Estudo
TC
[31] Os Três Obstáculos e as Quatro Maldades (CEND, v. I, p. 665–669)
Explanação do presidente da SGI, Dr. Daisaku Ikeda
11/07/2015
![[31] Os Três Obstáculos e as Quatro Maldades (CEND, v. I, p. 665–669)](https://meubs.com.br/assets/images/meubs/no-image-3.jpg)
“O sábio se alegra!”
Vamos alcançar a eterna vitória por meio de uma prática budista inabalável
Trecho da carta: Os Três Obstáculos e as Quatro Maldades
Nesta carta, gostaria de aconselhá-lo [Munenaga Ikegami] em relação ao ponto mais importante para o senhor. Nos Primeiros e nos Médios Dias da Lei, o mundo não entrou em decadência porque era comum o surgimento de sábios e veneráveis, e as divindades celestiais protegiam as pessoas. No entanto, nos Últimos Dias da Lei, as pessoas têm se tornado tão gananciosas que não param de eclodir conflitos entre soberanos e súditos, pais e filhos, irmãos mais velhos e irmãos mais novos e, ainda mais, entre pessoas que não têm nenhum vínculo. (...)
Há pouco tempo, seu irmão mais velho, Uemon no Sakan [ou seja, Munenaka Ikegami], voltou a ser deserdado por seu pai. Quando a esposa do senhor veio visitar-me, disse a ela que, certamente, ele seria deserdado outra vez. Disse também que eu estava apreensivo em como isso afetaria o senhor, Hyoe no Sakan [isto é, Munenaga], e que ela deveria se preparar para o pior. Desta vez, tenho certeza de que o senhor abandonará a fé. Se fizer isso, não tenho a menor intenção de repreendê-lo. Mas, da mesma forma, o senhor também não deve culpar a mim, Nichiren, quando cair no inferno. A responsabilidade não será de modo algum minha. É inegável que o fogo, num instante, pode reduzir a cinzas um capinzal milenar, ou que uma única palavra basta para destruir a reputação construída por uma pessoa ao longo de cem anos. (CEND, v. I, p. 665-666)
***
Não deve sentir o menor medo em seu coração. O que impede as pessoas de manifestarem o estado de buda é a falta de coragem, apesar de terem professado a fé no Sutra do Lótus muitas vezes ao longo de inumeráveis kalpa no passado.
Há algo definitivamente extraordinário no fluxo e refluxo da maré, no nascer e pôr da Lua, e na maneira como o verão, o outono, o inverno e a primavera sucedem um ao outro. Algo inusitado também ocorre quando uma pessoa comum atinge o estado de buda. Nesse momento, os três obstáculos e as quatro maldades aparecem infalivelmente; e quando isso ocorre, o sábio se alegra, ao passo que o tolo recua. (...)
Atingir o estado de buda é realmente difícil, mais difícil do que a façanha de fincar uma agulha no topo do Monte Sumeru deste mundo e, depois, do topo do Monte Sumeru de outro mundo lançar uma linha e acertar em cheio o orifício da agulha. E para aumentar a dificuldade dessa proeza, imagine que tenha de fazê-la com o vento contrário. (CEND, v. I, p. 666)
***
Agora, se o senhor desobedece às palavras de um pai, que é fácil de encontrar, e segue um amigo do Sutra do Lótus, que raramente pode ser encontrado, não apenas será capaz de atingir o estado de buda, como também poderá conduzir à iluminação o pai ou a mãe a quem desobedeceu. (...)
No entanto, mesmo que isso acontecesse, no caso do senhor, em particular, os sacerdotes da escola Nembutsu e os que observam os preceitos induziram seu pai a se juntar a eles para fazer com que o senhor e seu irmão abandonem a fé. Contaram-me que o sacerdote Dois Fogos está persuadindo outros a recitarem o Nembutsu um milhão de vezes para criar discórdia entre as pessoas e destruir as sementes do Sutra do Lótus. (...)
Mesmo que abandone seu irmão e ocupe o lugar dele no coração de seu pai, não conseguirá prosperar em mil ou em dez mil anos. Não há como saber o que acontecerá ao senhor num futuro próximo. Como então pode estar tão seguro de que a prosperidade o acompanhará por toda a vida? Assim, decida-se e pense seriamente em sua felicidade na próxima existência. (CEND, v. I, p. 667-668)
Explanação
Nichiren Daishonin declara: “Os três obstáculos e as quatro maldades1 aparecem infalivelmente; e quando isso ocorre, o sábio se alegra, ao passo que o tolo recua” (CEND, v. I, p. 666).
Nesta edição, vamos estudar o escrito de Nichiren Daishonin Os Três Obstáculos e as Quatro Maldades, que contém essa famosa passagem. É uma carta em que ele descreve o espírito fundamental da fé essencial para os praticantes da Lei Mística.
