marcar-conteudoAcessibilidade
Tamanho do texto: A+ | A-
Contraste
Cile Logotipo
Na prática

Vida, o bem mais precioso

A vida, pela ótica budista, é o bem mais precioso que existe. Em meio ao compasso da vida diária, compreender esse profundo significado pode, de fato, fazer uma diferença colossal na maneira como se compreende o que é a genuína felicidade e o valor que cada indivíduo enxerga em si mesmo. Para ilustrar quão preciosa é a vida, no Sutra do Lótus está exposta a representação de uma torre de tesouro. Segundo descrições, essa gigantesca torre emergiu da terra a uma altura inimaginável que ligava o céu à terra, a largura também era imensa e adornada com sete tesouros e vários objetos preciosos.1

download do ícone
ícone de compartilhamento

01/04/2020

Vida, o bem mais precioso

Conforme uma escritura budista, essa torre surpreendente não é outra senão todos os seres vivos. E o presidente da SGI, Dr. Daisaku Ikeda, vai além:

Isso significa que a magnífica torre, de escala cósmica, descrita no Sutra do Lótus, nada mais é que a essência original de cada ser humano. Uma pessoa que despertou para a grandeza do ser adquire um estado de vida indestrutível. Esta é a dignidade da vida que não pode ser destruída por qualquer ameaça ou tribulação.2

Manifestar uma condição de vida interior tão vasta e segura, conforme as palavras do presidente Ikeda, num primeiro instante pode parecer realmente inimaginável. Diante de diversos fatos estarrecedores que nos cercam, da saúde à economia, o aumento exponencial de transtornos da mente, a pressão por resultados no mundo corporativo, familiar e acadêmico, uma radical polarização política global e a epidemia com proporções intercontinentais são capazes de tirar as pessoas do prumo, levando-as a subestimar a própria capacidade em transformar o destino.

Contudo, assim como expresso no Sutra do Lótus, todos os praticantes budistas são dotados de infinitas potencialidades, um verdadeiro agrupamento das mais belas e preciosas joias. No Estudo desta edição, no trecho do escrito Como Aqueles que Aspiram Inicialmente ao ­Caminho Podem Atingir o Estado de Buda por meio do Sutra do Lótus consta: “Quando reverenciamos o Myoho-renge-kyo inerente em nossa própria vida como objeto de devoção, ativamos nossa natureza de buda e a manifestamos por meio da recitação do Nam-myoho-renge-kyo. Esse é o significado de ‘buda’”3 (p. 55).

Mas o que seria objeto de devoção?

Para elucidar esse conceito, vamos voltar ao início de tudo. O Sutra do Lótus é o ensinamento absoluto do Buda — a essência da sabedoria e da compaixão budistas. Nichiren Daishonin identificou a própria Lei que permeia a vida e o universo, a qual está contida nos escritos do Sutra do Lótus, como Nam-myoho-renge-kyo e a inscreveu em forma de mandala, o Gohonzon. Seu intento era possibilitar que cada indivíduo, a partir da fé nessa Lei fundamental, ativasse seu potencial inato de transformar sofrimento em alegria, e a alegria em transbordante júbilo, capaz de refletir essa felicidade também nas pessoas ao redor.

Numa passagem bastante famosa de seus escritos, Nichiren Daishonin enfatiza que sua vida está expressa no Gohonzon — o objeto de devoção. Nela consta:

Eu, Nichiren, inscrevi minha vida em sumi; assim, creiam no Gohonzon com todo o coração. O desejo do Buda é o Sutra do Ló­tus, mas o espírito de Nichiren é unicamente Nam-myoho-renge­-kyo. Miaole afirma em seu comentário que a essência desse sutra é a revelação da iluminação original do Buda e de sua imensurável extensão de vida.4

Alicerçado em sua busca contínua, o buda Nichiren Daishonin chegou ao entendimento que a vida é a entidade mais louvável da Lei Mística. Sobre essa passagem, o presidente Ikeda relata:

Daishonin inscreveu sua vida, inseparável da Lei Mística eterna, em uma forma gráfica para ajudar todas as pessoas a revelar o Gohonzon que possuem inerentemente. Ele o deixou para nós como um tipo de espelho límpido a ser usado na prática diária para atingirmos o estado de buda.5

Assim como exposto pelo Mestre, qualquer manifestação da vida é entidade da Lei Mística, e o Gohonzon, a expressão gráfica dessa mesma Lei. Dessa forma, tanto a vida quanto o Gohonzon são objetos de devoção.

