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Mudança Interior — A transformação do destino começa no coração

No cotidiano, é comum passarmos por diversos dramas que nos fazem pensar que o destino não está do nosso lado. Sou tão boa esposa, por que meu marido não presta? Sou uma mãe amorosa, por que meus filhos só me dão trabalho? Sou ótimo no que faço, mas não tenho o reconhecimento do meu chefe. Estou sempre em busca do príncipe encantado, porém só arrumo sapos. Por que passo por tantos problemas? Por que a vida não colabora comigo? E você já deve estar cansado de ouvir que a responsabilidade é sua. Mas, adivinha? É mesmo sua! Calma, isso não é ruim. Significa que sua vida está totalmente nas suas mãos e não que você seja culpado por tudo aquilo que os outros fazem. Já pensou se seu destino dependesse de um marido ou de uma esposa que não quer saber de nada, de filhos revoltados, de um chefe que não gosta de você? A responsabilidade é só sua porque as mudanças de que necessita virão do seu coração. Seu sofrimento é reflexo de quem você é internamente. E a felicidade também.

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18/03/2017

Mudança Interior — A transformação do destino começa no coração
Você pode estar pensando que esse papo de coração seja mais um clichê. Por outro lado, acreditar em pensamentos do tipo “Minha vida está cheia de problemas, mas não tenho nada a ver com isso”, não resolve nada.

Edmond Dantès, protagonista da obra O Conde de Monte de Cristo, de Alexandre Dumas, pensou em algo semelhante ao ser enviado injustamente para a prisão. Por ser boa pessoa e não ter cometido nenhum crime, não aceitava o fato de ter sido condenado ao cárcere. Mesmo que tenha sido injusto, que não fosse realmente culpado, a realidade era que ele — o inocente — estava na cadeia.

Após perder a esperança, Dantès finalmente se lembrou de que deveria orar. Infeliz, percebeu que deveria ter começado pela oração. Orou não com fervor, mas com raiva. Com o tempo, a ira se transformou num êxtase sublime. Orava alto e via o brilho divino a cada palavra pronunciada. Com o ânimo renovado, recordou-se dos fatos para aprender as lições com o passado e propôs a si mesmo tarefas para cumprir. Ao final de cada prece, reafirmava seus objetivos, perdoava a si próprio e a todos os que o ofenderam.

Apesar de suas orações, Dantès continuava preso.

Ao se dar conta da realidade, o êxtase divino cedeu lugar ao ódio, e a oração virou blasfêmia que fazia o carcereiro recuar horrorizado. Seu coração, pronto para voar, estava preso como um pássaro na gaiola. Dantès estava na mais terrível prisão — a do espírito. Nada mais podia ser feito.

O que estava errado na postura de Dantès?

“Dantès não tivera senão uma fé passageira, baseada no poder [externo]; perdeu-a como outros a perdem após o sucesso. Porém, não desfrutara dela”, escreve Alexandre Dumas (p. 185).

O coração de Dantès era prisioneiro do externo — o apego à ideia de que sua felicidade havia sido destruída sem motivo, apenas por uma inexplicável fatalidade. Ele se agarrou a esse pensamento, e o ruminava. Analisou a questão por todos os ângulos em busca de culpados. Apesar de todo o esforço, orações e atitudes, ele não se livrava da ideia de que sua existência era regida por uma força externa e que uma vida sem sofrimento era uma vida feliz. Por pensar assim, não assumia a responsabilidade pelo próprio destino e se tornava incapaz de mudar a situação. Ele insistia em acreditar que por ser uma boa pessoa e não ter feito nada de errado, não poderia ser responsabilizado pela situação em que se encontrava. A busca pela solução fora de si revelava a falta de fé em seu próprio potencial. E assim, sucumbiu ao terror de sua dificuldade e se entregou ao desespero.

Sinto imensa alegria!

Como falar de coração, de força interior, numa situação de sofrimento extremo? Isso pode soar de maneira ofensiva para alguns. Será possível ter felicidade ou algum sentimento positivo na cadeia?

Se considerarmos que felicidade não significa ausência de sofrimento, então é perfeitamente possível. Nenhuma situação externa é capaz de decidir se uma pessoa é feliz ou não. Quando o coração é mais forte que as adversidades, a pessoa é feliz. Quando nossas orações deixam de ser súplicas e lamentos e são direcionadas a fortalecer nosso próprio coração, a felicidade se manifesta.