Embora falemos que “os três obstáculos e as quatro maldades” aparecem, ninguém quer enfrentar adversidades. Essa é uma reação humana natural. Mas, Nichiren Daishonin diz que o surgimento dos três obstáculos e das quatro maldades é uma fonte de alegria. Como pode ser? Isso não parece possível. Mas, na verdade, superando as íngremes montanhas dos obstáculos é que podemos fortalecer nossa vida e atingir o estado do buda, e assim apreciar a sublime vista da eternidade, felicidade, verdadeiro eu e pureza.2
Meu mestre, o segundo presidente da Soka Gakkai, Josei Toda, falou muitas vezes sobre os três obstáculos e as quatro maldades. Disse que eles representam os vales de treinamento e desenvolvimento da vida que surgem quando escalamos a mais alta montanha do estado de buda partindo das pequenas colinas de benefícios.3
O importante é a forma como encaramos os três obstáculos e as quatro maldades. Precisamos “tomar conta” deles, conscientizando-nos de que nós mesmos os provocamos. Pode parecer que estamos sendo atacados pelos três obstáculos e quatro maldades, mas sua verdadeira natureza é exatamente o oposto. Por termos nos proposto voluntariamente à tarefa de escalar o pico do estado de buda, eles surgiram. O fato de nos depararmos com esses obstáculos e funções malignas é a prova de que estamos defendendo o ensinamento correto e avançando na direção certa. Nós somos os responsáveis; somos os protagonistas. Os três obstáculos e as quatro maldades são experiências que devemos superar para alcançar a felicidade duradoura imbuída com as nobres virtudes do Buda. Quando atingir essa consciência, então a luta contra os três obstáculos e as quatro maldades certamente será uma grande alegria.
Lembro-me de um fato que ocorreu em julho de 1958. Eu viajava pelos mares revoltos do porto de Niigata para a Ilha de Sado. Haviam se passado poucos meses da morte do Toda Sensei. O tempo estava ruim, e tinha uma forte possibilidade de os serviços de travessia para a ilha serem cancelados. Por isso, rapidamente embarquei na balsa para seguir com a minha viagem a fim de incentivar nossos dedicados membros daquela ilha.
As ondas balançaram a balsa durante quatro horas, e os líderes que viajavam comigo sofreram de enjoo. Fiquei no convés, pensando em nossos corajosos membros, que se mantiveram em suas batalhas mesmo após o falecimento do nosso mestre. Olhando para o mar tempestuoso, imaginava a futura trajetória da grande embarcação de pessoas, o magnífico transatlântico Soka Gakkai, desbravando o levantar das ondas.
Como Nichiren Daishonin escreve: “Quando um tigre ruge, vendavais sopram; quando um dragão uiva, nuvens se reúnem”4 (END, v. II, p. 307). Quando adotarmos a atitude — “eu provoquei esta tempestade!” —, nosso coração se preencherá de um claro senso de esperança e propósito.
Daishonin ensinou a alegria da fé decorrente do ato de levantar-se corajosamente por iniciativa própria aos seus discípulos que se encontravam em meio às terríveis adversidades.
A menos que seja conduzido na direção das ondas, o barco irá virar. Da mesma forma, nunca devemos consentir ou temer a maldade. A única coisa a fazer é enfrentá-la. Essa é a maneira de forjar [como o metal] uma indestrutível condição de vida do estado de buda.
Nesta carta, gostaria de aconselhá-lo [Munenaga Ikegami] em relação ao ponto mais importante para o senhor. Nos Primeiros e nos Médios Dias da Lei, o mundo não entrou em decadência porque era comum o surgimento de sábios e veneráveis, e as divindades celestiais protegiam as pessoas. No entanto, nos Últimos Dias da Lei, as pessoas têm se tornado tão gananciosas que não param de eclodir conflitos entre soberanos e súditos, pais e filhos, irmãos mais velhos e irmãos mais novos e, ainda mais, entre pessoas que não têm nenhum vínculo. (CEND, v. I, p. 665)
Daishonin ensina que os três obstáculos e as quatro maldades surgem no momento decisivo quando se está prestes a atingir o estado de buda. Esta carta está tomada pela poderosa mensagem: “Meu discípulo, não seja derrotado neste momento crucial! Rompa a ignorância e a ilusão da escuridão fundamental, e triunfe sobre tudo!”
Depois de agradecer a seu discípulo pelos sinceros oferecimentos que enviara, Daishonin escreve: “Nesta carta, gostaria de aconselhá-lo [Munenaga Ikegami] em relação ao ponto mais importante para o senhor” (CEND, v. I, p. 665). Seu desejo pela felicidade do discípulo e sua determinação de transmitir a essência do budismo são muito claros.
