Na prática
TC
Vamos “emergir das profundezas da terra”, onde nos encontramos neste momento!
Redação
01/08/2024
Por que nascemos? Por que passamos por diversas questões neste mundo cheio de dificuldades? Esses são questionamentos comuns, principalmente entre aqueles que mais sofrem.
Em uma de suas explanações para os jovens, Josei Toda, segundo presidente da Soka Gakkai, reflete sobre essas perguntas e responde que “Nascemos neste mundo para realizar o trabalho do Buda”.1 Ele esclarece que enfrentamos duras circunstâncias para conduzir à iluminação aqueles que estão sofrendo e que essa é a missão escolhida pelos bodisatvas da terra.
Nesta edição, vamos fazer uma profunda reflexão sobre como podemos desfrutar a vida com alegria e esperança, mesmo diante de dificuldades, e ainda conduzir as pessoas à plena felicidade e à transformação da sociedade.
Inquietação do jovem Ikeda
Após a derrota do Japão na guerra, os mais velhos passaram a viver em letargia, totalmente perdidos em meio à verdadeira miséria que as famílias enfrentavam. Já a maioria dos jovens tinha vitalidade e ansiava por um novo caminho. Em busca de conhecimento, reuniam-se em grupos com interesses comuns para ler e debater sobre livros, e outros se encontravam para ouvir música. “Eles começavam a se movimentar espontaneamente como se fossem as ervas daninhas que no solo congelado do inverno são as primeiras a germinar”.2
Daisaku Ikeda era um desses jovens e fazia parte de um grupo de aproximadamente vinte pessoas entre 20 e 30 anos. Eles estavam ávidos por assuntos relacionados às ciências humanas, que estudavam áreas como cultura, arte, política, economia e filosofia.
Ikeda sensei detalhou as circunstâncias da sociedade e de sua vida naquela época:
A pobreza das pessoas só piorava com a inflação desenfreada, e o peso da derrota na guerra pesava forte sobre os ombros de cada cidadão. Por exemplo, em relação ao preço oficial do arroz distribuído, a situação era tal que, no final desse ano, ele estava 25 vezes mais caro do que o valor aplicado em dezembro do ano em que a guerra encerrara e, no ano seguinte, subiria abruptamente para 60 vezes.
A minha vida também não estava fácil. Contudo, não sei se era minha natureza inata, ou se eu tinha agregado uma vitalidade em meio à multidão; de qualquer forma, as dificuldades da vida não me incomodavam.3
Quem são os bodisatvas da terra
“Bodi” significa “sabedoria do Buda”, e “satva”, “seres sensíveis” e “valor”. A palavra “bodisatva” quer dizer “Ser que aspira ao estado de buda e realiza ações altruísticas visando atingir esse objetivo. A característica predominante dos bodisatvas é a compaixão, visto que postergam a própria entrada no nirvana para conduzir os outros à iluminação”.4
Os bodisatvas da terra literalmente surgem no capítulo 15, “Emergindo da Terra”, do Sutra do Lótus. Esse capítulo separa o ensinamento teórico, que são os primeiros catorze capítulos, do ensinamento essencial, que corresponde aos últimos catorze. Um dos aspectos que representa essa diferenciação é o juramento dos bodisatvas, discípulos do Buda, de se esforçarem eternamente para conduzir as pessoas à iluminação neste mundo repleto de sofrimentos.
O Sutra do Lótus descreve que a terra de todos os bilhões de terras do mundo saha tremeu e se abriu, e dela emergiram milhares, dezenas de milhares, milhões de bodisatvas. Assim, a “terra” representa a condição de vida inerente a todas as pessoas, sem discriminação.
Essa chegada deles foi tão impressionante que surpreendeu os bodisatvas do ensinamento teórico, incluindo Maitreya, que pergunta quem eles são e por que surgiram. Shakyamuni responde que são seus discípulos a quem ele tem ensinado e convertido desde o passado distante.
“Sou eu quem surge da terra”
Também causou furor entre os participantes o “surgimento” de Ikeda sensei em seu primeiro encontro com Josei Toda.
Naquela conjuntura da vida do jovem Ikeda, descrita no início desta seção, vendo quão interessado ele era por filosofia e pelas questões humanas, dois amigos o convidaram para a ir a uma reunião na qual Toda sensei faria uma explanação.
Em 14 de agosto de 1947, ele participa de sua primeira reunião na Soka Gakkai. O jovem Ikeda não conhecia essa história sobre o surgimento dos bodisatvas da terra ou mesmo a expressão “bodisatvas da terra”, mas recitou um poema que finalizou com os seguintes versos:
Neste encontro ideal,
sou eu quem
surge da terra!
Os participantes da reunião aplaudiram, porém, no íntimo, estavam boquiabertos, exclamando “Que jovem diferente!”. Josei Toda ficou radiante quando ouviu esse último verso.5
O jovem Daisaku Ikeda foi embora naquele dia e, em meio às questões da própria vida, ele descreve o que realmente o preocupava:
Vendo as pessoas sofrendo e se lamentando diante daquela situação calamitosa eu não podia permanecer em um estado de dormência espiritual sem manifestar compaixão e simplesmente ignorar. Foi justamente no momento crucial, quando eu estava avançando do estado de dormência ideológica para o estado de insônia espiritual, que eu pude encontrar o meu mestre da vida.6
“Vendo as pessoas sofrendo e se lamentando diante daquela situação calamitosa eu não podia permanecer em um estado de dormência espiritual sem manifestar compaixão e simplesmente ignorar.” — na prática, isso é o que significa ser bodisatva da terra.