Nichiren Daishonin bradou “Sinto uma imensa alegria!” (Gosho Zenshu, p. 356), quando estava prestes a ser executado, uma situação pior que a prisão de Dantès.

Seu coração era tão forte que causava assombro aos soldados. Comovidos, eles se recusaram a decapitá-lo. Mesmo exilado, pena equivalente à sentença de morte, Daishonin continuou a expressar sua condição iluminada. “Mesmo que seja agora um exilado, sinto imensurável alegria” (END, v. I, p. 368.); “Como sou afortunado! Sinto imensa alegria em poder vivenciar a passagem do sutra ‘Nós seremos repetidamente banidos’” (Gosho Zenshu, p. 963).

O presidente da SGI, Dr. Daisaku Ike­da, afirma: “Nichiren Daishonin sofreu implacáveis perseguições nas mãos dos governantes e foi difamado por todos os lados. Mesmo assim, ele considerou sua iminente execução em Tatsunokuchi como um acontecimento de grande boa sorte e se alegrou por isso. (...) As tramas dos governantes e dos reverendos corruptos de sua época que tentaram derrotá-lo foram um completo fracasso” (Brasil Seikyo, ed. 1.496, 20 fev. 1999, p. 4A).

Por que o coração influencia o externo?

Porque você é seu coração. A energia que influencia tudo o que faz não se origina da sua vontade, do seu pensamento, do que fala ou de suas atitudes. Ela vem do coração.

Uma situação relatada pelo presidente Ikeda pode servir de exemplo para essa situação: “Suponhamos que uma pessoa explane o Gosho apenas por obrigação. Embora aparente estar no mundo de bodisatva, na realidade sua vida está na condição de inferno. A atitude relutante por trás da explanação, o sofrimento em realizar uma tarefa desagradável é a real condição da vida dessa pessoa ou seu ichinen [determinação] naquele momento” (Nova Revolução Humana, v. 6, p. 226).

Nichiren Daishonin escreveu: “As pessoas de hoje expressam palavras que não correspondem ao que está no coração delas” (CEND, v. I, p. 64).

Mesmo uma ação tão nobre não surte o efeito esperado caso o coração da pessoa esteja dominado pela escuridão. Por mais que seja boa em suas atitudes, a real condição de vida é o que determina sua realidade cotidiana.

Lembre-se de Edmond Dantès. Ele era bom filho, querido pelos colegas de trabalho e estava prestes a se casar com a mulher amada. Porém, sua tranquilidade e alegria não resistiram à investida dos invejosos. Mesmo sendo inocente, por não estar ciente de sua real condição de vida e de sua missão, foi parar na prisão.

Mas, ao conhecer seu mestre na cadeia, despertou para sua força interna, seu espírito se libertou e sua determinação se fortaleceu a ponto de ele assumir seu terrível destino como missão — por ser a pessoa que mais sofreu com a injustiça, Edmond Dantès se tornou um campeão indomável da justiça.

Ele escapou da prisão para ser o destemido conde de Monte Cristo — um lutador implacável contra a miséria causada pela maldade do poder.

O que é felicidade?

“Em certo sentido, a vida é uma sucessão de dificuldades. Nenhuma vida está livre de problemas. Mas felicidade não é mera ausência de sofrimento”, esclarece o presidente Ikeda (TC, ed. 583, mar. 2017, p. 53).

Ele continua: “A felicidade brilha num estado de vida capaz de superar qualquer forma de dificuldade ou sofrimento e transformá-la em alegria. Esse é um estado de realização genuína. É a capacidade de avançar continuamente, sempre criando valor, sem jamais se deixar intimidar pela adversidade. O budismo nos permite alcançar uma vida melhor, uma existência de completa satisfação, enquanto acumulamos o tesouro do coração que durará para sempre” (Ibidem).

Vamos tomar como exemplo a mente de uma pessoa preguiçosa. Ao pensar em felicidade, ela imagina uma situação ideal na qual os problemas não existem, a vida é plenamente satisfatória e tranquila. No entanto, o fato de ela buscar uma situação favorável para evitar o esforço não indica a busca pela felicidade, e sim por acomodação.