O destinatário desta carta, Os Três Obstáculos e as Quatro Maldades [datada do vigésimo dia do décimo primeiro mês de 1277],5 era Ikegami Munenaga (Ikegami Hyoe no Sakan Munenaga; d. 1283), o mais novo dos dois irmãos Ikegami. O mais velho dos irmãos era Ikegami Munenaka (Ikegami Uemon no Tayu6 Munenaka; d. 1293), e seu pai era Ikegami Yasumitsu (Ikegami Saemon no Tayu Yasumitsu; d. 1279).
Os membros da família Ikegami serviam ao governo militar de Kamakura, e residiam na província de Musashi (que atualmente corresponde a Tóquio). Acredita-se que trabalhavam como notáveis construtores e engenheiros (supervisionando construções e reparos de edifícios do governo). Os dois irmãos se tornaram discípulos de Nichiren Daishonin logo após a proclamação do estabelecimento de seu ensinamento (no quarto mês de 1253), mas seu pai, um seguidor de Ryokan7 do templo Gokuraku-ji, sacerdote da escola Preceitos-Palavra Verdadeira, opôs-se à crença deles, deserdando o filho mais velho duas vezes por sua fé no budismo.
Quando Ikegami Munenaka foi deserdado pela primeira vez, Daishonin enviou a ele e a Munenaga o escrito conhecido como Carta para os Irmãos (Ibidem, p. 515) [datada do décimo sexto dia do quarto mês de 1275]. Em resposta, os dois irmãos e suas esposas uniram-se, como Daishonin instruiu, e o pai, Yasumitsu, revogou o pedido que privava o filho mais velho da herança. No entanto, provavelmente devido aos persistentes esforços de Ryokan e seus seguidores, Yasumitsu mais uma vez deserdou o filho mais velho, Munenaka. Quando Daishonin soube disso, escreveu esta carta, Os Três Obstáculos e as Quatro Maldades, para o filho mais novo, Munenaga.
Há situações — por exemplo, a recorrência de uma doença — em que somos afligidos pela mesma questão duas vezes. Tais momentos são verdadeiramente vitais. Quando o irmão mais velho, Munenaka, foi deserdado pela segunda vez, ele estava determinado a permanecer fiel à sua fé nos ensinamentos de Nichiren Daishonin, quaisquer que fossem as consequências. Daishonin elogiou essa determinação, escrevendo a seguinte carta: “Seu irmão, Uemon no Tayu [Munenaka], haverá de ser um dos devotos deste sutra”8 (Ibidem, p. 666). Mas, como o irmão mais novo, Munenaga, reagiria a esse novo fato? Daishonin acreditava que isto seria a chave para resolver o conflito.
Munenaga encontrava-se numa posição muito difícil, enfrentando o conflito entre ser leal à sua família ou à sua fé. Por exemplo, se seu irmão mais velho deixasse a família e ele, da mesma forma, o seguisse, não haveria ninguém para continuar o trabalho confiado à família Ikegami pelo governo, e perderiam seus meios de subsistência. Isso seria um golpe terrível para seu pai e os outros membros da família e seus dependentes. Munenaga provavelmente estava bem ciente disso. Tais pensamentos não apenas refletiam o bom-senso da sociedade da época, mas também a preocupação de Munenaga com aqueles a seu redor.
Após suas saudações na abertura desta carta, Nichiren Daishonin escreve que os Últimos Dias da Lei é uma época de conflito sem fim entre soberanos e súditos, pais e filhos, e irmãos mais velhos e irmãos mais novos. Explica que isso acontece porque a vida das pessoas estão contaminadas pelos “três venenos” — avareza, ira e estupidez —,9 e as pessoas, portanto, desrespeitam seus soberanos, pais e mestres10 (cf. CEND, v. I, p. 665). Esta é a visão do budismo sobre essa época.
Mas, continua Daishonin, se obedecer ao soberano ou aos pais significar ir contra os ensinamentos do budismo, então adverti-los representaria a verdadeira lealdade e devoção filial.11 Ele ressalta a importância de analisar a verdade, a partir de uma visão fundamental da realidade, em vez de focar em seus aspectos superficiais e temporários.
Daishonin expressa a mesma ideia na Carta para os Irmãos, mencionada anteriormente: “Em todos os assuntos seculares, é dever dos filhos obedecer aos pais. No entanto, no caminho para o estado de buda, a desobediência aos pais indica, em essência, a devoção filial” (CEND, v. I, p. 521).
Em Os Três Obstáculos e as Quatro Maldades, da mesma forma, Daishonin salienta isso como um importante ponto de referência para aqueles que abraçam o correto ensinamento do budismo. Na segunda metade da carta, ele assegura a Munenaga que, se permanecer firme em sua prática budista, ele não só poderá atingir o estado de buda, mas também será capaz de conduzir seu pai, que era hostil ao correto ensinamento, à iluminação.