Como ativar o objeto de devoção inerente

O Budismo de Nichiren Daishonin é uma filosofia que ensina a mudar o mundo transformando nossa condição (estado) de vida interior. Nichiren Daishonin observou: “Se a mente das pessoas é impura, sua terra é igualmente impura. Mas, se sua mente é pura, assim é a sua terra. Portanto, não há duas terras — pura e impura”.6

O segundo presidente da Soka Gakkai, Josei Toda, empregava o termo “revolução humana” como uma expressão contemporânea do alcance imediato dessa vasta condição de vida interior, denominada “estado de buda”, objetivo fundamental da prática budista. Ele elucidou e aprofundou a compreensão das pessoas sobre o conceito de estado de buda, expondo-o como a meta de autoaprimoramento pessoal nesta presente existência.

Na obra Nova Revolução Humana, Shin’ichi Yamamoto, pseudônimo do presidente Ikeda no romance, apresenta de maneira prática sete indicadores para mensurar a revolução humana individual. Esses sete pontos são a saúde, a jovialidade, a boa sorte, a sabedoria, a paixão a convicção e a vitória.7

Os indicadores na prática

Este ano, além das comemorações da SGI, estava prevista a realização da Olimpíada do Japão (adiada devido ao novo coronavírus), considerada o maior evento esportivo do planeta.

As modalidades olímpicas são categorias de alto desempenho que requerem muita dedicação, esforço incessante, inteligência emocional e enorme paixão. Seja na categoria em equipe ou na modalidade individual, elas arrancam suspiros e emocionam os mais variados torcedores, desde os sazonais até os mais fanáticos.

Como o esporte desperta paixões intensas no coração dos brasileiros, transportaremos os indicadores realçados por Shin’ichi para o universo esportivo, a fim de ilustrar as estratégias para ativar a vasta condição de vida inerente a cada indivíduo.

Em primeiro lugar, a saúde. Todo atleta, para apresentar excelente rendimento durante uma competição, precisa viver de maneira saudável. Embora a enfermidade seja algo natural, não poderiam dar o máximo de si se a saúde estivesse comprometida.

A premissa básica para os praticantes budistas é cuidar sabiamente do tesouro do corpo para que possam viver com entusiasmo e muito vigor.

O segundo indicador apontado por ele é a jovialidade. Manter o espírito jovial, ou seja, a busca constante pelo autoaprimoramento, semelhante ao início da trajetória do atleta, é requisito essencial para um esportista de alto desempenho.

Manter a juventude espiritual por toda a vida, independentemente da idade, é condição elementar para a revolução humana. Por isso, é fundamental aplicar-se com máxima energia à prática budista, compartilhar incentivos sinceros e também se abrir para ser encorajado pelos amigos, familiares e companheiros da organização, além de se dedicar ininterruptamente ao próprio desenvolvimento como um ser humano de valor.

Como terceiro ponto, a boa sorte. No mundo dos esportes, ter um mentor ou técnico que se preocupe verdadeiramente com seu desenvolvimento é imprescindível para que o atleta conquiste resultados expressivos. O técnico indicará os trajetos a serem percorridos e encorajará seu pupilo nos momentos de esgotamento físico e mental. Dispor dessa assistência é sinônimo de boa sorte.

Encontrar uma sublime filosofia, como os ensinamentos do buda Nichiren Daishonin, e, acima de tudo, ter um grandioso mestre da vida são a manifestação de máxima boa sorte. Os Três Mestres Soka, Tsunesaburo Makiguchi, Josei Toda e Daisaku Ikeda, demonstraram em suas ações a maneira exemplar de se viver de modo construtivo e criativo para se alcançar a vitória absoluta. Agora, é pôr em prática todo o aprendizado apontado por eles.