A felicidade existe no esforço, na luta por uma vida melhor, no empenho para mudar a realidade. E o coração sabe disso, mesmo que em pensamento a pessoa discorde e imagine a felicidade como “sombra e água fresca”. O coração conhece e opera segundo as leis da vida.

Se o preguiçoso não quer se esforçar, é porque não deseja ser feliz. O que está em seu coração, sua real condição é a preguiça. Seguindo essa determinação [preguiça], suas atitudes são sutilmente direcionadas para evitar o árduo trabalho e pegar caminhos mais fáceis. Apesar de desejar “felicidade”, sua vida é moldada segundo a realidade de um preguiçoso e não de uma pessoa feliz. Ao evitar o esforço, ele evita a felicidade. Por essa razão, nada dá certo. Para evitar o remorso ou a autorreflexão, ele se engana visualizando uma vida de felicidade, mas suas ações são comandadas pelo coração dominado pela preguiça.

O caminho da mudança

A prática do gongyo e do daimoku serve para fortalecer o coração. Ao recitá-los todos os dias, fortalecemos o potencial para ser feliz.

Para evidenciar esse potencial como algo concreto, devemos enfrentar as adversidades e desafiar os impedimentos, tendo a revolução humana e o kosen-rufu como propósitos de vida.

Mesmo recitando gongyo e daimoku, se evitamos os problemas e buscamos atalhos para evitar o esforço, o sofrimento continuará, porque a felicidade não irá aflorar.

“O fator crucial é desafiarmos cada problema no momento em que ele ocorrer. Não devemos aguardar até nossa fé ser profunda o bastante para tanto” (Brasil Seikyo, ed. 2.355, 21 jan. 2017, p. B1).

Sem esperar por nada, desafie os problemas que comprometem seu avanço cotidiano. Por exemplo, você precisa acordar mais cedo, acorde. Deu preguiça? Desafie. Precisa estudar, estude. Lute por aquilo que contribua para seu crescimento como ser humano. Comece recitando o gongyo todos os dias, faça daimoku e se esforce.

O fato de superar as adversidades, inspirado pela fé, evidenciarão as virtudes da boa sorte, felicidade e sabedoria que você acumulou com a prática budista.

Cada dificuldade enfrentada fará manifestar sua natureza de buda e sua fé se fortalecerá a cada vitória.

“Toda sensei salientava a importância de ultrapassarmos cada dificuldade com que nos deparamos. ‘Cada vez que sobrepujamos uma montanha de adversidades, fortalecemos dentro de nós a condição de vida do estado de buda que nada será capaz de destruir. (...) É por enfrentarmos dificuldades que lapidamos nossa vida e edificamos uma fé indestrutível como o diamante’” (Ibidem).

Conclusão

O presidente Ikeda disse: “Consequentemente, a fé não é uma questão que diz respeito à forma como vocês aparentam aos outros, mas sim como vocês se comportam e o que realmente estão fazendo. Em longo prazo, nossas determinações e ações invisíveis se manifestarão definitivamente como resultados visíveis. Com o passar do tempo, a verdadeira natureza de uma pessoa se revelará naturalmente. Uma pessoa honesta sempre desfruta uma vitória suprema” (Brasil Seikyo, ed. 1.229, 12 jun. 1993, p. 5).

Quem você é de verdade está dentro de si. Se o coração comanda tudo, você sempre está no controle da situação. Só precisa se dar conta disso.

Situações acontecem; se serão boas ou ruins, isso vai depender do seu coração. Por isso, não devemos nos precipitar e julgar os acontecimentos como desgraça. Para uma pessoa fraca interiormente, até os benefícios se tornam problemas e causam sofrimentos. Os fatores externos são simplesmente manifestações, e nós escolhemos se tudo foi positivo ou negativo. Nesse aspecto, o coração controla o externo.

Se sua vida não lhe agrada, é o momento de mudar seu coração. E a chave é recitar gongyo e daimoku todos os dias e desafiar as circunstâncias para avançar continuamente. Não é preciso esperar se sentir preparado. Simplesmente, aja. Enfrente os desafios que estão à sua frente, tendo em mente que felicidade “é a capacidade de avançar continuamente, sempre criando valor, sem jamais se deixar intimidar pela adversidade” (TC, ed. 583, mar. 2017, p. 53).

Portanto, se esforce, lute, resolva o que precisa ser resolvido e nunca se descuide da prática budista diária.

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