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Conheça o Budismo

Descubra sua missão

Vamos aprender sobre o princípio da transformação do destino e a prática budista para convertê-lo em missão

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Redação

09/06/2023

Descubra sua missão

Os sofrimentos e as dificuldades da vida são os mais variados. Há aqueles que aparecem em decorrência de ações e decisões que tomamos na vida presente, mas há outros para os quais não encontramos uma causa aparente. O Budismo de Nichiren Daishonin considera que esses tipos de sofrimento são manifestações, nesta existência, dos resultados de ações realizadas pela própria pessoa em vidas passadas (carma do passado).

“Carma” é originalmente um termo que significa “ação”. Já as “ações em vidas passadas”, que possuem o poder de influenciar a felicidade ou a infelicidade nesta existência, são denominadas de “carma do passado”. O carma do passado engloba tanto o “bom carma” como o “mau carma”, mas ele é, na maioria das vezes, associado ao “mau carma” que acumulamos.

O budismo ensina a lei de causa e efeito, que abrange as “três existências da vida” — passado, presente e futuro. As ações em existências passadas se tornaram a causa que se manifesta como efeitos na existência presente; e as ações na presente existência se tornam a causa que se manifestará como efeitos na existência futura. 

Más causas em vidas passadas se manifestam como maus efeitos nesta existência, trazendo sofrimentos e dificuldades. Boas causas resultam em bons efeitos, os quais proporcionam boa sorte e tranquilidade. Essa é a lei de causalidade adotada pelo budismo em geral.

Todavia, seguindo essa lógica, mesmo descobrindo a causa dos sofrimentos no presente, não é possível transformá-la imedia­tamente nesta existência. Portanto, não haveria outro caminho a não ser liquidar cada causa do mau carma ao longo de sucessivos ciclos de vida e de morte em existências futuras. Assim, essa ideia de “carma do passado” é um conceito que leva facilmente ao pensamento fatalista de uma vida sem esperança.

Em contrapartida, o Budismo de Nichiren Daishonin ensina o princípio da “transformação do destino”.

No escrito Carta de Sado, Daishonin esclarece que as perseguições que vinha enfrentando não eram atribuídas à usual lei de causa e efeito difundida no budismo em geral, mas, sim, por ter caluniado o Sutra do Lótus em existências passadas.1

Dessa forma, ele ensina que a calúnia contra o Sutra do Lótus — a Lei correta que revelou por completo a iluminação de todas as pessoas, o respeito ao ser humano e a felicidade si e de outros — é a ofensa fun­damental e o mal original que produzem todos os outros maus carmas.

O princípio da transformação do destino do Budismo Nichiren significa transformar o mau carma fundamental da descrença e da calúnia contra a Lei correta, ainda nesta existência, por meio da prática de acreditar, proteger e propagar essa Lei. O âmago dessa prática é o daimoku, a recitação do Nam-myoho-renge-kyo.

Daishonin faz referência a uma citação do Sutra Mérito Universal, a qual salienta que as ofensas do passado se dissiparão instanta­neamente como geada e gotas de orvalho sob a luz do sol da sabedoria eterna do Nam-myoho-renge-kyo:


Nossas más ações seculares e nosso carma negativo podem ter se acumulado a uma altura tão elevada quanto a do Monte Sumeru, mas, quando acreditamos neste sutra, tudo isso se desvanece como a geada ou o orvalho sob o sol do Sutra do Lótus.2


Amenização do efeito cármico

Mesmo nos empenhando na prática da fé, há ocasiões em que nos deparamos com sofrimentos e dificuldades na vida. Além disso, quando lutamos pelo kosen-rufu, surgem adversidades decorrentes de impedimentos e de maldades que aparecem para deter o nosso avanço. Daishonin ensina que o fato de encontrarmos tais dificuldades e de transformarmos o próprio destino é, na verdade, o benefício do princípio chamado de “amenização do efeito cármico”.

Literalmente, o princípio de “amenização do efeito cármico” (tenju kyoju) significa “transformar o pesado e receber o leve”. Em virtude do “pesado” carma acumulado em existências passadas, estaríamos sujeitos a saldá-lo com “pesados” sofrimentos não apenas nesta, mas nas próximas existências. Entretanto, ao acreditarmos e propagarmos a Lei correta nesta existência, a força do benefício dessa prática faz com que a retribuição de carmas pesados seja recebida, instantaneamente, de forma leve, e conseguimos assim expiar todos os carmas acumulados.

Os sofrimentos e as dificuldades são importantes oportunidades para apagar o carma do passado e fortalecer nossa determinação.

Sobre isso, Daishonin afirma:


O ferro, quando aquecido e forjado, torna-se uma excelente espada. Os reverenciáveis e os veneráveis são testados com calúnias. Meu atual exílio não é resultado de nenhum crime secular, mas serve somente para que eu possa expiar, nesta existência, as graves faltas que cometi no passado e me libertar dos três maus caminhos na próxima.3


Carma adotado por desejo próprio

Uma pessoa que, apesar de enfrentar sofrimentos e dificuldades, transforma o seu destino perseverando na prática da fé observará uma grande mudança no sentido de sua vida.

O Sutra do Lótus expõe o princípio de “carma adotado por desejo próprio” (ganken ogo). O ideograma gan significa “nascer com o desejo” e go quer dizer “nascer com carmas acumulados”. Os bodisatvas nascem em determinada existência pela força de seu desejo, e as pessoas comuns, por conta de seu carma.

Esse princípio indica que bodisatvas, com grandiosa boa sorte e virtude acumuladas por meio de exercícios budistas, se voluntariaram a nascer nesta era maléfica, manifestando seu próprio desejo; abandonaram suas límpidas retribuições dos seus carmas, com o intuito de salvar as pessoas sofridas desta era maléfica.

Como resultado, estes bodisatvas experimentam, da mesma forma que as pessoas com carmas negativos, os sofrimentos desta era maléfica. A partir da análise do sentido das adversidades deste ponto de vista, uma pessoa que supera as dificuldades por meio da fé entenderá que o fato de viver os sofrimentos nesta era maléfica não é de forma nenhuma o seu destino, mas, sim, o resultado do juramento seigan de bodisatva para salvar as pessoas, compartilhando sofrimentos e mostrando, com o seu exemplo, a forma de superá-los.

O presidente Ikeda expressa essa forma de viver como “transformar o destino em missão”, e explica:

Todos nós temos nosso próprio carma ou destino. Mas quando o olhamos de frente e compreendemos seu verdadeiro significado, todas as dificuldades podem servir para nos ajudar a construir uma vida mais rica e profunda. E nossas ações na batalha contra nosso destino tornam-se um exemplo e inspiração para inumeráveis pessoas. Em outras palavras, quando transformamos nosso carma em missão, transformamos nosso destino. Em vez de permitir que o carma desempenhe um papel negativo, atribuímos a ele uma função favorável. Aquele que consegue transformar seu carma em missão é alguém que “assumiu voluntariamen­te o carma apropriado”. Portanto, os que continuam avançando, considerando tudo como parte de sua missão, seguem em direção à transformação de seu destino.4


Fonte:

Os Fundamentos do Budismo Nichiren para a Nova Era do Kosen-rufu Mundial. São Paulo: Editora Brasil Seikyo, 2016. p. 78.


Notas:

1. Coletânea dos Escritos de Nichiren Daishonin. São Paulo: Editora Brasil Seikyo, v. I, p. 321, 2020.

2. Ibidem, p. 293.

3. Ibidem, p. 320.

4. Terceira Civilização, ed. 433, set. 2004, p. 18.


Ilustração: Getty Images

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