Em quarto, a sabedoria. A dedicação constante como esportista, seja na busca incessante para melhorar o desempenho técnico, seja na relação entre o atleta e seu staff, até mesmo com os companheiros de equipe, lapidará a sabedoria e o intelecto.

Compreender a dinâmica da vida e todas as suas manifestações, sejam elas de alegrias, sejam de adversidades, por meio do estudo do budismo, e crescer como líderes efetivos da sociedade que contribuem para o bem-estar de todas as pessoas são a expressão da genuína sabedoria.

Em quinto lugar, a paixão. O desejo incondicional de se tornar esportista profissional, aliado ao amor pela modalidade escolhida, em muitos casos desde a infância, expande as labaredas da paixão com a maturidade do atleta.

Os praticantes do Budismo de Nichiren Daishonin se dedicam diuturnamente a se desenvolver e a vencer em todos os aspectos da vida, lapidando-se para cumprir suas responsabilidades com paixão e entusiasmo. O indivíduo pode ter a mais aguçada inteligência, mas sem paixão a pessoa não reluzirá a vida e o ambiente. A felicidade ou infelicidade também são definidas em grande parte pelo grau de intensidade da paixão que a pessoa sente.

A convicção está em sexto lugar. Para um atleta de alto rendimento, ter ou não uma atitude mental positiva, ou a crença em seu próprio potencial, pode resultar em progresso ou estagnação diante de um oponente. Ingressar na arena, na pista de atletismo, seja qual for o palco de atuação convicto de um bom desempenho, é prerrogativa para o triunfo.

A revolução humana consiste num brilhante reflexo da nossa firme crença. Sem uma nobre filosofia de vida e convicção em si mesmas, as pessoas se tornam um navio sem bússola. Sem ideia da direção que será tomada, o naufrágio será o destino final.

Encerrando os indicadores mencionados pelo Mestre está a vitória. Certamente o objetivo primordial de todo esportista é saborear a vitória, mas ela só será lograda com a concretização do conjunto de cada item mencionado. Prosperar, alcançar a posição mais alta do pódio, é resultado de constante e obstinado esforço. Todavia, como bem sabemos, nem sempre é possível sair vitorioso numa competição, mesmo no caso dos atletas mais preparados. Com isso em mente, a trajetória, o preparo, o condicionamento mental e físico e a postura em não se entregar são os principais requisitos para fazer um esportista efetivamente vitorioso.

Temos como exemplo as jogadoras da seleção feminina de futebol na edição dos Jogos Olímpicos Rio 2016. Elas demonstraram garra e talento que encantaram as multidões. Mesmo não se sagrando campeã, a equipe apresentou admirável espírito competitivo, que serviu de inspiração para todo o país — e para o mundo. Ou seja, a vitória não é apenas a conquista do objetivo.

O budismo é uma batalha para vencer a cada instante, e vitória no budismo é jamais ser derrotado diante das mais intensas intempéries da vida.

Assim como apresentado no romance Nova Revolução Humana, o avanço contínuo, passo a passo e de maneira positiva, resultará na manifestação da torre de tesouro da própria vida. Com os esforços diários pautados em cada item exemplificado pelo Mestre (saúde, jovialidade, boa sorte, sabedoria, paixão, convicção e vitória), podemos conduzir uma existência assentada numa condição de vida retumbante, realizando, dia a dia, a edificação concreta da própria revolução humana que será capaz de transformar o destino não só de si, mas de dezenas, centenas, quiçá milhares de pessoas.

Notas:

1. Brasil Seikyo, ed. 1.754, 10 jul. 2004, p. A5.

2. Terceira Civilização, ed. 524, abr. 2012, p. 24.

3. CEND, v. II, p. 150.

4. CEND, v. I, p. 431.

5. Diálogo sobre a Religião Humanística, v. 2, p. 110.

6. CEND, v. I, p. 4.

7. Cf. Nova Revolução Humana, v. 19, p. 173-174.

Compartilhar nas