Daishonin alerta Munenaga sobre o momento decisivo em que se encontra e que deve superá-lo enxergando claramente a situação baseado na fé na Lei Mística.
Quando estamos diante de um impasse na vida, nada é mais gratificante do que a orientação do nosso mestre.
Ao longo desta carta, Nichiren Daishonin incentiva Munenaga a despertar para a importância de levantar-se com confiança e forte convicção.
Este é sempre o desejo do mestre — que os discípulos, com convicção, levantem-se só com base na fé.
Há pouco tempo, seu irmão mais velho, Uemon no Sakan [ou seja, Munenaka Ikegami], voltou a ser deserdado por seu pai. Quando a esposa do senhor veio visitar-me, disse a ela que, certamente, ele seria deserdado outra vez. Disse também que eu estava apreensivo em como isso afetaria o senhor, Hyoe no Sakan [isto é, Munenaga], e que ela deveria se preparar para o pior. Desta vez, tenho certeza de que o senhor abandonará a fé. Se fizer isso, não tenho a menor intenção de repreendê-lo. Mas, da mesma forma, o senhor também não deve culpar a mim, Nichiren, quando cair no inferno. A responsabilidade não será de modo algum minha. É inegável que o fogo, num instante, pode reduzir a cinzas um capinzal milenar, ou que uma única palavra basta para destruir a reputação construída por uma pessoa ao longo de cem anos. (CEND, v. I, p. 665-666)
“Determinação de seguir o caminho do buda não importa o que aconteça”
Quando o irmão mais velho, Munenaka, foi deserdado pela segunda vez, Nichiren Daishonin escreveu ao irmão mais novo expressando rigorosamente a preocupação de que Munenaga provavelmente descartaria sua fé. Como resultado disso, se Munenaga caísse no estado de inferno, Daishonin diz então que ele não deveria culpá-lo. Essa mensagem central é repetida várias vezes nesta carta. Daishonin afirma, por exemplo:
O senhor, que se prende apenas a questões imediatas, obedecerá a seu pai, e as pessoas iludidas vão elogiá-lo pela devoção filial. (CEND, v. I, p. 666)
***
Se o senhor agradar seu pai com o intuito de herdar uma pequena propriedade privada, negligenciar a fé e cair nos maus caminhos,12 não deve culpar a mim, Nichiren. Apesar de minhas advertências, sinto que desta vez o senhor abandonará a fé. (CEND, v. I, p. 666)
Além disso, Daishonin conclui a carta dizendo: “Depois de escrever tudo isso, ocorreu-me que talvez esta carta seja inútil e que continuar seria cansativo. No entanto, ela poderá servir de recordação para o senhor no futuro” (Ibidem, p. 668).
É evidente que Daishonin não está tentando afastar Munenaga, mas, sim, encorajá-lo a fazer a coisa certa. Pela forte ligação que os une como mestre e discípulo, ele está confiante de que seu rigoroso incentivo não será mal interpretado.
Os mestres dentro do budismo desejam o desenvolvimento de seus discípulos. Quando fazem uma severa repreensão é sinal de amor rigoroso com o discípulo.
A única maneira de combater as funções malignas é despertar para a fé na Lei Mística para superar sua escuridão fundamental.
Nesta carta, é como se Daishonin estivesse pegando Munenaga pelos ombros, olhando-o nos olhos e dando-lhe uma sacudida de incentivo, dizendo: “Agora é a hora de convocar a mais profunda fé!” Tenho certeza de que as fervorosas palavras de advertência e incentivo de Daishonin penetraram profundamente no coração de Munenaga.
Nichiren Daishonin também pede repetidamente que Munenaga pense, fale e aja com determinação, confiança e propósito e, assim, combata com coragem e resolutamente as funções malignas que o atacam. Ele escreve, por exemplo: “Em última análise deve buscar o caminho (...)”; “Confronte seu pai e declare (...)”; “Não deve sentir o menor medo em seu coração” (CEND, v. I, p. 666); e “Decida-se e pense seriamente em sua felicidade na próxima existência” (Ibidem, p. 668).
O cerne da situação resume-se em saber se Munenaga terá coragem de dizer a seu pai: “Eu permaneço totalmente solidário a Munenaka”. Desenvolver o tipo de fé que permita superar as dificuldades e os obstáculos começa ao se adotar uma atitude determinada e de tomar firme decisão. Daishonin, sem dúvida, utilizou-se de uma linguagem tão forte para despertar a determinação de Munenaga, pois estava confiante de que ele finalmente se levantaria com profunda convicção na fé.
