemos enfrentá-las com coragem. Somos todos bodisatvas da terra, que possuem a condição vital do estado de buda e que surgimos neste mundo para conduzir as pessoas dos Últimos Dias da Lei à iluminação. Nunca ficaremos sem saída. A infelicidade não é causada por circunstâncias adversas. Ela é causada pelo nosso próprio desespero e negatividade. (...)
Compreender e aplicar na vida diária a grandiosidade do Budismo Nichiren e saber que os desafios e infortúnios são cruciais em nossa vida fazem com que desenvolvamos a persistência, experimentemos a plenitude, e por fim, fortaleçamos o caráter e a sabedoria. Esse é o resultado da “transformação de veneno em remédio”.3

Notas:

1. Brasil Seikyo, ed. 1.246, 16 out. 1993, p. 6.

2. Idem, ed. 1.521, 28 ago. 1999, p. C1.

3. Brasil Seikyo, ed. 2.421, 26 maio 2018, p. A7.

Fontes:

Terceira Civilização, ed. 401, jan. 2002, p. 10.

RDez, set. 2009, p. 26.

ilustrações: getty images / fotos: domínio público

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