Naturalmente, passar a ensinar o budismo
Todas as pessoas transpõem montanhas e vales no decorrer da vida. O que as diferenciam são seu comportamento e sua reação ao longo da jornada.
No início da organização, os veteranos ensinavam os fundamentos da prática do Budismo de Nichiren Daishonin para os novos membros e os apoiavam enquanto eles mesmos enfrentavam dificuldades, como dívidas, doenças, desarmonia familiar.
Aqueles que estavam dando os primeiros passos na prática da fé não conseguiam ainda apresentar o budismo para as pessoas e apenas concordavam com os mais experientes. No entanto, ao continuarem participando das atividades da Soka Gakkai, a vida de cada um deles se enchia de energia vital e esperança. Seguindo o exemplo daqueles que os acompanhavam, estudavam o budismo, aprofundavam a fé e, naturalmente, passavam a falar sobre a alegria e a convicção na prática da fé. Assim, espontaneamente, começavam a ensinar o budismo para os amigos.
Dessa forma, eles despertavam para a condição de bodisatva da terra, que cumpre a nobre missão de propagar os ensinamentos de Nichiren Daishonin.
O presidente Ikeda conta que essas pessoas estavam mais preocupadas com os sofrimentos dos amigos e com o futuro do país do que com as próprias doenças ou problemas financeiros. Por isso, eles oravam de coração pela felicidade do outro e pela paz mundial. “No íntimo já haviam atingido um vasto e indestrutível estado da vida. Essa transformação fundamental mudou drasticamente a realidade da vida diária e lhes trouxe grande benefício e felicidade”.7
O destino é a missão
A vida de Ikeda sensei e dos membros da Soka Gakkai é a representação do que é ser um bodisatva da terra — pessoas encarregadas da missão pelo kosen-rufu.
A partir desses exemplos, percebemos que a nossa vida, assim como a de pessoas comuns com sofrimentos e frustrações, também pode manifestar o comportamento de bodisatva da terra. De que maneira? Enquanto nos dedicamos aos fundamentos do exercício budista — fé, prática e estudo —, não nos deixamos vencer pelas dificuldades, como Ikeda sensei explica:
Pode-se dizer que os sofrimentos são condições indispensáveis para cumprir a missão dos emergidos da terra. Por isso, o destino é, em si, a missão. Por piores que sejam as tempestades do destino, não há absolutamente nada que não possa ser superado.8
Mas não devemos parar por aí! Ao vermos as pessoas sofrendo e se lamentando, precisamos lhes apresentar esse caminho. O bodisatva da terra aflige-se com o problema do outro e do mundo, sente profunda compaixão e, então, propaga os ensinamentos de Nichiren Daishonin. Essa é a sua missão.
Encontro dos bodisatvas da terra
Hoje, a Soka Gakkai, presente em 192 países e territórios, vive a verdadeira expressão de encontro dos bodisatvas da terra. Seus membros dialogam, acreditando na própria identidade de bodisatva da terra e na de todos os outros, com a consciência de que as pessoas merecem o mais profundo respeito.
Em meio às questões que a sociedade enfrenta, os jovens brotam do rico solo dos nossos blocos e nossas comunidades e, tal qual Ikeda sensei na tenra idade, buscam se conectar a um ideal em prol da paz do mundo.
De agora em diante, cultivando esses jovens valores, vamos decidir, uma vez mais, viver com a postura de um verdadeiro bodisatva da terra, como Ikeda sensei incentiva:
Quando o sol nasce, a escuridão se dissipa. A vida dos bodisatvas da terra é como o sol. O surgimento de um único bodisatva da terra ilumina e revitaliza a localidade. A partir daí é que a luz da expansão se propaga.
Agora é hora de recitar Nam-myoho-renge-kyo para romper a estagnação e a resignação. Vamos demonstrar um renovado “emergir das profundezas da terra”, onde nos encontramos neste momento!
Construam
um palácio de felicidade
e uma rede de bodisatvas da terra.
Estabeleçam a cidade eterna
em sua nobre e valiosa terra.9
Notas:
1. Terceira Civilização, ed. 576, ago. 2016, p. 6.
2. IKEDA, Daisaku. Revolução Humana. São Paulo: Editora Brasil Seikyo, v. 2, p. 186-187, 2022.
3. Idem. Minhas Recordações. São Paulo: Editora Brasil Seikyo, 2022, p. 98.
4. Coletânea dos Escritos de Nichiren Daishonin. São Paulo: Editora Brasil Seikyo, v. I, p. 896, 2020.
5. Cf. IKEDA, Daisaku. Revolução Humana. São Paulo: Editora Brasil Seikyo, v. 2, p. 206-207, 2022.
6. IKEDA, Daisaku. Minhas Recordações. São Paulo: Editora Brasil Seikyo, 2022, p. 98.
7. Idem. Nova Revolução Humana. São Paulo: Editora Brasil Seikyo, v. 13, p. 87-88, 2019.
8. Idem. Nova Revolução Humana. São Paulo: Editora Brasil Seikyo, v. 30-I, p. 345, 2022.
9. Terceira Civilização, ed. 576, ago. 2016, p. 6.
Fotos: Brasil Seikyo
Ilustrações: Getty Images
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