Harmonia familiar e o exemplo do rei Adorno Magnífico
Vamos voltar agora ao tema da harmonia familiar. Nesta carta, Nichiren Daishonin compara a situação da família Ikegami à do rei Adorno Magnífico e sua família no Sutra do Lótus, escrevendo: “A época é diferente, mas o princípio do Sutra do Lótus permanece exatamente o mesmo” (Ibidem, p. 666).
Nas sessões de perguntas e respostas, Toda Sensei muitas vezes citava o exemplo do rei Adorno Magnífico para aconselhar os membros que estavam com problemas por seus pais ou cônjuges serem contrários a prática budista ou se recusarem a deixá-los participar de atividades da Gakkai. Em uma dessas ocasiões, ele disse:
O capítulo [27] do Sutra do Lótus, “Rei Adorno Magnífico”, é muito interessante. Ele conta a história de um pai, o rei Adorno Magnífico, uma mãe, Virtude Pura, e seus dois filhos, Acervo Puro e Visão Pura. Na família, apenas o pai, o rei Adorno Magnífico, não seguia o budismo, e sua esposa e filhos tentam encontrar uma maneira de convertê-lo (...). Eles discutiram o assunto com o Buda, que lhes disse para lutar em sua fé e manifestar os poderes sobrenaturais. Eles fizeram isso, e, por fim, o pai também abraça a fé no budismo. Esses poderes sobrenaturais, em termos de hoje, correspondem a orar ao Gohonzon, a conquistar os benefícios da fé e a se tornar uma pessoa exemplar.13
Toda Sensei passou a se referir sobre a existência anterior dos membros desta família, que está descrita no tratado do grande mestre Tiantai, Palavras e Frases do Sutra do Lótus. Como companheiros praticantes religiosos na vida passada, os quatro indivíduos fizeram um pacto em que três deles se dedicariam à prática de austeridades em busca do caminho do buda, enquanto o quarto ficaria em casa e cuidaria dos afazeres domésticos para todos; aqueles três, em troca, prometeram compartilhar com o quarto o que tinham aprendido. Em uma vida futura, um dos quatro renasceu como rei, um segundo como seu cônjuge, e os outros dois como seus filhos. Aquele que tinha ficado em casa cuidando do lar para que os outros pudessem buscar o caminho do buda nasceu como rei.14
O presidente Toda disse que a preocupação da mãe e dos dois filhos em conduzir o pai ao budismo representou o cumprimento da promessa que tinham feito em ensinar o que aprendessem com a prática budista àquele que os apoiasse por ficar em casa e cuidar do lar de todos.15
Os membros sempre acham essa história muito esclarecedora e emocionante. Conexões estabelecidas pela Lei Mística são eternas. Ao cumprir o nosso papel nesta existência, certamente seremos capazes de criar uma família feliz e harmoniosa.
Como costumo dizer, uma família ainda pode ser feliz e harmoniosa, mesmo que nem todos os familiares pratiquem o Budismo de Nichiren Daishonin. É preciso apenas uma pessoa na família que brilhe como o esplendor do sol da Lei Mística para iluminar a todos. A boa sorte e o benefício que a pessoa conquista por sua fé alcançará os descendentes de geração a geração, então não há com o que se preocupar se outros membros da família não praticam.
Apenas se concentre em ser aquele que traz felicidade e harmonia para sua família. Quando expandir o próprio estado de vida, tornará seu ambiente feliz e harmonioso.
Não deve sentir o menor medo em seu coração. O que impede as pessoas de manifestarem o estado de buda é a falta de coragem, apesar de terem professado a fé no Sutra do Lótus muitas vezes ao longo de inumeráveis kalpa no passado.
Há algo definitivamente extraordinário no fluxo e refluxo da maré, no nascer e pôr da Lua, e na maneira como o verão, o outono, o inverno e a primavera sucedem um ao outro. Algo inusitado também ocorre quando uma pessoa comum atinge o estado de buda. Nesse momento, os três obstáculos e as quatro maldades aparecem infalivelmente; e quando isso ocorre, o sábio se alegra, ao passo que o tolo recua. (CEND, v. I, p. 666)
Obstáculos como barreiras para atingir o estado de buda
Daishonin escreve que há “algo definitivamente extraordinário” no movimento das marés, no nascer e cair da lua, e na mudança das estações. Nessa passagem, Nichiren Daishonin está dizendo a Munenaga que os três obstáculos e as quatro maldades surgem quando uma pessoa comum está prestes a atingir o estado de buda. A razão pela qual a maioria das pessoas não atingem o estado de buda, afirma ele, é que, embora tenham abraçado a fé no Sutra do Lótus em um passado distante e no presente, acabam sendo derrotados pelos três obstáculos e as quatro maldades.
Daishonin está dizendo que este momento é crucial. Os três obstáculos e as quatro maldades são barreiras que têm de ultrapassar para atingir o estado de buda. Ao superá-los, é certo que atingiremos o estado de buda. É por isso que, quando os três obstáculos e as quatro maldades aparecem, “o sábio se alegra, ao passo que o tolo recua” (CEND, v. I, p. 666).
O surgimento dos três obstáculos e das quatro maldades serve para mostrar que estamos no caminho correto da prática budista. A grande tradição de fé da Soka Gakkai desde a época do presidente fundador Tsunesaburo Makiguchi foi estabelecida pelo nosso compromisso inabalável de lutar pelo kosen-rufu com dedicação altruísta, sem temer qualquer dificuldade ou obstáculo. Jamais devemos nos esquecer disso.
Neste mês [novembro], no qual a Soka Gakkai foi fundada, reconfirmando o ponto primordial de nosso movimento, vamos refletir sobre algumas orientações a respeito deste assunto que nos foram oferecidas pelos nossos primeiro e segundo presidentes, Tsunesaburo Makiguchi e Josei Toda.
Makiguchi Sensei declarou: “Deparar-se com obstáculos ou funções malignas é o que distingue os ‘genuínos praticantes’ dos ‘meros crentes’”.16 Ele também disse: “As pessoas que vivem uma existência dedicada ao bem menor e que praticam a fé somente para o próprio benefício, com certeza não enfrentarão obstáculos; mas aqueles que vivem em prol do bem maior, dedicados à altruística prática de bodisatva, certamente serão atacados pelas funções malignas. Deparar-se com obstáculos ou funções malignas é o que nos identifica como genuínos praticantes”.17
Os três obstáculos e as quatro maldades são funções da escuridão fundamental que surgem da nossa própria vida e da vida de outras pessoas. Quando praticamos o caminho de bodisatva que manifesta a iluminação inerente ou a natureza do Darma18 de nós mesmos e dos outros, os obstáculos e as funções malignas são compelidos a surgir.
Makiguchi Sensei também disse que devemos tomar a iniciativa de convocar essas funções malignas. Ao convocá-las e vencê-las, afirmou ele, podemos aprofundar a nossa fé, conquistar benefícios imensuráveis e transformar o veneno em remédio,19 estabelecendo uma condição de vida de suprema felicidade. Por seu exemplo pessoal de enfrentar perseguições e lutar contra os obstáculos com esse espírito, ele deixou para todos os membros da SGI um modelo de fé e prática budista.
Toda Sensei também demonstrou com seu exemplo sua convicção de que o verdadeiro grande benefício da fé e a essência da revolução humana se encontram em “lutar corajosamente contra os três poderosos inimigos20 e vencer os três obstáculos e as quatro maldades”.21 Ele também nos instruiu repetidamente que, quando nos depararmos com adversidades, devemos reconhecê-las conscientemente como uma manifestação das funções malignas e manifestar ainda mais coragem para superá-las.
Ele declarou ainda que a Soka Gakkai certamente seria atacada pelos “três poderosos inimigos”. E nos solicitou: “Quando ele [o terceiro dos três poderosos inimigos, falsos sábios arrogantes] aparecer, eu ficarei feliz, e espero que todos os senhores fiquem felizes também. Quando este momento chegar, vamos lutar bravamente!”22 Toda Sensei sempre enfrentou as funções malignas com uma força impetuosa para superá-las.
O Budismo Nichiren é a religião da transformação interior. Hoje, a essência de suas convicções encontra-se somente na SGI, uma organização diretamente ligada a Nichiren Daishonin. Em nossa prática budista como membros da SGI, estamos infalivelmente dando continuidade aos ensinamentos de Daishonin de enfrentar e vencer as funções malignas.
Em meio à nossa grandiosa campanha em Kansai durante os primeiros dias do nosso movimento [Campanha de Osaka de 1956],23 meus companheiros e eu gravamos em nosso coração as palavras de Nichiren Daishonin “o sábio se alegra, ao passo que o tolo recua” (CEND, v. I, p. 666). Diante dos terríveis desafios, estávamos determinados a agir como sábios.
Justamente porque a Soka Gakkai venceu de forma consistente os obstáculos e as funções malignas, nosso movimento se expandiu para 192 países e territórios e as sementes da Lei Mística foram semeadas em todo o mundo. Estou certo de que isso deixaria Makiguchi Sensei e Toda Sensei muito felizes, e seria louvado por Daishonin e pelos budas das dez direções e das três existências.
Portanto, enquanto continuarmos a praticar o Budismo de Nichiren Daishonin ligados à SGI — a harmoniosa ordem budista que cumpre a intenção e o decreto do Buda — jamais nos deixaremos ser derrotados pelas funções malignas que possam nos atacar.
O mais importante para lutar contra as funções malignas é, em primeiro lugar, recitar Nam-myoho-renge-kyo. Quando evidenciamos o estado de buda vigorosamente de dentro de nós, podemos vencer as funções malignas. O segundo ponto é permanecermos unidos aos companheiros na harmoniosa ordem budista. Não podemos permitir que nossa vida seja controlada pelo ambiente. Em vez disso, devemos nos empenhar ativamente no mundo da fé e na prática do Budismo de Nichiren Daishonin. Quando fazemos isso, o mesmo espírito de luta que Daishonin demonstrou em suas batalhas contra as funções malignas brota em nossa vida. Entrar em contato com a vida daqueles que se esforçam em prol do kosen-rufu fortalecerá sua própria vida.
Da mesma forma, estou certo de que o nobre comprometimento de Nichiren Daishonin pelo kosen-rufu, transmitido nesta carta, inspirou Munenaga e o ajudou a aprofundar a sua decisão de triunfar sobre os obstáculos que enfrentava.
Atingir o estado de buda é realmente difícil, mais difícil do que a façanha de fincar uma agulha no topo do Monte Sumeru24 deste mundo e, depois, do topo do Monte Sumeru de outro mundo lançar uma linha e acertar em cheio o orifício da agulha. E para aumentar a dificuldade dessa proeza, imagine que tenha de fazê-la com o vento contrário. (...)
Agora, se o senhor desobedece às palavras de um pai, que é fácil de encontrar, e segue um amigo do Sutra do Lótus, que raramente pode ser encontrado, não apenas será capaz de atingir o estado de buda, como também poderá conduzir à iluminação o pai ou a mãe a quem desobedeceu. (CEND, v. I, p. 666-667)
A dificuldade de encontrar o Sutra do Lótus
Após insistir que Munenaga fortalecesse sua determinação, Daishonin continua a incentivá-lo de várias maneiras. Um ponto que ele destaca é quão raro é encontrar o Sutra do Lótus, e como é difícil praticá-lo e atingir o estado de buda. Ele ainda reitera o fato de que Munenaga enfrenta agora um momento decisivo.
Além disso, Daishonin explica que, no Sutra do Lótus, não só o buda Shakyamuni, mas o buda Muitos Tesouros e todos os budas das dez direções afirmam que todos os seres vivos serão capazes de atingir o estado de buda por meio deste sutra na era após o falecimento de Shakyamuni. Assim, Nichiren Daishonin incentiva Munenaga a aprofundar sua fé.
A obediência aos pais era uma importante questão que Munenaga se preocupava naquele momento, de modo que Daishonin aborda a respeito da essência da verdadeira devoção filial mais uma vez. Ele cita uma passagem do Sutra do Nirvana que descreve que vivemos incontáveis existências e tivemos inúmeros pais. Visto dessa forma, ressalta, não deve ser difícil encontrar um pai; mas é muito difícil encontrar o Sutra do Lótus. Assim, diz a Munenaga: “Se o senhor (...) segue um amigo do Sutra do Lótus, que raramente pode ser encontrado, não apenas será capaz de atingir o estado de buda, como também poderá conduzir à iluminação o pai ou a mãe a quem desobedeceu” (CEND, v. I, p. 667). Por “amigo do Sutra do Lótus”, Daishonin quer dizer bons amigos ou companheiros25 que nos ensinam a Lei Mística e praticam o budismo junto conosco.
A maioria das pessoas quer ser bons filhos e filhas a seus pais. Tal desejo em si é muito admirável. Mas o verdadeiro caminho para realizarmos este desejo é transformar e fortalecer nossa vida para que não sejamos derrotados por nenhuma adversidade cármica. O propósito de nossa prática budista, afinal, é ajudar a todos em nosso ambiente a formar uma relação com o budismo e conduzi-los à felicidade.
Nesta carta, podemos sentir o desejo de Nichiren Daishonin de possibilitar que cada um de seus discípulos se tornem verdadeiros vencedores na vida e retribuam sua eterna dívida de gratidão a seus pais.
No entanto, mesmo que isso acontecesse, no caso do senhor, em particular, os sacerdotes da escola Nembutsu [Terra Pura] e os que observam os preceitos [ou seja, os sacerdotes da escola Preceitos] induziram seu pai [Ikegami Yasumitsu] a se juntar a eles para fazer com que o senhor e seu irmão abandonem a fé. Contaram-me que o sacerdote Dois Fogos [Ryokan do templo Gokuraku-ji]26 está persuadindo outros a recitarem o Nembutsu27 um milhão de vezes para criar discórdia entre as pessoas e destruir as sementes do Sutra do Lótus. (...)
Mesmo que abandone seu irmão e ocupe o lugar dele no coração de seu pai, não conseguirá prosperar em mil ou em dez mil anos. Não há como saber o que acontecerá ao senhor num futuro próximo. Como então pode estar tão seguro de que a prosperidade o acompanhará por toda a vida? Assim, decida-se e pense seriamente em sua felicidade na próxima existência. (CEND, v. I, p. 667-668)
Ter em mente o verdadeiro propósito da prática budista
Nichiren Daishonin esclarece como o segundo incidente de deserdamento surgiu. Ele o atribui a conspiração de Ryokan e seus seguidores, que enganaram o pai dos irmãos Ikegami e tentaram fazer com que os irmãos abandonassem sua fé. Se Munenaga fosse influenciado por essas tentativas maldosas de perturbar sua fé no ensinamento correto, toda a família Ikegami enfrentaria a ruína no final, adverte Daishonin. Nichiren Daishonin instrui Munenaga a não se permitir ser derrotado por tais forças negativas.
No final da carta, Daishonin aconselha Munenaga a não se preocupar com a prosperidade incerta e temporária, mas se esforçar para atingir um estado de felicidade eterna, e salienta uma vez mais a importância de manter a resoluta fé no Sutra do Lótus.
Naturalmente, Daishonin estava ciente de que seus discípulos leigos estavam lutando diante das realidades cotidianas e esforçando-se bravamente para mostrar a concreta prova real de sua fé. Ele se alegrava com as conquistas mundanas de seus discípulos, mas também os lembrava de que o verdadeiro propósito da prática budista é garantir a eterna felicidade, e para isso é necessário transformar o estado de vida.
Encontrarmo-nos com os três obstáculos e as quatro maldades é uma experiência que devemos superar para atingir o eterno estado de buda. Ao superarmos esta circunstância, podemos sentir um estado de completa satisfação e liberdade. É por essa razão que Daishonin incentiva Munenaga a jamais abandonar sua fé, mas enfrentar as funções malignas, fortalecer e desenvolver a si mesmo durante esse processo.
Ao enfrentarmos e triunfarmos sobre os três obstáculos e as quatro maldades, estabelecemos um sólido registro de vitória pessoal em nossa vida.
Quando mestre e discípulo se unem com o eterno juramento de avançar em prol do kosen-rufu, não são atingidos pelos ataques das funções malignas. Alegrar-se com tais ataques e determinar lutar com o seu melhor é a maneira de derrotar as funções malignas. A luta conjunta de mestre e discípulo vence todos os obstáculos, abre uma nova era, e abre o caminho para um futuro repleto de esperança.
Chegou o tempo do kosen-rufu!
Em novembro de 1922, há noventa anos, o físico mundialmente famoso Albert Einstein (1879–1955) visitou o Japão. Toda Sensei considerava como uma de suas maiores honras ter assistido à palestra desse cientista na Universidade Keio de Tóquio (em 19 de novembro), junto com Makiguchi Sensei.
Mais de três décadas depois, ele relembrou aqueles tempos como se tivessem acontecido ontem. Ele então passou a falar sobre a “honra de deparar-se com um momento auspicioso”, dizendo:
A honra que cada um de nós recebe por se empenhar como um guerreiro do kosen-rufu é insondável, e dotará nossa vida com imensuráveis benefícios. No alvorecer do kosen-rufu, será imensa a tristeza daqueles que não puderem participar desta grande luta! É verdadeiramente significativo poder deparar-se com um momento auspicioso. (...)
No tempo do kosen-rufu, cem ou duzentos anos a partir de agora, inúmeras pessoas irão olhar para nós, que estamos nos esforçando aqui e agora como guerreiros do kosen-rufu, e exclamarão em admiração: “Olhe para eles! Eles lutaram muito pelo kosen-rufu. Eles foram verdadeiramente guerreiros do kosen-rufu”. E também seremos louvados inúmeras vezes pelo Gohonzon por nossos esforços.28
Tenhamos convicção de que o surgimento dos três obstáculos e das quatro maldades em nossa vida anuncia que se aproxima a chegada do tempo do kosen-rufu.
Meu desejo é que nossos membros e todas as pessoas com quem se relacionam, sem exceção, atinjam um estado de felicidade duradoura.
Os irmãos Ikegami foram vitoriosos por manterem a união acima de tudo. Seu pai rescindiu o documento que deserdava seu filho mais velho, e, no final, também começou a praticar o Budismo de Nichiren Daishonin.
“Poderia haver uma história mais maravilhosa do que a de vocês?” (CEND, v. I, p. 522), escreveu Daishonin louvando os irmãos Ikegami.
Com o mesmo sincero respeito e louvor a todos os senhores, meus companheiros por todo o mundo, continuo a orar sinceramente a cada dia para que seus dedicados esforços em prol do kosen-rufu resplandeçam como a esperança da humanidade por toda a eternidade.
(Daibyakurenge, edição
de novembro de 2012.)
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